sexta-feira, 25 de março de 2022

A IASD e a parábola do rico e Lázaro

 

O propósito da parábola é ensinar que as riquezas podem levar à perdição, e que o rico estava para sempre fora do reino. Os adventistas reconhecem que a parábola acontece no hades, mas negam que isso prove a imortalidade da alma.

A cena não menciona o momento da alma saindo do corpo, nada é dito da alma saindo do corpo dos mortos. Isso é muito enfatizado pelos adventistas, que precisam ver detalhes que o texto não possui. Para quem acredita na imortalidade da alma, e esse não é o único texto que é entendido naturalmente a partir dessa doutrina, a passagem é bastante clara e não há motivo de estender os detalhes para provar que a alma pode separar-se do corpo.

Por que o rico e Lázaro são considerados espíritos? Porque a passagem diretamente afirma que Lázaro morreu e foi sepultado e o rico morreu e estava no hades, e passa a mostrar o que ocorreu.

Outra observação, é que o Seio de Abraão, conceito conhecido pelos judeus, como a IASD reconhece, não é céu, como diria a teologia reformada, afirmando que os salvos no Antigo Testamento iam para o céu. De fato, a fé católica afirma que o Seio de Abraão é o sheol, referindo-se à parte onde ficam os justos. Isso talvez ajude a entender melhor a questão.

O documento formula as críticas como se o Seio de Abraão fosse o céu, como é comum encontrar na apologética protestante. Não é o que a teologia católica ensina.

Assim, podemos afirmar que não há mais nenhum santo no sheol, e que os réprobos encontram-se lá, na parte do inferno, ou hades. Dessa forma, não há lugar para a crítica de que os dois lugares eternos estão próximos um do outro. O que surge dessa concepção não tem lugar na perspectiva católica sobre o assunto, mas parece ser algo próprio dos debates no interior do Protestantismo.

Por isso, é dito que Lázaro foi levado ao seio de Abraão, e não à presença de Deus. Pela fé católica isso é totalmente compreensível, pelo que foi explicado acima. Para os reformados e outros protestantes que ensinam diferentemente sobre o assunto, o argumento adventista serve para eles.

O estudo compara a parábola do evangelho de Lucas com o texto de Isaías 14, 9-11. De fato, ambos provam a imortalidade da alma.

O argumento é que uma verdade está sendo ensinada em forma de parábola, não sendo necessário que o que está representado tenha existência. Assim, as almas não existiriam, da mesma forma que as árvores não podem falar, fazer planos, caminhar e etc., como aparece em parábola. As almas conscientes na parábola são entendidas como as árvores, sem existência real.

Tudo o que acontece no hades seria figurativo, parte do estilo usado em parábolas. Os mortos não seriam conscientes e não haveria recompensa ainda.

O que acontece, porém, é que ao mostrar árvores em discussão, o sentido figurado é bastante claro, ao passo que, ao mencionar o mundo dos mortos, para onde as almas vão, sendo uma doutrina conhecida de todos, a questão parece mais uma revelação do que uma figura, que estaria utilizando algo inexistente, mas apenas crido por alguns. De fato, quem são esses alguns que criam, e quais não criam? Não seria a imortalidade da alma uma doutrina geral no judaísmo? Sabe-se que certamente os saduceus não criam nela, mas os fariseus.

Para quem entende a doutrina sobre o mundo dos mortos no Antigo Testamento, conforme explica a Igreja Católica, muitos argumentos seriam invalidados, como esse de que o céu e o inferno não poderiam estar lado a lado, o que é verdadeiro, e portanto conforme a doutrina do sheol onde justos e injustos estavam no mesmo lugar, mas, como mostra a parábola, separados uns dos outros.

Os textos de Salmos 146, 4 e 115, 7 não contradizem a parábola. De fato, esses textos dizem sobre a condição dos mortos neste mundo e não no mundo espiritual. A parábola contada por Jesus se dá no mundo espiritual.

Os argumentos contra a recompensa recebida pela alma logo após a morte são postos em quatro pontos: anula o juízo, contradiz o que pensam os mortalistas como sendo o claro testemunho da Escritura de que os mortos estão dormindo, representa espíritos como tendo membros corporais, e coloca os espíritos em plena vista uns dos outros.

Mas, sabemos que a alma é julgada logo após a morte e espera a ressurreição. A parábola mostra claramente que tudo se passa no período intermediário entre a morte e a ressurreição. A Escritura não afirma que a alma espiritual morre, mas que os mortos dormem metaforicamente, em relação ao corpo. Os espíritos são mostrados como representações reais das pessoas que eles pertencem, assim como Deus é mostrado como um Ancião de dias, com cabelos brancos, sentado no trono do santuário. O argumento cai aqui, pois se Deus é representado fisicamente mesmo sendo Espírito, assim também as almas. E por último a questão que já foi respondida acima, pois o Seio de Abraão refere-se ao Sheol e não ao céu.

O juízo particular não contradiz a existência do juízo final, que se dará após a vinda de Cristo, da mesma forma que a concepção de juízo investigativo, para o adventismo também não anula o juízo final.

A parábolas das árvores, em Jz 9, 8-15, é claramente metafórica, pois fala de árvores, oliveira, figueira, espinheiro, por exemplo.

Por que não admitir que a doutrina da imortalidade da alma, da consciência dos mortos, era a doutrina geral, crida por todos, e correta, ensinada por Cristo? Se o conceito de Seio de Abraão é judaico, admitindo a imortalidade da alma, isso não comprova que a fé na imortalidade da alma é correta? Onde estão exemplos de negação dessa doutrina na literatura judaica?

De fato, como ser desonesto é algo conhecido, e os fariseus sabiam muito bem disso, a parábola do servo infiel pode ser muito bem compreendida, de que a esperteza do servo estava sendo elogiada e não sua desonestidade. Entretanto, se Jesus sabia que os fariseus criam na imortalidade da alma, e isso fosse errado, ele teria oportunidade de pregar contra isso, se fosse uma doutrina errada, e não usá-la de uma forma tão interessante. É importante notar que Jesus falou da ressureição aos saduceus, que não criam nessa doutrina. Dessa forma, pensar que Jesus apenas estava tratando de coisas no campo de compreensão dos fariseus não é uma explicação suficiente.

O texto em nenhuma parte afirma que a doutrina da imortalidade da alma é incorreta, e que isso poderia ser usado para mostrar que mesmo na literatura farisaica eles poderiam ser reprovados, pois: o destino aí previsto é praticamente o mesmo que o que ocorrerá no juízo final, que é a bem-aventurança no céu e a condenação do inferno.

Gledson Meireles.

2 comentários:

  1. Olá Gledson

    Boa tarde

    Parabéns pelo estudo. Eu tentei montar uma argumentação mortalista para este relato, embora eu sempre tenha entendido e ainda entendo essa parábola muito a favor da imortalidade da alma.

    1)Tanto o rico quanto São Lázaro foram pessoas reais e partindo da premissa que existe a mortalidade da alma Jesus pode ter estabelecido um diálogo para transnmitir uma mensagem. O corpo do rico estava morto então Jesus anima o corpo e inicia um diálogo: Na primeira parte da fala do rico Jesus relata que o rico não se arrepende do pecados mas apenas pede a São Abrãao para São Lázaro aliviar o sofrimento dele ou seja, as pessoas que serão condenadas continuam amando o pecados mas queriam ter os sofrimentos do inferno aliviados.Em nenhum momento fala do arrependimento do rico.

    2)Perante Deus e na mente de Deus a situação do rico é de condenação e isto é real, por isso a palavra "tormento" e "atormentado" é usada. O "lugar de tormento" na visão mortalista ainda vai ocorrer e será real.

    3)O que significa os 5 irmãos? Partindo do entendimento que tudo que Jesus falava tinha um propósito.

    4)Outro ponto interessante é que o rico esta sendo tormento em uma chama no singular e não em chamas.

    5)Parece que existiam relatos entre os judeus parecidos com a parabóla do rico e São lázaro e que Jesus utilizou esses relatos. Tem um vídeo do arqueólogo adventista Rodrigo Silva sobre essa passagem que se não me engano cita que são 7.Você sabe quais são?

    Um grande abraço e felicidades

    ResponderExcluir