O propósito da parábola
é ensinar que as riquezas podem levar à perdição, e que o rico estava para
sempre fora do reino. Os adventistas reconhecem que a parábola acontece no hades, mas negam que isso prove a imortalidade
da alma.
A cena não menciona o
momento da alma saindo do corpo, nada é dito da alma saindo do corpo dos
mortos. Isso é muito enfatizado pelos adventistas, que precisam ver detalhes
que o texto não possui. Para quem acredita na imortalidade da alma, e esse não
é o único texto que é entendido naturalmente a partir dessa doutrina, a
passagem é bastante clara e não há motivo de estender os detalhes para provar
que a alma pode separar-se do corpo.
Por que o rico e Lázaro
são considerados espíritos? Porque a passagem diretamente afirma que Lázaro
morreu e foi sepultado e o rico
morreu e estava no hades, e passa a
mostrar o que ocorreu.
Outra observação, é que
o Seio de Abraão, conceito conhecido
pelos judeus, como a IASD reconhece, não é céu, como diria a teologia reformada,
afirmando que os salvos no Antigo Testamento iam para o céu. De fato, a fé
católica afirma que o Seio de Abraão é o sheol,
referindo-se à parte onde ficam os justos. Isso talvez ajude a entender melhor
a questão.
O documento formula as
críticas como se o Seio de Abraão fosse o céu, como é comum encontrar na
apologética protestante. Não é o que a teologia católica ensina.
Assim, podemos afirmar
que não há mais nenhum santo no sheol,
e que os réprobos encontram-se lá, na parte do inferno, ou hades. Dessa
forma, não há lugar para a crítica de que os dois lugares eternos estão
próximos um do outro. O que surge dessa concepção não tem lugar na perspectiva católica
sobre o assunto, mas parece ser algo próprio dos debates no interior do
Protestantismo.
Por isso, é dito que
Lázaro foi levado ao seio de Abraão, e não à presença de Deus. Pela fé católica
isso é totalmente compreensível, pelo que foi explicado acima. Para os
reformados e outros protestantes que ensinam diferentemente sobre o assunto, o
argumento adventista serve para eles.
O estudo compara a
parábola do evangelho de Lucas com o texto de Isaías 14, 9-11. De fato, ambos
provam a imortalidade da alma.
O argumento é que uma
verdade está sendo ensinada em forma de parábola, não sendo necessário que o que
está representado tenha existência. Assim, as almas não existiriam, da mesma
forma que as árvores não podem falar, fazer planos, caminhar e etc., como
aparece em parábola. As almas conscientes na parábola são entendidas como as árvores,
sem existência real.
Tudo o que acontece no hades seria figurativo, parte do estilo
usado em parábolas. Os mortos não seriam conscientes e não haveria recompensa
ainda.
O que acontece, porém,
é que ao mostrar árvores em discussão, o sentido figurado é bastante claro, ao
passo que, ao mencionar o mundo dos mortos, para onde as almas vão, sendo uma
doutrina conhecida de todos, a questão parece mais uma revelação do que uma
figura, que estaria utilizando algo inexistente, mas apenas crido por alguns.
De fato, quem são esses alguns que criam, e quais não criam? Não seria a
imortalidade da alma uma doutrina geral no judaísmo? Sabe-se que certamente os
saduceus não criam nela, mas os fariseus.
Para quem entende a
doutrina sobre o mundo dos mortos no Antigo Testamento, conforme explica a
Igreja Católica, muitos argumentos seriam invalidados, como esse de que o céu e
o inferno não poderiam estar lado a lado, o que é verdadeiro, e portanto
conforme a doutrina do sheol onde
justos e injustos estavam no mesmo lugar, mas, como mostra a parábola,
separados uns dos outros.
Os textos de Salmos
146, 4 e 115, 7 não contradizem a parábola. De fato, esses textos dizem sobre a
condição dos mortos neste mundo e não no mundo espiritual. A parábola contada por
Jesus se dá no mundo espiritual.
Os argumentos contra a recompensa
recebida pela alma logo após a morte são postos em quatro pontos: anula o juízo,
contradiz o que pensam os mortalistas como sendo o claro testemunho da
Escritura de que os mortos estão dormindo, representa espíritos como tendo
membros corporais, e coloca os espíritos em plena vista uns dos outros.
Mas, sabemos que a alma
é julgada logo após a morte e espera a ressurreição. A parábola mostra
claramente que tudo se passa no período intermediário entre a morte e a
ressurreição. A Escritura não afirma que a alma espiritual morre, mas que os
mortos dormem metaforicamente, em relação ao corpo. Os espíritos são mostrados
como representações reais das pessoas que eles pertencem, assim como Deus é mostrado
como um Ancião de dias, com cabelos brancos, sentado no trono do santuário. O
argumento cai aqui, pois se Deus é representado fisicamente mesmo sendo Espírito,
assim também as almas. E por último a questão que já foi respondida acima, pois
o Seio de Abraão refere-se ao Sheol e
não ao céu.
O juízo particular não
contradiz a existência do juízo final, que se dará após a vinda de Cristo, da
mesma forma que a concepção de juízo investigativo, para o adventismo também não
anula o juízo final.
A parábolas das
árvores, em Jz 9, 8-15, é claramente metafórica, pois fala de árvores,
oliveira, figueira, espinheiro, por exemplo.
Por que não admitir que
a doutrina da imortalidade da alma, da consciência dos mortos, era a doutrina
geral, crida por todos, e correta, ensinada por Cristo? Se o conceito de Seio
de Abraão é judaico, admitindo a imortalidade da alma, isso não comprova que a
fé na imortalidade da alma é correta? Onde estão exemplos de negação dessa doutrina
na literatura judaica?
De fato, como ser
desonesto é algo conhecido, e os fariseus sabiam muito bem disso, a parábola do
servo infiel pode ser muito bem compreendida, de que a esperteza do servo
estava sendo elogiada e não sua desonestidade. Entretanto, se Jesus sabia que
os fariseus criam na imortalidade da alma, e isso fosse errado, ele teria
oportunidade de pregar contra isso, se fosse uma doutrina errada, e não usá-la
de uma forma tão interessante. É importante notar que Jesus falou da
ressureição aos saduceus, que não criam nessa doutrina. Dessa forma, pensar que
Jesus apenas estava tratando de coisas no campo de compreensão dos fariseus não
é uma explicação suficiente.
O texto em nenhuma
parte afirma que a doutrina da imortalidade da alma é incorreta, e que isso
poderia ser usado para mostrar que mesmo
na literatura farisaica eles poderiam ser reprovados, pois: o destino aí
previsto é praticamente o mesmo que o que ocorrerá no juízo final, que é a
bem-aventurança no céu e a condenação do inferno.
Gledson Meireles.
Olá Gledson
ResponderExcluirBoa tarde
Parabéns pelo estudo. Eu tentei montar uma argumentação mortalista para este relato, embora eu sempre tenha entendido e ainda entendo essa parábola muito a favor da imortalidade da alma.
1)Tanto o rico quanto São Lázaro foram pessoas reais e partindo da premissa que existe a mortalidade da alma Jesus pode ter estabelecido um diálogo para transnmitir uma mensagem. O corpo do rico estava morto então Jesus anima o corpo e inicia um diálogo: Na primeira parte da fala do rico Jesus relata que o rico não se arrepende do pecados mas apenas pede a São Abrãao para São Lázaro aliviar o sofrimento dele ou seja, as pessoas que serão condenadas continuam amando o pecados mas queriam ter os sofrimentos do inferno aliviados.Em nenhum momento fala do arrependimento do rico.
2)Perante Deus e na mente de Deus a situação do rico é de condenação e isto é real, por isso a palavra "tormento" e "atormentado" é usada. O "lugar de tormento" na visão mortalista ainda vai ocorrer e será real.
3)O que significa os 5 irmãos? Partindo do entendimento que tudo que Jesus falava tinha um propósito.
4)Outro ponto interessante é que o rico esta sendo tormento em uma chama no singular e não em chamas.
5)Parece que existiam relatos entre os judeus parecidos com a parabóla do rico e São lázaro e que Jesus utilizou esses relatos. Tem um vídeo do arqueólogo adventista Rodrigo Silva sobre essa passagem que se não me engano cita que são 7.Você sabe quais são?
Um grande abraço e felicidades
Luiz, já ouvi falar.
ExcluirObrigado.