segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Livro: O Cristão Reformado, sobre o Sola Gratia

Comentário: Sola Gratia

 

É verdade que a salvação é pela graça. Jesus é a salvação. A salvação é dada pela graça de Deus. Essa é a doutrina cristã católica.

O Protestantismo quer negar o mérito na salvação, quando ensina o sola gratia. Essa verdade já é ensinada pela Igreja Católica desde os primeiros dias. Ninguém tem mérito diante de Deus para alcançar a salvação. No entanto, o que a Igreja chama de mérito na salvação é o mérito que Deus dá àquele que obedece, Deus recompensa as obras no juízo final. É um mérito que nasce da graça.

Deus dá o céu por graça. O Protestantismo reformado ensina que a fé e as obras são dons de Deus. A fé é gerada no salvo após a regeneração, pela graça, e as obras são a consequência da fé, de modo que o salvo faz boas obras porque foi salvo e não para ser salvo. Essa é uma forma resumida de falar da doutrina reformada.

No entanto, é óbvio que a fé e as obras devem existir na vida do salvo. É esse o ponto ensinado pela doutrina católica, de forma bíblica, e que é realmente ressaltado nas pregações, mas que o reformado entende por outra perspectiva, como visto acima.

Não se trata de ensinar que o salvo é salvo pela graça sem a fé e sem as obras, nem mesmo que a fé salva, ou que as obras salvam, mas apenas Cristo salva por Sua graça. Essas são as ênfases reformadas.

A Igreja Católica costuma frisar as vida da fé e da obediência, como faz a Bíblia. O resultado reformado é o mesmo que é ensinado pelo Catolicismo, e nisso estamos de acordo, nessa etapa da doutrina.

Não somos salvos por pagamento, mas por graça. As obras são graça de Deus. Isso é dito na doutrina católica e na doutrina reformada. No entanto, para o cristão católico devemos procurar fazer as boas obras que Deus quer que façamos, para corresponder com a Sua graça. E isso é uma obrigação do cristão.

O reformado tende a enfatizar a fé e afirmar que a as boas obras vêm como que naturalmente naquele que tem verdadeira fé. Se a ênfase leva à obediência e à produção do fruto das boas obras, não temos o que discordar.

Uma verdade que é desconhecida pelos protestantes, e é importante para entender a doutrina bíblica, é que de fato não há nenhuma obra que possamos fazer para ser aceito por Deus. Apenas depois da conversão é que as obras contam, pela graça, na salvação.

Dessa forma, as obas obras, como ensinadas pela doutrina católica, sempre são aquelas que o fiel faz em graça santificante, ou seja, que o salvo produz, e nunca aquela que o ímpio produz para conseguir ser salvo. As boas obras do fiel são feitas na fé em Jesus Cristo.

O pastor critica a crença de pessoas de correntes do cristianismo que creem em salvação pelas obras e que não entendem a graça. Parece ser difícil encontrar uma denominação cristã protestante que não entenda a graça. E na Igreja Católica, a doutrina da graça é profundamente entendida e ensinada. Basta, por exemplo, ler o doutor da graça, Santo Agostinho, que foi bispo de Hipona, estudar o Catecismo da Igreja Católica, e bons autores cristãos católicos.

Então, a vida de oração, de santificação e de arrependimento é o efeito da salvação, explica o pastor. Correto, e pode-se entender assim na doutrina católica, sem maiores problemas.

 

Comentário: A fé direciona para a graça, a graça direciona para a fé

 

Vemos que a doutrina cristã católica é muito coerente. A sola gratia está ligada à sola fide. A fé é um meio de responder ao que a graça suscitou. E a fé é um ato que foi possibilitado pela graça. Assim, o pecador teve o seu livre-arbítrio iluminado, tornando-se livre para responder. Essa fé exercita é um dom, ao mesmo tempo em que é também do homem liberto da escravidão do pecado. Desse modo, os dois solas estão bem entendidos.

O texto citado, de Atos 11, 21-23, para exemplificar que a conversão foi pela graça de Deus, pois ninguém tinha mérito para alcançar salvação em Cristo, do mérito de condigno, mostra também o que foi explicado acima. Vejamos novamente o texto: “A mão do Senhor estava com eles e grande foi o número dos que receberam a fé e se converteram ao Senhor”.

Então, Deus guiava aqueles pregadores, que pregavam aos gregos, e no seu empenho evangelístico, muitos se converteram. O texto afirma que grande foi o número dos que receberam a fé e se converteram ao Senhor, porque, certamente, não são todos os que estão ávidos por Deus, nem mesmo recebendo a graça suficiente. Entende-se que aqueles que receberam a graça, mas a rejeitaram, não puderam crer e não se converteram.

Ninguém ali merecia nada. O Senhor Deus enviou pregadores do evangelho. Eles ouviram a mensagem da salvação. Muitos não creram. Outros, em grande número, creram e foram salvos. Eles ganharam aquela benção.

O acesso à graça é feito pela fé. Portanto, ainda que seja efeito da graça suficiente, o homem deve crer para que possa receber a graça. O Senhor deseja os que livremente O aceitam. E uma vez na graça, o texto de Romanos 5, 2 prossegue que nos gloriamos na esperança da glória de Deus.

O autor protestante, citando novamente o texto de Romanos 11, 6, depois de afirmar que a salvação e a graça são quase sinônimos, agora mostra que graça é contraposta a obras, assim como à fé em outras passagens: “E se é pela graça, já não o é pelas obras; de outra maneira, a graça cessaria de ser graça.

Quando Deus afirma que não é pelas obras que somos salvos, tudo se entende do que ocorre antes da graça, antes da fé. O que o Catolicismo enfatiza na salvação quando trata de obras é aquilo que segue ao momento da regeneração, pois é somente aí que as obras têm valor para Deus.

Assim, as boas obras no processo de salvação possuem valor, pois estão santificadas pela graça divina. Não entender isso seria o mesmo que o protestante negar que a salvação exija o fruto da fé. Seria como dizer quer mesmo um pecador não arrependido pode ser salvo pela graça, o que nenhum protestante do meio principal da reforma poderia afirmar tamanha heresia.

Entender que as boas obras possuem valor salvífico não é negar a graça, mas ter o correto entendimento das boas obras realizadas na fé e no amor de Deus, o que é tudo efeito da graça recebida.

Da mesma forma que o cristão católico não pode negar essa verdade, o protestante, considerando sua concepção de sola gratia não pode deixar de crer que as obras necessariamente precisam existir na vida daquele que foi salvo. Trata-se em termos práticos do resultado da mesma doutrina.

As boas obras não são concebidas como meios de pagar a graça. Essas são obrigatórias por serem o que Deus planejou para aqueles que dever herdar a salvação.

Quando é dito que se deve receber o que Deus já deu, essa recepção é o momento em que o salvo pratica o que deve ser praticado para viver essa graça. Nesse momento, ele recebe as graças já disponíveis pela graça de Cristo. É esse o ponto que a doutrina bíblica ressalta. Não se trata de afirmar que as obras compram algo, ou que acrescentam algo à graça da salvação, mas que são os meios estabelecidos por Deus para alcançar maiores graças e bênçãos que Jesus Cristo nos deu por meio do Seu sacrifício na cruz.

O que está no mundo espiritual deve ser aplicado naquele que crê. Esse é o momento em que tudo começa a ocorrer, a justificação e o processo de salvação. Entendemos que a santificação também é um processo de graça. E é por esse motivo que a Bíblia afirma que sem a santidade ninguém verá a Deus. É a ênfase católica na santificação.

O texto de Efésios 2, 4-9 trata da salvação já ocorrida, da transladação do estado de pecado e condenação para o de salvação. Não há obra alguma que pudesse levar a esse estado, e por isso a Bíblia afirma que foi por graça: “não de obras, para que ninguém se glorie”. É o momento seguinte que trata das obras, no versículo 10: “Somos obra sua, criados em Jesus Cristo para as boas ações, que Deus de antemão preparou para que nós as praticássemos”.

Quando a Bíblia afirma que não há justiça proveniente da Lei, isso significa que antes da graça não há como guardar a Lei e nem como adquirir mérito para a salvação. Uma vez na graça santificante é possível a guarda dos Mandamentos e os méritos nascem como presentes de Deus pela atuação da graça. Por isso a Bíblia ensina que pela fé a Lei foi estabelecida. Tudo isso é o que o autor protestante explicou ao falar que é preciso somente aproximar-se do trono da graça (p. 209).

 

Comentário: A vida cristã como uma vida de graça

 

Tudo o que temos devemos à graça de Deus. Há a parte humana, mas essa é possibilitada pela graça, auxiliada por ela. É isso que São Paulo afirma em 1 Coríntios 15, 10: “Mas, pela graça que ele me deu não tem sido inútil. Ao contrário, tenho trabalhado mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus que está comigo.”.

O grego traz: χάρις τοῦ Θεοῦ σὺν ἐμοί que pode ser traduzido: a graça de Deus que está comigo. A palavra grega σὺν (syn) significa “com”, e traz a ideia de sinergia, pois o apóstolo afirma que ele trabalhou mais que os outros, não ele, o que significa, não pela própria capacidade sozinho, mas a graça de Deus com ele: “mas a graça de Deus que está comigo”.

A ideia não é a graça agindo sozinha, mas a graça sendo todo o fundamento, porém, exigindo a participação, a obediência e agindo com o salvo. A forma com que pastor reformado explica essa passada é idêntica à doutrina católica. Ele escreve que São Paulo “está respondendo, por meio do seu esforço, a salvação que recebeu da graça, a qual trabalha com ele nesse esforço evangelístico” (p. 211).

A própria citação de Hebreus 12, 15 confirma a doutrina católica, de que é possível separar-se da graça de Deus pelo pecado. O reformado tem dificuldade de entender satisfatoriamente esse versículo, já que a melhor explicação seria no sentido de que o salvo pode afastar-se da graça, mas certamente voltará a ela.

E quanto à verdade de que tudo é graça de Deus, isso deve ser muito bem entendido. O pastor afirma que não temos mérito algum. Correto, mas isso se diz quanto ao mérito próprio, de condigno, para oferecer algo a Deus, e não ao mérito que o próprio Deus oferece após a salvação, de condigno, por Sua graça, ao servo que Lhe obedece. E quando o pastor afirma que “Não merecemos nenhum “parabéns”, nenhum “obrigado””, talvez se refira às palavras de Jesus em Lucas 17, 10: “Somos servos inúteis”.

Contudo, no evangelho Jesus também afirma: “Disse-lhe seu senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor” (Mateus 25, 21). Esse elogio e recompensa mostra que a obediência foi recompensada pelo regozijo com o senhor, fazendo a obediência, as boas obras, algo atrelado à salvação. Tudo isso por graça.

No entanto, não se pode negar o mérito que Deus dá aos Seus servos por graça, para que operando a salvação com a graça de Deus possam ser recompensados na vida eterna.

Comentário: Os alertas da graça

 

Os alertas da graça são algo naturalmente entendido na doutrina católica, onde há perfeita harmonia da soberania de Deus com o livre-arbítrio do homem. Fica impossível de conciliar para quem nega o livre-arbítrio.

É possível alguém regenerado pela graça voltar ao pecado. Por isso há os alertas. No entanto, a doutrina reformada basicamente tende a negar essa possiblidade, afirmando que quem encontra a graça é transformado por ela e não se entrega ao pecado.

O pastor afirma que há pessoas “que vivem em contexto religioso de salvação pelas obras” (p. 215), e que creem que podem viver do jeito que querem, fazendo obras para compensar o pecado. Isso é uma heresia grave.

De fato, quem está na graça deve viver de acordo com a graça, e não segundo a carne. Mas a Escritura sugere que isso é possível e por isso admoesta firmemente o cristão. E a explicação de que o salvo não volta ao pecado não faz sentido. Vejamos: “Entretanto, aquele que sabe que é salvo pela fé somente não se entrega ao pecado, porque não há nada que possa ser feito para pagar de volta o dom gratuito de Deus”.

É como esperar que todo salvo irá perseverar, o que não é encontrado na Escritura. Ainda, é pensar que todo aquele que recebe a graça age de acordo com ela, sabendo que a santificação precisa ser a resposta à graça, e que sabendo disso irá sempre agir assim. Se assim fosse, não haveria nenhum alerta. Mas o reformado precisa dar essa explicação, já que não crê que todos possam receber a graça salvífica.

Mas o texto citado, de Atos 13, 43, afirma que os convertidos foram persuadidos “a perseverar na graça de Deus”. E o motivo é que se não há tal ensino muitos podem cair em heresia e em vida em desacordo com a lei do evangelho.

É um erro pensar que a Escritura faz permanecer na graça nos convidando a permanecer. É como afirmar que essas palavras não dizem o que dizem, ou seja, o alerta a permanecer na graça já seria uma garantia de permanecer na graça. Na verdade, a Escritura exorta a permanecer na graça e ensina os perigos de não permanecer.

A própria ideia da exortação bíblica de não receber a graça de forma inútil é uma dificuldade para o reformado. De fato, é possível que muitos recebam a graça de forma inútil, perdendo-a.

É verdade que o cristão regenerado aceita os alertas da graça na sua vida, mas a possibilidade de que muitos a deixem é um fato bíblico. Não é aceito pelo reformado, mas uma verdade bíblica e ensinada pela Igreja Católica.

 

Comentário: conclusões e aplicações

 

Interessante os sentimentos que são contra a salvação pela graça. De fato, há pensamentos que mostram que alguém está fora da graça. É preciso pedir a Deus misericórdia.

Gledson Meireles.

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