Comentário: Sola Gratia
É
verdade que a salvação é pela graça. Jesus é a salvação. A salvação é dada pela
graça de Deus. Essa é a doutrina cristã católica.
O
Protestantismo quer negar o mérito na salvação, quando ensina o sola gratia. Essa verdade já é ensinada
pela Igreja Católica desde os primeiros dias. Ninguém tem mérito diante de Deus
para alcançar a salvação. No entanto, o que a Igreja chama de mérito na
salvação é o mérito que Deus dá àquele que obedece, Deus recompensa as obras no
juízo final. É um mérito que nasce da graça.
Deus
dá o céu por graça. O Protestantismo reformado ensina que a fé e as obras são
dons de Deus. A fé é gerada no salvo após a regeneração, pela graça, e as obras
são a consequência da fé, de modo que o salvo faz boas obras porque foi salvo e
não para ser salvo. Essa é uma forma resumida de falar da doutrina reformada.
No
entanto, é óbvio que a fé e as obras devem existir na vida do salvo. É esse o
ponto ensinado pela doutrina católica, de forma bíblica, e que é realmente
ressaltado nas pregações, mas que o reformado entende por outra perspectiva,
como visto acima.
Não
se trata de ensinar que o salvo é salvo pela graça sem a fé e sem as obras, nem
mesmo que a fé salva, ou que as obras salvam, mas apenas Cristo salva por Sua
graça. Essas são as ênfases reformadas.
A
Igreja Católica costuma frisar as vida da fé e da obediência, como faz a
Bíblia. O resultado reformado é o mesmo que é ensinado pelo Catolicismo, e
nisso estamos de acordo, nessa etapa da doutrina.
Não
somos salvos por pagamento, mas por graça. As obras são graça de Deus. Isso é
dito na doutrina católica e na doutrina reformada. No entanto, para o cristão
católico devemos procurar fazer as boas obras que Deus quer que façamos, para
corresponder com a Sua graça. E isso é uma obrigação do cristão.
O
reformado tende a enfatizar a fé e afirmar que a as boas obras vêm como que
naturalmente naquele que tem verdadeira fé. Se a ênfase leva à obediência e à
produção do fruto das boas obras, não temos o que discordar.
Uma
verdade que é desconhecida pelos protestantes, e é importante para entender a
doutrina bíblica, é que de fato não há nenhuma obra que possamos fazer para ser
aceito por Deus. Apenas depois da conversão é que as obras contam, pela graça,
na salvação.
Dessa
forma, as obas obras, como ensinadas pela doutrina católica, sempre são aquelas
que o fiel faz em graça santificante, ou seja, que o salvo produz, e nunca
aquela que o ímpio produz para conseguir ser salvo. As boas obras do fiel são
feitas na fé em Jesus Cristo.
O
pastor critica a crença de pessoas de correntes do cristianismo que creem em
salvação pelas obras e que não entendem a graça. Parece ser difícil encontrar
uma denominação cristã protestante que não entenda a graça. E na Igreja
Católica, a doutrina da graça é profundamente entendida e ensinada. Basta, por
exemplo, ler o doutor da graça, Santo Agostinho, que foi bispo de Hipona,
estudar o Catecismo da Igreja Católica, e bons autores cristãos católicos.
Então,
a vida de oração, de santificação e de arrependimento é o efeito da salvação,
explica o pastor. Correto, e pode-se entender assim na doutrina católica, sem
maiores problemas.
Comentário: A fé
direciona para a graça, a graça direciona para a fé
Vemos
que a doutrina cristã católica é muito coerente. A sola gratia está ligada à sola
fide. A fé é um meio de responder ao que a graça suscitou. E a fé é um ato
que foi possibilitado pela graça. Assim, o pecador teve o seu livre-arbítrio
iluminado, tornando-se livre para responder. Essa fé exercita é um dom, ao
mesmo tempo em que é também do homem liberto da escravidão do pecado. Desse
modo, os dois solas estão bem
entendidos.
O
texto citado, de Atos 11, 21-23, para exemplificar que a conversão foi pela graça
de Deus, pois ninguém tinha mérito para alcançar salvação em Cristo, do mérito de condigno, mostra também o que foi
explicado acima. Vejamos novamente o texto: “A mão do Senhor estava com eles e grande foi o número dos que receberam
a fé e se converteram ao Senhor”.
Então,
Deus guiava aqueles pregadores, que pregavam aos gregos, e no seu empenho
evangelístico, muitos se converteram.
O texto afirma que grande foi o número
dos que receberam a fé e se converteram ao Senhor, porque, certamente, não
são todos os que estão ávidos por Deus, nem mesmo recebendo a graça suficiente.
Entende-se que aqueles que receberam a graça, mas a rejeitaram, não puderam
crer e não se converteram.
Ninguém
ali merecia nada. O Senhor Deus enviou pregadores do evangelho. Eles ouviram a
mensagem da salvação. Muitos não creram. Outros, em grande número, creram e
foram salvos. Eles ganharam aquela benção.
O
acesso à graça é feito pela fé. Portanto, ainda que seja efeito da graça
suficiente, o homem deve crer para que possa receber a graça. O Senhor deseja
os que livremente O aceitam. E uma vez na graça, o texto de Romanos 5, 2
prossegue que nos gloriamos na esperança
da glória de Deus.
O
autor protestante, citando novamente o texto de Romanos 11, 6, depois de
afirmar que a salvação e a graça são quase sinônimos, agora mostra que graça é
contraposta a obras, assim como à fé em outras passagens: “E se é pela graça, já não o é pelas obras; de outra maneira, a graça
cessaria de ser graça.”
Quando
Deus afirma que não é pelas obras que somos salvos, tudo se entende do que
ocorre antes da graça, antes da fé. O que o Catolicismo enfatiza na salvação
quando trata de obras é aquilo que segue ao momento da regeneração, pois é
somente aí que as obras têm valor para Deus.
Assim,
as boas obras no processo de salvação
possuem valor, pois estão santificadas pela graça divina. Não entender isso
seria o mesmo que o protestante negar que a salvação exija o fruto da fé. Seria
como dizer quer mesmo um pecador não arrependido pode ser salvo pela graça, o
que nenhum protestante do meio principal da reforma poderia afirmar tamanha
heresia.
Entender
que as boas obras possuem valor salvífico não é negar a graça, mas ter o
correto entendimento das boas obras realizadas na fé e no amor de Deus, o que é
tudo efeito da graça recebida.
Da
mesma forma que o cristão católico não pode negar essa verdade, o protestante,
considerando sua concepção de sola gratia
não pode deixar de crer que as obras necessariamente precisam existir na vida
daquele que foi salvo. Trata-se em termos práticos do resultado da mesma
doutrina.
As
boas obras não são concebidas como meios de pagar a graça. Essas são
obrigatórias por serem o que Deus planejou para aqueles que dever herdar a
salvação.
Quando
é dito que se deve receber o que Deus já deu, essa recepção é o momento em que
o salvo pratica o que deve ser praticado para viver essa graça. Nesse momento,
ele recebe as graças já disponíveis pela graça de Cristo. É esse o ponto que a
doutrina bíblica ressalta. Não se trata de afirmar que as obras compram algo,
ou que acrescentam algo à graça da salvação, mas que são os meios estabelecidos
por Deus para alcançar maiores graças e bênçãos que Jesus Cristo nos deu por
meio do Seu sacrifício na cruz.
O
que está no mundo espiritual deve ser aplicado naquele que crê. Esse é o
momento em que tudo começa a ocorrer, a justificação e o processo de salvação.
Entendemos que a santificação também é um processo de graça. E é por esse
motivo que a Bíblia afirma que sem a santidade ninguém verá a Deus. É a ênfase
católica na santificação.
O
texto de Efésios 2, 4-9 trata da salvação já ocorrida, da transladação do
estado de pecado e condenação para o de salvação. Não há obra alguma que
pudesse levar a esse estado, e por isso a Bíblia afirma que foi por graça: “não
de obras, para que ninguém se glorie”. É o momento seguinte que trata das
obras, no versículo 10: “Somos obra sua,
criados em Jesus Cristo para as boas ações, que Deus de antemão preparou para
que nós as praticássemos”.
Quando
a Bíblia afirma que não há justiça proveniente da Lei, isso significa que antes
da graça não há como guardar a Lei e nem como adquirir mérito para a salvação.
Uma vez na graça santificante é possível a guarda dos Mandamentos e os méritos
nascem como presentes de Deus pela atuação da graça. Por isso a Bíblia ensina
que pela fé a Lei foi estabelecida. Tudo isso é o que o autor protestante
explicou ao falar que é preciso somente aproximar-se do trono da graça (p. 209).
Comentário: A vida cristã
como uma vida de graça
Tudo
o que temos devemos à graça de Deus. Há a parte humana, mas essa é
possibilitada pela graça, auxiliada por ela. É isso que São Paulo afirma em 1
Coríntios 15, 10: “Mas, pela graça que
ele me deu não tem sido inútil. Ao contrário, tenho trabalhado mais do que
todos eles; não eu, mas a graça de Deus que está comigo.”.
O
grego traz: ἡ χάρις τοῦ Θεοῦ ἡ σὺν ἐμοί que pode ser
traduzido: a graça de Deus que está comigo. A palavra grega σὺν (syn)
significa “com”, e traz a ideia de sinergia, pois o apóstolo afirma que ele
trabalhou mais que os outros, não ele, o que significa, não pela própria
capacidade sozinho, mas a graça de Deus com
ele: “mas a graça de Deus que está
comigo”.
A
ideia não é a graça agindo sozinha, mas a graça sendo todo o fundamento, porém,
exigindo a participação, a obediência e agindo com o salvo. A forma com que
pastor reformado explica essa passada é idêntica à doutrina católica. Ele
escreve que São Paulo “está respondendo, por meio do seu esforço, a salvação
que recebeu da graça, a qual trabalha com ele nesse esforço evangelístico” (p.
211).
A
própria citação de Hebreus 12, 15 confirma a doutrina católica, de que é
possível separar-se da graça de Deus pelo pecado. O reformado tem dificuldade
de entender satisfatoriamente esse versículo, já que a melhor explicação seria
no sentido de que o salvo pode afastar-se da graça, mas certamente voltará a
ela.
E
quanto à verdade de que tudo é graça de Deus, isso deve ser muito bem
entendido. O pastor afirma que não temos mérito algum. Correto, mas isso se diz
quanto ao mérito próprio, de condigno,
para oferecer algo a Deus, e não ao mérito que o próprio Deus oferece após a
salvação, de condigno, por Sua graça,
ao servo que Lhe obedece. E quando o pastor afirma que “Não merecemos nenhum
“parabéns”, nenhum “obrigado””, talvez se refira às palavras de Jesus em Lucas
17, 10: “Somos servos inúteis”.
Contudo,
no evangelho Jesus também afirma: “Disse-lhe
seu senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, eu te
confiarei muito. Vem regozijar-te com teu senhor” (Mateus 25, 21). Esse
elogio e recompensa mostra que a obediência foi recompensada pelo regozijo com
o senhor, fazendo a obediência, as boas obras, algo atrelado à salvação. Tudo
isso por graça.
No
entanto, não se pode negar o mérito que Deus dá aos Seus servos por graça, para
que operando a salvação com a graça de Deus possam ser recompensados na vida
eterna.
Comentário: Os
alertas da graça
Os
alertas da graça são algo naturalmente entendido na doutrina católica, onde há
perfeita harmonia da soberania de Deus com o livre-arbítrio do homem. Fica
impossível de conciliar para quem nega o livre-arbítrio.
É
possível alguém regenerado pela graça voltar ao pecado. Por isso há os alertas.
No entanto, a doutrina reformada basicamente tende a negar essa possiblidade,
afirmando que quem encontra a graça é transformado por ela e não se entrega ao
pecado.
O
pastor afirma que há pessoas “que vivem em contexto religioso de salvação pelas
obras” (p. 215), e que creem que podem viver do jeito que querem, fazendo obras
para compensar o pecado. Isso é uma heresia grave.
De
fato, quem está na graça deve viver de acordo com a graça, e não segundo a
carne. Mas a Escritura sugere que isso é possível e por isso admoesta firmemente
o cristão. E a explicação de que o salvo não volta ao pecado não faz sentido.
Vejamos: “Entretanto, aquele que sabe que é salvo pela fé somente não se
entrega ao pecado, porque não há nada que possa ser feito para pagar de volta o
dom gratuito de Deus”.
É
como esperar que todo salvo irá perseverar, o que não é encontrado na
Escritura. Ainda, é pensar que todo aquele que recebe a graça age de acordo com
ela, sabendo que a santificação precisa ser a resposta à graça, e que sabendo
disso irá sempre agir assim. Se assim fosse, não haveria nenhum alerta. Mas o
reformado precisa dar essa explicação, já que não crê que todos possam receber
a graça salvífica.
Mas
o texto citado, de Atos 13, 43, afirma que os convertidos foram persuadidos “a
perseverar na graça de Deus”. E o motivo é que se não há tal ensino muitos
podem cair em heresia e em vida em desacordo com a lei do evangelho.
É
um erro pensar que a Escritura faz permanecer na graça nos convidando a
permanecer. É como afirmar que essas palavras não dizem o que dizem, ou seja, o
alerta a permanecer na graça já seria uma garantia de permanecer na graça. Na
verdade, a Escritura exorta a permanecer na graça e ensina os perigos de não
permanecer.
A
própria ideia da exortação bíblica de não receber a graça de forma inútil é uma
dificuldade para o reformado. De fato, é possível que muitos recebam a graça de
forma inútil, perdendo-a.
É
verdade que o cristão regenerado aceita os alertas da graça na sua vida, mas a
possibilidade de que muitos a deixem é um fato bíblico. Não é aceito pelo
reformado, mas uma verdade bíblica e ensinada pela Igreja Católica.
Comentário:
conclusões e aplicações
Interessante
os sentimentos que são contra a salvação pela graça. De fato, há pensamentos
que mostram que alguém está fora da graça. É preciso pedir a Deus misericórdia.
Gledson Meireles.
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