quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Livro: Teologia e Prática da Igreja Católica Romana, de Gregg Allison, sobre a doutrina da Igreja

A doutrina da igreja: “Creio na santa Igreja Católica” (seção 2, capítulo 3, artigo 9, parágrafos 4-6)

 

O Catecismo ensina que para manter a Igreja na pureza da fé, Cristo quis conferir à Sua Igreja uma participação na sua própria infalibilidade (CIC, 889).

Essa assistência de Cristo à Igreja protege-a dos desvios e desfalecimentos e “garante “a possibilidade objetiva de professar sem erro a fé autêntica” (CIC 890). São os pastores que possuem a infalibidade de fé e de costumes.

Ao ensinamento ordinário os fieis devem “ater-se com religioso obséquio do espírito” o qual é distinto do assentimento da fé. Ao que parece, quando Allison afirma que o assentimento religioso é diferente da obediência da fé, no Catecismo, deve-se entender que o ater-se com religioso obséquio é que é diverso da obediência da fé. Parece que Allison usou termos equivocados.

 

A avaliação evangélica

 

O teólogo protestante afirma que a doutrina da Igreja separa significativamente a teologia católica e a teologia evangélica.

A afirmação protestante de que Jesus não transferiu sua autoridade à Igeja por meio da sucessão apostólica não tem fundamento.

A doutrina protestante tem lugar para o ministério humano na Igreja. Obviamente isso não pode ser negado, senão seria total ruptura com a Bíblia por parte dos protestantes. Assim, Gregg aceita a hierarquia da Igreja, mas com ressalvas. E apresenta os diferentes tipos de governo que existem entre os protestantes, com as igrejas episcopais, mas diferentes da Igreja Católica em seu governo, as presbiterianas e as congregacionais.

Então, Gregg Allison afirma que o colégio apostólico que Jesus instituiu é futuro, no reino que virá. Ele usa as palavras da doutrina católica, e nesse momento afirma que está tomando certa liberdade criativa. Mas ele erra, visto que a Igreja agora é estruturada de acordo com o colégio apostólico instituído por Cristo e desenvolvido durante os séculos, de modo a ter a Igreja Católica um governo perfeito para ensinar a fé e a moral cristã.

O Concílio de Jerusalém não é uma imaginação de modelo, mas o próprio modelo dos concílios católicos.

Os maus papas, que o teólogo menciona, para negar o papado, não podem ser usados como exemplos para isso, já que uma meia dúzia de papas que não agiram corretamente em seu ministério não pode fazer cair a instituição divina. Não chega a vinte o número de papas que não foram bons governantes, e passa de duzentos os que foram bons ministros, muitos dos quais mártires e santos. Portanto, esse exemplo já indica a origem divina do papado. Não houve épocas extensas em que não houve papa. Assim, afirmar que o vigário de Cristo esteve ausente não é exato. É claro que houve períodos difíceis, mas ali sempre se encontrava o verdadeiro papa. O que importante é que o Espírito Santo sempre esteve governando a Igreja, e as promessas de Cristo não falham, ainda que em certo período não exista o papa. E, aliás, as críticas aos axiomas natureza-graça e Cristo-Igreja não refutaram nada.

A explicação de Gregg, baseada em Cavlino, não tem nada essencialmente que possa diversir da doutrina católica e muito menos algo que possa refutá-la. Cristo age na Igreja por meio de Seus ministros.

p. 174. A associação do papa, vigário de Cristo...

Gregg afirma que a teologia evangélica questiona a base bíblica sobre a infalibilidade papal. E a ideia de que as doutrinas proclamadas pelos papas poderia contradizer a suficiência das Escrituras é algo interessante, mas é um artifício que o teólogo protestante utilizou para continuar seu protesto, já que sabe que a doutrina não é contrária à Escritura, e que a Igreja tem suficiente razão para afirmar que os dogmas, como o da assunção corporal de Maria, não contradizem a Escritura. A Escritura é tão suficiente, de modo bem entendido, que ela contem os princípios para a infalibilidade da Igreja e para todas as doutrinas cristãs ensinadas.

 

Leigos católicos

Nesse ponto há muita convergência. Gregg afirma apenas que a teologia evangélica não vê na participação no ofício real de Cristo um exercício de autodomínio (a razão dominando as páixões), mas afirma que essa função requer responsabilidades vocacionais. No entanto, esse entendimento da doutrina católica, do sacerdício real, onde o cristão reina sobre sua natureza, vencendo em si mesmos o reino do pecado, com a graça de Deus, é bíblica. Esse reinado de Cristo atinge a esfera individual na luta contra a concupiscência.

 

Religiosos católicos

Gregg critica a doutrina católica sobre a vida de consagração “mais íntima” a Deus e o seguimento “mais próximo” de Cristo, e continua com base na doutrina de Lutero, especialmente no seu Tratado sobre as Boas Obras, onde as atividade religiosa não poderia ser mais nobre que outras obras humanas, como se todas fossem igualmente agradáveis a Deus e todas contribuiem igualmente à santificação pessoal.

A respeito da divisão entre santo, religioso e cristão comum é criticada por Gregg, que afirma que a santidade deve ser buscada por todos, citando 2 Pedro 1, 3-4. No entanto, a crítica  de Gregg é de que isso seria uma “posição mais favorável diante de Deus” ou que seria uma “posição mais vantajosa para agradá-lo”. Porém, Gregg afirma que a teologia evangélica reconhece o valor do celibato, discordando que se tenha o celibato como requisito para um tipo de serviço na igreja. Diante disso, pode-se afirmar que a Igreja, corpo de Cristo, com sua sabedoria, desde os primeiros séculos, sempre escolheu o melhor para o serviço a Deus, e por isso o celibato para o clero.

Quanto à crítica da recomendação de pobreza, parece que a teologia protestante tem dificuldade para entender isso. Mas, basta lembrar que o jovem rico foi desafiado por Jesus a deixar tudo para segui-Lo, o que o fez voltar atrás, pois era muito rico, e assim perderia muito. E os apóstolos que deixaram tudo para seguir Jesus é outro exemplo de maior proximidade com Jesus e de terem promessa de uma recompensa especial por essa escolha. Tudo isso prova que nas Escrituras Sagradas a pobreza voluntária (não obrigatória, é claro) por amor ao reino dos céus, para seguir a Deus, é uma virtude e auxilia na santidade. A Igreja convida aos que querem servir a Deus no clero a seguirem os conselhos evangélicos de Jesus, que são mais radicais e exigentes, e por isso a teologia protestante não os compreende totalmente.

E a vida dos eremitas, que são inspiradas em Elias e João Batista, é aceita na Igreja Católica, desde a antiguidade, e não é reconhecida pelos protestantes. Não há o que mostrar que seja biblicamente contrário a esse modo de viver para Deus.

Jesus não rogou para tirar todos os cristãos do mundo, mas para guardá-los do Maligno. Mas, certamente aceita com agrado os que buscam um modo de vida radical e de santidade contra as influências do mundo e do Maligno, como foram os padres do deserto e muitos monges.

 

A comunhão dos santos

 

A teologia protestante concorda que a Igreja possui o estado celestial e o terreno, negando o purgatorial. Afirma que o purgatório depende do axioma da interdependência natureza-graça, carece de suporte bíblico e contraria a doutrina da justificação.

A questão da troca de bens espirituais, que não teria respaldo bíblico, é algo bastante simples, pois estando todos em um só corpo, todos são nutridos pela graça que vem de Cristo.

E a respeito da interecessão de Jesus e o do Espírito Santo, essa não nega a intercessão dos santos, vivos e mortos. Quando um cristão intercede por outro, o Espírito Santo o auxilia, e Cristo está diante do Pai para receber as orações, e está Mediando a salvação.

 

Maria como mãe da Igreja

 

O teólogo protestante apresenta objeções contra a assunção de Maria. O céu não seria lugar para os corpos dos falecidos. Ele esquece que Jesus, como Homem, foi ressuscitado, glorificado, e está no céu. Assim, também, Maria.

E depois disso Gregg nega algo gratuitamente, sem poder mostrar qualquer fundamento, pois aceita a maternidade divina de Maria, mas nega que a mesma seja mãe da Igreja.

E quanto ao papel de Maria, esse é de intercessão, como o de todos os santos, mas a hiperdulia se deve ao fato de sua singular majestade ao lado de Cristo, o rei do Universo, o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Essa intercessão não tem nada que negue o ofício do Único Mediador, Jesus Cristo. 

Gledson Meireles.

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