A doutrina da igreja:
“Creio na santa Igreja Católica” (seção 2, capítulo 3, artigo 9, parágrafos
4-6)
O Catecismo ensina que para manter a Igreja na pureza da fé,
Cristo quis conferir à Sua Igreja uma participação na sua própria
infalibilidade (CIC, 889).
Essa assistência de Cristo à Igreja protege-a dos desvios e
desfalecimentos e “garante “a possibilidade objetiva de professar sem erro a fé
autêntica” (CIC 890). São os pastores que possuem a infalibidade de fé e de
costumes.
Ao ensinamento ordinário os fieis devem “ater-se com religioso obséquio do espírito” o qual é distinto do
assentimento da fé. Ao que parece, quando Allison afirma que o assentimento
religioso é diferente da obediência da fé, no Catecismo, deve-se entender que o
ater-se com religioso obséquio é que
é diverso da obediência da fé. Parece que Allison usou termos equivocados.
A avaliação evangélica
O teólogo protestante afirma que a doutrina da Igreja separa
significativamente a teologia católica e a teologia evangélica.
A afirmação protestante de que Jesus não transferiu sua
autoridade à Igeja por meio da sucessão apostólica não tem fundamento.
A doutrina protestante tem lugar para o ministério humano na
Igreja. Obviamente isso não pode ser negado, senão seria total ruptura com a
Bíblia por parte dos protestantes. Assim, Gregg aceita a hierarquia da Igreja,
mas com ressalvas. E apresenta os diferentes tipos de governo que existem entre
os protestantes, com as igrejas episcopais, mas diferentes da Igreja Católica
em seu governo, as presbiterianas e as congregacionais.
Então, Gregg Allison afirma que o colégio apostólico que
Jesus instituiu é futuro, no reino que virá. Ele usa as palavras da doutrina
católica, e nesse momento afirma que está tomando certa liberdade criativa. Mas
ele erra, visto que a Igreja agora é estruturada de acordo com o colégio
apostólico instituído por Cristo e desenvolvido durante os séculos, de modo a
ter a Igreja Católica um governo perfeito para ensinar a fé e a moral cristã.
O Concílio de Jerusalém não é uma imaginação de modelo, mas o
próprio modelo dos concílios católicos.
Os maus papas, que o teólogo menciona, para negar o papado,
não podem ser usados como exemplos para isso, já que uma meia dúzia de papas
que não agiram corretamente em seu ministério não pode fazer cair a instituição
divina. Não chega a vinte o número de papas que não foram bons governantes, e passa
de duzentos os que foram bons ministros, muitos dos quais mártires e santos.
Portanto, esse exemplo já indica a origem divina do papado. Não houve épocas
extensas em que não houve papa. Assim, afirmar que o vigário de Cristo esteve
ausente não é exato. É claro que houve períodos difíceis, mas ali sempre se
encontrava o verdadeiro papa. O que importante é que o Espírito Santo sempre
esteve governando a Igreja, e as promessas de Cristo não falham, ainda que em
certo período não exista o papa. E, aliás, as críticas aos axiomas
natureza-graça e Cristo-Igreja não refutaram nada.
A explicação de Gregg, baseada em Cavlino, não tem nada
essencialmente que possa diversir da doutrina católica e muito menos algo que
possa refutá-la. Cristo age na Igreja por meio de Seus ministros.
p. 174. A associação do papa, vigário de Cristo...
Gregg afirma que a teologia evangélica questiona a base bíblica
sobre a infalibilidade papal. E a ideia de que as doutrinas proclamadas pelos
papas poderia contradizer a suficiência
das Escrituras é algo interessante, mas é um artifício que o teólogo
protestante utilizou para continuar seu protesto, já que sabe que a doutrina não
é contrária à Escritura, e que a Igreja tem suficiente razão para afirmar que
os dogmas, como o da assunção corporal de Maria, não contradizem a Escritura. A
Escritura é tão suficiente, de modo bem entendido, que ela contem os princípios
para a infalibilidade da Igreja e para todas as doutrinas cristãs ensinadas.
Leigos católicos
Nesse ponto há muita convergência. Gregg afirma apenas que a
teologia evangélica não vê na participação no ofício real de Cristo um
exercício de autodomínio (a razão dominando as páixões), mas afirma que essa
função requer responsabilidades vocacionais. No entanto, esse entendimento da doutrina
católica, do sacerdício real, onde o cristão reina sobre sua natureza, vencendo
em si mesmos o reino do pecado, com a graça de Deus, é bíblica. Esse reinado de
Cristo atinge a esfera individual na luta contra a concupiscência.
Religiosos católicos
Gregg critica a doutrina católica sobre a vida de consagração
“mais íntima” a Deus e o seguimento “mais próximo” de Cristo, e continua com
base na doutrina de Lutero, especialmente no seu Tratado sobre as Boas Obras,
onde as atividade religiosa não poderia ser mais nobre que outras obras
humanas, como se todas fossem igualmente agradáveis a Deus e todas contribuiem
igualmente à santificação pessoal.
A respeito da divisão entre santo, religioso e cristão comum
é criticada por Gregg, que afirma que a santidade deve ser buscada por todos,
citando 2 Pedro 1, 3-4. No entanto, a crítica de Gregg é de que isso seria uma “posição mais
favorável diante de Deus” ou que seria uma “posição mais vantajosa para
agradá-lo”. Porém, Gregg afirma que a teologia evangélica reconhece o valor do
celibato, discordando que se tenha o celibato como requisito para um tipo de
serviço na igreja. Diante disso, pode-se afirmar que a Igreja, corpo de Cristo,
com sua sabedoria, desde os primeiros séculos, sempre escolheu o melhor para o
serviço a Deus, e por isso o celibato para o clero.
Quanto à crítica da recomendação de pobreza, parece que a
teologia protestante tem dificuldade para entender isso. Mas, basta lembrar que
o jovem rico foi desafiado por Jesus a deixar tudo para segui-Lo, o que o fez
voltar atrás, pois era muito rico, e assim perderia muito. E os apóstolos que
deixaram tudo para seguir Jesus é outro exemplo de maior proximidade com Jesus
e de terem promessa de uma recompensa especial por essa escolha. Tudo isso
prova que nas Escrituras Sagradas a pobreza voluntária (não obrigatória, é
claro) por amor ao reino dos céus, para seguir a Deus, é uma virtude e auxilia
na santidade. A Igreja convida aos que querem servir a Deus no clero a seguirem
os conselhos evangélicos de Jesus, que são mais radicais e exigentes, e por
isso a teologia protestante não os compreende totalmente.
E a vida dos eremitas, que são inspiradas em Elias e João
Batista, é aceita na Igreja Católica, desde a antiguidade, e não é reconhecida
pelos protestantes. Não há o que mostrar que seja biblicamente contrário a esse
modo de viver para Deus.
Jesus não rogou para tirar todos os cristãos do mundo, mas
para guardá-los do Maligno. Mas, certamente aceita com agrado os que buscam um
modo de vida radical e de santidade contra as influências do mundo e do Maligno,
como foram os padres do deserto e muitos monges.
A comunhão dos santos
A teologia protestante concorda que a Igreja possui o estado
celestial e o terreno, negando o purgatorial. Afirma que o purgatório depende
do axioma da interdependência natureza-graça, carece de suporte bíblico e
contraria a doutrina da justificação.
A questão da troca de bens espirituais, que não teria
respaldo bíblico, é algo bastante simples, pois estando todos em um só corpo,
todos são nutridos pela graça que vem de Cristo.
E a respeito da interecessão de Jesus e o do Espírito Santo,
essa não nega a intercessão dos santos, vivos e mortos. Quando um cristão
intercede por outro, o Espírito Santo o auxilia, e Cristo está diante do Pai
para receber as orações, e está Mediando a salvação.
Maria como mãe da
Igreja
O teólogo protestante apresenta objeções contra a assunção de
Maria. O céu não seria lugar para os corpos dos falecidos. Ele esquece que Jesus,
como Homem, foi ressuscitado, glorificado, e está no céu. Assim, também, Maria.
E depois disso Gregg nega algo gratuitamente, sem poder
mostrar qualquer fundamento, pois aceita a maternidade divina de Maria, mas
nega que a mesma seja mãe da Igreja.
E quanto ao papel de Maria, esse é de intercessão, como o de todos os santos, mas a hiperdulia se deve ao fato de sua singular majestade ao lado de Cristo, o rei do Universo, o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Essa intercessão não tem nada que negue o ofício do Único Mediador, Jesus Cristo.
Gledson Meireles.
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