A
virgindade perpétua de Maria
O
apologista protestante afirma que vai esfarelar o dogma da virgindade perpétua,
dando uma refutação definitiva. Isso não é possível, por alguns motivos,
citados abaixo aleatoriamente.
O
primeiro é que na antiguidade cristã todos criam na virgindade perpétua de
Maria, e quando a primeira negação importante dessa verdade foi feita, no
século 4º, isso foi considerado uma heresia.
O
segundo é que os cristãos falantes do grego sempre entenderam que a palavra
irmãos usada para referir-se aos parentes de Jesus não tinha a conotação
literal de filhos dos mesmos pais.
Terceiro,
a Igreja pronunciou-se definitivamente diante das heresias, e definiu a
virgindade perpétua de Maria. Uma vez que a Igreja é guiada à verdade, não pode
haver erro em questões de fé e moral.
Quarto,
mesmos reformadores protestantes, crendo na Bíblia como única regra de fé e
prática, puderam defender a virgindade de Maria pela Bíblia, como o fizeram
Lutero, Calvino e outros. Dessa forma, a doutrina contrária é uma novidade, ou
um erro antigo renovado.
Quinto,
em um estudo da Bíblia, um estudo robusto, sincero e profundo, todos os
argumentos contrários se mostram fracos. O termo grego e hebraico para até que não necessariamente refere-se
ao tempo posterior, frisando apenas o assunto tratado no momento. A palavra primogênito é termo técnico na
Bíblia e indica o primeiro nascido, ainda que não nasça mais filhos. Nesse caso, o apologista já percebeu que o argumento com base no termo primogênito é falho. O termo irmãos possui sentido amplo na
Bíblia, como marca da cultura judaica, e isso é traduzido no termo grego adelphos. Aliás, os irmãos de Jesus agem
como se fossem mais velhos, o que indica não serem de fato filhos de José e
Maria. Nunca são chamados de filhos de Maria. Uma tradição antiga aponta que
são filhos de José de um casamento anterior, do qual ficara viúvo. Só aparecem
na vida pública de Jesus, não sendo mencionados na infância de Jesus. O termo
irmãos, para tratar dos parentes de Jesus, é usado na antiguidade por todos os
que defendem a virgindade perpétua de Maria. E, por fim, os irmãos de Jesus,
citados nominalmente, têm seus pais revelados na Bíblia, de modo bastante
suficiente para convencer o estudioso das Escrituras.
Vejamos
mais de perto os argumentos protestantes apresentados no vídeo.
1º)
Até que
O
texto de Mateus 1, 25. O “até que”, conjunção subordinativa temporal, a
condição é a gravidez de Maria. Após esse tempo José poderia tocar sexualmente
em Maria. A resposta apologética simples é: NÃO necessariamente.
Temos
alguns textos citados.
E, sem que ele a tivesse
conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus
(Mateus 1, 25)
Ensinai-as a observar tudo o que
vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo
(Mateus 28, 20).
Porque é necessário que ele
reine, até que ponha todos os seus inimigos debaixo de seus pés (1
Cor 15, 25).
E Micol, filha de Saul, não teve
mais filhos até o dia da sua morte (2 Sm 6, 23).
Os
textos de 1 Cor 15, 25, onde é usado
o termo áchri, para até que. Jesus
vai parar de reinar? Não. Mas o reino mudará, seria a resposta. A ênfase,
porém, é que Jesus deve reinar nesse período até colocar Seus inimigos sob Seus
pés, não tendo nenhuma palavra sobre o que ocorrerá depois.
Mateus
28, 20. Eis que estarei convosco até o fim do mundo. Cristo ficará com a Igreja
espiritualmente e depois da volta estará fisicamente. A ênfase é na companhia
de Jesus com a Igreja até o fim do mundo, não tendo nada a tratar para o que
ocorrerá posteriormente.
Outro
texto, o de 2 Samuel 6, 23. O termo hebraico para até que refere-se ao período
de vida de Micol. Ela teve filhos após a morte? É claro que não.
Se
o leitor percebeu, a força do “até que” continua. A Bíblia está ensinando que
Jesus deverá reinar até que os inimigos sejam postos debaixo dos seus pés, e
sabemos que continuará reinando no
reino definitivo junto do Pai.
Jesus
ficará com a Igreja até o fim dos tempos, e depois continuará com a Igreja na eternidade.
Micol,
filha de Saul, não teve filhos até o dia de sua morte, e depois da morte não
teve mais filhos.
A
ênfase é dada ao que ocorre antes
do até que, e não depois. Ou seja, o assunto é o que vem imediatamente anterior
à expressão até que.
Vamos
novamente, e repare nas respostas:
Jesus
reina até certo período e deixa de reinar? NÃO.
Jesus
promete ficar com a Igreja até o fim dos séculos, e depois a abandona? NÃO
Micol
não teve filhos durante a sua vida, e depois, será que teve? NÃO.
José
não conheceu Maria durante o período de gravidez, e depois, será que a
conheceu? NÃO.
Interessante,
para que o leitor entende de uma vez por todas, que o hebraico usa da expressão
“até para sempre” (עַד־ עוֹלָֽם, ad
owlam): “Toda a terra que vês, eu a
darei a ti e aos teus descendentes para sempre” (Gênesis 13, 15).
Isso
é para que os protestantes entendam que essa partícula grega e hebraica para o até que tem em vista frisar um período
de tempo sem ter em conta o que virá a ocorrer depois. Não se está negando o
reino de Jesus após a ressureição, nem sua presença na Igreja após o fim do mundo,
nem ensinando que Micol teve filhos após a morte. O que o texto bíblico está
ensinando tem a ver com o que ocorre antes do “até que” e não pensa no que deve
acontecer depois, pois não é o objetivo do ensino.
Desse
modo, para saber o que vem após, é preciso conhecer outros dados da Bíblia.
Esses dados vão além da expressão até que. Assim, sabemos que Jesus continuará
a reinar, que continuará com a Igreja, que Micol não teve filhos e que Maria
não teve outros filhos após o nascimento de Jesus.
Vamos
pensar novamente: nesses casos o texto bíblico não quer ensinar que Jesus
deixará de reinar, nem que deixará de permanecer com a Igreja, nem que Micol
tenha tido filhos após sua morte, nem que José tenha conhecido Maria após o
nascimento de Jesus. Agora, certamente ficou claro.
O
estudioso da Bíblia não usa o argumento do “até que” contra a virgindade de
Maria, pois o contexto não leva a isso.
2º) Irmãos
Em Colossenses 4, 10, citando o
primo de Barnabé, o apóstolo usa a palavra anepsios,
sugerindo que haveria rígida acepção. Em 1 Cor 9, 5 é empregado o termo adelphos.
O
Salmo 69, que é messiânico, não usa o versículo 8 para aplicá-lo Jesus, o que mostra que Maria não teve
filhos. Do contrário, esse versículo seria totalmente apropriado.
O
texto de João 2, 16 é o texto do Salmo 69, 9. O texto de João 15, 25 é citação
do Salmo 69, 4. São João escreve: “para que se cumpra a Palavra”, e cita o
Salmo. Em João 2, 17 os discípulos lembraram do que está escrito: O zelo pela
tua casa me consome, que é o Salmo 69, 10. Para o verso 8 não há nada.
“Lembraram-se
então os seus discípulos do que está escrito: O zelo da tua casa me consome” (João 2,17). Salmo 69, 10: “É
que o zelo de vossa casa me consumiu, e os insultos dos que vos ultrajam
caíram sobre mim”.
“Salmo
69, 5: Mais numerosos que os cabelos de minha cabeça são os que me detestam
sem razão. São mais fortes que meus ossos os meus injustos inimigos.
Porventura posso restituir o que não roubei?”
“Mas
foi para que se cumpra a palavra que está escrita na sua Lei: Odiaram-se sem motivo” (João 15,
25)
Salmo
69, 9: Tornei-me um estranho para meus
irmãos, um desconhecido para os filhos de minha mãe. Nenhum versículo do
Novo Testamento possui essas palavras. Assim, o Salmo não fala de Maria, não
fala de irmãos de Jesus.
3º) Tiago
O apologista
distingue os textos de:
Mateus
10, 2
Mateus
10, 3
Mateus
13, 55 e Gálatas 1, 19
Mateus
27, 55-56
Lucas
6, 16
Com isso, seriam
pelo menos cinco homens com o nome de Tiago.
No
entanto, Tiago menor é o mesmo em 5 textos citados: o mesmo Tiago está em Mateus
10, 3, Mateus 13, 55, Gálatas 1, 19, Mateus 27, 55-56 e Lucas 6, 16.
Portanto,
há dois Tiago: o filho de Alfeu e o filho de Zebedeu. O filho de Alfeu é o
irmão Judas.
Quando
os protestantes tentam identificar as mulheres que estavam no calvário, no dia
da crucificação de Jesus, afirmam que a Maria mãe de Tiago seria a mesma mãe de
Jesus, pois são Marcos não omitiria a presença da mãe de Jesus aos pés da cruz.
No
entanto, ao citar Marcos 15, 40, o texto não afirma que essas mulheres estavam
aos pés da cruz, mas olhavam de longe. Somente depois, por certo, elas
aproximaram-se da cruz, e lá encontraram Maria e João, como está em João 19,
25.
Além
do mais, a leitura básica do texto de Marcos 15, 40-47 mostra que essa Maria
não era a mãe de Jesus, pois o texto inteiro se refere a Jesus, mas ao tratar
dessa Maria o evangelista mostra, mais uma vez, que ela é mãe de Tiago, o
menor, e de José, e no verso 47 menciona a mesma como mãe de José.
Há
certos relatos que os evangelistas omitem, o que podemos encontrar por meio da
leitura dos outros evangelhos. Um exemplo é o texto de Marcos 15, 32: “...Também os que haviam sido crucificado com
ele o insultavam”. Ou seja, os dois ladrões insultavam a Jesus. No entanto,
em Lucas 23, 39-40 temos que um dos malfeitores blasfemava contra Jesus e o
outro o defendeu. Assim, sabemos que um dos ladrões se converteu.
Façamos
agora a exegese do texto de Marcos 15,40-41.46-47:
v.
40: Achavam-se ali umas mulheres,
observando de longe, entre as quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o
menor, e de José, e Salomé.
Essas
mulheres olhavam de longe a cena da crucifixão. O evangelista menciona três
mulheres, a alude e outras, pois essas estavam entre elas. É de se esperar que
são mulheres mais conhecida, visto que os evangelhos citam-nas nominalmente.
Uma
dessas mulheres é Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José. Esse Tiago é o
apóstolo menor, nome que o distinguia do Tiago maior, filho de Zebedeu.
v.
41: Que o tinham seguido e o haviam
assistido, quando ele estava na Galileia; e muitas outras que haviam subido
juntamente com ele a Jerusalém.
Veja
o leitor que o texto tem por referência a Jesus, narrando em 3ª pessoa: o tinham seguido; o haviam
assistido; quando ele; e muitas outras que haviam subido juntamente com ele.
Portanto,
essa Maria não é mãe de Jesus, mas subiu com Ele a Jerusalém, juntamente com as
outras mulheres, pois eram suas seguidores e o assistiam no ministério.
Desse
modo, enfatizando essa Maria, a frase é resumida da seguinte maneira:
Achavam-se ali, observando de longe, algumas mulheres, entre as quais Maria,
mãe de Tiago, o menor, e de José, que o tinham seguido e assistido com ele
estava na Galileia, e havia subido com ele a Jerusalém. O texto é claro de que
se trata de outra Maria, como diz o evangelho de Mateus 28, 1.
v.
46: Depois de ter comprado um pano de linho, José tirou-o da cruz, envolveu-o
no pano e depositou-o num sepulcro escavado na rocha, rolando uma pedra para
fechar a entrada.
O
versículo é citado para o propósito atual, o de demonstrar que todo o contexto
trata de Jesus, e ao mencionar a outra Maria, o evangelista afirma que ela é
mãe de outra pessoa, como está, novamente, no versículo seguinte.
v.
47: Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde o depositavam.
O
mesmo é escrito em Mateus 27, 60s.
v.
60: E o depositou num sepulcro novo que tinha mandado talhar para si na rocha.
Depois rolou uma grande pedra à entrada do sepulcro e foi-se embora.
v.
61: Maria Madalena e a outra Maria ficaram lá, sentadas defronte do túmulo.
Portanto,
está provado de que essa Maria não é a mãe de Jesus, mas é mãe de Tiago e José,
a outra Maria. Então, Marcos não fala da mãe de Jesus, pois estava falando das
mulheres que estavam longe da cruz.
Somente São João relata o momento da entrega de Maria a João, quando Maria
estava ao pé da cruz, e as outras mulheres aproximaram-se. Depois, pelo relato,
essas mulheres voltaram a observar de longe.
Outra
observação importante, é que Maria, mãe de Jesus, ficou aos pés da cruz, e
nunca observando de longe. Também, ela não foi até o túmulo na manhã de
domingo, pois sabia que Jesus iria ressuscitar. Sua fé não vacilou um só
instante.
As
mulheres se lembraram das palavras de Jesus, sobre a ressurreição, apenas após
a visão do anjo (Lucas 24, 8). Os apóstolos, e as mulheres, discípulas, estavam
tristes e caíram em dúvida, mas não a mãe de Jesus (cf. Lucas 24, 11). São
Pedro foi ao sepulcro e voltou para sua casa (Lucas 24, 12). Assim, também,
João, que acreditou na ressurreição naquele momento, quando entrou no túmulo e
não viu o corpo de Jesus. Ele voltou para sua casa (João 20, 10). E, como
sabemos, Maria estava na casa de João. Esse é um exemplo da fé inabalável da
virgem Maria, ficou com Jesus até o fim, aguardou a ressurreição, não foi ao
sepulcro, pois já tinha fé perfeita na divindade e creu na ressurreição.
E
São Jerônimo nota com grande perspicácia que os texto de Mateus 13, 56 fala de “todas”
as irmãs de Jesus, o que sugere serem muitas, não apenas 2 ou 3. De fato, a
palavra todas é usada para todas as gerações, todas as tribos, todas as
igrejas, e todas as pessoas, em contexto de um número bem maior que três.
Assim, mais uma vez sugere que essa parentela de Jesus era proveniente de
outros genitores, que não a Sua mãe.
4ª)
Ossuário de Tiago
A
teoria mais antiga na Igreja afirma que José tinha filhos de um casamento
anterior. Esses certamente seriam reputados como irmãos de Jesus. Sendo eles,
Tiago, José, Judas e Simão, então, ao encontrar uma inscrição “Tiago, filho de
José, irmão de Jesus”, seria apenas uma comprovação dessa explicação. Nada que negue
a virgindade de Maria, pois esses mencionados irmãos de Jesus não são seus
filhos.
Quando
cremos que Maria permaneceu virgem para sempre estamos vislumbrando a dignidade
da origem de Jesus como Homem. Sua mãe, concepção, nascimento foram preparados
por Deus. Crer na virgindade de Maria tem a ver com a fé no Deus-Homem Jesus.
Esse
fato foi como que uma pregação aos contemporâneos de que Jesus veio do céu. De
fato, como poderia uma mãe com diversos filhos afirmar que o primeiro apenas
era de origem divina?
A
própria apresentação de Jesus diante dos povos como vindo do céu foi melhor
aceita ou teve menos obstáculos porque era filho único. Assim, eles podiam afirmar
que seu pai era José, sua mãe Maria, e mencionar seus irmãos, sendo parentes, é
claro, como algo que não condiria com Sua origem divina.
Desse
modo, aqueles contemporâneos deveriam saber que José não era biologicamente pai
de Jesus, e que aqueles irmãos não eram filhos de Sua mãe. Tudo ali era fruto
da Providência Divina, obra da graça.
Então,
crer na concepção virginal é um dado bíblico de suma importância. Segue-se a
virgindade perpétua.
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