sábado, 6 de janeiro de 2024

Livro: A lenda da imortalidade da alma - refutação sobre o fogo eterno

Refutação: O “fogo eterno”

O autor do livro mortalista reconhece que as passagens claramente falam de um fogo eterno, que não se apaga, mas preocupa-se em frisar que nessas passagens não há as palavras tormeno eterno e consciente. A primeira simples resposta que deve vir à mente é que o fogo não faz sentido ser eterno se não há consciência. A segunda é que para que o fogo eterno tenha o sentido de algo que acabou, já que ficou completa sua ação, que foi finalizada, isso deve ser provado pelo contexto imediato, e, também, por outras passagens, pela doutrina bíblica sobre a questão, e pela teologia referente ao assunto. Mas, pelo contrário, tudo é claro de que existe de fato o tormento eterno pelo fogo, de maneira consciente, como está claro na expressão fogo eterno.

O fogo como metáfora, a exemplo de Isaías 34, 9-10, que diz que os ribeiros de Edom pegarão fogo para sempre, não serve para refutar o fogo do inferno. Da mesma forma outra passagens aludidas. De fato, tudo o que se diz tem sua acepção simbólica que indica algo literal por trás. Não se deve literalizar uma passagem simbólica.

Ainda, a terra de Edom ficou desabitada, e é curioso que o fogo eterno não diz que atormentará seus habitantes, mas que destruirá a cidade. É uma figura do castigo. E mais, os texto que tratam do inferno indicam o castigo eterno em comparação com a vida eterna, o que mostra que há existência de réprobos e salvos, onde uns experimentam tormento e outros vivem a felicidade. É uma cena diferente.

As refutações feitas ao mortalismo nos respectivos contextos onde aparecem as expressões fogo eterno e fogo que não se apaga já explicam o motivo dessas expressões denotarem de fato o inferno eterno.

Quanto à interpretação do inferno como Hades, o qual será lançado no Lago de Fogo após a ressureição, pode-se responder, segundo a doutrina católica, que o inferno é o hades, que é o mesmo que lago de fogo. Contudo, o significado do Hades no Apocalipse (Ap 20, 13-14), quando se refere à sua destruição no Lago de Fogo, é de Morte, ou seja, ali está se referindo à Morte, que será destruída, aniquilada mesmo, já que não é algo pessoal, tangível, consciente, mas um estado que surgiu por causa do pecado, não existindo mais, pois está sendo personificada ou objetivada nessa passagem.

O Lago de Fogo é o lugar do castigo, o inferno, mas o Hades como Morte não pode sofrer castigo, sendo tudo isso um simbolismo para o fim da morte. Não há na teologia católica a diferenciação entre inferno atual (Hades) e inferno final (Geena) como se encontra nos textos imortalistas protestantes, referidos no livro mortalista, e postos em discussão.

Para a doutrina católica o Hades é o inferno, como está na parábola do rico e do Lazáro, o que é uma prova clara, e assim é o mesmo que Geena, que é o Lago de Fogo, que são apenas nomes diversos para a mesma realidade.

Para isso, basta perceber que o Hades em Ap 20, 13-14 é a morte que atinge todos os seres humanos, a não o lugar de castigo dos ímpios, enquanto que em outras passagens se refere ao castigo, como o referido texto em Lucas 16.

E quanto à ira de Deus, ela é eterna para os réprobos, e em relação ao povo de Israel, que tem a promessa, esse nunca esteve sobe a ira eterna, mas somente provisória, por vezes na história, o que explica o texto. Assim, no perdão, a ira acaba. Não seria igual se se dissesse que a ira de Deus sempre termina, levando ao universalismo, para o perdão de todos os réprobos, o que não aparece na Bíblia em nenhum lugar.

Quando se diz que aion é usado para significar algo que dura até certo tempo, mas que quando se refere a Deus ou ao destino eterno dos salvos e ímpios significa de fato “para sempre”, é preciso discernir que aí só falta provar que castigo é o tormento, e não a destruição ou aniquilamento, o que já está feito em várias passagens. Dessa forma, o fogo eterno é o tormento eterno.

O fogo eterno seria o fogo que não se apaga até que complete sua função. Eis o argumento mortalista. Mas, como já estudado em tópico respectivo, a ideia do fogo devorador sempre está no contexto de uma destruição instantânea, e não é esse o momento do castigo eterno, como já explicado em tantas passagens.

Portanto, o fogo do inferno, como está nos evangelhos, é de fato eterno e atormenta os réprobos conscientes.

As provas do inferno já estão dadas no presente estudo, e não há porque entender as metáforas bíblicas literalmente, como se um fogo que queimou uma cidade no passado esteja queimando literalmente até os dias de hoje. Isso de fato é bastante pacífico para os cristãos. Dessa forma, o fogo do inferno indica o tormeno eterno pelas muitas razões já apresentadas em tópico apropriado.

A imagem simbólica do fogo que queima os cadáveres dos ímpios condenados em Isaías 66, 24 também já foi explicado, e trata-se de uma metáfora que mostra como os ímpios sofrerão no inferno, e não literalmente que os corpos permanecerão queimando para sempre. Literalizar isso é um erro.

E se o Eclesiástico 28, 26-27 afirma que o fogo consumirá sem se apagar é porque o fogo eterno não se apaga mesmo, pois o livro inspirado contem palavras claras que servem para esclarecer passagens menos claras. Assim, o mais provável não é que o fogo se apague assim que os cadáveres sejam totalmente queimados, mas que existe um fogo que realmente não se apaga para atormentar os condenados. Por esse motivo, o fogo que não se apaga é o mesmo que o fogo eterno expresso no evangelho.

O fogo queimará os ímpios de modo a não consumi-los, ainda que não sejam glorificados, pois se trata de um fogo espiritual, literal, mas certamente diverso do que há na terra. Então, a doutrina do fogo eterno não é diabólica e aberrante, mas bíblica.

Gledson Meireles.

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