sábado, 20 de janeiro de 2024

Livro: A imortalidade da alma: bispo Teófilo

 Refutação: • Teófilo de Antioquia (120-186)

 

São Teófilo, bispo cristão católico da cidade de Antioquia, que viveu no século segundo, é elencando como mortalista, ou seja, como aquele que não crê na imortalidade da alma e que ensina o aniquilacionismo. Vejamos as passagens alegadas para isso, para vermos se esse bispo ensinava tal doutrina.

Eusébio de Cesareia faz menção desse bispo, cita outras obras que não foram preservadas, e o apresenta como defensor da fé contra tantos hereges que existiam naqueles tempos.

Primeiro, é preciso ver que no seu Livro a Autólico I, 5, ele escreve:

 

“Do mesmo modo como a alma não pode ser vista no homem, pois ela é invisível para os homens, mas pode ser imaginada por causa dos movimentos do corpo, assim também acontece com Deus: ele não pode ser visto pelos olhos humanos, mas pode ser visto e imaginado pela sua providência e pelas suas obras”.

 

Nessa passagem, São Teólifo usa um exemplo para as condições do conhecimento de Deus, e expressa que a alma é invisível no homem. Parece não ser a mesma opinião dos mortalistas, que dizem que o homem é alma e que não possui alma. Ou ainda, que afirma que a alma é apenas a vida física que está no corpo.

As palavras de Teófilo concordam que a alma é de fato a parte espiritual do homem, que anima o corpo, e que é imaginada pelos efeitos que produz no corpo, e sendo assim, pode-se concluir por implicação, ela é imortal.

No capítulo 14 do mesmo livro ele menciona os tormentos eternos dos incrédulos: “Eu te peço: submete-te também a ele, para que, não crendo agora, forçosamente tenhas que crer mais tarde em tormentos eternos”. Portanto, é de se pensar que Teófilo ensinava a mesma doutrina católica de sempre sobre a alma.

Contudo, vamos aos argumentsos mortalistas apresentado no livro a respeito de Teófilo. Como o mortalismo interpreta a doutrina ensinada por Teófilo, e o motivo dessa interpretação estar equivocada, é o que será mostrado adiante.

A primeira citação é do livro II, 24. Ali, São Teófilo ensina que o homem foi criado para um dia ir para o céu. Esse foi o plano original de Deus, onde sem o pecado não haveria morte e o homem iria passar da vida física na terra e ir diretamente ao paraíso no céu.

Ensina que o ser humano não foi criado mortal nem imortal, mas capaz das duas coisas. Ou seja, o homem podia morrer, mas também podia não morrer, dependendo da sua vida em união com Deus. Trata-se, portanto, da morte física, que ainda não existia, e não tem nada a ver com o que aconteceria com o ser humano, com a sua alma, após a morte entrar no mundo.

Depois são citadas as passagens 26 e 27 do livro, e o autor mortalista critica o ensino da alma imortal como se o mesmo fosse o “antídoto” para a morte. Sabendo que isso não é o que Teófilo ensinou, mas enfatizando que ele cria na ressurreição, então conclui que o bispo era mortalista.

A comparação de Teófilo com o vaso quebrado que é refeito é oportuna para a ressureição, e correta. De fato, ali está sendo ensinada a ressureição do corpo, e nada mais. Não há implicação nenhuma sobre a alma.

E quando Teófilo afirma que: “Quando depuseres a mortalidade e te revestires da incorruptibilidade, verá a Deus de maneira digna”, o mortalismo entende que não há visão de Deus antes da ressurreição, no estado intermediário, pois o bispo afirma que é na ressurreição que o salvo poderá ver a Deus.

Essas seriam as provas de que Teófilo não era imortalista. De fato, em outra obra que o autor mortalista trata de Teófilo, ele fala de “claros indícios” de que o bispo não era imortalita.

Um exemplo seria a doutrina da conflagração universal, que Teófilo ensinava, e afirmou que também era a doutrina dos gregos. Mas, de fato, Teófilo escreveu das doutrinas que os filósofos ensinavam e que concordavam com a fé cristã, entre elas certamente está a conflagração universal, mas não na sua inteireza.

Como o próprio livro mortalista apresenta, essa doutrina ensina a destruição total do planeta pelo fogo, e que as almas durariam algum tempo após a morte até serem destruídas na conflagração. Teófilo não ensinava isso. Portanto, não é o fato do bispo também crer em certa conflagração universal que ele também iria crer no aniquilamento dos ímpios.

Ainda, quando Teófilo escreve ser “imortal”, o texto é interpretado como a doutrina da imortalidade condicional, ou seja, que haverá para os salvos a imortalidade após a ressurreição.

De fato, o bispo estava se referindo à ressurreição quando ele escreve: “...Deus ressuscitará a tua carne, imortal, juntamente com tua alma. Então, tornado imortal, verás o imortal””. No entanto, isso apenas significa que a alma se juntará com o corpo, e não que estava morta e foi ressuscitada.

Outra coisa, a posse da alma imortal não é o mesmo que ter imortalidade, pois a alma em si é imortal, mas na morte ela se separa do corpo, que é animado por ela, e isso é a morte. Portanto, trata-se de uma crítica errônea da doutrina da imortalidade da alma.

A doutrina católica não ensina que o homem é imortal hoje, como se a alma imortal significasse que a pessoa fosse imortal. De fato, a separação do corpo e da alma configura a morte, e se a alma continua em consciência e existência pós-morte, isso não é imortalidade da pessoa, mas somente de parte da pessoa que é a alma, e que por essa razão requer a ressurreição. Aliás, é a imortalidade da alma que explica o modo pelo qual a pessoa sente o estado de morte.

E sobre o cuidado de Deus com os salvos depois de mortos, que é uma referência do capítulo 38 do Livro II, tendo a ver com a ressurreição dos mortos, de fato, está correto. Contudo, isso não depõe contra a fé na imortalidade da alma, mas apenas mostra como o santo bispo estava ensinando a ressurreição.

Todas essas passagens foram interpretadas como implicando que a vida eterna só existirá após a ressurreição, que será o momento em que os salvos poderão ver a Deus e entrar no paraíso.

Mas, diante de tudo isso, temos outras passagens mais claras de Teófilo sobre a alma e o juízo, que implicam diretamente na imortalidade da alma e se harmonizam com essas outras passagens do autor nos seus livros.

Como exemplo, temos no Livro II, 29 que “a alma é chamada imortal”, ao fazer alusão à criação do homem em Gênesis 2, 7.

E no capítulo 38 ele faz uma comparação das doutrinas que os filósofos pagãos ensinaram uma vez, mas depois mudaram de opinião, sendo que essa segunda doutrina está conforme a fé cristã.

Assim, ele fala do politeísmo dos antigos escritores, mas afirma que depois de falar da “multidão de deuses”, eles passaram a “admitir a unicidade ou monarquia de Deus”.

Os que ensinavam a “não-providência”, passaram depois a ensinar a providência. Os que negaram o juízo, o ensinaram mais tarde.

Os que “negaram a sensação após a morte”, ou seja, que negaram a imortalidade da alma, “depois a confessaram”.

Em outras palavras, eles creram que a alma é imortal. E para isso, cita Homero que ensinou que a alma saía dos membros e voava para o Hades.

Dessa forma, ele afirma que os escritores chegaram a ensinar a verdade quando admitiram a unicidade e monarquia de Deus, a providência, o juízo e a sensação após a morte. Sabendo que a segunda doutrina é a correta, temos praticamente uma passagem clara sobre o que ensinva o bispo Teófilo.

Gledson Meireles.

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