Refutação: • Teófilo de Antioquia (120-186)
São
Teófilo, bispo cristão católico da cidade de Antioquia, que viveu no século
segundo, é elencando como mortalista, ou seja, como aquele que não crê na imortalidade
da alma e que ensina o aniquilacionismo. Vejamos as passagens alegadas para
isso, para vermos se esse bispo ensinava tal doutrina.
Eusébio
de Cesareia faz menção desse bispo, cita outras obras que não foram
preservadas, e o apresenta como defensor da fé contra tantos hereges que
existiam naqueles tempos.
Primeiro,
é preciso ver que no seu Livro a Autólico I, 5, ele escreve:
“Do mesmo modo como a alma não pode ser vista no
homem, pois ela é invisível para os homens, mas pode ser imaginada por causa
dos movimentos do corpo, assim também acontece com Deus: ele não pode ser visto
pelos olhos humanos, mas pode ser visto e imaginado pela sua providência e
pelas suas obras”.
Nessa
passagem, São Teólifo usa um exemplo para as condições do conhecimento de Deus,
e expressa que a alma é invisível no homem. Parece não ser a mesma opinião dos
mortalistas, que dizem que o homem é alma e que não possui alma. Ou ainda, que
afirma que a alma é apenas a vida física que está no corpo.
As
palavras de Teófilo concordam que a alma é de fato a parte espiritual do homem,
que anima o corpo, e que é imaginada pelos efeitos que produz no corpo, e sendo
assim, pode-se concluir por implicação, ela é imortal.
No
capítulo 14 do mesmo livro ele menciona os tormentos eternos dos incrédulos:
“Eu te peço: submete-te também a ele, para que, não crendo agora, forçosamente
tenhas que crer mais tarde em tormentos eternos”. Portanto, é de se pensar que
Teófilo ensinava a mesma doutrina católica de sempre sobre a alma.
Contudo,
vamos aos argumentsos mortalistas apresentado no livro a respeito de Teófilo.
Como o mortalismo interpreta a doutrina ensinada por Teófilo, e o motivo dessa
interpretação estar equivocada, é o que será mostrado adiante.
A
primeira citação é do livro II, 24. Ali, São Teófilo ensina que o homem foi
criado para um dia ir para o céu. Esse foi o plano original de Deus, onde sem o
pecado não haveria morte e o homem iria passar da vida física na terra e ir
diretamente ao paraíso no céu.
Ensina
que o ser humano não foi criado mortal nem imortal, mas capaz das duas coisas.
Ou seja, o homem podia morrer, mas também podia não morrer, dependendo da sua
vida em união com Deus. Trata-se, portanto, da morte física, que ainda não
existia, e não tem nada a ver com o que aconteceria com o ser humano, com a sua
alma, após a morte entrar no mundo.
Depois
são citadas as passagens 26 e 27 do livro, e o autor mortalista critica o
ensino da alma imortal como se o mesmo fosse o “antídoto” para a morte. Sabendo
que isso não é o que Teófilo ensinou, mas enfatizando que ele cria na
ressurreição, então conclui que o bispo era mortalista.
A
comparação de Teófilo com o vaso quebrado que é refeito é oportuna para a
ressureição, e correta. De fato, ali está sendo ensinada a ressureição do
corpo, e nada mais. Não há implicação nenhuma sobre a alma.
E
quando Teófilo afirma que: “Quando depuseres a mortalidade e te revestires da
incorruptibilidade, verá a Deus de maneira digna”, o mortalismo entende que não
há visão de Deus antes da ressurreição, no estado intermediário, pois o bispo
afirma que é na ressurreição que o salvo poderá ver a Deus.
Essas
seriam as provas de que Teófilo não era imortalista. De fato, em outra obra que
o autor mortalista trata de Teófilo, ele fala de “claros indícios” de que o
bispo não era imortalita.
Um
exemplo seria a doutrina da conflagração universal, que Teófilo ensinava, e
afirmou que também era a doutrina dos gregos. Mas, de fato, Teófilo escreveu
das doutrinas que os filósofos ensinavam e que concordavam com a fé cristã, entre
elas certamente está a conflagração universal, mas não na sua inteireza.
Como
o próprio livro mortalista apresenta, essa doutrina ensina a destruição total
do planeta pelo fogo, e que as almas durariam algum tempo após a morte até
serem destruídas na conflagração. Teófilo não ensinava isso. Portanto, não é o
fato do bispo também crer em certa conflagração universal que ele também iria
crer no aniquilamento dos ímpios.
Ainda,
quando Teófilo escreve ser “imortal”, o texto é interpretado como a doutrina da
imortalidade condicional, ou seja, que haverá para os salvos a imortalidade
após a ressurreição.
De
fato, o bispo estava se referindo à ressurreição quando ele escreve: “...Deus
ressuscitará a tua carne, imortal, juntamente com tua alma. Então, tornado imortal,
verás o imortal””.
No entanto, isso apenas significa que a alma se juntará com o corpo, e não que
estava morta e foi ressuscitada.
Outra
coisa, a posse da alma imortal não é o mesmo que ter imortalidade, pois a alma
em si é imortal, mas na morte ela se separa do corpo, que é animado por ela, e
isso é a morte. Portanto, trata-se de uma crítica errônea da doutrina da
imortalidade da alma.
A
doutrina católica não ensina que o homem é imortal hoje, como se a alma imortal
significasse que a pessoa fosse imortal. De fato, a separação do corpo e da
alma configura a morte, e se a alma continua em consciência e existência
pós-morte, isso não é imortalidade da pessoa, mas somente de parte da pessoa
que é a alma, e que por essa razão requer a ressurreição. Aliás, é a
imortalidade da alma que explica o modo pelo qual a pessoa sente o estado de
morte.
E sobre
o cuidado de Deus com os salvos depois de mortos, que é uma referência do
capítulo 38 do Livro II, tendo a ver com a ressurreição dos mortos, de fato,
está correto. Contudo, isso não depõe contra a fé na imortalidade da alma, mas
apenas mostra como o santo bispo estava ensinando a ressurreição.
Todas
essas passagens foram interpretadas como implicando que a vida eterna só
existirá após a ressurreição, que será o momento em que os salvos poderão ver a
Deus e entrar no paraíso.
Mas,
diante de tudo isso, temos outras passagens mais claras de Teófilo sobre a
alma e o juízo, que implicam diretamente na imortalidade da alma e se
harmonizam com essas outras passagens do autor nos seus livros.
Como
exemplo, temos no Livro II, 29 que “a alma é chamada imortal”, ao fazer alusão
à criação do homem em Gênesis 2, 7.
E no
capítulo 38 ele faz uma comparação das doutrinas que os filósofos pagãos
ensinaram uma vez, mas depois mudaram de opinião, sendo que essa segunda
doutrina está conforme a fé cristã.
Assim,
ele fala do politeísmo dos antigos escritores, mas afirma que depois de falar
da “multidão de deuses”, eles passaram a “admitir a unicidade ou monarquia de
Deus”.
Os
que ensinavam a “não-providência”, passaram depois a ensinar a providência. Os
que negaram o juízo, o ensinaram mais tarde.
Os
que “negaram a sensação após a morte”, ou seja, que negaram a imortalidade da
alma, “depois a confessaram”.
Em
outras palavras, eles creram que a alma é imortal. E para isso, cita Homero que
ensinou que a alma saía dos membros e voava para o Hades.
Dessa
forma, ele afirma que os escritores chegaram a ensinar a verdade quando
admitiram a unicidade e monarquia de Deus, a providência, o juízo e a sensação
após a morte. Sabendo que a segunda doutrina é a correta, temos praticamente
uma passagem clara sobre o que ensinva o bispo Teófilo.
Gledson Meireles.
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