quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Livro: A lenda da imortalidade da alma: Taciano

 Refutação: • Taciano, o Sírio (120-180)

O mortalismo cita Taciano como ensinando a mortalidade da alma, a inseparabilidade da alma e do corpo. E isso seria mais um exemplo de um pai da Igreja contra a imortalidade da alma.

De fato, Taciano afirma que na morte o ser não existe, que a imortalidade foi perdida pelo pecado, e que a alma não pode aparecer sem o corpo e o corpo não pode ressuscitar sem a alma, o que é considerado um “golpe fatal no dualismo grego”, onde a alma não poderia existir fora do corpo e manter a consciência.

A doutrina de Taciano era que existe espírito em todas as coiss, mas há diferença entre os espíritos (cap. 11). E no capítulo 12, contra a doutrina grega. Taciano afirma que a alma é mortal.

De fato, ele ensinou a morte da alma, e que também a imortalidade foi perdida pelo pecado original, mas a sua doutrina não era tão simples como acima foi apresentada, nesse resumo feito a partir do livro mortalista.

Quando ele diz que a alma receberá imortalidade, e afirma que na morte os homens não recebem poder mais eficaz, mas deixam de existir, ao mesmo tempo ele afirma que existe a alma, que é separável do corpo, e que há possibilidade de que a alma não morra com o corpo. Seria então que alguns conseguiram tornar sua alma imortal?

Sendo Taciano um herege, ele pode ter vários pensamentos e doutrinas que não concordam com a Igreja, e não têm relação com o que pensavam os cristãos em sua época.

No caso, Taciano pensava na “morte” da alma, e isso, portanto, era uma heresia. Temos aqui um exemplo que não depõe contra a doutrina da imortalidade da alma, mas que serve para realçar o fato de que a Igreja ensinava justamente isso, e não é o fato de Taciano ensinar diversas doutrinas particulares que prova que tal era a crença geral.

Santo Ireneu condenou a heresia dos encratistas, que eram contrários ao matrimônio, que negavam a salvação de Adão, e inclusive cita Taciano, que foi herege, não seguindo os exemplos de São Justino (cf. Contra as Heresias, I, 28, I).

No entanto, Taciano afirmava que os ímipios receberão “pena na imortalidade” ou “morte na imortalidade”, ou seja, que não morrerão. Assim, ele cria na mortalidade da alma, mas não cria que os ímpios ressuscitados voltariam a morrer.

Mas, ainda, o que é interessante, na obra Discurso contra os gregos, ele afirma que a alma “é também capaz de não morrer”, e que aqueles que possuíram o conhecimento de Deus, não podem morrer: “Por outro lado, não morre, por mais que se dissolva com o corpo, se adquiriu conhecimento de Deus.” Ou seja, se o ímpio morreu, ainda que o corpo seja corrompido e se desfaça, ele não morre, pois a alma continua existindo e viva.

Os capítulos 14 e 15 da obra de Taciano explicam o fato de os demônios não poderem morrer facilmente. Ele ensina que a alma deve estar ligada ao Espírito Santo, pois isso foi perdido. Ele afirma que alma possui muitas partes, e só aparece com o corpo, e o corpo não pode ressuscitar sem a alma.

Ele afirma que os demônios irão manter sua imortalidade quando forem punidos. Eles irão “morrer”, mas “morrendo continuamente mesmo enquanto eles vivem”, ou seja, é uma morte espiritual, não literal, uma metáfora para a condenação dos demônios.

Ainda, ele afirma que, ao contrário das heresias gregas que ensinam que somente a alma possuirá a imortalidade, ele afirma que o corpo “também” a possui. E quando fala da ressurreição, Taciano usa a expressão “ressurreição de corpos”.

Gledson Meireles.

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