quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Livro: A morte da morte na morte de Cristo, de John Owen - argumento 2, capítulo 30.

 II.  Cristo veio salvar todos os pecadores, não somente alguns deles

John Owen tenta refutar essa doutrina de que Cristo veio salvar a todos os pecadores. Afirma que a Bíblia não coloca exceção ou restrição sobre as pessoas pelas quais Cristo morreu, pois isso seria contradição. Entretanto, apenas que uma parte da Bíblia interpreta outra, e entende que “todos” tem a ver somente com os eleitos.

Então, o reformado crê que Cristo morreu por todos, utilizando a mesma linguagem bíblica, porém interpretando isso como sendo “todos” no sentido restrito de igreja, eleitos, ovelhas, crentes, de toda sorte, de toda raça, de todas as nações e línguas.

É preciso dizer que isso não é o que a Bíblia afirma. Quando dizemos que cremos que Cristo morreu por todos, a palavra todos quer dizer literalmente todos os homens e mulheres, sem exceção. O reformado entende que todos quer dizer todos os eleitos. É uma fundamental diferença que o reformado tem para si interpretando de maneira diversa as passagens bíblicas que claramente ensinam a redenção universal.

Owen afirma que o argumento dado muda apenas de aparência, sendo o mesmo de antes. Também, que proposições indefinidas são tornadas universais. Por exemplo, Owen não crê que Cristo morreu pelos pecadores no sentido que morreu por todos os pecadores, mas apenas pelos pecadores eleitos, como esclarecido acima. Podemos ver que isso é forçar as Escrituras, já que sendo essas proposições indefinidas, elas são naturalmente universais, pois do contrário as Escrituras seriam claras ao restringir todas essas passagens somente aos eleitos.

Para provar sua asserção, Owen cita Romanos 4, 5 onde está escrito que Deus justifica o ímpio. Isso seria prova de que Deus não justifica todo e qualquer ímpio. Mas o problema é que a Bíblia está afirmando o que Deus faz ao justificar alguém, que é um ímpio, sempre sendo um ímpio, sem exceção. Isso está na Vontade de Deus, que justifica o pecador, seja ele qual for, sendo assim essa justificação aberta a todos. É isso que a passagem está afirmando, no seu sentido, não apenas nas suas palavras, como Owen exige que seja feito segundo as regras corretas de interpretação bíblica. Assim, mas um argumento refutado.

Quando é dito em João 3, 19 que os homens amaram as trevas, não sendo todos os homens, Owen está correto em trazer esse exemplo, mas erra ao torná-lo igual aos anteriores que mostram que Cristo morreu por todos. Isso porque em João 3, 19 podemos ver pelo contexto que esses homens que não creram foram muitos e não todos, pois são os que praticam o mal, e não os que praticam o bem, como está em João 3, 21. Mais um exemplo refutado.

Quando diz em João 1, 10 que o mundo não conheceu Cristo, também o contexto está claro que não é a todas as pessoas que a afirmação está se referindo, fazendo uma alusão à raça judaica que não aceitou a Cristo em contraposição aos que podem crer no Nome dEle, v. 12, que são todos, pois todos possuem essa possibilidade de crer, o que está aberto a todos e cada um dos seres humanos sem exceção. Dessa forma, o terceiro exemplo de Owen também está refutado.

Ainda, segundo 1 João 5, 19 todo o mundo jaz na iniquidade. O próprio verso já afirma que há pessoas que não estão na iniquidade: “Sabemos que somos de Deus, e que o mundo todos jaz sob o Maligno”. Então, as palavras “mundo todo” já estão explicadas no contexto, aliás, no próprio versículo, ou seja, o mundo está sob o poder do Maligno, mas não os que são de Deus, os que crêem em Cristo.

Essas “proposições indefinidas”, como Owen explica, são entendidas no seu contexto, e, portanto, os quatros exemplos citados estão refutados (Rm 4, 5; Jo 3, 19; Jo 1, 10; 1 Jo 5, 19). As proposição que tratam da morte de Cristo por todos estão explicadas no contexto, demonstrando que se referem de fato as toda e qualquer pessoa sem exceção.

No terceiro argumento de Owen, ele afirma que “todos” tem a intenção de dizer que são os pecadores e o mundo, pelos homens pecadores em diversas gerações, mas não um coletivo universal, que acredita ser um sofisma e falso.

Para isso, acredita que as passagens que falam de “todo o seu próprio povo” ou dos “filhos de Deus dispersos pelo mundo inteiro” explicam que todos se referem restritamente a esses que estão salvos.

No entanto, nada mais confuso, já que cada sentença chamada indefinida possui em seus respectivos contextos sua acepção de coletivo universal, e por isso cada vez que um pecador se converte, ou seja, é convertido por Deus, pode dizer claramente que foi salvo, que foi amado por Deus, que Cristo morreu por ele.

Se os textos de Romanos 3, 10.19.20.23 ensina algo claramente, é que Cristo morreu de fato por todos os pecadores. Basta ver que no v. 10 está escrito que não há justo, não há sequer um, o que é entendido como referente a todos, como uma prova do pecado original que atingiu toda a raça humana a partir de Adão. Então, todos quer dizer toda e qualquer pessoa.

O verso 19 afirma que “o mundo inteiro seja reconhecido culpado diante de Deus”, o que significa de fato o mundo inteiro sem exceção de ninguém. De fato, não há como alguém não ser considerado culpado, e, portanto, “mundo inteiro” é, como as palavras claras dizem, de fato o mundo inteiro, com todas as pessoas sem nenhuma exceção.

A justiça de Deus é para todos os fieis pois “todos” pecaram e estão destituídos da glória de Deus, afirma, o verso 23, o que novamente é prova do pecado original, que atinge toda e qualquer pessoa. Desse modo, quem crê é justificado. Deus justiça quem tem fé em Cristo (Rm 3, 26). Essa é uma proposição que está aberta a todos, e todos sem exceção, como fica claro pelo contexto.

Dessa forma, aqui em Romanos 3, 1-23, se faz a aberta da salvação a judeus e pagãos, a circuncisos e incircuncisos, de modo que não há exceção de ninguém. Sendo assim, mais um argumento Owen que cai por terra.

Gledson Meireles.

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