domingo, 14 de janeiro de 2024

Livro: A lenda da imortalidade da alma: Hermas

Refutação: • Hermas (70-155)


O Pastor de Hermas, obra importante, que foi acreditada ser inspirada por muitos cristãos na antiguidade, afirma que o mundo futuro será verão para os justos e inverno para os pecadores. Depois afirma que os ímpios serão queimados, como maderia morta. Isso indica o aniquilamento ou é apenas uma simbologia para o inferno? Certamente, estando de acordo com a doutrina bíblica, é a segunda opção.

Em muitos lugares Hermas afirma a morte daqueles que não obedecem a Deus. Esses já vivem na morte. Há também a ideia de uma possibilidade de conversão de muitos, e impossibilidade para outros. Isso deve-se, por certo, da recusa desses de se converterem, pois em todo o livro pode-se perceber o livre-arbítrio.

Na sexta parábola, no parágrafo 62, encontramos o anjo da volúpia e do erro que “aniquila” as almas. Nos maus desejos, essas almas morrem. O anjos destrói esses infiéis. Uns morrem e outros se corrompem, diz o texto. Isso significa que a corrupção ainda deixa possibilidade de conversão, enquanto “a morte implica em perdição eterna”.

Essas expressões podem auxiliar no entendimento da questão da aniquilação. Tudo parece ser simbólico, pois muitos ds pecadores já estão mortos, aniquilados. Outros estão corrompidos. A corrupção deixa espaço para que haja restauração, enquanto que a morte leva à perdição. Essa linguagem está em conformidade com a doutrina do inferno.

Há também no número 97 a visão de mulheres que matam os condenados. Não há lugar para ler isso como uma alusão ao aniquilamento. De fato, no número 98 há a expressão dos que “não vivem e nem estão mortos”.

A ideia de que muitos não possuem mais esperançade serem salvos, como os que pecam gravemente e não querem arrependimento, vemos os que já não possuem esperança de viver, no parágrafo 103.

E no número 105, há a alusão à prisão: “se o nergares sereis entregues à prisão”, o que certamente é o inferno. De fato, não há como estar preso o que não existe. Temos assim que a vida é tirada dos pecadores que não fazem penitência, a isso não significa que eles deixaram de existir, mas que não possuem a vida em Deus e não entrarão no reino e não estarão do lado de Deus.

Por isso, a interpretação mortalista de algumas expressões em Hermas como se fossem aniquilacionistas é uma opinião bastante fraca, que não possui robustez, e tem toda indicação de que está equivocada.

Desse modo, quando Hermas afirma que os justos herdarão o Reino no futuro, isso não depõe contra a imortalidade da alma, já que a alma está em glória à espera da ressurreição para a herença do Reino. E quanto à distinção aludida entre justos e ímpios, isso será possível no juízo, onde serão manifestadas as obras de cada um. Nada disso é contra a doutrina da imortalidade da alma.

O livro mortalista cita Pastor de Hermas 53, 1-5 como prova de que na concepção de Hermas só haverá vida consciente após a ressurreição. Mas, como explicado acima, essa interpretação está equivocada.

No livro que trata os padres da Igreja mais diretamente, o autor cita Pastor de Hermas 7, 3; 10, 1; 53, 1-5; 62, 1.3-4; 64, 1-4; 65, 7; 72, 6; 73, 3; 74, 3-4; 75, 4; 77, 3; 93, 5; 95, 2; 96, 1-2; 98, 4; 100, 4; 114, 1.

Nessas citações pode-se ver que a morte é simbólica. Assim, os que pecaram e estão longe da verdade podem converterem-se e viver. Essa morte é espiritual, e não um aniquilamento.

Em Hermas 95, 2 há os que pecam sem conhecer a Deus, e são condenados à morte, e os que conhecem a Deus e pecam são “duplamente castigados”, morrendo para sempre. O que isso significa? Que a morte primeria que castiga uns é temporária e só a segunda é eterna? Certamente, significa que para uns é possível a conversão e viverão na graça de Cristo, enquanto que para os obstinados isso não é possível e serão condenados agora e na eternidade. Essa condenação é perder a vida, ser lançado na prisão, como visto acima.

Entretando, o autor mortalista não percebeu o que está no capítulo 93. De fato, em outra obra o autor faz a citação dessa passagem, lendo-a como condicionalista, pois afirma que a “linguagem condicionalista” é usada por Hermas quando escreve: “adormecidos no poder e na fé do filho de Deus”. Contudo, não é explicado o contexto dessa afirmação.

Parece que o mortalismo entende que “adormecidos” significa aniquilados, o que não está no contexto do Pastor de Hermas.

Ali está escrito que os espíritos dos mortos do AT foram batizados para terem vida e entrarem no Reino, pois antes estavam mortos, pois não tinha o selo do batismo de Cristo.

Deve-se entender mais. Aqueles que morrem antes de Cristo, ainda que “na justiça e na pureza”, como afirma Hermas, esses estavam mortos, ou seja, eram mortos literalmente que estavam mortos espiritualmente, mas não como condenados. Aqui há uma outra concepção para a morte aludida. Essa morte é não ter ainda o conhecimento de Jesus Cristo, não ter o batismo, que é o selo de Cristo para a vida.

Aqui fica claro que a morte desses espíritos era simbólica, por não conhecerem a Cristo ainda. Os apóstolos e doutores foram no espírito pregar a batizar os “que tinham morrido antes deles”.

Portanto, esses precisavam do selo do batismo. Se as expressões que colocam ênfase no futuro, para a ressurreição, podem ser lidas e entendidas por quem crê na imortalidade da alma, essa passagem é impossível que alguém que não creia na imortalidade da alma também possa acreditar que os mortos do Antigo Testamento ouviram a pregação do evangelho e foram batizados pelos apóstolos e doutores. Portanto, está refutado mais um argumento mortalista.

Que o leitor entenda que não há espaço para opinião, pois é um fato que não se adequa à interpretação mortalista apresentada, o que significa peremptoriamente sua refutação.

E por fim, fica mais um testemunho de que os primeiros cristãos criam na descida de Jesus aos infernos, como está nas Sagradas Escrituras e pode ser provado por um estudo sólido das passagens bíblicas que se referem a esse fato. 


Gledson Meireles.

 

 

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