sexta-feira, 31 de março de 2023

Livro: A lenda da imortalidade da alma, sobre Deus de vivos e não de mortos

Refutação do tópico: Deus de vivos, não de mortos

 

Esse texto é muito usado para provar a imortalidade da alma em debates. De fato, se Deus é Deus dos vivos, todos vivem para Ele, isso parece implicar em que os mortos não caíram na inexistência.

 

É compreensível que o contexto é dirigido a provar a ressurreição, ou seja, Deus é Deus dos vivos e fará todos reviverem. Isso é pacífico. O que não se pode, porém, é tomar o texto e usá-lo contra a imortalidade da alma. No mínimo seria um dos argumentos neutros nesse sentido.

 

Preste atenção no argumento do Senhor Jesus, onde no texto “Deus de Abraão, Deus de Isaque e Deus de Jacó” Ele prova a ressurreição. Certamente os textos bíblicos usados assim pela Igreja Católica não são aceitos como argumentos pelos protestantes. Diriam que o texto não fala de alma, não fala de ressurreição em lugar nenhum, nem mesmo aparece ressurreição no pentateuco. E Jesus usou um texto do Pentateuco para provar a ressurreição contra os saduceus, pois eles criam somente nesses cinco livros. Entretanto, o texto é usado como indiretamente afirmando a ressureição quando Deus é chamado de Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó.

 

Quanto ao fato das almas estarem no céu, é preciso compreender que naqueles tempos os saduceus não teriam como argumentar dessa forma. Uma vez que não criam na sobrevivência da alma, e também por conhecer a doutrina dos fariseus, de que as almas estão no mundo dos mortos, nas sombras da morte, o que não faria sentido tratar de coisas tão elaboradas como o caso de quem seria esposa aquela que em  vida casou-se sete vezes. De fato, no sheol não era concebida uma vida como a que se tem na terra, embora já acreditassem na felicidade experimentada antes da ressurreição.

 

Um argumento da mesma natureza que o autor mortalista usou em outro lugar pode ser empregado aqui para refutá-lo. Para defender o aniquilamento dos ímpios, ele escreve que uma vez que os ímpios são eliminados diante de Deus, e Deus é onipresente, então os ímpios deixam de existir.

 

Aqui, podemos usar argumentos dessa forma, sem usar o contexto, a exegese, como o autor não usou ao empregar tal raciocínio. Podemos afirmar que uma vez que Deus não considera existir o que não existe, e se para Ele todos estão vivos, mesmo os que estão mortos fisicamente vivem para Deus, existindo no mundo espiritual, o que é uma prova da imortalidade da alma partindo da afirmação da Bíblia. É um raciocínio válido.

 

Assim como a afirmação bíblica de ser eliminado diante de Deus não leva à inexistência dos mortos, pois não é assunto metafísico que está sendo tratado no contexto, que é eliminar da terra, do meio do povo, o mesmo se dá quando é dito que para Deus todos vivem, o que não necessariamente está afirmando algo sobre a imortalidade da alma, já que o contexto é para provar a ressurreição. Refuta-se novamente mais um argumento do livro por outras vias. Se trata da ressurreição, não tem nenhuma implicação no que diz respeito ao estado das almas.

 

E na doutrina católica a ressureição é necessária, o que está provado no estudo presente. A ideia mortalista de que a vida da alma é idêntica à vida da pessoa viva na terra é que se transforma em empecilho para que entenda o ponto de vista da imortalidade da alma e da ressurreição como duas coisas harmoniosas.

 

O autor escreve que as almas estão vivas “da mesma forma que vivia antes da ressurreição”, quando não é exatamente o que a doutrina da imortalidade da alma ensina, já que não sendo a natureza humana somente alma, então a pessoa está de fato morta, e a alma perde muito da sua capacidade de vida completa como Deus criou, necessitando da ressurreição do corpo.

 

De fato, é verdadeira a interpretação que o livro traz quando afirma: “Uma onde o «Deus de vivos» não implica que os mortos estão vivos em algum lugar, mas que eles ressuscitarão um dia.” O que foi analisado acima.

 

O autor entende bem que Jesus usou o Pentateuco porque era a única Escritura reconhecida pelos saduceus. É como o católico que não pode usar o livro da Sabedoria para provar a imortalidade da alma porque o protestante não o reconhece como inspirado. Por isso, o cristão católico utiliza outros livros que o cristão protestante também aceita.

 

A passagem não é prova contra a imortalidade da alma, já que trata da vida eterna na ressurreição, o que é necessário para que a pessoa esteja viva e não morta. A imortalidade da alma não é o mesmo que afirmar que a pessoa está viva. O argumento que não tenha isso em consideração é usado contra algo que não existe.


Gledson Meireles. 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário