Refutação do tópico: Deus de vivos, não de mortos
Esse texto é muito usado para provar a imortalidade da
alma em debates. De fato, se Deus é Deus dos vivos, todos vivem para Ele, isso
parece implicar em que os mortos não caíram na inexistência.
É compreensível que o contexto é dirigido a provar a
ressurreição, ou seja, Deus é Deus dos vivos e fará todos reviverem. Isso é pacífico.
O que não se pode, porém, é tomar o texto e usá-lo contra a imortalidade da
alma. No mínimo seria um dos argumentos neutros nesse sentido.
Preste atenção no argumento do Senhor Jesus, onde no
texto “Deus de Abraão, Deus de Isaque e
Deus de Jacó” Ele prova a ressurreição.
Certamente os textos bíblicos usados assim pela Igreja Católica não são aceitos
como argumentos pelos protestantes. Diriam que o texto não fala de alma, não
fala de ressurreição em lugar nenhum, nem mesmo aparece ressurreição no
pentateuco. E Jesus usou um texto do Pentateuco para provar a ressurreição
contra os saduceus, pois eles criam somente nesses cinco livros. Entretanto, o
texto é usado como indiretamente afirmando a ressureição quando Deus é chamado
de Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó.
Quanto ao fato das almas estarem no céu, é preciso
compreender que naqueles tempos os saduceus não teriam como argumentar dessa
forma. Uma vez que não criam na sobrevivência da alma, e também por conhecer a
doutrina dos fariseus, de que as almas estão no mundo dos mortos, nas sombras
da morte, o que não faria sentido tratar de coisas tão elaboradas como o caso
de quem seria esposa aquela que em vida
casou-se sete vezes. De fato, no sheol
não era concebida uma vida como a que se tem na terra, embora já acreditassem
na felicidade experimentada antes da ressurreição.
Um argumento da mesma natureza que o autor mortalista
usou em outro lugar pode ser empregado aqui para refutá-lo. Para defender o
aniquilamento dos ímpios, ele escreve que uma vez que os ímpios são eliminados
diante de Deus, e Deus é onipresente, então os ímpios deixam de existir.
Aqui, podemos usar argumentos dessa forma, sem usar o
contexto, a exegese, como o autor não usou ao empregar tal raciocínio. Podemos
afirmar que uma vez que Deus não considera existir o que não existe, e se para
Ele todos estão vivos, mesmo os que estão mortos fisicamente vivem para Deus,
existindo no mundo espiritual, o que é uma prova da imortalidade da alma
partindo da afirmação da Bíblia. É um raciocínio válido.
Assim como a afirmação bíblica de ser eliminado diante
de Deus não leva à inexistência dos mortos, pois não é assunto metafísico que
está sendo tratado no contexto, que é eliminar da terra, do meio do povo, o
mesmo se dá quando é dito que para Deus todos vivem, o que não necessariamente
está afirmando algo sobre a imortalidade da alma, já que o contexto é para
provar a ressurreição. Refuta-se novamente mais um argumento do livro por
outras vias. Se trata da ressurreição, não tem nenhuma implicação no que diz
respeito ao estado das almas.
E na doutrina católica a ressureição é necessária, o
que está provado no estudo presente. A ideia mortalista de que a vida da alma é
idêntica à vida da pessoa viva na terra é que se transforma em empecilho para
que entenda o ponto de vista da imortalidade da alma e da ressurreição como
duas coisas harmoniosas.
O autor escreve que as almas estão vivas “da mesma forma
que vivia antes da ressurreição”,
quando não é exatamente o que a doutrina da imortalidade da alma ensina, já que
não sendo a natureza humana somente alma, então a pessoa está de fato morta, e
a alma perde muito da sua capacidade de vida completa como Deus criou,
necessitando da ressurreição do corpo.
De fato, é verdadeira a interpretação que o livro traz
quando afirma: “Uma
onde o «Deus de vivos» não implica que os mortos estão vivos em algum lugar,
mas que eles ressuscitarão um dia.” O que foi analisado acima.
O autor entende bem que Jesus usou o Pentateuco porque
era a única Escritura reconhecida pelos saduceus. É como o católico que não
pode usar o livro da Sabedoria para provar a imortalidade da alma porque o
protestante não o reconhece como inspirado. Por isso, o cristão católico utiliza
outros livros que o cristão protestante também aceita.
A passagem não é prova contra a imortalidade da alma, já que trata da vida eterna na ressurreição, o que é necessário para que a pessoa esteja viva e não morta. A imortalidade da alma não é o mesmo que afirmar que a pessoa está viva. O argumento que não tenha isso em consideração é usado contra algo que não existe.
Gledson Meireles.
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