O mortalismo e Mateus 10,
28
A doutrina mortalista
está convencida de que não existe alma espiritual imortal. A alma seria apenas
um aspecto do corpo, e sendo material como o corpo perece na morte pois não é
separável da máteria.
Tentativas de explicar
passagens bíblicas que contrariam essa versão são muitas. O Dr. Samuele
Bacchiocchi fez esforço imenso para adequar o sentido de alma, como concebe a
doutrina mortalista, em textos como Mateus 10, 28 e Lucas 12, 4-5.
Em seu estudo sobre o
termo alma, o mesmo afirma que o sentido de alma foi ampliado, e passou a
significar também a “vida eterna”, a vida de obediência, enquanto que,
contrastando com isso, o corpo seria a vida de desobediência.
Entretanto, se o texto
afirma que Deus pode destruir a alma e o corpo no inferno, a alma seria mortal.
Em sua concepção a alma teria agora o sentido de “vida eterna recebida por
aqueles que estão dispostos a assumir um compromisso sacrifical com Ele”. Com
isso, ele tenta introduzir esse sentido em Mateus 10, 28.
O problema é que, ao
fazer isso, o texto ensinaria que Deus pode destruir corpo e vida eterna. O
corpo seria a existência terrena e a alma a vida eterna. Antes, segundo o
autor, o corpo teria o sentido de vida de desobediência e alma o de vida
eterna.
Mas ao ler o pretendido
novo sentido de alma no texto, os significados se misturam, onde corpo mantem o
sentido mortalista, ontológico, e a alma o novo sentido que o autor indicou.
Ainda, na segunda parte
do texto o mesmo teria o sentido de “ser integral”, quando na primeira parte do
versículo teria adotado outro sentido. Vê-se assim que o significado sugerido
não explicou o texto e causou confusão.
O mortalismo e Lucas
12, 4-5
Os homens podem
infligir a morte, mas Deus pode ressuscitar. Esse seria o sentido para o
mortalismo. A citação de Fudge afirma que Deus pode matar corpo e alma, aqui e
no além.
Isso é interessante, mas
uma vez que a morte seria inexistência, não havendo ressurreição, os mortos não
existiriam. A mesma morte que Deus poderia fazer. Essa noção já contraria o
texto.
Depois, o dr. Bacchiocchi
refere-se à não menção de alma no texto de Lucas, afirmando que o mesmo fala da
destruição do ser integral no inferno. Mas o texto afirma que “depois de matar”
é que Deus lança no inferno.
Essa referência ao ato
de matar é para indicar que o que Deus pode fazer ultrapassa o que os homens
podem. Os homens matam e nada mais, Deus pode, além de matar, lançar no
inferno.
Lendo essa passagem com
Mt 10, 28 essa ação seria a mesma que destruir alma e corpo no inferno. Dessa
forma, a alma que não pode ser atingida pelo homem, mas pode agora, com o
corpo, ser atingida no inferno. Assim, a alma é parte do ser humano, e não vida
eterna ou obediência.
Na morte física não
sobre nada, segundo o mortalismo, e na destruição divina, com diz o autor, “nada
sobrevive”, o que é o mesmo. Esse problema não condiz com as passagens
estudadas. É uma incoerência interna, visto que a morte física e extinção do
ser até a nova criação da ressurreição, e a segunda morte é a extinção do ser
novamente, sem promessa de ressurreição. Em ambos os casos a morte é idêntica.
A citação de Lucas 9,
25 corrobora que alma é a pessoa, é o ser. Uma vez que perder a alma é
perder-se. Não há, de qualquer forma, nada contra a doutrina da imortalidade da
alma.
Eis que o autor, para
diferenciar uma morte da outra, a primeira seria “pôr uma pessoa a dormir”, e a segunda seria a destruição final.
Essa seria o inferno.
Outra vez, não há
resolução do problema, a menos que o autor ensinasse que a alma continua
existindo, que há dualidade corpo e alma, que a alma se separa do corpo, e que
a mesma dorme, inconsciente, e que, segundo o mortalismo, só irá desaparecer na
segunda morte. Não sendo assim, é apenas uma metáfora que não resolve o
problema. As duas mortes, no pensamento mortalista, são iguais.
Com isso, a leitura seria
que os mortos não estão mortos, mas dormindo, visto que serão ressuscitados.
Contudo, a exegese
confusa, por causa da doutrina mortalista, procura utilizar os mesmos termos. O
autor fala da morte eterna como destruição eterna do corpo e da alma, o que não
faz sentido, visto que os desobedientes não possuem vida eterna, que seria o sentido
que o autor sugeriu para o termo.
Sendo assim, a
destruição deveria ser apenas do corpo, como pessoa integral, ou como vida de
desobediência, como explicou. Essa leitura não é admitida no texto bíblico.
O autor tentou ir além,
mostrando que o sentido expandido de alma teria a ver com “o caráter e personalidade de um crente”. A alma teria o sentido de
vida eterna, o que relaciona-se com esse caráter do salvo.
Assim, na leitura do
texto bíblico introduzindo tal sentido, os homens podem matar o corpo, que
seria a pessoa inteira, mas não podem matar seu caráter ou personalidade. O problema
é que a ameaça divina, para serve para os ímpios, Deus destruirá alma e corpo,
o que seria destruir a vida eterna, o caráter ou personalidade, que seria
somente dos crentes. Essa leitura por isso não é suportada pela passagem
bíblica.
Diante disso, a alma é
de fato parte da natureza humana nessas passagens, e nenhuma tentativa
mortalista conseguiu explicá-la convincentemente, gerando vários problemas.
Quando Cristo afirmou
que Ele é a ressurreição e a vida, mostrando que o que nEle crê não morrerá
jamais, isso estava no contexto em que a ressurreição dos mortos no último dia
foi mencionada. Assim, a fé em Cristo já garante a vida antes da ressurreição,
o que é possível relacionar-se com a imortalidade da alma.
Em Lucas 9, 24-25 a vida
é a vida física, que se for perdida por Cristo garante sua retomada para viver
para sempre. Não há na passagem psiquê no sentido de vida eterna, nem de alma
imortal. De fato, não se fala de psique eterna,
para parafrasear o argumento mortalista que diz não encontrar alma imortal na
Bíblia.
Gledson Meireles.
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