Oscar Cullmann
Ao apresentar o exemplo do teólogo luterano Oscar
Cullman como proponente do mortalismo, pois esse acreditava no sono da alma, o
autor explica que o sono da alma é muitas vezes confundido com a inexistência
da alma, pregada no mortalismo, mas que não faz diferença essencial, já que
ambas as doutrinas afirmam que a alma não está consciente e não tem sensação de
passagem de tempo.
Diante disso, deve-se lembrar, também, como desde o início se argumenta aqui, que a existência da alma, seja sob que aspecto for, como sombra ou outra forma, no mundo dos mortos, podendo ser comparado seu estado a algo que não é propriamente vivo e também não é propriamente nada, mas um ser “vivo-não-vivo”, o que explica o mistério da morte e do mundo dos mortos que os antigos concebiam, essa existência é um golpe mortal na doutrina mortalista.
Então, o autor cita o próprio Cullman afirmando essa noção de não vida, onde o sono da morte no Sheol “não é uma vida verdadeira”. Isso se aproxima do que foi descrido acima
Dessa forma, o autor mortalista deve entender que a
existência da alma na doutrina psicopaniquista é, em termos práticos, igual ao
mortalistmo que ele defende, mas, por outro lado, é distinto e oposto a ele, já
que admite que existe a alma, que essa é separada do corpo na morte, que está
inconsciente em algum lugar. Esse é o primeiro problema para o mortalismo, pois
essa doutrina lhe é radicalmente oposta.
O segundo problema é que, o autor mortalista, defendendo a identidade prática das doutrinas do sono da alma e da morte da alma, admite que isso faz da ressurreição uma necessidade em ambos os casos.
Por isso, ele deve admitir, igualmente, de uma vez por todas, que a fé da alma no sheol, como explicada aqui, como concebida desde o Antigo Testamento, primeiramente como sombras no sheol, que existiam numa espécie de não-vida, quando se compara à vida que desfrutava no corpo neste mundo, mas que podiam ser evocadas do mundo dos mortos, torna pelo a ressurreição totalmente necessária mesmo motivo.
É preciso uma libertação desse estado de morte, explicando o medo da morte e a ideia negativa do sheol. Deve admitir que esse estado ontológico da alma explica a necessidade da ressurreição.
O terceiro problema é que, ainda que essa noção do morto no sheol, na linguagem bíblica holista, que por sua vez se refere a parte do ser do morto, expressando em outras palavras a dualidade corpo e alma, onde o morto é chamado às vezes de sombra, associado à ideia de estar repousando, onde às vezes é mostrado como possuidor de consciência, o que é compreensível, tudo explica a diferença do estado dos mortos no Antigo e no Novo Testamento, quando se entende que Cristo libertou os salvos do império da morte, a saber, do estado de morte e do sheol.
O quarto problema é que, ainda assim, após a entrada no céu, por definição a alma do morto necessita da ressurreição, por continuar no estado de morte, no qual permanece ainda que esteja já usufruindo da glória do céu com Deus, Jesus Cristo e os anjos, visto que a condição fundamental da sua natureza ainda reclama a redenção do corpo, como está em Romanos 8, 23, já a partir de agora, onde toda a criação almeja a libertação definitiva.
E por fim, quando o mortalismo se debruça nos textos que falam da morte da alma para ensinar que não existe alma imortal, pensando ser mais bíblico, o mesmo faz o psicopaniquismo tentando explicar as passagens onde são mencionados os mortos no sheol e onde é vista a possibilidade de “acordarem do seu sono”, comparando a morte não como inexistência, mas como verdadeiro sono sem sonhos, mantendo a doutrina da realidade e existência da alma como outra parte da natureza humana. Se a alma dorme, ela existe e está viva, sendo assim imortal. O mortalismo permanece sozinho, tropeçando nos sentidos da palavra alma nos originais da Bíblia e entendendo morte como inexistência.
Ambas as doutrinas, porém, são refutadas no presente estudo, onde se mostra que a morte da alma se dá no sentido de pessoa, e nunca de espírito humano, não sendo inexistência, mas cessação da vida física na terra, e a metáfora do sono se explica da perspectiva natural que se tem do cadáver que parece dormir, e nunca uma explicação do estado da alma.
Com isso, mais uma refutação ao mortalismo, ainda que partindo do exemplo de um teólogo protestante que aderiu a uma doutrina semelhante.
Gledson Meireles.
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