Dos dois ladrões foram crucificados com Cristo, um permanecia na incredulidade e dureza de coração, o outro já estava envolto pela graça. (Lucas 23, 40) Esse pediu a Jesus a salvação: E acrescentou: “Jesus lembra-te de mim, quando vieres com teu reino”. Ele respondeu: “Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”.
O ladrão na cruz, pelo influxo da graça de Deus, arrependeu-se de seus pecados e pediu a Jesus que se lembrasse dele no Reino vindouro. Cristo fez mais, e disse a Ele que naquele mesmo dia o ladrão estaria em Sua companhia no Paraíso.
Muitos pensam que essa passagem deve ser entendida apenas como Cristo declarando ao ladrão que Ele seria lembrado quando o reino futuro (paraíso) fosse instaurado após a Sua segunda vinda na terra, e que após a morte na cruz o ladrão deixaria de existir, e que o próprio Senhor teria dito aquelas palavras de consolação e esperança apenas para certifica-lo de que seu pedido seria atendido. Isso na hipótese de que sem consciência o momento da ressurreição pareceria ter ocorrido logo após a morte na cruz, o que explicaria o "hoje" da declaração do Senhor. A ressurreição seria na experiência do ladrão como se ocorresse logo após sua morte, e ele estaria no paraíso no imaginado "hoje".
Dessa forma, quando Cristo diz “hoje”, estaria apenas referindo-Se à Sua palavra que estava sendo pronunciada naquele mesmo dia, e não que o ladrão fosse com Ele ao paraíso naquele dia.
Essa explicação deveria resistir ao escrutínio bíblico e lógico para ser verdade, pois toda verdade resiste a tal análise. Mas, ela não resiste.
Pelas palavras do ladrão, vemos que ele creu em Jesus Cristo, creu em Sua ressureição, já que sabia que Cristo iria trazer o reino, creu em Seu reinado, creu que podia contar com Cristo para futuramente habitar o Seu reino. Por isso, estava consolado em esperar por aquele dia, confiando que Cristo podia atender o seu pedido.
Portanto, como o ladrão estava em suas últimas horas de vida, olhando para Jesus, o Cordeio imaculado morrendo sem culpa alguma, ele foi agraciado com a conversão, e crendo que Jesus era o Salvador e Rei, pediu que fosse aceito naquele reino.
Em uma paráfrase, era como se o ladrão dissesse: “Jesus, lembra-te de mim quando o Teu reino for instaurado na terra daqui a quanto tempo for necessário, por milênios talvez.”. A isso o Senhor responde: “Em verdade te digo, não somente daqui há milênios, não apenas me lembrarei de ti quando for inaugurar o meu reino, mas desde já, ou seja, te garanto que estarás comigo no paraíso hoje.”
Cristo estaria dando a Sua palavra já naquele momento, e não apenas quando o ladrão fosse ressuscitado.
Por outro lado, o sentido de Lucas 23,43 na perspectiva mortalista seria que a palavra “hoje” está referindo-se ao pronunciamento da promessa de Cristo, e não ao cumprimento dela.
O problema é que, de fato, o ladrão já pensava na possiblidade de ser aceito, e que poderia receber o reino no futuro apenas, e se Cristo tivesse dando somente a certeza a ele, e para isso tivesse usado a palavra “hoje”, tal coisa não mudaria muita praticamente nada, podendo a palavra ser retirada e o sentido continuar igual, caso a hipótese fosse verdadeira.
Assim: ““Em verdade, eu te digo, estará comigo no Paraíso”. Não seria necessário dizer que a declaração estava sendo feita naquele dia, ainda mais porque Jesus ao usar a expressão "em verdade te (vos) digo", sempre continua a frase por apresentar o conteúdo da Sua Palavra, e não emprega o advérbio de tempo.
Pronto, não haveria necessidade, e se fosse usada não alteraria essencialmente o sentido sob essa perspectiva mortalista.
A diferença seria que o ladrão não apenas morreria na esperança de que Cristo lembrasse dele, mas com a certeza dada pelo próprio Cristo de que ele seria lembrado. O hoje estaria na frase que forneceu a certeza ao ladrão arrependido: Não te direi naquele dia, mas já te digo hoje. No fim, seria como: tudo bem, lembrar-me-ei de ti, o mesmo que: Tudo bem, hoje te digo que lembrar-me-ei de ti.
Agora, vejamos em sua acepção mais natural, onde Cristo estaria dizendo ao ladrão que não apenas se lembraria quando o reino fosse instaurado, mas que naquele mesmo dia estaria com Ele no paraíso. Qual é a explicação que faz maior sentido? De outro modo: O ladrão diz: Senhor, lembra-te de mim “quando” entrares no teu reino”. E Jesus responde: “Não apenas quando entrar no reino, mas te digo que “hoje” mesmo estarás comigo no Paraíso”.
De outro modo: tu entrarás no reino, mas te digo mais, que hoje estarás no paraíso.
Nesse ponto, a palavra hoje encontra sentido bastante pungente. O ladrão não somente ouviu que entraria no reino, tendo uma promessa feita a ele, mas que entraria no paraíso já naquele dia.
Em suma as duas posições seriam as seguintes: Jesus teria dito que Se lembraria do ladrão no futuro, dando plena certeza, e teria asseverado já de antemão que o ladrão entraria no reino.
Na leitura de acordo com o contexto, Jesus não apenas teria dito que o ladrão entraria no reino futuramente, mas já agora estaria com Ele no Paraíso.
Assim, a palavra “hoje” não teria o sentido de uma revelação do momento do pronunciamento da promessa, mas do dia em que o pedido seria atendido: a companhia de Jesus no reino se daria já, a partir do momento em que Cristo tivesse consumado a obra de salvação na cruz.
Portanto, a frase não é: não te direi naquele dia, mas já te digo hoje. Ao invés disso, é mais poderosa: não entrarás no reino somente naquele dia, mas já estarás comigo no paraíso hoje.
É muito mais natural, por todo o contexto, que Jesus referiu-Se à entrada do ladrão no Paraíso a partir daquele dia, e não somente no fim do mundo. Gledson Meireles.
Nossa parabéns.
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