domingo, 6 de novembro de 2016

São Pedro bispo de Roma


 
Pedro foi realmente bispo de Roma. A citação do historiador Peter De Rosa, que afirma ser a estadia de Pedro em Roma limitada à sua chegada na capital para ser martirizado, e de que Pedro não aparece na lista das antigas sucessões episcopais, serão analisadas neste capítulo, segundo os argumentos que o livro apresenta.

O leitor já está apto a julgar se a afirmação do livro está ou não correta. E diante das afirmações como a de que “é um absurdo colocar Pedro como bispo de Roma” (p. 179), o leitor já está prevenido.

Então, o respectivo capítulo usa das fontes históricas para provar o contrário daquilo que ensina a doutrina cristã católica. Mas, a história afirma que Pedro esteve em Roma como bispo, ou papa, e isso é atestado desde os primórdios. O livro afirma o contrário, e tenta provar. Como só afirmações são inúteis, então é preciso ater-se às provas.

A primeira tese Protestante alegava que Pedro nunca foi a Roma, que o mesmo nunca esteve lá, nunca tendo pisado os pés ali, contra toda evidência e prova da História. O livro é um tanto mais coerente, e reconhece que Pedro foi a Roma, no final da vida, e morreu na Cidade Eterna, como é conhecida a cidade de Roma.

A citação do primeiro documento, os Atos de Paulo, fornece os mesmos fatos que a Bíblia apresentou, e silencia se Pedro estava ou não em Roma. Portanto, é inócua sua apresentação.

A respeito dos Atos de Xantipas, Polyxea e Rebeca, é interessante notar que as palavras Babilônia e Roma são citadas, literalmente, em pleno século 3. Isso mostra que nem sempre há o uso metafórico. O Apocalipse, portanto, não instaurou novo uso absoluto do termo Babilônia em relação a Roma. Assim, também, não foi o Apocalipse, ao certo, que utilizou pela primeira vez essa referência. Isto está provado acima ao tratar de 1 Pedro 5,13.

Então, o livro inicia o comentário do documento dos Atos de Xantipas: “Note que o “sonho” de Pedro em ir a Roma só ocorreu depois de Paulo ter ido para a Espanha.” [ênfases no original] (p. 183) No entanto, o documento não diz isso, mas afirma que: “Pedro, foi passado em um navio à vela, sendo incitado por um sonho ir a Roma, pois quando Paulo partiu para a Espanha”. [ênfases do livro] (p. 182) Refere-se assim a uma revelação de Deus a Pedro, através de sonho, instando-lhe ir até Roma. O livro, pelo contrário, entende que Pedro tinha um sonho de visitar Roma! E isso é claramente afirmado de forma errônea no livro: “Ademais, note que Pedro tinha o “sonho de ir a Roma”.” [ênfase no original] E, na mesma página, afirma ainda que Pedro tinha desejo de ir para Roma. (p. 183) Nada mais errôneo. O documento não oferece essa informação.

Ainda, os Atos de Xantipas refere-se ao estabelecimento da Igreja de Roma por Paulo. Certamente, esse fato diz respeito ao caso já aludido, de que São Paulo chega a Roma para ser julgado, entra em contato com os líderes judeus, e conversa com eles. Esse fato ocorreu posteriormente ao período da expulsão dos judeus de Roma, e os cristãos judeus que lá se encontravam ou tinham voltado recentemente ou imigrado por essa época. São Paulo testemunha de Jesus mais uma vez. Aqueles judeus já conheciam o Cristianismo, sabiam até de sua rejeição em várias localidades, e pediram mais informações a Paulo. Esse caso foi comentado acima.

Quanto à Patrística, o livro ensina: “Veremos que a própria patrística desmente por completo o mito do primado de Pedro em Roma...” (p. 184) A primeira citação é de Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica, Livro III, 36:2, onde afirma que Inácio foi o segundo a obter a sucessão de São Pedro em Antioquia. Sendo assim, conclui: Pedro foi o primeiro bispo de Antioquia, sendo sucedido por Inácio. E, como há citação de documento histórico, caso encerrado.

Em primeiro lugar, São Pedro foi realmente o primeiro a estabelecer a sé episcopal em Antioquia. Esse fato está realmente provado. O que deve ser analisado mais prontamente, e profundamente, é se Inácio foi o sucessor de Pedro, sendo a lista iniciada, portanto por: Pedro, Inácio, etc... Esse fato ainda não está claro pelo documento expresso.

O livro reconhece o fato de Pedro ser bispo de Antioquia. Ponto positivo. No entanto, afirma que o apóstolo não saiu de sua sede episcopal para implantar outra em Roma. Esse é o ponto que o livro tenta desfazer. Mas não prova.

E para isso, cita os cânons 15 e 16 do Concílio de Niceia. Como é de interesse no livro, primeiramente dever-se-ia provar que essas leis estavam em vigor no tempo de Pedro. Se não, não haverá motivo de aplicá-la como argumento contra o bispado petrino em Roma.

Então, o livro afirma que Pedro seria a única exceção, diante do “fato” histórico de nenhum apóstolo transferir-se de diocese. Seria algo nunca ocorrido, do contrário seria apelado o exemplo de Pedro por parte dos bispos que desejavam transferência de diocese no tempo do Concílio de Niceia.

A História Eclesiástica, 3, XXII, traz a seguinte informação: “Com a morte de Evódio, que foi o primeiro bispo de Antioquia, Inácio foi nomeado o segundo.”

Assim, Eusébio esclarece que Evódio foi o primeiro bispo em Antioquia, seguido por Inácio. A lista não foi como o livro indicou: Pedro, Inácio... mas, Evódio, Inácio. Pedro pode ser contado antes de Evódio, mas nem sempre aparece assim. Pedro, Evódio, Inácio... As contagens são diversas em Eusébio.

O livro traz também o conselho para o leitor conhecer a História Eclesiástica de Eusébio. Graças a Deus, pois nela poderá ver que a atual resposta tem toda a razão.

Na página 187 o livro apresenta uma lacuna, como se a História não tivesse resposta. Trata-se da identidade do primeiro bispo de Roma:

Jerusalém – Tiago

Alexandria – Marcos

Antioquia – Pedro

Roma - ???

        Para esclarecer, basta estudar a história. Antes, porém, é necessário conhecer melhor o arrazoado livresco.

        Partindo do pressuposto de que não havia transferência de diocese, e citando a obra de Eusébio, o livro apresenta Lino como primeiro bispo de Roma:Lino, e não Pedro, foi o primeiro bispo de Roma! Este verso de Eusébio fala por si mesmo.” [ênfase no original.] (p. 187) Realmente, está bastante claro, mas ainda assim a história precisa ser contextualizada. Isso faltou no livro.

        Aí, chega à conclusão de que Lino, e não Pedro, teria sido o primeiro bispo romano, pois Eusébio teria dito o “segundo”, referente a Lino, e não o primeiro. ““... Lino foi designado o segundo bispo de Roma...” Porém, ele foi designado o primeiro, porque é ele quem aparece em primeiro lugar na lista de bispos romanos.” [ênfases no original] (p. 187)

        E, interpretando o texto da história, afirma que a menção de Lino ter sido o primeiro após o martírio de Pedro e Paulo indica que o fato do “martírio” está sendo especificado, e não que Pedro tenha sido bispo antes de Lino.

        No entanto, nada disso está correto. Eusébio fala alhures do cargo de bispo de Roma ocupado pelo apóstolo São Pedro. O estudo da História ajuda nesse particular:

“Após o martírio de Paulo e Pedro, Lino foi o primeiro a receber episcopado de Roma.” (op. cit., Livro 3, capítulo II).

Esse foi o texto que o livro não soube interpretar.

“Pedro parece ter pregado aos judeus da dispersão em Ponto, Galácia, Bitínia, Capadócia e Ásia, e no fim chegou a Roma e foi crucificado de cabeça para baixo, pois pediu para si esse sofrimento.” (História Eclesiástica, Livro 3, capítulo I).

        Desse outro texto, o livro o apresenta como se Pedro chegou a Roma somente no final da vida.

“Quanto a Lino, mencionado em sua segunda epístola a Timóteo como seu companheiro em Roma, já se declarou ter sido o primeiro depois de Pedro a obter o episcopado de Roma.” (op. cit., Livro 3, capítulo IV).

Esse texto está fora de dúvida: Pedro era bispo de Roma, seguido de Lino. Às vezes, Eusébio faz a contagem a partir do apóstolo, outras não. Basta notar o que já foi expresso sobre o caso de Antioquia. Mas, o livro esquece-se disso, ou não o nota, e faz a seguinte questão: Será mesmo que Eusébio não sabia contar até três?(p. 190) Eusébio sabia contar, sim, mas usava de critérios que podiam mudar a forma da sua contagem. Quando iniciava por Pedro em Roma, o segundo logicamente tem de ser Lino. Contudo, deixando Pedro fora da contagem, inicia-se por Lino, o primeiro, após Pedro. Necessário notar o esclarecimento: o primeiro após Pedro. Portanto, Lino é o segundo bispo de Roma.

Tem-se, assim que em cada localidade mencionada na lista acima foi identificado seu bispo:

Jerusalém – Tiago

Alexandria – Marcos

Antioquia – Pedro

Roma - Pedro

Os Padres da Igreja referem-se ao fato de Pedro ter deixado Antioquia e se estabelecido em Roma. Essa suposta premissa do Canon 15 de Niceia certamente não pode ser usada para negar esse fato.

Mas, há uma afirmação no livro que muda o caso, inferido no livro para a suposta ideia de Pedro chegar a Roma para ser crucificado. Antes, portanto, permitiu entender que Pedro foi a Roma levado como cativo para ser condenado. Agora, aquiesce que Pedro pregava o Evangelho com Marcos, em Roma, o que é verdade, e somente depois foi preso e martirizado: “Quando Pedro chegou a Roma, também no final de sua carreira, foi detido pelos romanos por estar pregando o evangelho junto a Marcos, conforme atesta Eusébio de Cesareia, foi julgado, e foi condenado a morte por crucificação.” (p. 193) Nessa citação a verdade está estabelecida, apesar dos contratempos que os arrazoados criaram e direcionaram contra essa. Sobre os 25 anos de Pedro em Roma, e sua estadia em Antioquia, o caso já está resolvido, visto que o tempo de 25 anos não é essencial nessa questão.

O fato do livro reconhecer que Pedro esteve em Roma, e mostra-lo pregando o Evangelho na capital do Império Romano, ainda que no final da vida, já é um avanço! Essa afirmação acima, encontrada na página 193, esclarece a verdade que já foi mostrada na resposta em páginas anteriores. No entanto, o livro tenta negar o bispado de Pedro em Roma, mas, debalde. E isso já está provado. Basta conferir do capítulo 1 até o presente. O apóstolo São Pedro foi o primeiro bispo de Roma, seguido por São Lino. Isso é irrefutável.

A citação que o livro faz de Dionísio permite concluir que Paulo e Pedro pregaram à cidade Roma, mas não ao mesmo tempo. O que se deu “simultaneamente” é referido no final, e trata-se do martírio.

Assim, o texto não favorece a posição que o livro pretende provar. Deve-se procurar outra fonte. E, quanto à suposta falha de Dionísio em reconhecer o fato de que ambos não foram juntos à Itália, deve-se deixar tal acusação de lado, e enterrá-la, pois pela citação não há qualquer indício de que o mesmo tenha trazido essa notícia. Da informação: “A seguir, indo para a Itália, eles vos transmitiram os mesmos ensinamentos” (p. 199) não se pode concluir que ambos foram a Roma na mesma viagem, ao mesmo tempo.

A crítica que é feita após isso, em cima dessa leitura, parece não ter fundamento para existir. É uma outra falha do livro. O fato de Roma ter uma Igreja formada antes de Paulo ali chegar, é fato reconhecido e ensinado da tradição cristã católica. O apóstolo Pedro estabeleceu aquela igreja, muito antes do apóstolo das gentes visitá-la.

E quando o livro apresenta essa frase: “Os cristãos de Roma, em especial, tinham a honra de que dois dos maiores apóstolos – Pedro e Paulo – derramaram o seu sangue naquele território.” (p. 200), ela revela lampejos da verdade, iluminando o erro.

Certo, os romanos sabiam disso, e tinham em Paulo e Pedro os maiores apóstolos! Mas, durante boa parte do livro a figura de Pedro foi colocada em lugar pouco importante! Atrás de Tiago, depois temendo a Tiago, mostrado como figura de segundo plano no Concílio de Jerusalém, etc. Tudo isso foi provado ser falso. No entanto, agora, a essa altura, uma vez mais é reconhecido que Pedro era um dos maiores apóstolos! E o era: era o chefe deles, o chefe da Igreja, o bispo de Roma, o primeiro papa!!!

Os textos que tratam do martírio de Pedro e Paulo realmente não os fazem bispos de Roma. No entanto, a história revela, como já mostrado, que Pedro foi o bispo de Roma, e isso nunca foi dito a respeito de Paulo.
A acusação aos sites católicos de terem citado, mentirosamente, um texto de Eusébio, feita à pagina 202 do livro, parece injusta, pois na verdade a citação é de uma obra do mesmo autor, mas em A Crônica, um obra perdida, conservadas as informações em tradução de São Jerônimo. Ou seja, a informação procede de uma obra de Eusébio historicamente reconhecida. O livro tenta desfazer qualquer possibilidade, e afirma que São Jerônimo pode ter inventado “essa “lenda”. Nada mais hipotético e desprestigiador.
 
Gledson Meireles.

2 comentários:

  1. Pensei que iria refutar o livro mas supostamente só uma pequena parte.

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    1. No artigo acima eu refuto apenas um capítulo, mas eu escrevi uma refutação TOTAL do livro, considerando todos os argumentos. Aos poucos vou disponibilizar mais, pois é necessária uma revisão para melhor o texto, etc. Vou postar mais um capítulo.
      Em Cristo,
      Gledson.

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