Pedro foi realmente bispo de Roma. A
citação do historiador Peter De Rosa, que afirma ser a estadia de Pedro em Roma
limitada à sua chegada na capital para ser martirizado, e de que Pedro não
aparece na lista das antigas sucessões episcopais, serão analisadas neste
capítulo, segundo os argumentos que o livro apresenta.
O leitor já está apto a julgar se a
afirmação do livro está ou não correta. E diante das afirmações como a de que “é um absurdo colocar
Pedro como bispo de Roma” (p. 179), o leitor já está prevenido.
Então, o respectivo capítulo usa das
fontes históricas para provar o contrário daquilo que ensina a doutrina cristã
católica. Mas, a história afirma que Pedro esteve em Roma como bispo, ou papa,
e isso é atestado desde os primórdios. O livro afirma o contrário, e tenta
provar. Como só afirmações são inúteis, então é preciso ater-se às provas.
A primeira tese Protestante alegava
que Pedro nunca foi a Roma, que o mesmo nunca esteve lá, nunca tendo pisado os
pés ali, contra toda evidência e prova da História. O livro é um tanto mais
coerente, e reconhece que Pedro foi a Roma, no final da vida, e morreu na
Cidade Eterna, como é conhecida a cidade de Roma.
A citação do primeiro documento, os
Atos de Paulo, fornece os mesmos fatos que a Bíblia apresentou, e silencia se
Pedro estava ou não em Roma. Portanto, é inócua sua apresentação.
A respeito dos Atos de Xantipas,
Polyxea e Rebeca, é interessante notar que as palavras Babilônia e Roma são
citadas, literalmente, em pleno século 3. Isso mostra que nem sempre há o uso
metafórico. O Apocalipse, portanto, não instaurou novo uso absoluto do termo
Babilônia em relação a Roma. Assim, também, não foi o Apocalipse, ao certo, que
utilizou pela primeira vez essa referência. Isto está provado acima ao tratar
de 1 Pedro 5,13.
Então, o livro inicia o comentário do
documento dos Atos de Xantipas: “Note que o “sonho” de Pedro em ir a Roma só
ocorreu depois de Paulo ter ido para a Espanha.” [ênfases
no original] (p. 183) No entanto, o documento não diz isso, mas afirma que: “Pedro, foi
passado em um navio à vela, sendo incitado por um sonho ir a Roma, pois quando
Paulo partiu para a Espanha”. [ênfases do livro] (p. 182) Refere-se assim
a uma revelação de Deus a Pedro, através de sonho, instando-lhe ir até Roma. O livro,
pelo contrário, entende que Pedro tinha um sonho de visitar Roma! E isso é
claramente afirmado de forma errônea no livro: “Ademais, note que Pedro tinha o “sonho
de ir a Roma”.” [ênfase no original] E, na mesma página, afirma
ainda que Pedro tinha desejo de ir para Roma. (p. 183) Nada mais errôneo. O
documento não oferece essa informação.
Ainda, os Atos de Xantipas refere-se
ao estabelecimento da Igreja de Roma por Paulo. Certamente, esse fato diz
respeito ao caso já aludido, de que São Paulo chega a Roma para ser julgado,
entra em contato com os líderes judeus, e conversa com eles. Esse fato ocorreu
posteriormente ao período da expulsão dos judeus de Roma, e os cristãos judeus
que lá se encontravam ou tinham voltado recentemente ou imigrado por essa
época. São Paulo testemunha de Jesus mais uma vez. Aqueles judeus já conheciam
o Cristianismo, sabiam até de sua rejeição em várias localidades, e pediram
mais informações a Paulo. Esse caso foi comentado acima.
Quanto à Patrística, o livro ensina: “Veremos que a
própria patrística desmente por completo o mito do primado de Pedro em Roma...”
(p. 184) A primeira citação é de Eusébio de Cesareia, História Eclesiástica,
Livro III, 36:2, onde afirma que Inácio foi o segundo a obter a sucessão de São
Pedro em Antioquia. Sendo assim, conclui: Pedro foi o primeiro bispo de
Antioquia, sendo sucedido por Inácio. E, como há citação de documento
histórico, caso encerrado.
Em primeiro lugar, São Pedro foi
realmente o primeiro a estabelecer a sé episcopal em Antioquia. Esse fato está
realmente provado. O que deve ser analisado mais prontamente, e profundamente,
é se Inácio foi o sucessor de Pedro, sendo a lista iniciada, portanto por:
Pedro, Inácio, etc... Esse fato ainda não está claro pelo documento expresso.
O livro reconhece o fato de Pedro ser
bispo de Antioquia. Ponto positivo. No entanto, afirma que o apóstolo não saiu
de sua sede episcopal para implantar outra em Roma. Esse é o ponto que o livro
tenta desfazer. Mas não prova.
E para isso, cita os cânons 15 e 16 do
Concílio de Niceia. Como é de interesse no livro, primeiramente dever-se-ia
provar que essas leis estavam em vigor no tempo de Pedro. Se não, não haverá
motivo de aplicá-la como argumento contra o bispado petrino em Roma.
Então, o livro afirma que Pedro seria
a única exceção, diante do “fato” histórico de nenhum apóstolo transferir-se de
diocese. Seria algo nunca ocorrido, do contrário seria apelado o exemplo de
Pedro por parte dos bispos que desejavam transferência de diocese no tempo do
Concílio de Niceia.
A História Eclesiástica, 3, XXII, traz
a seguinte informação: “Com a morte de Evódio, que foi o primeiro bispo de
Antioquia, Inácio foi nomeado o segundo.”
Assim, Eusébio esclarece que Evódio
foi o primeiro bispo em Antioquia, seguido por Inácio. A lista não foi como o
livro indicou: Pedro, Inácio... mas, Evódio, Inácio. Pedro pode ser contado
antes de Evódio, mas nem sempre aparece assim. Pedro, Evódio, Inácio... As
contagens são diversas em Eusébio.
O livro traz também o conselho para o
leitor conhecer a História Eclesiástica de Eusébio. Graças a Deus, pois nela
poderá ver que a atual resposta tem toda a razão.
Na página 187 o livro apresenta uma
lacuna, como se a História não tivesse resposta. Trata-se da identidade do
primeiro bispo de Roma:
Jerusalém – Tiago
Alexandria – Marcos
Antioquia – Pedro
Roma - ???
Para
esclarecer, basta estudar a história. Antes, porém, é necessário conhecer
melhor o arrazoado livresco.
Partindo do
pressuposto de que não havia transferência de diocese, e citando a obra de
Eusébio, o livro apresenta Lino como primeiro bispo de Roma: “Lino, e
não Pedro, foi o primeiro bispo de Roma! Este verso de Eusébio fala por si
mesmo.” [ênfase no original.] (p. 187) Realmente, está bastante claro,
mas ainda assim a história precisa ser contextualizada. Isso faltou no livro.
Aí, chega
à conclusão de que Lino, e não Pedro, teria sido o primeiro bispo romano, pois
Eusébio teria dito o “segundo”, referente a Lino, e não o primeiro. ““... Lino foi
designado o segundo bispo de Roma...” Porém, ele foi designado o primeiro,
porque é ele quem aparece em primeiro lugar na lista de bispos romanos.”
[ênfases no original] (p. 187)
E,
interpretando o texto da história, afirma que a menção de Lino ter sido o
primeiro após o martírio de Pedro e Paulo indica que o fato do “martírio” está
sendo especificado, e não que Pedro tenha sido bispo antes de Lino.
No
entanto, nada disso está correto. Eusébio fala alhures do cargo de bispo de
Roma ocupado pelo apóstolo São Pedro. O estudo da História ajuda nesse
particular:
“Após o martírio de Paulo e Pedro, Lino foi o primeiro a
receber episcopado de Roma.” (op. cit., Livro 3, capítulo II).
Esse foi o texto que o livro não soube
interpretar.
“Pedro parece ter pregado aos judeus da dispersão em Ponto,
Galácia, Bitínia, Capadócia e Ásia, e no fim chegou a Roma e foi crucificado de
cabeça para baixo, pois pediu para si esse sofrimento.” (História
Eclesiástica, Livro 3, capítulo I).
Desse
outro texto, o livro o apresenta como se Pedro chegou a Roma somente no final
da vida.
“Quanto a Lino, mencionado em sua segunda epístola a Timóteo
como seu companheiro em Roma, já se declarou ter sido o primeiro depois de
Pedro a obter o episcopado de Roma.” (op. cit., Livro 3,
capítulo IV).
Esse texto está fora de dúvida: Pedro
era bispo de Roma, seguido de Lino. Às vezes, Eusébio faz a contagem a partir
do apóstolo, outras não. Basta notar o que já foi expresso sobre o caso de
Antioquia. Mas, o livro esquece-se disso, ou não o nota, e faz a seguinte
questão: “Será
mesmo que Eusébio não sabia contar até três?” (p. 190) Eusébio sabia
contar, sim, mas usava de critérios que podiam mudar a forma da sua contagem.
Quando iniciava por Pedro em Roma, o segundo logicamente tem de ser Lino.
Contudo, deixando Pedro fora da contagem, inicia-se por Lino, o primeiro, após
Pedro. Necessário notar o esclarecimento: o
primeiro após Pedro. Portanto, Lino é o segundo bispo de Roma.
Tem-se, assim que em cada localidade
mencionada na lista acima foi identificado seu bispo:
Jerusalém – Tiago
Alexandria – Marcos
Antioquia – Pedro
Roma - Pedro
Os Padres da Igreja referem-se ao fato
de Pedro ter deixado Antioquia e se estabelecido em Roma. Essa suposta premissa
do Canon 15 de Niceia certamente não pode ser usada para negar esse fato.
Mas, há uma afirmação no livro que
muda o caso, inferido no livro para a suposta ideia de Pedro chegar a Roma para
ser crucificado. Antes, portanto, permitiu entender que Pedro foi a Roma levado
como cativo para ser condenado. Agora, aquiesce que Pedro pregava o Evangelho
com Marcos, em Roma, o que é verdade, e somente depois foi preso e martirizado:
“Quando
Pedro chegou a Roma, também no final de sua carreira, foi detido pelos romanos
por estar pregando o evangelho junto a Marcos, conforme atesta Eusébio de
Cesareia, foi julgado, e foi condenado a morte por crucificação.” (p.
193) Nessa citação a verdade está estabelecida, apesar dos contratempos que os
arrazoados criaram e direcionaram contra essa. Sobre os 25 anos de Pedro em
Roma, e sua estadia em Antioquia, o caso já está resolvido, visto que o tempo
de 25 anos não é essencial nessa questão.
O fato do livro reconhecer que Pedro
esteve em Roma, e mostra-lo pregando o Evangelho na capital do Império Romano,
ainda que no final da vida, já é um avanço! Essa afirmação acima, encontrada na
página 193, esclarece a verdade que já foi mostrada na resposta em páginas
anteriores. No entanto, o livro tenta negar o bispado de Pedro em Roma, mas,
debalde. E isso já está provado. Basta conferir do capítulo 1 até o presente. O
apóstolo São Pedro foi o primeiro bispo de Roma, seguido por São Lino. Isso é irrefutável.
A citação que o livro faz de Dionísio
permite concluir que Paulo e Pedro pregaram à cidade Roma, mas não ao mesmo
tempo. O que se deu “simultaneamente” é referido no final, e trata-se do
martírio.
Assim, o texto não favorece a posição
que o livro pretende provar. Deve-se procurar outra fonte. E, quanto à suposta
falha de Dionísio em reconhecer o fato de que ambos não foram juntos à Itália,
deve-se deixar tal acusação de lado, e enterrá-la, pois pela citação não há
qualquer indício de que o mesmo tenha trazido essa notícia. Da informação: “A seguir, indo
para a Itália, eles vos transmitiram os mesmos ensinamentos” (p. 199)
não se pode concluir que ambos foram a Roma na mesma viagem, ao mesmo tempo.
A crítica que é feita após isso, em
cima dessa leitura, parece não ter fundamento para existir. É uma outra falha
do livro. O fato de Roma ter uma Igreja formada antes de Paulo ali chegar, é
fato reconhecido e ensinado da tradição cristã católica. O apóstolo Pedro
estabeleceu aquela igreja, muito antes do apóstolo das gentes visitá-la.
E quando o livro apresenta essa frase:
“Os
cristãos de Roma, em especial, tinham a honra de que dois dos maiores apóstolos
– Pedro e Paulo – derramaram o seu sangue naquele território.” (p.
200), ela revela lampejos da verdade, iluminando o erro.
Certo, os romanos sabiam disso, e
tinham em Paulo e Pedro os maiores apóstolos! Mas, durante boa parte do livro a
figura de Pedro foi colocada em lugar pouco importante! Atrás de Tiago, depois
temendo a Tiago, mostrado como figura de segundo plano no Concílio de Jerusalém,
etc. Tudo isso foi provado ser falso. No entanto, agora, a essa altura, uma vez
mais é reconhecido que Pedro era um dos maiores apóstolos! E o era: era o chefe
deles, o chefe da Igreja, o bispo de Roma, o primeiro papa!!!
Os textos que tratam do martírio de
Pedro e Paulo realmente não os fazem bispos de Roma. No entanto, a história
revela, como já mostrado, que Pedro foi o bispo de Roma, e isso nunca foi dito
a respeito de Paulo.
A
acusação aos sites católicos de terem citado, mentirosamente, um texto de
Eusébio, feita à pagina 202 do livro, parece injusta, pois na verdade a citação é de uma obra do mesmo autor, mas em
A Crônica, um obra perdida, conservadas as informações em tradução de São
Jerônimo. Ou seja, a informação procede de uma obra de Eusébio historicamente
reconhecida. O livro tenta desfazer qualquer possibilidade, e afirma que São
Jerônimo pode ter inventado “essa “lenda”. Nada mais hipotético e
desprestigiador.Gledson Meireles.
Pensei que iria refutar o livro mas supostamente só uma pequena parte.
ResponderExcluirNo artigo acima eu refuto apenas um capítulo, mas eu escrevi uma refutação TOTAL do livro, considerando todos os argumentos. Aos poucos vou disponibilizar mais, pois é necessária uma revisão para melhor o texto, etc. Vou postar mais um capítulo.
ExcluirEm Cristo,
Gledson.