O ensino da Enciclopédia Judaica sobre a imortalidade da alma e a
ressureição
Segundo a Enciclopédia
Judaica, um espírito ou sopro foi dado por Deus ao homem na criação. Esse
espírito é inseparavelmente conectado ou mesmo identificado à vida.
De acordo com a mesma
enciclopédia, do contato dos judeus com os persas e os gregos, a noção de uma
alma incorpórea, com individualidade própria, foi adotada no Judaísmo.
Há expressões dessa
ideia nos livros mais tardios do Antigo Testamento, como Provérbios 20,27. Como
exemplo, as expressões “há um espírito no
homem” de Jó 22,8, e também em Eclesiastes 12,7.
A alma é descrita pelos
termos “ruah”, “nephesh” e “neshamah”. O
primeiro é o estado primitivo da alma, o segundo é sua associação com o corpo e
o terceiro é sua atividade no corpo.
(Início do artigo, em inglês, sobre a Alma na Jewish Encyclopedia.com, 1906.)
É preciso notar que o
que está na Enciclopédia Judaica é
que o sentido de alma para o judaísmo primitivo foi o de alma ligada
intimamente ao corpo, identificando-se com a vida do sangue, e não era entendida
como separável do corpo. Isso estaria em Gênesis 9,4 e Levítico 27,11.
Dessa forma, a
enciclopédia interpreta a noção de Gênesis 2,7, por exemplo, como a representante
da ideia primitiva, e que após certo tempo, ainda no Antigo Testamento, como no
tempo de Provérbios, Jó e Eclesiastes, o sentido da alma como associada ao
corpo, não mais identificada somente à vida inseparável do corpo, é que foi
aceita no Judaísmo, poderíamos assim dizer.
Não é dito que essa
noção veio com os livros deuterocanônicos, como muitos pretendem, no tempo do
Exílio Babilônico, e isso é importante reconhecer, mas pela comunicação dos
judeus com os persas e os gregos, e que essa ideia é expressa nos livros
aceitos por todos os cristãos e pelos judeus, nos protocanônicos, e
reconhecidos como realmente o são: Palavra de Deus.
Com isso, temos que
nessa concepção, segundo a Enciclopédia Judaica, a noção de que a alma pode ser
separada do corpo já está no Antigo Testamento.
A respeito da
imortalidade da alma, afirma ainda que isso é fruto de especulação filosófica
ou teológica, ao invés de uma simples fé.
Não seria algo
expressamente ensinado na Escritura. Essa afirmação não chega a negar a
imortalidade da alma como doutrina ensinada nas Escrituras, mas somente faz a
asserção de que essa doutrina não está expressamente contida na Bíblia. Diante
disso, podemos afirmar que ela está, de fato, implicitamente.
Como visto acima, nos
primeiros tempos a noção, talvez, era de uma alma identificada somente com a
vida no sangue, e com isso ela não teria uma substância.
Quando o espírito de
Deus (a força, o sopro vital) deixasse o corpo, segundo essa explicação, a alma
iria para o Sheol, sem vida e sem
consciência.
Nota-se que não há
negação da existência da alma, pois a mesma é distinta do corpo, podendo
separar-se. Isso é muito importante.
O que está dito aqui é
que a alma desce ao sheol,
identificado como lugar espiritual, e que nessa região não haveria vida e
consciência para a alma. Para confirmar isso são citados os textos de Jó 14,21;
Salmo 6,6; 95,17; Isaías 38,18; Eclesiastes 9,5.10.
Essa explicação não
está em harmonia com aquela dos mortalistas, pois esses afirmam que a alma é
somente a vida, a parte não visível do corpo, e que deixa de existir com o
corpo, quando esse é desfeito na sepultura, que seria o mesmo que sheol. Basta analisarmos para ver que
essa não é a posição da Enciclopédia Judaica.
Isso deve ser entendido
não como a exigência de identidade doutrinal entre o que está sendo exposto
pela Enciclopédia Judaica e o que é crido pelos mortalistas, mas apenas mostrar
que a fonte citada contém uma doutrina que é diversa, e que possui problemas
até para os que aderiram à crença da alma mortal.
Em primeiro lugar,
afirma que livros como do cânon judaico já insinuam a fé na imortalidade da
alma. Em segundo, afirma que a alma é separável do corpo, e que o sheol é lugar que recebe as almas.
Assim, até o tempo do
pós-exílio havia a ideia de Deus não ter ação direta no Sheol, lugar que não estava no reinado de Deus (Salmo 26,10; 49,16;
139;8). Mas esse não era entendido como sepultura, nem mesmo como sepultura
comum da humanidade. E é importante notar os textos citados para mostrar que o sheol estava fora das relações benéficas
com Deus.
O artigo da
Enciclopédia Judaica menciona a fé implícita do salmista na onipotência e onipresença
de Deus, o que daria a ele a esperança da imortalidade, e que Jó desejou a vida
após a morte.
Não era uma fé certa,
afirma, mas um desejo disso. Esse dado é de suma importância, pois interfere
nas objeções que os mortalistas fazem, pois é reconhecido em fonte judaica que
Jó expressou, de forma rudimentar, a fé na vida após a morte e antes da
ressurreição.
Mas, conclui que
somente após a conexão com a esperança messiânica, ou seja, a esperança de que
o Messias viria, e sob a influência das ideias persas, “a crença da ressurreição” deu lugar à “contínua existência de uma alma desincorporada”.
Para isso cita Isaías
25, 6-8 e Daniel 12, 2. É notório que a ressurreição está conectada à
imortalidade da alma, e quando é expressa a primeira a segunda é estabelecida.
(Início
do artigo sobre a Imortalidade da Alma na Jewish
Encyclopedia.com, 1906.)
Pitágoras e Platão
criam que a alma era aprisionada ao corpo para expiar pecados de vidas
passadas. Os judeus aprenderam no Talmude algo contrário a isso e, portanto,
rejeitaram essa doutrina platônica.
Os rabinos ensinam que
o corpo é puro, e que a alma é criada por Deus pura, formada e soprada para
dentro do homem. Portanto, o dualismo é assim ensinado na literatura rabínica,
ou seja, essa concepção de que o corpo e a alma são separáveis.
Diante dessa
constatação, temos que a afirmação de que os judeus foram influenciados pelos
gregos a respeito da imortalidade da alma é realmente feita por muitos
estudiosos, e até mesmo a Enciclopédia Judaica afirma que essa crença veio aos
judeus pelos seus contatos com os gregos, principalmente com a filosofia
platônica.
Creio que isso é
duvidoso. No entanto, como isso é usado por muitos cristãos para ensinar que os
judeus tomaram essa ideia no período em que foram escritos os livros
deuterocanônicos, e que essa ideia é típica dos escritos entre os dois testamentos, é preciso frisar que esse dado não é
encontrado na mesma Enciclopédia Judaica.
Pelo contrário, a
Enciclopédia ensina que nos livros dos Provérbios e Jó está a fé na alma como
distinta do corpo. Se não concordam com a interpretação dessas passagens nesse
sentido, não podem negar o fato de que os judeus que escreveram o artigo da
Enciclopédia pensam diversamente.
Não há qualquer alusão,
nessa passagem, de que somente dos livros escritos mais tarde é que a crença na
imortalidade da alma foi herdada. Essa tese está na mente de muitos, mas a
fonte em questão não corrobora esse particular, que é de grande importância.
Além do mais, a
afirmação de que a crença da ressurreição foi a responsável pela crença da
continuidade da alma sem o corpo é algo que corrobora a exatidão do que está no
presente estudo. É como que uma garantia de que existindo a alma o corpo será a
ela reunido. Ainda, é uma explicação de que a fé na imortalidade da alma
fundamenta a ressurreição do corpo.
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