sábado, 5 de novembro de 2016

Imortalidade da alma


A passagem de Isaías 14,9-19

O profeta Isaías revela, através de uma sátira, a condenação do rei da Babilônia. (Is 14,3) Aliás, esse rei é figura de Satanás, na leitura espiritual da passagem. Entretanto, na aludida sátira, com linguagem metafórica, até as árvores alegram-se por causa do fim do tirano rei. (Is 14,8)

Então, falando nesse contexto do mundo dos mortos, o sheol, diz o seguinte: “Nas profundezas, o Xeol se agita por causa de ti, para vir ao teu encontro; para receber-te despertou os mortos, todos os potentados da terra, fez erguerem-se dos seus tronos todos os reis das nações.” (Is 14,9)

O termo usado para os mortos no verso 9 é “rephaim”, traduzido por gigantes, mas que nessa passagem refere-se às sombras, às almas, que não possuem a atividade dos vivos.

Não tratando-se de uma simples ideia do senso comum, ou uma imaginação, mas da verdade da Palavra de Deus em termos simbólicos, temos que considerar tudo o que é afirmado. O sheol é um lugar encontrado nas profundezas. Isso torna difícil tê-lo apenas como sinônimo de túmulo ou pó da terra, o que indica, principalmente esse último, a superfície da terra, e não algo profundo.

Continua o texto usando de uma personificação do sheol, afirmando que ele desperta os mortos, como na metáfora quando mostrou os ciprestes e cedros em alegria, significando que não seriam mais explorados.

Esse particular sobre o despertar dos mortos revela a fé no descanso deles, uma espécie de sono, experimentando uma existência tênue, já que podem ser despertados. Não pode implicar em inexistência, já que o que não existe não pode ser trazido à consciência. Depois são citados os reis das nações em seus tronos. Isso mostra que ainda na morte a sua majestade os acompanha. Não é preciso imaginar que os tronos materiais estejam lá. Essa ilustração revela a fé de que os mortos estavam em um lugar, que é nitidamente o sheol. Porém, tal não é compatível com o simples túmulo, pois sabe-se da corrupção, do tornar-se pó, coisas que estão em relação aos corpos. Então, o texto ilustra toda a cena com a fé na existência das almas.

O verso 11 refere-se principalmente ao cadáver, pois é coberto de vermes e bichos. Parece que a passagem trata das duas realidades, do corpo e da alma, realidades essas intimamente conectadas, porém distintas, pois é possível ver o destino da alma no verso 9, e o do corpo no verso 11. A simbologia é bastante pungente, quando o fausto e a música descem ao sheol, que definitivamente não é a sepultura, significando a total humilhação.

No verso 15 há, talvez, o maior esclarecimento a respeito do sentido do termo sheol: “E, contudo, foste precipitado ao Xeol, nas profundezas do abismo.” O sheol e o abismo são sinônimos aqui, ou pelo menos um faz parte do outro. Em outras palavras, esses dois termos têm sentido imbricados. Não parece a interpretação certa ser aquela de que o abismo é a terra, como pensava Ellen White, pois essa leitura não concorda com a afirmação sobre as “profundezas” em relação à superfície, que é a terra, e contraste com o céu, acima das nuvens, como está nos versos 13 e 14.

O verso 16 continua a falar do corpo, pois esse fica visível. E o verso 18 é revelador: “Todos os reis das nações repousam com honra, cada um no seu jazigo.” O verso 9 afirma de todos os mortos, e especialmente dos reis, recebendo o rei da Babilônia nas profundezas do sheol. Mas o verso 18 mostra que os outros reis foram sepultados, e “repousam com honra”, mas o rei que vemos aqui não foi para a sepultura, certamente nem tenha entrado nela, pois a Bíblia afirma que foi jogado fora da sepultura, e não para fora dela, como está a seguir. Então, o corpo não foi jogado na sepultura, mas fora da sepultura. Ele não reuniu-se aos outros reis no túmulo. Temos isso pelas observações feitas nos versos 11 e 16. Lemos então no verso 19 que “foste lançado fora da tua sepultura”, e no 20: “Tu não te reunirás àqueles na sepultura, pois arruinaste a tua terra, fizeste perecer o teu povo, nunca mais se nomeará essa raça de malvados.” E é sabido que não ser sepultado significava grande humilhação na cultura judaica.

Por tudo isso, é impressionante a cena que ilustra a alma do rei recebida nas profundezas do sheol, ao mesmo tempo em que mostra seu corpo morto desonrado, carcomido de vermes aos olhos de todos, sem sepultura. Principalmente quando a Bíblia especifica que ele não terá nunca sepultura. No verso 9 ele está onde estão os reis das nações, juntamente com eles, e no verso 20 afirma-se que ele não será reunido com os mortos nos túmulos, portanto não está onde estão os reis, pois estes possuem cada um sua sepultura. (cf. Is 14,18) Dessa forma, temos a distinção do corpo e da alma, e do túmulo material, que é o “jazido, a casa” onde esse rei não entrou, e da parte espiritual, a mansão dos mortos, chamada sheol.
Gledson Meireles.

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