Na Bíblia
o sheol indica um lugar de
escuridão, longínquo de Deus, nas camadas mais profundas da terra, onde os
mortos descem, e lá não podem agir, nem louvar a Deus, nem participar de nada
mais do que está no mundo que está debaixo do sol.
Essa concepção é também, ao
que parece, um estado afastamento de Deus, não sendo somente o lugar, pois
quando o profeta Jonas foi engolido pelo grande peixe enviado por Deus, ele diz
ter suplicado do fundo do sheol a Deus. Ele não estava morto, nem no mundo dos
mortos, nem na terra, nem na sepultura, e ainda assim, por estar nas trevas do
estômago daquele animal, nas profundezas das águas, ele fala de estar no sheol.
O termo tem, portanto, um
sentido espiritual de um poder limitador, um poder mortífero, que envolve a
criatura e a torna incapaz de agir, e na qual sucumbe. É o sheol um termo que
significa o fim da vida neste mundo.
A Enciclopédia Católica
afirma que sheol é usado no Antigo Testamento para falar do reino dos mortos. [http://www.newadvent.org/cathen/07207a.htm]
Por sua vez, na Enciclopédia Judaica, apresentando os dados da Bíblia, o sheol
(hebraico
) significa o lugar da congregação dos mortos. É o lugar
de maior distância possível do céu (Jó 11,8; Amos 9,2, Salmo 139,8). Os refaim
são entendidos aqui como as sombras dos heróis guerreiros. Interpretando Jó
14,13 e Eclesiastes 9, 5 afirma a enciclopédia que os mortos existem, mas sem
conhecimento e sentimento.
Essa existência é
reconhecida, e vejamos como é corroborado por uma passagem bíblica: “Ainda, em certas ocasiões extraordinárias os habitantes
no Sheol são creditados o dom de fazer conhecer seus sentimentos de regozijo na
queda do inimigo. (Is 14,9.10)”
Ambas as enciclopédias
mostram que a etimologia do termo sheol é desconhecida, ainda que alguns tenham
tentado traçá-la. A Enciclopédia Judaica não afirma com exatidão se o conceito
bíblico de sheol é oriundo dos assírios ou um desenvolvimento próprio de
elementos comuns aos dois povos, os judeus e os assírios, e que é encontrado em
religiões primitivas. Essa última tese, afirma a enciclopédia, de que o
desenvolvimento do conceito é próprio do povo de Deus, é a mais provável.
O sentido de sheol envolve o
corpo na cova e sua alma a ele conectada, não necessariamente no mesmo lugar,
resultando em que os mortos formam uma família, possuem comunhão. O sheol está
intimamente ligado ao túmulo.
[http://www.jewishencyclopedia.com/articles/13563-sheol]
Pelo que podemos perceber, o
sheol não é o túmulo, ainda que esteja expressamente relacionado a ele. É como
uma forma de afirmar o poder da morte sobre a pessoa, onde o corpo volta ao pó,
mas o ser interior, o espírito, está preso no sheol. Quando o conceito é
tornado mais claro na distinção entre corpo e alma, o corpo está no túmulo, e a
alma, ou o espírito permanece no descanso eterno do sheol.
Essa é a fé dos judeus, onde
os mortos descem como sombras em um mundo de escuridão, onde a atividade é tão
restrita, quase totalmente finalizada, mas que os mortos permanecem em sua
existência, podendo às vezes expressar sua ação. Prestemos atenção: não é dito
que o sheol é somente um lugar onde os espíritos permanecem sem luz e total
atividade e felicidade. Mas, diferentemente, afirma-se que o sheol não é o
lugar desejado, que é de pouca ou nenhuma atividade, lugar de descanso para
todos, ainda que há possibilidade de haver lá alguma ação.
Ao tratar da ressurreição,
na mesma enciclopédia, essa crença judaica antiga é afirmada: “Como todos os povos antigos, os primitivos hebreus criam
que os mortos descem para o mundo subterrâneo e vivem lá um existência incolor.” (cf. Is 14,15-19; Ez 32,21-30).” [1]Portanto, no sheol estão as
almas dos falecidos, mas sua existência foi reduzida a uma base tão ínfima que
não possui mais o colorido da vida neste mundo.
Das muitas controvérsias
judaicas sobre a ressurreição, estão entre elas as que questionam se a mesma
refere-se somente ao povo judeu ou a todos os outros povos, se somente os
justos voltarão a viver ou se todos justos e ímpios serão ressuscitados, se a
ressurreição é apenas a imortalidade da alma.[2] São várias afirmações de eruditos
judeus, chegando a ser negada a ressurreição, como na introdução da filosofia
natural. Com isso, a imortalidade da alma substitui a ressurreição para muitos.
No entanto, não é essa a fé dos judeus em todos os tempos, como afirmado acima.
Interessante são as opiniões
de que Enoque e Elias foram para o céu e se tornaram anjos, e de que os
escritores do Novo Testamento são divididos ao falar da ressurreição dos justos
apenas, e de todos em geral. Também a concepção de Deus descendo na Geena para
salvar Israel, como Cristo descendo no Hades para levar os salvos por Ele ao
céu.[3] Essa doutrina, aludida
aqui, será tratada neste estudo.
Por tudo isso, o sheol
bíblico não é um sinônimo de sepultura, mas algo que está relacionado à morte e
ao túmulo, uma força que toma conta de todos os mortos. Não é revelado, no
início, como um lugar de atividade. Contudo é um lugar ou mesmo um estado onde
há existência dos mortos, das suas almas, e não de inexistência como afirmam
algumas doutrinas.
Gledson Meireles.
[1] Like all ancient peoples, the early
Hebrews believed that the dead go down into the underworld and live there a
colorless existence (comp. Isa. xiv. 15-19; Ezek. xxxii. 21-30).
[2] (Maimonides, however (see his
commentary, l.c., and "Yad," Teshubah, viii.), took the
resurrection figuratively, and substituted for it immortality of the soul, as
he stated at length in his "Ma'amar Teḥiyyat ha-Metim"; Judah ha-Levi
also, in his "Cuzari," took resurrection figuratively (i. 115, iii. 20-21).)
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