domingo, 13 de novembro de 2016

O Sheol


Na Bíblia o sheol indica um lugar de escuridão, longínquo de Deus, nas camadas mais profundas da terra, onde os mortos descem, e lá não podem agir, nem louvar a Deus, nem participar de nada mais do que está no mundo que está debaixo do sol.

Essa concepção é também, ao que parece, um estado afastamento de Deus, não sendo somente o lugar, pois quando o profeta Jonas foi engolido pelo grande peixe enviado por Deus, ele diz ter suplicado do fundo do sheol a Deus. Ele não estava morto, nem no mundo dos mortos, nem na terra, nem na sepultura, e ainda assim, por estar nas trevas do estômago daquele animal, nas profundezas das águas, ele fala de estar no sheol.

O termo tem, portanto, um sentido espiritual de um poder limitador, um poder mortífero, que envolve a criatura e a torna incapaz de agir, e na qual sucumbe. É o sheol um termo que significa o fim da vida neste mundo.

A Enciclopédia Católica afirma que sheol é usado no Antigo Testamento para falar do reino dos mortos. [http://www.newadvent.org/cathen/07207a.htm] Por sua vez, na Enciclopédia Judaica, apresentando os dados da Bíblia, o sheol (hebraico ) significa o lugar da congregação dos mortos. É o lugar de maior distância possível do céu (Jó 11,8; Amos 9,2, Salmo 139,8). Os refaim são entendidos aqui como as sombras dos heróis guerreiros. Interpretando Jó 14,13 e Eclesiastes 9, 5 afirma a enciclopédia que os mortos existem, mas sem conhecimento e sentimento.

Essa existência é reconhecida, e vejamos como é corroborado por uma passagem bíblica: “Ainda, em certas ocasiões extraordinárias os habitantes no Sheol são creditados o dom de fazer conhecer seus sentimentos de regozijo na queda do inimigo. (Is 14,9.10)”

Ambas as enciclopédias mostram que a etimologia do termo sheol é desconhecida, ainda que alguns tenham tentado traçá-la. A Enciclopédia Judaica não afirma com exatidão se o conceito bíblico de sheol é oriundo dos assírios ou um desenvolvimento próprio de elementos comuns aos dois povos, os judeus e os assírios, e que é encontrado em religiões primitivas. Essa última tese, afirma a enciclopédia, de que o desenvolvimento do conceito é próprio do povo de Deus, é a mais provável.

O sentido de sheol envolve o corpo na cova e sua alma a ele conectada, não necessariamente no mesmo lugar, resultando em que os mortos formam uma família, possuem comunhão. O sheol está intimamente ligado ao túmulo.

 [http://www.jewishencyclopedia.com/articles/13563-sheol]

Pelo que podemos perceber, o sheol não é o túmulo, ainda que esteja expressamente relacionado a ele. É como uma forma de afirmar o poder da morte sobre a pessoa, onde o corpo volta ao pó, mas o ser interior, o espírito, está preso no sheol. Quando o conceito é tornado mais claro na distinção entre corpo e alma, o corpo está no túmulo, e a alma, ou o espírito permanece no descanso eterno do sheol.

Essa é a fé dos judeus, onde os mortos descem como sombras em um mundo de escuridão, onde a atividade é tão restrita, quase totalmente finalizada, mas que os mortos permanecem em sua existência, podendo às vezes expressar sua ação. Prestemos atenção: não é dito que o sheol é somente um lugar onde os espíritos permanecem sem luz e total atividade e felicidade. Mas, diferentemente, afirma-se que o sheol não é o lugar desejado, que é de pouca ou nenhuma atividade, lugar de descanso para todos, ainda que há possibilidade de haver lá alguma ação.

Ao tratar da ressurreição, na mesma enciclopédia, essa crença judaica antiga é afirmada: “Como todos os povos antigos, os primitivos hebreus criam que os mortos descem para o mundo subterrâneo e vivem lá um existência incolor.” (cf. Is 14,15-19; Ez 32,21-30).” [1]Portanto, no sheol estão as almas dos falecidos, mas sua existência foi reduzida a uma base tão ínfima que não possui mais o colorido da vida neste mundo.

Das muitas controvérsias judaicas sobre a ressurreição, estão entre elas as que questionam se a mesma refere-se somente ao povo judeu ou a todos os outros povos, se somente os justos voltarão a viver ou se todos justos e ímpios serão ressuscitados, se a ressurreição é apenas a imortalidade da alma.[2] São várias afirmações de eruditos judeus, chegando a ser negada a ressurreição, como na introdução da filosofia natural. Com isso, a imortalidade da alma substitui a ressurreição para muitos. No entanto, não é essa a fé dos judeus em todos os tempos, como afirmado acima.

Interessante são as opiniões de que Enoque e Elias foram para o céu e se tornaram anjos, e de que os escritores do Novo Testamento são divididos ao falar da ressurreição dos justos apenas, e de todos em geral. Também a concepção de Deus descendo na Geena para salvar Israel, como Cristo descendo no Hades para levar os salvos por Ele ao céu.[3] Essa doutrina, aludida aqui, será tratada neste estudo.

Por tudo isso, o sheol bíblico não é um sinônimo de sepultura, mas algo que está relacionado à morte e ao túmulo, uma força que toma conta de todos os mortos. Não é revelado, no início, como um lugar de atividade. Contudo é um lugar ou mesmo um estado onde há existência dos mortos, das suas almas, e não de inexistência como afirmam algumas doutrinas.
 
Gledson Meireles.
 


[1] Like all ancient peoples, the early Hebrews believed that the dead go down into the underworld and live there a colorless existence (comp. Isa. xiv. 15-19; Ezek. xxxii. 21-30).
[2] (Maimonides, however (see his commentary, l.c., and "Yad," Teshubah, viii.), took the resurrection figuratively, and substituted for it immortality of the soul, as he stated at length in his "Ma'amar Teḥiyyat ha-Metim"; Judah ha-Levi also, in his "Cuzari," took resurrection figuratively (i. 115, iii. 20-21).)

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