Capítulo 6
Quem liderou o Concílio de Jerusalém?
Este artigo refuta o capítulo 6 do livro A História não contada de Pedro.
Do Concílio de Jerusalém o livro
ensina que foi um momento onde todos discutiram, em igualdade, dando seu
parecer, sem existência de um papa. Haveria assim um espaço “democrático” na
Igreja antiga, conforme interpreta o autor. Tudo no intuito de negar a
presidência de São Pedro no Concílio de Jerusalém.
O argumento é que se Pedro fosse
infalível deveria ter sido consultado antes de tudo, e resolvido a questão.
Essa suposição revela desconhecimento da doutrina da infalibilidade. Isso é
importante, e fundamental.
O autor quer provar que não havia
liderança maior na Igreja primitiva, que não havia um “papa”, e que todos seriam
iguais em autoridade, resolvendo democraticamente as questões doutrinais, e que
mesmo Tiago não era um papa, mas alguém que naquele momento exerceu autoridade
maior.
No entanto, pelas observações notadas
em toda a argumentação, o autor, na ânsia de destronar Pedro, colocou Tiago,
contra sua (do autor) intenção acima ressaltada, colocou São Tiago como o maior
em autoridade, o que decidiu toda a questão, o que julgou, o que confirmou, o
que encerrou, o que determinou toda a questão conciliar. Ele teria sido aquele
que não poderia ter falado antes, por ser líder, pois quando o líder fala acaba
a reunião.
“Tiago falou está falado. Tiago disse,
questão encerrada”.
Tiago teria
proferido o discurso decisivo! Pedro e os demais teriam dado “opiniões”. Pedro
“opinou” depois que outros falaram, e se fosse o chefe a reunião teria sido
terminada. O chefe fala por último.
Com essas argumentações, o autor faz
de Tiago um líder máximo, quando na verdade iniciou o assunto falando de
democracia, onde todos têm igual autoridade. São Tiago ganhou status de juiz, determinante das
opiniões tratadas na reunião, quando na mesma opinião do autor todos eram
iguais na resolução do problema. Por que então não foi Tiago, nesses termos, impostos
pela própria argumentação do autor, por que não foi ele inquirido pessoalmente e
resolvido o problema? Por essa observação pode-se de antemão indicar que há
erro importante nessa tese.
Sabe-se que são Tiago era bispo
daquela Igreja, e que era uma das personalidades mais influentes da Igreja
Católica, no primeiro século, sendo considerado como uma das colunas, junto com
Pedro e João.
Dessa forma, não é estranho que no
momento do Concílio sua posição fosse destacada. No entanto, não se pode afirmar
que o mesmo “liderou” o Concílio.
Os critérios que o livro aponta para
dirimir a questão de quem foi a autoridade principal do Concílio em Jerusalém
não são satisfatórias uma vez que se analisa o contexto.
“Iremos analisar cada um dos pontos apresentados acima. Se
o leitor tiver paciência e estiver com a mente aberta à verdade, verá que é
necessário um verdadeiro assassinato e sepultamento da lógica para não colocar
Tiago no papel de liderança do Concílio da Igreja, o que desmonta com a
pretensão romanista de que Pedro era o papa e que foi aquele que liderou tal
Concílio.” (p. 40)
Dessa forma, não se pode esperar,
naturalmente, que o autor seja convencido pela presente resposta, uma vez que
está convicto de ter apresentado toda a verdade sobre o assunto. Para quem não
está fechado ao estudo, e como afirma o próprio livro, quem “estiver com a
mente aberta à verdade”, é importante que leia e raciocine sobre cada ponto, e
abrace o que for finalmente verdadeiro. Que o autor do livro esteja entre
esses, pois para Deus nada é impossível. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Isso se pode esperar, se o autor ler a
presente resposta e a estudar com afinco.
Uma das razões que o livro aponta para
a supremacia de Tiago no Concílio é que a pessoa mais importante discursa por
último, porque “É aquela que dá a palavra final, a decisiva, a irrefutável.”
(p. 40)
E explica: “No caso de Atos 15, vemos que Pedro já havia
discursado nos versos 7 a 11, mas mesmo assim a
questão ainda não havia sido decidida e nem a discussão dada como encerrada:
“Depois de muita discussão, Pedro levantou-se e dirigiu-se a eles (...) Toda a
assembléia ficou em silêncio, enquanto ouvia Barnabé e Paulo falando de todos
os sinais e maravilhas que, por meio deles, Deus fizera entre os gentios (...)
Quando terminaram de falar, Tiago tomou a palavra e disse: Irmãos, ouçam-me...”
(Atos 15:7,12,13)” [ênfase do
autor]
No entanto, contrariamente ao que foi
apresentado acima, deve-se ter em mente que a questão foi decidida no verso 7:
“E, havendo
grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Homens irmãos, bem sabeis que
já há muito tempo Deus me elegeu dentre nós, para que os gentios ouvissem da
minha boca a palavra do evangelho, e cressem.”
Assim, “Então toda
a multidão se calou...”.
Houve um silêncio após Pedro falar. Pedro
LEVANTOU-SE. Prestemos atenção a essas palavras, a esses sinais no texto
sagrado. Depois desse silêncio não houve mais discussão, não ouviu-se nenhum
barulho, mas apenas as narrações de Barnabé e Paulo, e depois Tiago:
“E,
havendo-se eles calado, tomou Tiago a palavra, dizendo...”
Que ponto fundamental foi decisivo? A resposta
é clara, pois se trata da eleição de São Pedro como aquele que abriu as portas
do Evangelho da salvação aos gentios:
“Homens
irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre nós, para que os
gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho, e cressem. (v. 7) E, ainda, que Deus “não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando
os seus corações pela fé”. (v. 9)
Essas palavras são retomadas por são
Tiago, não como quem as aprova e lidera a reunião (o autor discorda), mas como
concordância (nisso o autor concorda), seguida pela mesma opinião de todos os
presentes: “Simão relatou como
primeiramente Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu
nome.” (v. 14)
“Por isso
julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a
Deus.” (v. 19)
Portanto,
questionando sobre quais palavras dirimiram a questão, não se pode afirmar
outra coisa que não a sentença dos vv. 7 e 9. O mesmo ensino foi acatado por
são Tiago, em plena concordância, e sumariado na Epístola Conciliar.
v. 7: “E, havendo grande contenda, levantou-se
Pedro e disse-lhes: Homens irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me
elegeu dentre nós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do
evangelho, e cressem.”
v. 8: “E Deus, que conhece os corações, lhes deu
testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós;”
V. 9: “E não fez diferença alguma entre eles e
nós, purificando os seus corações pela fé.”
V. 10: “Agora, pois, por que tentais a Deus,
pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos
suportar?”
V. 11: “Mas cremos que seremos salvos pela graça
do Senhor Jesus Cristo, como eles também.”
V. 19: “Por isso julgo que não se deve perturbar
aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus.”
v. 28: “Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo
e a nós, não vos impor mais encargo algum...”
São Pedro
falou autoritativamente: “por que
tentais a Deus?”, contra os
judaizantes naquele Concílio.
Basta
pensar naqueles que tinham a opinião de que a circuncisão e a Lei eram necessárias
para ser cristão. Suas palavras eram confirmadas pelas Escrituras. O verso 28
confirma o que está nos vv. 7 a 10, e que havia sido concordado por são Tiago
no v. 19.
Assim, são
essas as palavras fundamentais que resolveram a questão: os gentios convertidos
devem ser circuncidados (e observar a Lei Mosaica) para serem salvos? Foram as
palavras de São Pedro que disseram: Não. A questão foi resolvida.
A
resposta foi negativa, e são Pedro afirmou que seria tentar a Deus impor a Lei
sobre os pagãos. São Tiago concorda e cita as Escrituras no mesmo sentido. Quem
poderia discordar disso, quando Deus havia escolhido Pedro como apóstolo dos
judeus e gentios?
O verso
28 (e também o 29) conclui o mesmo que foi pregado pelo chefe dos apóstolos.
Obviamente, o concílio define de modo infalível, por ser guiado pelo Espírito
Santo. E com Pedro todos os presentes, em comunhão, anunciam a Palavra de Deus.
É isso que é exigido para um concílio ecumênico infalível.
O livro
afirma incorretamente: “Porém, vemos que depois de Pedro ainda houve debate
na assembleia (v.12), e foi somente quando Tiago tomou a palavra que a
questão foi decidida.” (ênfase no original.)
Mas, que
debate houve após o v. 12? Onde está esse debate? Uma leitura objetiva não pode
encontrar debate após esse verso.
Após o v.
11 definitivamente não houve debate. São Paulo e São Barnabé narram suas
experiências no v. 12. Tiago fala do v. 13 ao 21, apenas confirmando o que
havia sido dito por Pedro.
Contudo,
onde houve discussão? Confirmação das palavras somente. Antes de chegarem a
Jerusalém, os apóstolos Paulo e Barnabé discutiam com os judaizantes: “Tendo tido Paulo e Barnabé não pequena
discussão e contenda contra eles” (v. 2)
O verso 3
revela que são Paulo e são Barnabé narraram a salvação dos gentios diante dos
apóstolos, dos anciãos e demais cristãos em Jerusalém.
No
entanto, mesmo com a autoridade do apóstolo dos gentios, e com a colaboração de
São Barnabé, o que aconteceu quando falaram das suas experiências de
evangelização entre os gentios? Foram ouvidos? De forma nenhuma.
Leia o v.
4: “Alguns, porém, da seita dos fariseus, que tinham
crido, se levantaram, dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que
guardassem a lei de Moisés.” Pode-se imaginar o que São Paulo e São Barnabé disseram
contra os judaizantes. Quantas argumentações, quantas provas tiradas da Palavra
de Deus, quantas razões e justificações do seu apostolado!
Portanto,
nem mesmo os testemunhos desses grandes apóstolos intimidaram os judeus
cristãos de Jerusalém. Tiveram que reunir em concílio para definir a questão.
(v. 5)
“E,
havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes” (v. 7).
Assim, somente após muita contenda no
Concílio é que Pedro falou. Após isso, não houve mais discussão. Pelo
contrário, Paulo e Barnabé puderem contar novamente o que tinham dito antes do
Concílio, e agora sem problemas. São Tiago reforça o que foi dito por São Pedro,
e sugere medidas eclesiásticas conforme a decisão. Por isso, esses conselhos foram
escritos na Carta Conciliar.
E o argumento do livro continua: “Se fosse
Pedro o líder e Tiago fosse seu subordinado, então Pedro não precisaria ter
esperado Tiago dar a decisão final, ainda mais sendo a opinião de Tiago tão
semelhante à de Pedro!” (p. 41).
O que está escrito na p. 41 do livro (citação
acima) está incorreto. Primeiro, Pedro não esperou Tiago falar e decidir. O
texto bíblico não afirma isso. Afirma apenas que Tiago falou após Paulo e
Barnabé. A opinião de Tiago foi a mesma de Pedro, não alguma outra semelhante:
ele concordou com Pedro. Ele acatou a decisão de Pedro.
Ainda: “Note também que, após Tiago ter
concluído seu discurso, ninguém mais ousou discordar dele e nem sequer
levantar qualquer tipo de oposição!” Ou ainda: “Depois que
Pedro falou, a questão ainda teve que passar por Paulo e Barnabé, para depois
chegar ao veredicto de Tiago e só então ser encerrada – com a palavra de Tiago,
e não de Pedro!” (ênfase no original)
Não se sabe onde o autor leu isso no
texto. Está claro que após o v. 7 não houve discussão, e não após Tiago falar.
Quando são Tiago falou a discussão já havia terminado, com o silêncio seguido
pelo discurso de são Pedro, indicando fim de debate. Na verdade, Pedro falou,
questão decidida.
Paulo e Barnabé não acrescentaram
nada, apenas contaram suas missões entre os gentios. Aliás, puderam contar o
que tentaram contar antes, mas não tinham sido ouvidos.
O livro aponta as sugestões de são
Tiago escritas na carta conciliar como prova de que as palavras de Tiago
tiveram maior peso que as de Pedro. Isso é bastante pueril.
A questão já havia sido decidida, mas
ficaram sugestões importantes, concordantes com a definição de que os gentios
não deviam ser circuncidados. Eles não precisavam mais da circuncisão, e isso
foi decidido pelas palavras de Pedro. Eles não precisavam mais do cumprimento da
Lei, e isso foi decidido pelas palavras de Pedro. No entanto, para não causar
problemas maiores, sabiamente São Tiago, e certamente com a aprovação de todos
os apóstolos e presbíteros, incluiu algumas observações importantes. Como
saberiam dessas sugestões se não fossem escritas? Por isso, são elencadas na
carta, como algo acidental, não essencial, pois a essência foi dita por Pedro.
Basta ver que na carta não é dito nada sobre a salvação pela graça, o que
fundamentalmente dirime o assunto.
E continua: “A semelhança é irrefutável e
mostra que a carta enviada às igrejas de Antioquia, da Síria e da Cicília é inteiramente
baseada no discurso de Tiago, e não no de Pedro! Aliás, deve-se notar que o
discurso de Pedro nem sequer consta na carta enviada às igrejas!” (p.
42) O discurso de Tiago não está na carta, mas suas sugestões. O que Pedro
falou está na carta, pois é a resposta à questão principal. Já foi demonstrado
acima. Essa afirmação, portanto, está refutada.
“Se Tiago estivesse somente relatando uma opinião
particular – como fez Pedro – poderíamos não levar isso tão em consideração.”
(p. 45) Para o livro Pedro fez apenas uma consideração pessoal, uma “opinião
particular”. Não é isso que a Bíblia ensina, pois ele mostra que Deus o
“elegeu” para pregar aos pagãos, um fato encontrado na Escritura, não opinião
do apóstolo, e isso foi de importância fundamental para resolver a questão, e
evitar toda ulterior discussão (v. 12)
“Mas quando vemos que as palavras de Tiago foram adotadas
como as palavras do concílio, isto é, como a palavra do corpo apostólico,
vemos que Tiago teve o poder de falar por todo o corpo de apóstolos, o que
cremos que não seria possível se ele não passasse de uma “sombra” de Pedro!”
(p. 45) Assim, o livro apresenta Tiago falando em nome de todos. Não parece uma
leitura objetiva, mas uma suposição. À luz do que foi provado antes, essa
suposição está refutada.
Ainda: “Pedro só foi começar a falar
“depois de muita discussão” (At.15:7). A sua fala, ainda
que importante, não foi decisiva. Precisou de Paulo e de Barnabé discursarem
depois, com toda a assembleia em silêncio absoluto diante deles (At.15:12),” (ênfase no original). O livro só não
explicou porque a assembleia estava em silêncio diante de Paulo e Barnabé. Já
mostrado acima, mas repetindo aqui: porque Pedro havia discursado com tanta
autoridade, mostrando sua eleição para decidir o assunto, e mostrando
que quem pensa diferente estava tentando a Deus, somente após isso houve silêncio.
“Nenhuma das posições
levantadas por Pedro foram adotadas nas prescrições da carta enviada às igrejas
e ele não foi o que mais discursou.” (p. 45)
O livro afirma diversas vezes que a
Epístola Conciliar não teve qualquer palavra de Pedro, e assevera que: “Mas os
apóstolos, em comum acordo, decidiram não escrever na carta nenhuma palavra
dita por Pedro e ainda por cima colocaram exatamente as mesmas palavras
proferidas por Tiago.” (p. 44)
Parte do ponto fundamental no discurso
de são Pedro: “Então, por que agora vocês estão
querendo tentar a Deus, impondo sobre os discípulos um jugo que nem nós nem
nossos antepassados conseguimos suportar?”.
Ponto fundamental no discurso de são
Tiago: “Portanto, julgo que não devemos pôr
dificuldades aos gentios que estão se convertendo a Deus.”
Ponto fundamental da carta: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não impor a
vocês nada além das seguintes exigências necessárias...”.
As sugestões de Tiago deviam ser
claramente escritas, pois doutro modo não seriam conhecidas, se a carta do
concílio apenas afirmasse o fundamental, de que os gentios não tinham nada a
seguir da Lei Mosaica para serem salvos.
Em todo o cenário fica portanto certo
que o fundamental foi decidido por São Pedro, e que algumas medidas importantes
foram sugeridas por São Tiago.
Ainda volta o livro a fazer a acusação
de que a Igreja tenha criado lendas e mitos sobre Pedro: “A figura quase
mitológica de Pedro tomou o lugar da figura real do Pedro bíblico, que não
liderava concílios e que muitas vezes era colocado em segundo plano ou
praticamente ignorado.” (p. 47)
Quem lê a Bíblia, a Patrística e os
documentos históricos em geral, fica convencido de que são Pedro é figura maior
entre os apóstolos, de forma alguma diminuído, muito menos sendo ignorado.
Ainda, o livro argumenta que são Tiago
julgou as palavras de todos, sumariou, aprovou, e definiu fazendo a proclamação
final, porque disse: julgo (krino) “que...”.
O Comentário da Bíblia Matthew Henry
explica que Tiago deu sua opinião, seu parecer, “não tendo autoridade sobre o
resto” (Atos 15,19). A expressão ‘ego
krino’ [julgo] pode ser traduzida como apenas opinião. O verbo krino pode ter o sentido que o livro
apresenta, mas não necessariamente. Por si só esse termo não define a questão.
O autor interpreta de outra forma: “Este “julgo”
não está ali no sentido de “acho que”, mas sim no sentido de exercer
juízo [veredicto] sobre um determinado tema.” [...] “Se Tiago estivesse
somente dizendo “eu acho isso”, a sua opinião não teria maior valor que
a dos outros e a discussão não iria se dar por terminada.” [ênfase no
original](p. 47)
Da Homilia que São João Crisóstomo,
sobre Atos 15, realizou a respeito do assunto, pode-se aprender que São Tiago
era bispo de Jerusalém, por isso falou por último, para ser mais uma testemunha
do que havia sido proclamado por são Pedro. Da passagem de Atos 15,19 são João
Crisóstomo admite que trata-se naquele momento da autoridade de São Tiago, mas
como sabemos, sendo Pedro cabeça dos apóstolos. Portanto, a autoridade de Tiago
ali era inferior à de Pedro.
Portanto, o que o livro afirma não se
impõe absolutamente: “Não há dúvidas de que Pedro também teve o seu papel no
concílio, assim como Tiago e Barnabé também tiveram, mas não chegou nem perto
da importância daquilo que foi o discurso de Tiago.” (p. 48)
Pelo contrário, são Tiago teve
importância e autoridade, naquele momento, mas não comparadas ao papel de
Pedro, pois o discurso de Pedro dirimiu a questão fundamental pela qual se deu
o primeiro Concílio da Igreja Católica.
Mesmo diante disso, o livro afirma: “Pedro, porém,
foi sombra de Tiago no concílio. Tiago estava longe de ser um “papa”, mas tinha
autoridade suficiente para deixar Pedro em segundo plano em um debate.”.
Dever-se-ia ter mais calma ao pensar
em escrever tamanha inexatidão. Essa afirmação acima não é fruto de exegese,
nem do contexto de Atos 15, mas do pressuposto de que Pedro não exercia a
primazia na Igreja. Percebe-se nas argumentações que sempre fica abaixo da
superfície dos argumentos a figura de Pedro como de menor importância e
autoridade nas ocasiões tratadas, tudo contrário ao texto bíblico. É claro o
papel proeminente de Pedro, embora o livro tente virá-lo, contorná-lo e fazê-lo
parecer o oposto. O que não conseguiu.
Pode-se perceber das argumentações em
torno do papel de Tiago naquele momento, algo como que uma transposição dos
modelos de reuniões modernas para os tempos antigos, especificamente da
antiguidade das Escrituras do Novo Testamento, que podem ser distintos em
pormenores. Sendo assim, como saber das específicas partes que desenrolaram-se
no Concílio de Jerusalém, se as mesmas não estão claramente expostas?
Não importa, para o caso, visto que as
linhas gerais são delineadas com clareza. Ao começar o Concílio o assunto é
apresentado, e há debates com os cristãos judeus ali presentes, sendo ocasião
inicial para discussões acirradas em torno da questão.
Após esse momento, “levantou-se”
Pedro. O fato de falar em pé não significa em si mesmo autoridade sobre os
demais, mas essa atitude é um sinal de autoridade, segundo as circunstâncias.
Ademais, ao falar, Pedro lembra sua escolha para anunciar a salvação aos
gentios, que Deus não faz acepção de pessoas, e mostra que a salvação é pela
graça. Portanto, o discurso de Pedro falou mais em menos palavras que o de
Tiago.
Por isso, afirmo mais uma vez, com a
Bíblia, a tradição cristã, a história e o bom senso, que Tiago não apresentou a
resposta à questão do concílio, não resolveu nada, como tentou apresentar o livro.
Se os conselhos de São Tiago fossem mandados sem a decisão de que a circuncisão
e a Lei não eram obrigatórias, teriam sido nulas, pois já contidas na pregação
dos judaizantes. O que o livro deixou claro foi apenas o papel de autoridade de
são Tiago no Concílio, como bispo da Igreja de Jerusalém, não sua autoridade
sobre são Pedro. Não sua autoridade sobre a Igreja em geral.
Deve-se lembrar que todos os apóstolos
estavam cheios do Espírito Santo, e ainda que fossem fracos, como todo homem,
tinham o dom da infalibilidade para pregar e escrever a Bíblia. Nessas
circunstâncias entende-se que são Pedro não necessitava de exercer seu poder
jurisdicional sobre os apóstolos, embora possuísse esse poder. O que se
verifica, porém, é seu primado entre os apóstolos, pressupondo já o seu direito
jurisdicional.
Quanto a Gálatas 2,9 há variantes no
original, como mostra a Bíblia de Jerusalém. Os Padres da Igreja usualmente
também citam Pedro em primeiro lugar, seguido por Tiago e João. Nós códices
originais, há vezes em que Pedro é citado primeiro, outras vezes ele não
aparece como coluna, mas apenas João e Tiago. Mostraria assim, pelo menos, que
não havia preocupação em colocar algum desses, nesse verso, como o primeiro,
por se tratar de epístola, e do assunto em questão, e o mesmo não tocar a
questão da liderança da Igreja em todo o mundo. No entanto, considerando a
defesa de são Paulo do seu apostolado, frente aos judeus cristãos, parece a
citação de são Tiago em primeiro lugar dever-se ao fato de ser uma figura
destaque em Jerusalém, local de onde os judaizantes saíram. Como atribuíam suas
atitudes à autoridade de Tiago, são Paulo mostra que o mesmo Tiago está em
comunhão doutrinal com ele, assim como Pedro e João. Apenas para fins de informação.
A doutrina do primado está estabelecida.
Cristo Jesus é o nosso único Senhor,
Salvador, Legislador, Mestre, Pastor, Pontífice, Pedra da Igreja. É por Ele que
Pedro exerceu seu primado, e pelo mesmo fazem os papas.
Gledson Meireles.