Negando que Pedro fosse cabeça dos
apóstolos, o livro afirma: “Isso entra em flagrante contradição com a afirmação
paulina, de que a cabeça da Igreja é Cristo: “Antes, seguindo a verdade em
amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4:15)”. (p. 31)
Não é necessário afirmar novamente,
com citação, o que está escrito no próprio Catecismo, número 1548, que Cristo é
a Cabeça da Sua Igreja. Jesus é a Cabeça do Corpo espiritual da Igreja, que é o
Corpo Místico de Cristo. Ele é o Cabeça, o Chefe Supremo, o Líder Máximo, o
Sumo Sacerdote da nova e eterna aliança. Basta conferir. Essa é a fé cristã católica.
Por ser a fé bíblica, é também a fé católica. Não há contradição com a verdade
de que Pedro é líder dos apóstolos. São Pedro é chefe visível, numa autoridade
secundária, recipiente, subordinada, delegada, estabelecida por Jesus Cristo.
Igualmente, não seria preciso recorrer
a muitas palavras, nesse momento, para afirmar que Pedro é o cabeça da Igreja
em sentido de governo ou chefe visível da mesma, instituído por Jesus Cristo.
Não é o papa que dá força à Igreja, que a sustenta, que a vitaliza, que a
protege. Ele é o sinal da unidade, da qual a Igreja vive, que é recebida de
Deus, e que tem do Espírito Santo a garantia de vencer contra os ataques
malignos. Já está provado. Mas, não deixemos de estudar e refletir. Faz-se
necessário repetir.
Tentando enfraquecer o primado de São
Pedro, o livro cita Atos 24,5 texto sagrado que é, em algumas traduções, vertido
como que insinuando que o apóstolo São Paulo era chefe da seita dos nazarenos.
Isso o faria uma das figuras mais importantes da época, talvez ultrapassando o
papel de São Paulo. Assim sendo, o autor usa desse argumento com prova de que
na verdade não havia autoridade central, não existia líder único da Igreja, e
por o apóstolo São Paulo foi entendido como principal chefe dos cristãos.
A tradução Almeida Corrigida Fiel
assim traduz: “Temos achado que este
homem é uma peste, e promotor de sedições entre todos os judeus, por todo o
mundo; e o principal defensor da seita dos nazarenos”.
Por
tratar-se de tradução protestante, que não tem o intuito de promover a doutrina
do primado, a expressão “o principal defensor” enfraquece ainda mais a posição
defendida no livro, de que são Paulo tinha tamanha reputação, que seria
contrária à primazia de Pedro. O que essa versão afirma é que naquelas
circunstâncias Paulo foi reconhecido como aquele que defendia a causa da Cristo
de forma expressiva. Um líder que representada a Igreja de forma eloquente.
E, ainda, a
Bíblia do Rei Tiago [King James Version]
põe um artigo indefinido antes do termo traduzido pela Almeida Corrigida Fiel
por “defensor”. Aliás, a maioria das traduções em língua inglesa traz o artigo
indefinido antes da palavra chefe (πρωτοστάτην).
Isso
acontece porque não há artigo definido no texto grego original. Essa é outro
problema que o livro apresenta. Pelo que parece, a versão que é apresentada no
livro como “original” trata-se do grego moderno, e não do grego original no
qual foi escrito o Novo Testamento. Não se trata do texto inspirado, mas de uma
versão atualizada do grego. Dessa forma, a língua grega moderna possui inúmeras
diferenças daquela em que foi escrita a Bíblia, tanto em seu vocabulário,
fraseologia, tempos verbais e etc. Sendo assim, não há autoridade o versículo
grego usado para contrapor as traduções católicas.
O livro apresenta este texto:
“Επειδη ευρομεν τον ανθρωπον τουτον οτι ειναι
φθοροποιος και διεγειρει στασιν μεταξυ ολων των κατα την οικουμενην Ιουδαιων, και ειναι πρωτοστατης της αιρεσεως των
Ναζωραιων”.
No entanto, o grego original da Sagrada Escritura é
este:
“εὑρόντες γὰρ τὸν ἄνδρα
τοῦτον λοιμὸν καὶ κινοῦντα στάσεις πᾶσιν τοῖς Ἰουδαίοις τοῖς κατὰ τὴν οἰκουμένην
πρωτοστάτην τε τῆς τῶν Ναζωραίων αἱρέσεως.”
Dessa forma, a parte que foi mostrada para o argumento
é esta: “και ειναι πρωτοστατης της αιρεσεως των Ναζωραιων”,
que faz parte da versão moderna.
Por outro lado, o original bíblico é este: “πρωτοστάτην τε τῆς τῶν Ναζωραίων αἱρέσεως”.
Dessa forma, as diferenças são importantes:
Versão
apresentada no livro
|
Versão
original da Bíblia
|
kαι = e
ειναι= é
πρωτοστατης = principal líder
της = da
αιρεσεως = seita
των = de
Ναζωραιων = Nazaré
|
Πρωτοστάτην = líder
Τε = então
τῆς = da
τῶν = dos
Ναζωραίων = Nazarenos
αἱρέσεως = seita
|
O artigo definido em “τῆς”
(em τε τῆς τῶν) refere-se
à seita dos Nazarenos. A tradução, então, ficaria assim: “e líder da seita dos nazarenos”. Uma vez que não há artigo para “líder”, ele pode
ser, e na maioria das vezes requer que seja, traduzido como “um líder”, pois a
falta de artigo já indica essa imprecisão, essa indefinição. Mais literalmente
seria: “e um líder da seita dos Nazarenos”.
O autor precisa explicar melhor a questão do artigo
nessa passagem, e do texto que apresentou para desfazer-se das traduções
católicas.
Mais. De acordo com as melhores traduções, São Paulo
foi contado com um líder cristão, e não o líder dos cristãos, entretanto, isso
não leva a algo que possa diminuir as prerrogativas de São Pedro. Não é forte
argumento contra a autoridade de Pedro como papa.
Ainda, é necessário terminar com alguns
questionamentos, ao que parece, importantes.
O autor quis usar esse texto para afirmar que uma vez
que Paulo foi considerado o líder dos cristãos, isso significa que não havia
outro nome que tivesse tal consideração na Igreja. Dessa forma, os cristãos não
tinham líder único. Sendo assim, o argumento é inválido, pelas seguintes
razões:
a)
Se o evangelista São Lucas empregou o
artigo definido, mostrando assim que Paulo era a liderança maior dos cristãos,
em seu tempo, isso o torna o chefe dos cristãos. De fato, a identificação de um
chefe único previne que procuremos outro e não que isso signifique a inexistência de
um único chefe. A própria referência ao chefe único prova que ele existe e não
que não exista nenhum.
Mas, o autor do livro, e nenhum protestante desejaria,
certamente, essa conclusão. Então, essa não é a intenção do argumento, embora
ele seja inócuo para isso. Sendo assim, o argumento não serve.
b)
Se a concepção de “principal líder” não faz
de Paulo uma autoridade suprema, mas sim “uma liderança proeminente no
Cristianismo”, ou seja, “uma” (indefinida) liderança”, então não se pode com
isso negar a existência de outras lideranças, mas reconhecê-las! Da mesma
forma, a alusão a um líder não implica na inexistência de um líder máximo.
Se o trabalho de Paulo, inegavelmente grandioso, o
tivesse levado a ser considerado o Líder do Cristianismo, como único, então
pode-se afirmar que os não-cristãos erraram
ao identificar a liderança cristã, pois Paulo era apenas um dos grandes
líderes. Essa é a única alternativa, pois se eles acertaram, então o primado
passa a ser de Paulo, ainda que contrarie passagens do Novo Testamento. Não é
essa a intenção do argumento, novamente! Mais uma vez, o argumento é falho.
Se aquela expressão é apenas um erro de reconhecimento proveniente
expressiva liderança de São Paulo, então ela não depõe contra o papado, já que
errando assim, os pagãos mostravam que não conheciam a Igreja o suficiente, do
contrário saberiam que haveria Pedro como chefe. Uma vez que o autor considera
que os não-cristãos conheciam bem a Igreja, afirmando que “Tértulo,
como advogado, devia ter bom conhecimento sobre os cristãos, (...)”,
ele não pode ter dito que Paulo era o chefe universal, como o próprio autor
reconhece, mas que Paulo era um dos líderes proeminentes do seu tempo.
Paulo era destaque a ponto de ser confundido como chefe
único? Não. Isso é reconhecido pelo autor.
Paulo destacou-se no seu evangelismo, a ponto de ser
apontado como um dos principais líderes? Sim.
Por que então afirmar que a
tradução “um dos líderes” é adulteração? Se esse é o conceito, e está de acordo
com o original, a tradução está correta.
Se Paulo é um dos líderes, isso o coloca como mais um
dos nomes, embora grandes nomes. Isso implica em que não havia chefe supremo na
Igreja? Não. Então o argumento cai por terra.
Sendo assim, não servindo de argumento contra o primado,
mais um capítulo do livro está refutado. Portanto, essa passagem não depõe contra
o primado petrino.
Gledson Meireles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário