A Epístola de São Judas
é uma das sete epístolas católicas. São assim chamadas porque dirigidas a toda
a Igreja. A Igreja recebe a palavra do apóstolo São Judas Tadeu. No começo da
carta ele apresenta-se como “irmão de Tiago”, que certamente era mais conhecido
que Judas na comunidade cristã.
No verso 3 o apóstolo
exorta “a pelejar pela fé”. A fé aqui é a doutrina cristã apostólica. É o
conjunto de doutrina que a Igreja deve guardar. Então, menciona hereges que
estavam dentro da Igreja. Eram “certos homens ímpios”. Esses “transformam em
dissolução a graça de nosso Deus e negam Jesus Cristo, nosso único Mestre e
Senhor”.
Certamente, a heresia estava
afetando o conhecimento da graça divina e da divindade de Jesus, ou eram
doutrinas que implicavam nesse resultado, pois opunham-se à autoridade de
Cristo.
Então, São Judas lembra
a punição de Deus sobre “os incrédulos” no Egito, sobre os anjos que pecaram,
sobre as cidades de Sodoma, de Gomorra e outras, que viviam na impureza e
vícios (vv. 5-7). Compara com isso esses pregadores que estavam no interior da
Igreja, mas que, ao que parece, viviam desregradamente. Chegavam mesmo a maldizer
os anjos, mesmo os caídos, pois o apóstolo mostra a forma como o arcanjo Miguel
repreendeu o Demônio (v. 10).
O pecado desses homens
é assemelhado ao de Caim, de Balão e de Coré. É digno de nota, no presente
estudo, a comparação com Coré, que pecou por insubordinação e cisma. O pecado
de Coré no Antigo Testamento, no tempo de Moisés, foi de rebelião contra a
autoridade instituída por Deus em Moisés e Aarão.
Coré, Datã e Abiram,
com mais duzentos e cinquenta homens, com príncipes, homens respeitados e renomados
de Israel, insurgiram-se contra Moisés e Aarão, afirmando que todos são santos,
todos são consagrados, e não somente Moisés e Aarão.
Com essa doutrina,
negavam a autoridade dos verdadeiros líderes, e colocavam-na em toda a
assembleia: “todos são consagrados”: “Toda
a assembleia é santa, todos o são, e o Senhor está no meio deles. Por que vos
colocais acima da assembleia do Senhor?” (Nm 16, 3).
Os elementos doutrinais
dessa rebelião são heréticos. Afirma que cada membro de Israel é santo, ou
seja, consagrado, e poderia apresentar-se diante do Senhor. Afirma, assim, que
essa consagração incluía toda a assembleia, e que ninguém poderia colocar-se acima
dela. Por meio disso, a autoridade de Moisés e Aarão estava sendo questionada.
Moisés mostrou a eles
que assim estavam ambicionando o sacerdócio, não estavam satisfeitos com o que
tinha sido dado a eles pelo Senhor, e se colocavam dessa forma contra Deus, e
tornava cego todo o povo (vv. 11-14).
Eles afirmavam que
Moisés queria torna-se senhor deles. Moisés e os anciãos que continuaram fieis
de um lado, e Coré, Datã e Abiram com centenas de descontentes de outro.
Deus puniu severamente essa
sedição, mesmo as famílias desses rebeldes sofreram as consequências desse
pecado, e Moisés provou que Deus lhe tinha enviado (v. 28). Foram milhares que
seguiram essas ideias, e consequentemente morreram (Números 17, 14).
Esse exemplo é ainda
mais caro à Igreja. As pragas e outras punições que eram perpetradas sobre os
rebeldes são agora de natureza espiritual. Com essa comparação, São Judas faz
uma grave condenação das heresias.
No verso 12 aparece um
problema que também ocorria na Igreja da cidade de Corinto. Havia “escândalos
nos vossos ágapes”. Os ágapes eram refeições antecediam a Eucaristia. Talvez
mesmo durante a celebração da Ceia do Senhor havia profanações desses hereges.
Sobre eles o apóstolo pronuncia iminente condenação (v. 13).
Na profecia que cita de
Henoc, são chamados de ímpios e praticantes de obras impiedosas, que proferem
palavras injuriosas contra Deus. Ainda, são homens que vivem “segundo as suas
paixões, cuja boca profere palavras soberbas e que admiram os demais por
interesse” (vv. 14-16). É comum as heresias serem acompanhadas de imoralidade.
O apóstolo admoesta
contra tais hereges, lembrando a profecia apostólica, que prepara a Igreja para
o aparecimento de impostores, homens de discórdia e heresias, sensuais e
carnais.
Os cristãos são
instados a edificarem-se sobre o “fundamento da vossa santíssima fé” (v.20). A
doutrina católica é chamada de santíssima, enquanto as heresias são condenadas
com dureza, sem qualquer tolerância.
Todos os cristãos que
permaneciam fieis à doutrina apostólica constituíam a Igreja verdadeira, e
esses homens hereges e propagadores de heresias não podem ser considerados
membros vivos. Faziam parte da Igreja, mas insubmissos. Estavam fora da
comunhão, ainda que participassem das reuniões. Sob essa perspectiva, não se
pode afirmar que a Igreja estava dividida, pois a maioria seguia a doutrina
apostólica e alguns não. Esses não eram tolerados, suas doutrinas eram
condenadas, anátemas eram pronunciados contra eles e seus ensinamentos. Não se
sabe se mais tarde esses hereges saíram da comunhão da Igreja e fundaram grupos
separados, mas até o momento em que Judas escrevia eles estavam na comunidade,
mas não obedeciam à autoridade do apóstolo. Dessa forma, é identificada a santa
Igreja sob a autoridade de São Judas, e sua atitude contra as doutrinas
heréticas.
Gledson Meireles.
Excelente.
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