sexta-feira, 15 de maio de 2020

A Igreja na Epístola de São Judas



A Epístola de São Judas é uma das sete epístolas católicas. São assim chamadas porque dirigidas a toda a Igreja. A Igreja recebe a palavra do apóstolo São Judas Tadeu. No começo da carta ele apresenta-se como “irmão de Tiago”, que certamente era mais conhecido que Judas na comunidade cristã.

No verso 3 o apóstolo exorta “a pelejar pela fé”. A fé aqui é a doutrina cristã apostólica. É o conjunto de doutrina que a Igreja deve guardar. Então, menciona hereges que estavam dentro da Igreja. Eram “certos homens ímpios”. Esses “transformam em dissolução a graça de nosso Deus e negam Jesus Cristo, nosso único Mestre e Senhor”.

Certamente, a heresia estava afetando o conhecimento da graça divina e da divindade de Jesus, ou eram doutrinas que implicavam nesse resultado, pois opunham-se à autoridade de Cristo.

Então, São Judas lembra a punição de Deus sobre “os incrédulos” no Egito, sobre os anjos que pecaram, sobre as cidades de Sodoma, de Gomorra e outras, que viviam na impureza e vícios (vv. 5-7). Compara com isso esses pregadores que estavam no interior da Igreja, mas que, ao que parece, viviam desregradamente. Chegavam mesmo a maldizer os anjos, mesmo os caídos, pois o apóstolo mostra a forma como o arcanjo Miguel repreendeu o Demônio (v. 10).

O pecado desses homens é assemelhado ao de Caim, de Balão e de Coré. É digno de nota, no presente estudo, a comparação com Coré, que pecou por insubordinação e cisma. O pecado de Coré no Antigo Testamento, no tempo de Moisés, foi de rebelião contra a autoridade instituída por Deus em Moisés e Aarão.

Coré, Datã e Abiram, com mais duzentos e cinquenta homens, com príncipes, homens respeitados e renomados de Israel, insurgiram-se contra Moisés e Aarão, afirmando que todos são santos, todos são consagrados, e não somente Moisés e Aarão.

Com essa doutrina, negavam a autoridade dos verdadeiros líderes, e colocavam-na em toda a assembleia: “todos são consagrados”: “Toda a assembleia é santa, todos o são, e o Senhor está no meio deles. Por que vos colocais acima da assembleia do Senhor?” (Nm 16, 3).

Os elementos doutrinais dessa rebelião são heréticos. Afirma que cada membro de Israel é santo, ou seja, consagrado, e poderia apresentar-se diante do Senhor. Afirma, assim, que essa consagração incluía toda a assembleia, e que ninguém poderia colocar-se acima dela. Por meio disso, a autoridade de Moisés e Aarão estava sendo questionada.

Moisés mostrou a eles que assim estavam ambicionando o sacerdócio, não estavam satisfeitos com o que tinha sido dado a eles pelo Senhor, e se colocavam dessa forma contra Deus, e tornava cego todo o povo (vv. 11-14).

Eles afirmavam que Moisés queria torna-se senhor deles. Moisés e os anciãos que continuaram fieis de um lado, e Coré, Datã e Abiram com centenas de descontentes de outro.

Deus puniu severamente essa sedição, mesmo as famílias desses rebeldes sofreram as consequências desse pecado, e Moisés provou que Deus lhe tinha enviado (v. 28). Foram milhares que seguiram essas ideias, e consequentemente morreram (Números 17, 14).

Esse exemplo é ainda mais caro à Igreja. As pragas e outras punições que eram perpetradas sobre os rebeldes são agora de natureza espiritual. Com essa comparação, São Judas faz uma grave condenação das heresias.

No verso 12 aparece um problema que também ocorria na Igreja da cidade de Corinto. Havia “escândalos nos vossos ágapes”. Os ágapes eram refeições antecediam a Eucaristia. Talvez mesmo durante a celebração da Ceia do Senhor havia profanações desses hereges. Sobre eles o apóstolo pronuncia iminente condenação (v. 13).

Na profecia que cita de Henoc, são chamados de ímpios e praticantes de obras impiedosas, que proferem palavras injuriosas contra Deus. Ainda, são homens que vivem “segundo as suas paixões, cuja boca profere palavras soberbas e que admiram os demais por interesse” (vv. 14-16). É comum as heresias serem acompanhadas de imoralidade.

O apóstolo admoesta contra tais hereges, lembrando a profecia apostólica, que prepara a Igreja para o aparecimento de impostores, homens de discórdia e heresias, sensuais e carnais.

Os cristãos são instados a edificarem-se sobre o “fundamento da vossa santíssima fé” (v.20). A doutrina católica é chamada de santíssima, enquanto as heresias são condenadas com dureza, sem qualquer tolerância.
Todos os cristãos que permaneciam fieis à doutrina apostólica constituíam a Igreja verdadeira, e esses homens hereges e propagadores de heresias não podem ser considerados membros vivos. Faziam parte da Igreja, mas insubmissos. Estavam fora da comunhão, ainda que participassem das reuniões. Sob essa perspectiva, não se pode afirmar que a Igreja estava dividida, pois a maioria seguia a doutrina apostólica e alguns não. Esses não eram tolerados, suas doutrinas eram condenadas, anátemas eram pronunciados contra eles e seus ensinamentos. Não se sabe se mais tarde esses hereges saíram da comunhão da Igreja e fundaram grupos separados, mas até o momento em que Judas escrevia eles estavam na comunidade, mas não obedeciam à autoridade do apóstolo. Dessa forma, é identificada a santa Igreja sob a autoridade de São Judas, e sua atitude contra as doutrinas heréticas.
 
Gledson Meireles.

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