sábado, 4 de abril de 2020

O Cristão Reformado: sola fide

Continuando a comentar temas tratados no livro "O Cristão Reformado", do pastor batista Yago Martins.
 
Não é um estudo exaustivo, tratando todos os argumentos que a obra apresenta, mas um estudo que apresenta a essência dos pontos tratados.
 
SOLA FIDE: só a fé salva

Apresentação da doutrina

É bastante conhecida a doutrina protestante da salvação pela fé somente. Ela se tornou um dos solas da reforma, uma doutrina fundamental para um protestante crer. Não há qualquer pregação de protestantes a católicos que não tenha esse tema.

De fato, ela ensina que o homem é salvo pela fé somente, não pelas obras, e não pela fé e pelas obras, não pela fé mais obras, não tendo nem um mínio de participação humana para a salvação. Dessa forma, nega-se mesmo o entendimento de que a fé que opera pela caridade é a fé salvífica.

O que o protestante tem em mente é que a fé sozinha salva. Lutero chegou mesmo a criticar a ideia católica da fé que tem como forma o amor. Essa doutrina ensina que a fé que opera pela caridade é a única salvífica, e que a fé puramente intelectual, em si mesma, sem essa ação pela caridade, essa potência através da caridade, esse acompanhamento da caridade, não poderia salvar.

No entanto, Lutero negou essa doutrina. Ele afirmou que a fé salva em si mesma e a caridade tem o lugar apenas nas relações dos salvos com o próximo, ocupando o lugar da santificação. Assim, somente a fé salvaria, e nem as obras que fluem da fé seriam salvíficas.

Esse entendimento não é simples. Ele afirmou que a fé que age pelas obras é a fé que salva, e a fé que não é vivida por obras não salva. No entanto, afirma que essas obras que nascem da fé não são salvíficas, mas apenas provam que existe a fé que salva. Doutro modo, sem as obras, não haveria fé salvífica. Portanto, concluem os protestantes que a fé somente salva, mas não salva sozinha, vem acompanhada pelas obras.

Teoricamente temos algo irreconciliável com a doutrina católica. Adiante vejamos o que as Escrituras afirmam sobre o papel da fé e das obras na salvação. Contudo, praticamente é o mesmo que a doutrina católica ensina, pois a fé que salva é aquela que opera pelas obras, e não aquela fé inoperante, morta, sem atividade, sem obediência. E nisso os protestantes estão de acordo.

 Epístola de Tiago e a salvação pelas obras

Para os protestantes S. Tiago está apenas provando a fé verdadeira, mostrando que a fé que não frutifica em obras não é fé, não existe, e por isso não pode salvar. A fé verdadeira traria boas obras, frutificaria em boas obras.

Para os católicos, S. Tiago está afirmando que quem não tem obras para mostrar sua fé significa que sua fé está morta. Ele pode crer, mas não poderá com isso alcançar a salvação, pois as obras aperfeiçoam a fé.

Está claro que ambas as afirmações reconhecem o valor das obras na vida do fiel cristão. No entanto, há uma diferença teoria importante, que leva à separação entre ambas as doutrinas. Qual das duas teses está de acordo com São Tiago?

Podemos afirmar que é a aproximação católica. Isso pode ser visto no verso 19, que concede que a fé existe naquele que não pratica boas obras, da mesma forma que os demônios possuem fé em Deus.

A outra prova disso é a própria conclusão de São Tiago afirmando dois elementos (fé e obras) e não um. De fato, um agindo sobre o outro. É o que ensina o versículo 22, onde a fé cooperava com as obras e as obras completam a fé.

Em todo o capítulo o tema da fé cristã demonstrada em obras é patente. No entanto, ao ter as obras apenas como testemunho da fé, não conectada à salvação, é um tanto estranho quando se estuda o texto sagrado.

Pois no versículo 14 temos a pergunta: “Acaso essa fé poderá salvá-lo?” E noutra parte afirma a justificação pelas obras: “vedes como o homem é justificado pelas oras não somente pela fé?” Não é essa justificação ligada à salvação de que fala o verso 14?

No sistema reformado essa justificação demonstrada por obras é apenas o lado visível da fé. Não há problema no resultado final disso, pois é uma fé que contem obras, e para a Igreja Católica isso basta.

Mas, São Tiago distingue duas partes e não apenas uma. Temos o indício de que a teoria reformada não está alinhada ao pensamento bíblico, e a Epístola de Tiago ainda é uma pedra de tropeço nesse caminho.

O que ensina São Tiago sobre fé e obras? É o tema da próxima postagem.

Gledson Meireles.

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