O estudo da doutrina cristã
é importantíssimo para os dias atuais. Sempre o foi. Hoje, talvez mais do que
nunca. Tempos de ridicularização do Cristianismo, pelos de fora, e de grande
indiferença por parte de muitos, talvez pelos próprios membros. Mas sempre
houve, e há nos dias atuais, e sempre haverá, segundo a promessa do nosso
Salvador e Senhor Jesus Cristo, os membros fieis da Igreja.
Oportunidades de apologética
não faltam. É pequeno o número de interessados, isso sim. Mas não importa, pois
é o Espírito Santo que converte o pecador, e não deixará faltar a graça de
Cristo para que uma conversão sincera seja operada, onde quer que seja e em
qualquer tempo. Deus quer que todos sejam salvos. (1 Tm 2,4) E essa é mais uma
oportunidade para escrever algo sobre a fé, tendo em vista um novo estudo,
lançado há pouco, representando a fé protestante de forma sucinta, profunda,
clara e com pretensões bíblicas.
Aqui não será feita uma
refutação, ponto por ponto, à obra aludida, mas tem a objetivo de pelos menos
fornecer a interpretação católica, ainda que de forma breve, dos principais pontos
abordados no livro. E o presente estudo destina-se aos protestantes. Quem sabe
alguém, ávido pela verdade, tenha o interesse de confrontar o que aprendeu com
aquilo que ainda não sabe, ou seja, com a doutrina da Igreja Católica
Apostólica Romana. Portanto, serão feitas considerações sobre o que caracteriza
a doutrina protestante, segundo o que o livro apresenta, mostrando o que a
doutrina católica ensina, com fundamentação bíblica.
A leitura literal da Bíblia,
eis a força da verdade. O sentido literal é o mais profundo, o verdadeiro, a
base para todos os outros. Não se trata de literalismo, hiperliteralismo, e
coisas afins, que tiram conclusões do que não está no texto, e conclui o que o
texto não diz, mas uma leitura serena e natural do próprio texto sagrado. O
restante é tudo fundamentado nesse aspecto.
Assim, veremos o que o
cristão reformado tem em comum, e de diferente, com o cristão católico. Veremos
que doutrina coaduna com as Escrituras, se a reformada ou a católica. E mais:
veremos se o autor conhece realmente o Catolicismo, quando apresenta a defesa
da fé reformada em face do que ensina o catecismo católico. É uma oportunidade
de crescer na fé e de conversão.
O protestante que estiver
aberto a vencer as barreiras psicológicas, como o ódio ao Catolicismo, que é
uma delas, por exemplo, para conhecer o que a Igreja Católica ensina, deve
tentar entrar no problema da divisão doutrinária e na busca da verdade bíblica.
É certo que o protestante crê estar com a verdadeira doutrina e a correta
interpretação bíblica. Mas não pode deixar de reconhecer que há divisão
doutrinária entre os protestantes, e que isso tem sido algo de estudo e,
certamente, preocupação entre os teólogos do Protestantismo.
Vanhoozer afirma que tal
problema, o das diferenças doutrinárias, está “em evidência há algum tempo”.
(p. 62) E não pense que trata-se de usos e costumes, como muitos pensam ao
falar de doutrina. Não é isso, mas algo mais profundo, e afeta o modo de
leitura bíblica entre protestantes. Afeta a fé de muitos reformados. Kevin
Vanhoozer fez um trabalho referencial visando a resolução do problema
protestante ao recuperar o sentido dos cinco solas. Dessa forma, a consideração
das respostas teológicas atuais em face dessa temática é imprescindível para o
entendimento das características do cristão reformado.
E é nesse terreno que a obra
O Cristão Reformado, do pastor batista Yago Martins, constrói sua apresentação.
E por fazê-la de forma eminentemente bíblica, ou seja, partindo da
interpretação das Escrituras para fundamentar os solas da Reforma e os pontos fundamentais do Calvinismo, é que
faz-se necessário considerá-la, a fim de que, de certa forma, o perfil do
cristão católico seja melhor conhecido pelos protestantes.
O que o protestante
certamente não sabe, é que sua posição diante do conhecimento bíblico é
idêntica ao do católico. Ambos devem aproximar-se da Escritura, lê-la e
aprender dela. E não é a consciência individual aqui uma autoridade. Ela age,
interage, e não se torna autoridade em termos interpretativos. Sob a ótica da
reforma talvez isso pareça acontecer, para quem olha de fora, e até para quem
está no entrelaçamento mesmo dessa experiência. Porém, nada disso ocorre assim.
Contemporaneamente é essa uma das críticas que o Protestantismo deve responder.
Kevin Vanhoozer contribui nesse sentido, no seu livro Autoridade Bíblica (...).
O Protestantismo possui no
seu seio variedade interpretativa, mas os teólogos procuram fornecer os meios
de identificar qual a essência da mensagem da Reforma, de modo a abarcar toda a
realidade protestante, a representar toda a doutrina reformada. Fazendo isso
pode-se considerar o resultado dessa busca, sendo possível fazer certas
contraposições e comparações com a doutrina católica. E com isso o protestante
poderá entender melhor a mensagem anunciada pela Igreja Católica Apostólica
Romana.
São cinco séculos se
separação. No meio católico não é comum ouvir sermões ou ler estudos sobre os solas, nem os cinco pontos do
calvinismo. São coisas do protestantismo, e do calvinismo em particular. Mas,
há na doutrina católica a apreciação sobre tudo isso, obviamente de forma
diluída em outra estrutura. Aliás, foi partindo da doutrina cristã católica
que, de certa forma, os solas foram
extraídos para, negativamente, contrapor à doutrina católica.
E a doutrina católica é
eminentemente bíblica. As outras instâncias da tradição e do magistério estão
entrelaçadas harmonicamente e constituem Palavra de Deus. Mas é a Escritura a
fonte suprema, direta, exclusivamente deixada e entrega à Igreja Católica para
levá-la ao céu. Por isso, um livro que trata da Bíblia e defende uma doutrina
diferente daquela ensinada no catecismo da Igreja, é uma obra a ser considerada
com grande atenção, pois usa do fundamento mesmo da sua doutrina. Eis o motivo
de estudar o livro O Cristão Reformado. E uma vez mergulhando no estudo da fé
protestante conhecer a fé católica. Quem sabe quantas conversões poderão vir
dessa exposição.
Aos leitores do livro
citado. Não serão feitas grandes citações do texto, mas apenas o exercício com
o conceito apresentado no texto. O que esse traz poderá ser conhecido,
naturalmente, apenas por inferência, por aqueles que porventura não o leram. Melhor
seria adquirir o livro para estudo.
Nesses artigos não será
possível uma profunda matéria sobre a doutrina cristã católica. No entanto,
deixará o convite para melhor conhecê-la. É para o cristão reformado que deseja
conhecer o cristão católico.
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Em primeiro lugar o cristão
reformado deve entender que a Igreja Católica está sujeita à Palavra de Deus,
assim o ensina, assim o crê, assim de fato é. Para ser católico deverá crer
dessa forma.
O que diferencia da crença
reformada é que nessa pensa-se que a Igreja Católica ensina ser ela superior à
Bíblia. No entanto, tal ensino não existe. Tal coisa não tem lugar no
Catolicismo.
Afirmar que a Igreja escreveu
o Novo Testamento da Bíblia, que formou o cânon bíblico, que a Igreja foi
responsável por conservar a Bíblia, durante os séculos da era cristã, em ambos
os testamentos, significa explicar o modus
operandi de Deus, o modo histórico como Deus nos deu a Sua Palavra, e não por
pensar que a Igreja, por esse motivo, acredite ser superior à Escritura. Até
imaginar isso revela o desconhecimento desse ponto do ensino cristão católico.
E são muitos que acreditam que esse seja o ensino católico.
Sendo assim, e sabendo que
tal não é o ensino bíblico (o de ser a Igreja superior à Escritura), e que
também não é o ensino católico, não tornam-se cristãos católicos. Não se tornam
católicos por não conhecerem bem o catolicismo. Por pensar que assim é, e conhecendo
que a Bíblia não ensina isso, muitos são afastados do catolicismo.
Aqueles que aventuram-se
mais a desvendar a doutrina da Igreja, aproximam-se dela. Por que a verdade
atrai.
Então, para fins de conhecimento,
saiba que o cristão católico crê conforme a doutrina oficial da Igreja,
explicada no catecismo, e esse ensina que (1) Deus confiou as Sagradas
Escrituras (Bíblia) à Igreja, que (2) Deus manifestou-Se pelas palavras dos
autores bíblicos (inspiração), que a (3) Escritura deve ser interpretada no “Espírito
em que foi escrita”, ou seja, pelo Espírito Santo, (4) que a Igreja “discerniu”
o cânon bíblico, ou seja, que descobriu os livros sagrados no meio de tantos
outros não sagrados. Foi Deus quem guiou todo o processo. A Bíblia não é Palavra de Deus porque a Igreja assim o diz, mas por ser a Palavra de Deus a Igreja a serve.
O cristão católico venera a
Sagrada Escritura. Tem-na como ela é: a Santa Palavra de Deus. Ela é Cristo.
Entendamos bem o sentido desse conceito. E faz da palavra de São Jerônimo a
palavra da Igreja: “...ignorar as Escrituras é ignorar Cristo”. Tudo isso está
no Catecismo da Igreja Católica, parágrafos 105, 111, 120, 123, 133. Portanto, supor
que a Igreja acredita que é superior à Bíblia é desconhecer a fé católica.
Gledson Meireles.
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