São Paulo escreve a São
Timóteo, por volta do ano 62, para que ele cuide da Igreja em Éfeso. Logo no início
da epístola ele previsse contra “doutrinas extravagantes”, que são ensinos que
não estão conforme a verdade.
Certamente, as heresias
que incomodavam aquela comunidade vinham do gnosticismo, mas também dos
judaizantes. De fato, no v. 7 são citados “pretensos doutores da Lei”.
No verso 20 São Paulo
menciona dois cristãos que haviam sido excomungados, os quais foram Himeneu e
Alexandre. O motivo era terem se afastado da verdade, que abandonaram o bom
combate (v. 19).
Aprendemos muito sobre
a organização incipiente da Igreja naqueles dias. Os bispos e diáconos recebem
conselhos no capítulo 3. Ainda os títulos de bispo e presbítero eram usados
para as mesmas funções. No entanto, existiam os presbíteros que formavam um
corpo subordinado a um presbítero-chefe ou bispo-chefe, que mais tarde foi
chamado apenas de bispo, enquanto grupo a ele obediente foi chamado
presbitério, pois constituído de presbíteros, que são os padres.
Havia falsos doutores
que ensinavam certas proibições, quanto ao casamento e à alimentação. (1 Tm
4,1-6) Essas doutrinas são chamada de diabólicas no v. 1. Essas são heresias
condenadas, que não devem ser adotadas pelos cristãos.
No geral, a epístola dá
conselhos aos bispos, aos diáconos, aos homens, às mulheres, às viúvas, aos
anciãos, aos escravos. Todos estão sob a autoridade apostólica, constituindo a
igreja organizada e conduzida por um apóstolo ou por alguém constituído por um
apóstolo. Timóteo é colocado com o objetivo de ensinar o evangelho, combater as
heresias, julgar o que for necessário. Assim, 1 Tm 5,19 mostra que São Timóteo
tinha incumbência de julgamento, quando presbíteros recebessem alguma acusação.
Foi estabelecido necessário duas ou três testemunhas para formalizar o processo.
Essa passagem mostra que Timóteo exercia a função de bispo sobre os presbíteros
locais. Ele respondia diretamente ao apóstolo São Paulo.
A Igreja é a casa de
Deus. Por isso é citada no singular em 1 Tm 3,15. O sentido evidente é a
totalidade da Igreja, e não somente a comunidade de Éfeso. Não é uma igreja
local que é mencionada, mas a Igreja Católica. É a Igreja do Deus vivo, coluna
e sustentáculo da verdade.
Naqueles tempos, as
igrejas particulares formavam um único corpo sob a liderança apostólica. O
governo central estava em Jerusalém, com o colégio dos apóstolos. Mais tarde a
sede foi transferida para Roma, quando os apóstolos Pedro e Paulo sofreram
martírio por volta do ano 64. Jerusalém foi atacada e destruída no ano 70,
enfraquecendo sua influência por algum tempo. Pode-se notar essa tendência na
carta aos Romanos, que mostra o desejo de São Paulo de ir para Roma. São Pedro
exercia um papel de primazia entre os apóstolos, como fica claro em muitas
passagens, como na visita de Paulo em Gálatas e no Concílio de Jerusalém, narrado
nos Atos dos Apóstolos, ocorrido por volta do ano 50. Os doze apóstolos eram
inspirados por Deus, não necessitando de que um governasse o outro. No entanto,
possuíam uma unidade exemplar na doutrina que pregavam e escreviam, e
reconheciam a dignidade primeira conferida por Cristo a Pedro.
Dessa forma, as igrejas
em cada localidade respondiam diante do governo eclesiástico de Jerusalém. O
centro era a cidade santa de Jerusalém. Por isso a carta conciliar foi enviada
a todas as igrejas, que deviam seguir as decisões tomadas no concílio. Essas
verdades são tratadas na história da Igreja dos Atos dos Apóstolos.
A doutrina cristã deve
ser guardada intacta. É o “depósito”, “os ensinamentos salutares que recebeste
de mim”, o “precioso depósito” (2 Tm 1,12.13.14). Naqueles tempos alguns
cristãos deixaram a comunhão da Igreja Católica, como indica a menção a Figelo
e Hermógenes, citados no v. 15.
A heresia pregada por
Himeneu e Fileto era referente à ressurreição. Certamente ensinavam uma ressurreição
espiritual, que já teria acontecido, negando a ressurreição da carne. Essa
doutrina é duramente reprovada. São Paulo afirma que eles “se desviaram da
verdade” e que “transtornaram a fé em alguns”. Isso mostra que as heresias
estavam disseminando-se aos poucos, mas os hereges eram excomungados. Será isso
uma divisão na Igreja? De forma alguma, uma vez que aqueles que ficaram firmes
no evangelho pregado por Paulo, e confiados também a Timóteo, conservavam a
unidade, e não deram crédito às palavras se Himeneu e Fileto.
Os que foram levados
por eles saíram da comunhão da Igreja, sendo esses os que deixaram a fé, que
afastaram-se da verdade, e não os que ficaram. Os que ouviram a voz inspirada
dos apóstolos eram unidos na mesma doutrina, obedecendo aos mesmos pregadores,
e não estavam desunidos, mas antes eram um só corpo, como está nos Atos dos
Apóstolos, pois viviam unidos, tinham tudo em comum, unidos em um só coração
(Atos 2,44.46). Por essa perspectiva, não houve quebra de unidade.
Dessa forma, mesmo
diante das heresias, a Escritura continua no verso 19: “Contudo, o sólido
fundamento de Deus se mantém firme, porque vem selado com estas palavras: O Senhor conhece os que são seus (....)”.
“Os seus” se referem àqueles que estão na unidade da Igreja. A perseverança na
verdadeira doutrina e unidade com a Igreja é um sinal da eleição. E continua:
“Renuncie à iniquidade todo aquele que pronuncia o nome do Senhor”.
Timóteo era exortado a
conservar-se “isento dessas doutrinas” (2 Tm 2,21), a fugir das paixões da
mocidade, as evitar as discussões tolas, a corrigir os adversários (vv. 22-25),
o que é dever de todos os cristãos.
Denunciados com
autoridade são também aqueles que vivem na imoralidade, “sempre a aprender sem
nunca chegar ao conhecimento da verdade” (1 Tm 3, 7). Comparados a Janes e
Jambres que resoltaram-se contra Moisés (v. 8). Resistir à verdade pregada pela
Igreja é uma atitude estritamente reprovada.
Então, São Paulo diz a
São Timóteo: “Tu, pelo contrário, te aplicaste a seguir-me de perto na minha
doutrina, no meu modo de vida, nos meus planos, na minha fé, na minha
paciência, na minha caridade, na minha constância” (v. 10).
São Paulo mostra-se
como exemplo seguido por São Timóteo, quando reprova aqueles que resistem à
autoridade da verdade pregada pela Igreja, que é a casa de Deus, a coluna e
sustentáculo da verdade. A santa Igreja não constitui apenas coluna, que dá
firmeza, que fortalece, mas também sustentáculo, que é o suporte da verdade,
alicerce da verdadeira doutrina, o fundamento do Evangelho. Os dissidentes são
desautorizados e admoestados por pregar algo contra a doutrina apostólica. E
não somente isso, são excomungados, expulsos da comunhão, tirados da unidade
visível da Igreja. Essa disciplina serve para a conversão.
As Sagradas Escrituras
são o firme fundamento para a sabedoria que conduz à salvação, para a
capacitação para toda boa obra. (2 Tm 3, 14-17) Dessa forma, a Escritura e a
Igreja estão entrelaçadas na exposição da verdade que todo cristão deve crer e
professar para a salvação. A Igreja é anunciadora da doutrina das Escrituras.
Em 2 Tm 4, 3-5 afirma
que os homens não mais serão dóceis à sã doutrina, e por seus pecados e desejo
de novidades, ajuntarão para si mestres, que, dessa forma, pregarão contra a
verdade.
No v. 10 o apóstolo
menciona Demas, que o abandonou “por amor das coisas do século presente”. Mas
cita também outros companheiros que permaneceram na verdade como Crescente, Tito, Lucas, Marcos, Tíquico. Aliás,
São Lucas e São Marcos também foram inspirados para escrever os evangelhos.
Outro nome de um herege
é Alexandre, do qual São Paulo reclama ter sido maltratado e de ter enfrentado
“oposição cerrada à nossa pregação” (2 Tm 4, 14). Portanto, não são
especificados os pontos que Alexandre não cria, mas que negava o evangelho
pregado por Paulo e Timóteo. Tudo isso demonstra que a Igreja sempre enfrentou
heresias, mas mantem-se a unidade e a contrapõe a elas.
A Igreja na Epístola a Tito
Logo nos primeiros
versos, no v. 5, encontra-se a tarefa de organizar a igreja, de estabelecer anciãos
em cada cidade, conforme as normas traçadas por São Paulo. Isso mostra que São
Tito é um bispo que tem a incumbência de preparar as comunidades cristãs, numa
posição hierárquica acima dos presbíteros. Como bispo pode consagrar bispos, presbíteros
e diáconos. Ele responde diretamente ao apóstolo São Paulo.
Algo importante é que o
presbítero ou bispo deve guardar a doutrina da fé que foi ensinada. “Ao contrário, seja hospitaleiro, amigo do
bem, prudente, justo, piedoso, continente, firmemente apegado à doutrina da fé
tal como foi ensinada, para poder exortar segundo a sã doutrina e rebater os
que a contradizem”. (Tito 1, 8-9) O bispo não tinha que aprender por si
somente a palavra de Deus através da leitura das Escrituras, mas aprender a
doutrina já estabelecida por Cristo e ensinada pelos apóstolos. A leitura
devocional das Escrituras, para alimento espiritual, com está em 2 Tm 3,14-17,
é dever dos clérigos e de todos os cristãos, pois constitui o sustentáculo da
fé, feita conforme a doutrina da fé ensinada pela Igreja, que é segundo a mesma
Escritura. O exame das Escrituras é realizado na comunhão da Igreja.
Então, passa a mencionar
questões que dizem respeito à heresias. “Há muitos insubmissos”, v. 10. São
Tito é ensinado a repreender com severidade os cristãos “para que se mantenham
sãos na fé’. (v. 13) A doutrina ensinada é de Deus, nosso Salvador. (Tt 2,10)
São alguns exemplos as doutrinas da graça de Deus para salvação, da vida santa,
da vinda de Cristo, do Seu sacrifício salvífico e da Igreja, como estão em Tito
2, 11-15.
No versículo 10
encontra-se do conselho de evitar o homem que fomenta divisões, aquele que após
advertido duas vezes ainda continua no seu caminho. Esse condena-se a si
próprio (v. 11).
São Paulo cita outros
colaboradores seus, como Ártemas, Tíquico, Zenas e Apolo, que são alguns que o
auxiliavam na pregação do evangelho e nas boas obras cristãs.
Dessa forma, mais uma
vez apresenta-se a unidade da Igreja estabelecida pela pregação do evangelho
tal como é anunciado pelos apóstolos, tendo as heresias e os seus fautores dura
repreensão. Está pois identificada a Igreja na Carta a Tito, que não está com
os insubmissos, mas com aqueles que estão sob a autoridade de São Tito e de São
Paulo.
Gledson Meireles.
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