domingo, 5 de março de 2017

Quando começou o princípio Sola Scriptura e que autoridade tem os concílios?

A Reforma Protestante defendeu à sua maneira os princípios Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus, Soli Deo Gloria. Os Sola Scriptura, Sola Gratia e Sola Fide são centrais para o luteranismo, como afirma o Dr. Hans. Esses e os demais solas fazem parte da Igreja Luterana, ou Luteranismo ou Reforma Luterana, e em consequência de toda Reforma Protestante.

De acordo com o Dr. Hans Wiersma, o Sola Scriptura é essencial ao DNA luterano. Jacob Andreae, em 1570, escrevendo aos já divididos luteranos, escreve que somente as Escrituras são a “única regra e princípio de guia”, todos os outros escritos não são iguais e devem ser sujeitos à Escritura.

Ensinos e práticas muito enfatizados e vividos na Idade Média Ocidental estão entre os mais negados quando se tem em questão os ataques provenientes da interpretação segundo o princípio Sola Scriptura. Por isso, o Dr. Hans afirma que esses ensinos e práticas “tinham pouca ou nenhuma base bíblica.” Cita, a seguir, o caso de Lutero em 1517 contras “eficácia” das indulgências, e mais tarde, com os demais reformadores, contra o sistema inteiro que deu origem às indulgências. Então, o purgatório, o tesouro de méritos, a intercessão dos santos foram postas em questão.

O entendimento luterano da Sola Scriptura é o de que uma tradição  permitida se ela não contraria a Bíblia, se ela serve para um propósito escriturístico e se não é exigida como pré-condição para a unidade cristã. A compreensão luterana inclui algumas regras, como a de que a Bíblia fala primeiramente de Jesus Cristo, certos livros da Escritura são mais centrais que outros, a Escritura interpreta a Escritura e o a necessidade de discernimento da Lei e do Evangelho na leitura bíblica.

Ao afirmar que há livros mais centrais, a Epístola de São Tiago foi chamada por Lutero de “epístola de palha”. Para que serve uma carta de palha? Para nada, para ser queimada, etc., diríamos. O que Martinho Lutero queria dizer com isso, e em que sentido o usou, são outros pormenores importantes, mas que não depõem contra o mais importante: o fato. Ele disse isso, escreveu isso. Talvez quisesse dizer que os outros livros mais centrais falaram tudo o que o cristão deveria saber sobre o Senhor Jesus, e que Tiago não faz essa apresentação, o que torna a epístola menos indicada nesse sentido. No entanto, sua colocação é ultrajante.

Na verdade, a citação do Dr. Hans de que a epístola de Tiago em comparação com as outras é uma epístola de palha, está no contexto de que João, Romanos, Gálatas, Efésios e 1 Pedro contem tudo que o que é necessário para conhecer sobre Cristo. Por isso, não haveria nada da natureza do Evangelho na epístola de Tiago.

Ao invés de contextualizar para suavizar a opinião e palavras de Lutero, essas palavras são na verdade uma mostra da afronta à Palavra de Deus, ao afirmar que São Tiago, apóstolo escrevendo inspirado pelo Espírito Santo, ainda assim não registrou nada relativo ao Evangelho, de forma que sua epístola é praticamente desnecessária para conhecer Jesus, não adiciona nada ao Evangelho de Cristo. Essa opinião de Lutero é realmente deplorável.

De fato, o Espírito Santo inspirou e conversou cada livro bíblico por ser ele indispensável ao conhecimento de Jesus, ao conhecimento do Evangelho, e portanto à salvação das almas.

Consulta: Wiersma, Hans. A Brief introduction to sola scriptura.

Autoridade do Concílio na Bíblia

A primeira grande controvérsia religiosa surgida no interior da Igreja Católica girou em torno da relação da Lei de Moisés com os cristãos de origem pagã, se a circuncisão e observância da Lei eram obrigatórias e indispensáveis para a salvação, ou se não havia mais a necessidade de observá-las, uma vez que Jesus Cristo a cumpriu e revogou a Lei, não sendo a justiça proveniente da Lei que irá salvar, mas antes a justiça de provém da fé, doutrina essa mais tarde exposta nas epístolas de São Paulo.

Essa discussão iniciada em relação à circuncisão foi levada aos apóstolos e anciãos em Jerusalém, por volta dos anos 49 e 50 (Atos 15) e foi decidido que não havia mais obrigação dos cristãos ser circuncidados e em seguir a Lei, mas somente evitar as uniões ilegítimas, o sangue e as carnes sufocadas e oferecidas aos ídolos.

Sendo essa decisão autoritativa a todos os cristãos em toda a parte, ou seja, contendo o caráter de concílio católico e ecumênico, obrigando a todos os que creem em Jesus Cristo e são membros da Igreja, o modelo de concílio e sínodos foi continuado na história da Igreja para resolver questões importantes e defini-las à luz da Palavra de Deus para a realidade contemporânea respectiva. Para os que creem no princípio Sola Scriptura, esse sistema conciliar não poderia ter autoridade plena, pois isso o equipararia à autoridade das Escrituras ou poderia suplantá-la.

Assim, a autoridade do concílio de Jerusalém teria derivado do fato de que os apóstolos estavam presentes, ainda não havia sido fechado o cânon, e assim o princípio Sola Scriptura ainda não estava em prática, (na verdade nem mesmo existia), porque os apóstolos inspirados podiam resolver questões doutrinais e morais. O Dr. James White afirma: “Os protestantes não afirmam que a sola scriptura é um válido conceito durante os tempos de revelação”. Portanto, nos tempos apostólicos ainda não havia o conceito.

Resta provar que o tal princípio “Sola Scriptura”, da forma como foi apresentado e levantado na Reforma Protestante, foi usado após a morte do último apóstolo, prova essa que não existe. Aliás, essa prova é impossível, contrária à história, e contrária às Escrituras Sagradas. Nesse ínterim, é oportuno enfatizar que a apologética protestante usa classicamente a passagem dos judeus de Beréia (cf. Atos 17), que ocorreu no tempo em que os apóstolos eram vivos ainda, como prova do mesmo princípio, o que recai sobre a fadada alegação de que somente mais tarde é que esse teria surgido e sido empregado pelos cristãos.

Por exemplo, se uma heresia ocorria nos tempos apostólicos, os apóstolos seriam consultados para averiguar e definir a questão, refutando assim a heresia. Mais tarde, após o ano 100, segundo alegação oriunda dos arrazoados protestantes, deveria ser consultada somente as Escrituras, como fonte infalível, e as autoridades da época, sucessoras dos apóstolos, em concílio geral, não teriam mais a autoridade de antes, e cada um deveria apenas usar a Escrituras como base infalível de fé e prática, podendo contrariar as definições dos concílios, coisa que no tempo dos apóstolos era inaceitável.

Essa suposição é claramente para fins de elucidação e refutação da heresia que nasce do falso princípio Sola Scriptura da forma como expresso nos tempos da Reforma.

Se a doutrina Sola Scriptura (muitos não consideram-na doutrina, mas apenas uma princípio) não existia enquanto viviam os apóstolos, ou não poderia ser colocada em prática ainda, ela não é bíblica, e não foi empregada pelos primeiros cristãos no tempo apostólico. Assim, não há razão de pregá-la como sendo o meio de encontrar a verdade da Palavra de Deus para os cristãos que viveram após esse período. Por isso, não é o princípio que rege a Igreja em toda a sua história.

Lembrando que, foi São Pedro o apóstolo que recebeu a revelação a respeito do chamado aos gentios, e foi essa que deu ao concílio a resposta substancial à questão. O Concílio declarou o que era verdade, mas não estava ainda tão clara a ponto de não necessitar de discussão e esclarecimento. Pois, do contrário, não haveria necessidade de um concílio.

Caso não houvesse ocorrido o concílio, seria possível o estabelecimento de um grupo herético, dividindo a Igreja e contrapondo-se aos apóstolos. O concílio condenou a heresia, e a partir dessa data os hereges podiam ser refutados claramente com autoridade apostólica. A decisão saiu naquele momento do concílio, e foi o parecer do Espírito Santo e dos líderes cristãos (cf. Atos 15,28), e isso trata-se de uma decisão oficial de autoridade infalível. Esse modelo integra a eclesiologia cristã católica.

Com o passar do tempo, já entrando no segundo século, após a morte do último apóstolo, a Igreja continuou a usar o mesmo modo de tratamento das questões controversas que atingiam a generalidade dos cristãos, reunindo os bispos para resolver os problemas que surgiam. (Participam também outros teólogos, convidados, etc.)

A diferença que agora há, após o tempo apostólico, é que a revelação oficial está finalizada, e Jesus disse que o Espírito Santo faz lembrar e tudo o que Ele ensinou, e guia a Igreja a toda a verdade. Por isso, não há revelação posterior a esse tempo que obrigue a todos os cristãos, sendo as decisões da Igreja tomadas conforme o que foi revelado nas Escrituras, e transmitido pelos apóstolos. A forma de tratar das heresias, reunindo em concílio, é o que vemos nas Escrituras e foi o meio utilizado pelos apóstolos de Jesus para solucionar o primeiro problema de ordem doutrinal que exigiu uma apreciação das autoridades da Igreja. Por isso, é esse o modelo cristão católico apostólico romano.

Bem, o apologista James Swan tenta refutar o artigo católico de Martignoni. Respondendo à pergunta sobre o tempo em que começou a operar o princípio Sola Scriptura, James Swan afirma que a pergunta é oriunda de uma “falsa apresentação da sola scriptura.” Pois, o que deve ser perguntado é: “onde está a voz de Deus?” E os protestantes respondem que a voz de Deus está nas Escrituras, conforme 2 Timóteo 3,16-17. E que o apologista Martignoni é que deve provar se a voz de Deus está em outro lugar além das Escrituras.

O que se pode dizer disso, é que a voz de Deus está nas Escrituras, e é anunciada pela Igreja, que a Bíblia ensina ser a coluna da verdade, segundo 1 Timóteo 3,15. Ser a coluna e sustentáculo da verdade ensinada, só funciona se essa coluna não cair ou for quebrada. O poder de Deus a sustenta. Uma vez crendo na Bíblia, a Palavra inspirada de Deus, estamos crendo na Igreja como coluna da verdade, e esse é o verdadeiro princípio Sola Scriptura.

Consulta:

 
Gledson Meireles.

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