De acordo com o Dr. Hans Wiersma,
o Sola Scriptura é essencial ao DNA
luterano. Jacob Andreae, em 1570, escrevendo aos já divididos luteranos, escreve
que somente as Escrituras são a “única regra e princípio de guia”, todos os
outros escritos não são iguais e devem ser sujeitos à Escritura.
Ensinos e práticas muito
enfatizados e vividos na Idade Média Ocidental estão entre os mais negados
quando se tem em questão os ataques provenientes da interpretação segundo o
princípio Sola Scriptura. Por isso, o
Dr. Hans afirma que esses ensinos e práticas “tinham pouca ou nenhuma base
bíblica.” Cita, a seguir, o caso de Lutero em 1517 contras “eficácia” das indulgências,
e mais tarde, com os demais reformadores, contra o sistema inteiro que deu
origem às indulgências. Então, o purgatório, o tesouro de méritos, a
intercessão dos santos foram postas em questão.
O entendimento luterano da Sola Scriptura é o de que uma tradição permitida se ela não contraria a Bíblia, se
ela serve para um propósito escriturístico e se não é exigida como pré-condição
para a unidade cristã. A compreensão luterana inclui algumas regras, como a de
que a Bíblia fala primeiramente de Jesus Cristo, certos livros da Escritura são
mais centrais que outros, a Escritura interpreta a Escritura e o a necessidade
de discernimento da Lei e do Evangelho na leitura bíblica.
Ao afirmar que há livros mais
centrais, a Epístola de São Tiago foi chamada por Lutero de “epístola de palha”.
Para que serve uma carta de palha? Para nada, para ser queimada, etc.,
diríamos. O que Martinho Lutero queria dizer com isso, e em que sentido o usou,
são outros pormenores importantes, mas que não depõem contra o mais importante:
o fato. Ele disse isso, escreveu isso. Talvez quisesse dizer que os outros livros
mais centrais falaram tudo o que o cristão deveria saber sobre o Senhor Jesus,
e que Tiago não faz essa apresentação, o que torna a epístola menos indicada
nesse sentido. No entanto, sua colocação é ultrajante.
Na verdade, a citação do Dr. Hans
de que a epístola de Tiago em comparação com as outras é uma epístola de palha,
está no contexto de que João, Romanos, Gálatas, Efésios e 1 Pedro contem tudo
que o que é necessário para conhecer sobre Cristo. Por isso, não haveria nada
da natureza do Evangelho na epístola de Tiago.
Ao invés de contextualizar para suavizar
a opinião e palavras de Lutero, essas palavras são na verdade uma mostra da
afronta à Palavra de Deus, ao afirmar que São Tiago, apóstolo escrevendo
inspirado pelo Espírito Santo, ainda assim não registrou nada relativo ao
Evangelho, de forma que sua epístola é praticamente desnecessária para conhecer
Jesus, não adiciona nada ao Evangelho de Cristo. Essa opinião de Lutero é
realmente deplorável.
De fato, o Espírito Santo
inspirou e conversou cada livro bíblico por ser ele indispensável ao
conhecimento de Jesus, ao conhecimento do Evangelho, e portanto à salvação das
almas.
Autoridade do Concílio na Bíblia
A primeira grande controvérsia
religiosa surgida no interior da Igreja Católica girou em torno da relação da
Lei de Moisés com os cristãos de origem pagã, se a circuncisão e observância da
Lei eram obrigatórias e indispensáveis para a salvação, ou se não havia mais a
necessidade de observá-las, uma vez que Jesus Cristo a cumpriu e revogou a Lei,
não sendo a justiça proveniente da Lei que irá salvar, mas antes a justiça de
provém da fé, doutrina essa mais tarde exposta nas epístolas de São Paulo.
Essa discussão iniciada em
relação à circuncisão foi levada aos apóstolos e anciãos em Jerusalém, por
volta dos anos 49 e 50 (Atos 15) e foi decidido que não havia mais obrigação
dos cristãos ser circuncidados e em seguir a Lei, mas somente evitar as uniões
ilegítimas, o sangue e as carnes sufocadas e oferecidas aos ídolos.
Sendo essa decisão autoritativa a todos os cristãos em toda
a parte, ou seja, contendo o caráter de concílio católico e ecumênico,
obrigando a todos os que creem em Jesus Cristo e são membros da Igreja, o
modelo de concílio e sínodos foi continuado na história da Igreja para resolver
questões importantes e defini-las à luz da Palavra de Deus para a realidade
contemporânea respectiva. Para os que creem no princípio Sola Scriptura, esse sistema conciliar não poderia ter autoridade
plena, pois isso o equipararia à autoridade das Escrituras ou poderia
suplantá-la.
Assim, a autoridade do concílio
de Jerusalém teria derivado do fato de que os apóstolos estavam presentes,
ainda não havia sido fechado o cânon, e assim o princípio Sola Scriptura ainda não estava em prática, (na verdade nem mesmo
existia), porque os apóstolos inspirados podiam resolver questões doutrinais e
morais. O Dr. James White afirma: “Os protestantes não afirmam que a sola scriptura é um válido conceito
durante os tempos de revelação”. Portanto, nos tempos apostólicos ainda não
havia o conceito.
Resta provar que o tal princípio
“Sola Scriptura”, da forma como foi
apresentado e levantado na Reforma Protestante, foi usado após a morte do
último apóstolo, prova essa que não existe. Aliás, essa prova é impossível,
contrária à história, e contrária às Escrituras Sagradas. Nesse ínterim, é
oportuno enfatizar que a apologética protestante usa classicamente a passagem
dos judeus de Beréia (cf. Atos 17), que ocorreu no tempo em que os apóstolos
eram vivos ainda, como prova do mesmo princípio, o que recai sobre a fadada
alegação de que somente mais tarde é que esse teria surgido e sido empregado
pelos cristãos.
Por exemplo, se uma heresia
ocorria nos tempos apostólicos, os apóstolos seriam consultados para averiguar
e definir a questão, refutando assim a heresia. Mais tarde, após o ano 100,
segundo alegação oriunda dos arrazoados protestantes, deveria ser consultada
somente as Escrituras, como fonte infalível, e as autoridades da época,
sucessoras dos apóstolos, em concílio geral, não teriam mais a autoridade de
antes, e cada um deveria apenas usar a Escrituras como base infalível de fé e
prática, podendo contrariar as definições dos concílios, coisa que no tempo dos
apóstolos era inaceitável.
Essa suposição é claramente para
fins de elucidação e refutação da heresia que nasce do falso princípio Sola Scriptura da forma como expresso
nos tempos da Reforma.
Se a doutrina Sola Scriptura (muitos não consideram-na
doutrina, mas apenas uma princípio) não existia enquanto viviam os apóstolos,
ou não poderia ser colocada em prática ainda, ela não é bíblica, e não foi
empregada pelos primeiros cristãos no tempo apostólico. Assim, não há razão de
pregá-la como sendo o meio de encontrar a verdade da Palavra de Deus para os
cristãos que viveram após esse período. Por isso, não é o princípio que rege a
Igreja em toda a sua história.
Lembrando que, foi São Pedro o
apóstolo que recebeu a revelação a respeito do chamado aos gentios, e foi essa
que deu ao concílio a resposta substancial à questão. O Concílio declarou o que
era verdade, mas não estava ainda tão clara a ponto de não necessitar de
discussão e esclarecimento. Pois, do contrário, não haveria necessidade de um
concílio.
Caso não houvesse ocorrido o
concílio, seria possível o estabelecimento de um grupo herético, dividindo a
Igreja e contrapondo-se aos apóstolos. O concílio condenou a heresia, e a
partir dessa data os hereges podiam ser refutados claramente com autoridade
apostólica. A decisão saiu naquele momento do concílio, e foi o parecer do
Espírito Santo e dos líderes cristãos (cf. Atos 15,28), e isso trata-se de uma
decisão oficial de autoridade infalível. Esse modelo integra a eclesiologia
cristã católica.
Com o passar do tempo, já
entrando no segundo século, após a morte do último apóstolo, a Igreja continuou
a usar o mesmo modo de tratamento das questões controversas que atingiam a
generalidade dos cristãos, reunindo os bispos para
resolver os problemas que surgiam. (Participam também outros teólogos, convidados, etc.)
A diferença que agora há, após o
tempo apostólico, é que a revelação oficial está finalizada, e Jesus disse que
o Espírito Santo faz lembrar e tudo o que Ele ensinou, e guia a Igreja a toda a
verdade. Por isso, não há revelação posterior a esse tempo que obrigue a todos
os cristãos, sendo as decisões da Igreja tomadas conforme o que foi revelado
nas Escrituras, e transmitido pelos apóstolos. A forma de tratar das heresias,
reunindo em concílio, é o que vemos nas Escrituras e foi o meio utilizado pelos
apóstolos de Jesus para solucionar o primeiro problema de ordem doutrinal que
exigiu uma apreciação das autoridades da Igreja. Por isso, é esse o modelo
cristão católico apostólico romano.
Bem, o apologista James Swan
tenta refutar o artigo católico de Martignoni. Respondendo à pergunta sobre o
tempo em que começou a operar o princípio Sola
Scriptura, James Swan afirma que a pergunta é oriunda de uma “falsa
apresentação da sola scriptura.”
Pois, o que deve ser perguntado é: “onde está a voz de Deus?” E os protestantes respondem
que a voz de Deus está nas Escrituras, conforme 2 Timóteo 3,16-17. E que o
apologista Martignoni é que deve provar se a voz de Deus está em outro lugar
além das Escrituras.
O que se pode dizer disso, é que a voz
de Deus está nas Escrituras, e é anunciada pela Igreja, que a Bíblia ensina ser
a coluna da verdade, segundo 1 Timóteo 3,15. Ser a coluna e sustentáculo da
verdade ensinada, só funciona se essa coluna não cair ou for quebrada. O
poder de Deus a sustenta. Uma vez crendo na Bíblia, a Palavra inspirada de
Deus, estamos crendo na Igreja como coluna da verdade, e esse é o verdadeiro
princípio Sola Scriptura.
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