quarta-feira, 15 de março de 2017

A justificação pela fé: Concílio de Trento em 1546

O Concílio de Trento definiu a doutrina da justificação contra os erros que sobre ela estavam sendo propagados pelos protestantes. Apresenta a verdadeira e salutar doutrina da justificação.

Ensina que é necessário o reconhecimento e a confissão da verdade de que todos os homens perderam a inocência na prevaricação de Adão. Nem a lei natural nem a lei de Moisés podem libertar o homem. O livre arbítrio foi profundamente enfraquecido, embora existente, não foi destruído.

Deus propôs Jesus Cristo como o propiciador através da fé em Seu sangue por nossos pecados, e os de todo o mundo.

Cristo morreu por todos, mas nem todos recebem o benefício da Sua morte, mas somente os que recebem o mérito da Sua paixão. A graça recebida torna o homem justo.

A justificação é a transferência do estado em que o homem é filho do primeiro Adão, ao estado de graça e da adoção dos filhos de Deus através do segundo Adão, Jesus Cristo nosso Salvador. Essa transferência não pode ser efetivada a não ser pela lavagem da regeneração ou seu desejo. (Cita João 3,5)

O começo da justificação procede da graça que predispõe o homem através de Cristo, pela vocação, sem nenhum mérito do homem, para que aquele que pelo pecado foi cortado de Deus possa ser disposto através da ressurreição e graça auxiliar a converter-se para sua própria justificação, livremente assentindo e cooperando com a graça. Deus toca o coração pela iluminação do Espírito Santo, e o homem não faz nada enquanto recebe essa inspiração, podendo rejeitá-la, mas não podendo pelo livre-arbítrio sem a graça mover-se para a justiça à vista de Deus.

A graça predispõe, a fé vem pelo ouvir, crendo no que foi revelado e prometido, “especialmente que o pecador é justificado por Deus por Sua graça”, reconhecendo-se pecador, considera a misericórdia de Deus, tem esperança, confia que Deus será propício a ele por causa de Cristo, ama a Deus como fonte de toda a justiça, e por isso vai contra o pecado por certo ódio e detestação, pelo arrependimento que deve existir antes do batismo, e finalmente, recebe o batismo para começar uma nova vida e observar os mandamentos de Deus.

A disposição e preparação descritas acima são seguidas da justificação propriamente dita. A justificação não é somente a remissão dos pecados, mas também a santificação e renovação do homem interior, tornando-o amigo de Deus e herdeiro da vida eterna.

As causas da justificação são: causa final é a glória de Deus e de Cristo e a vida eterna. A causa eficiente é Deus misericordioso, a causa meritória é Jesus Cristo, a causa instrumental é o batismo, a causa formal é a justiça de Deus, pelo qual torna o homem justo. O homem recebe a justiça de acordo com a medida que for dada por Deus.

A fé une o homem a Cristo, mas essa união é aperfeiçoada com a esperança e a caridade que é dada com a fé no batismo. A fé é o início da justificação. Nem a fé e nem as obras anteriores à justificação mereceram a graça da justificação. (Cita Ef 2,8-9)

É necessário crer que os pecados são remidos gratuitamente pela divina misericórdia por causa de Cristo, e não é necessário crer que os pecados foram perdoados como se isso fosse a fé somente pela qual a remissão é realizada. Os protestantes estavam ensinando que é necessário ter a certeza de que foi absolvido e justificado, e que por essa fé somente é que o perdão era conferido.

O Concílio ensinou que o homem piedoso não duvida da misericórdia de Deus, do mérito de Cristo e da virtude e eficácia dos sacramentos.

A justificação pode aumentar, com a fé cooperando com as boas obras.

Os mandamentos podem ser guardados, e o homem ainda que caia em pecados, como os pecados veniais, esses não fazem-no deixar de ser justo. Ensina ao justo a petição do justo: perdoai-nos as nossas ofensas.

O cânon 4 condena a opinião de que o homem não coopera e prepara-se para a justificação. Condena a mera passividade, como foi explicado acima ao tratar dessa disposição.

O cânon 6 condena a doutrina que ensina que o mal e o bem praticados pelo homem são feitos por Deus.

O cânon 9 condena a fé somente no sentido em que afirma não ser necessário nada mais, como explicado antes, que é a esperança e o amor.

O cânon 11 condena a doutrina da justificação como mera imputação, ou somente da remissão dos pecados.

O cânon 12 fala da fé que justifica ao condenar a fé que não justifica.

O cânon 17 condena a doutrina que afirma que muitos chamados não recebem a graça para a salvação.

Esse é um resumo da doutrina da justificação, conforme a definição dada no Concílio de Trento.

Gledson Meireles.

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