terça-feira, 29 de novembro de 2016

Imortalidade da alma: Lucas 23,43

E acrescentou: “Jesus lembra-te de mim, quando vieres com teu reino”. Ele respondeu: “Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”.

Dos dois ladrões foram crucificados com Cristo, um permanecia na incredulidade e dureza de coração, o outro já estava envolto pela graça. (Lucas 23, 40) Esse pediu a Jesus a salvação: E acrescentou: “Jesus lembra-te de mim, quando vieres com teu reino”. Ele respondeu: “Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”.

O ladrão na cruz, pelo influxo da graça de Deus, arrependeu-se de seus pecados e pediu a Jesus que se lembrasse dele no Reino vindouro. Cristo fez mais, e disse a Ele que naquele mesmo dia o ladrão estaria em Sua companhia no Paraíso.

Muitos pensam que essa passagem deve ser entendida apenas como Cristo declarando ao ladrão que Ele seria lembrado quando o reino futuro (paraíso) fosse instaurado após a Sua segunda vinda na terra, e que após a morte na cruz o ladrão deixaria de existir, e que o próprio Senhor teria dito aquelas palavras de consolação e esperança apenas para certifica-lo de que seu pedido seria atendido. Isso na hipótese de que sem consciência o momento da ressurreição pareceria ter ocorrido logo após a morte na cruz, o que explicaria o "hoje" da declaração do Senhor. A ressurreição seria na experiência do ladrão como se ocorresse logo após sua morte, e ele estaria no paraíso no imaginado "hoje".

Dessa forma, quando Cristo diz “hoje”, estaria apenas referindo-Se à Sua palavra que estava sendo pronunciada naquele mesmo dia, e não que o ladrão fosse com Ele ao paraíso naquele dia.

Essa explicação deveria resistir ao escrutínio bíblico e lógico para ser verdade, pois toda verdade resiste a tal análise. Mas, ela não resiste.

Pelas palavras do ladrão, vemos que ele creu em Jesus Cristo, creu em Sua ressureição, já que sabia que Cristo iria trazer o reino, creu em Seu reinado, creu que podia contar com Cristo para futuramente habitar o Seu reino. Por isso, estava consolado em esperar por aquele dia, confiando que Cristo podia atender o seu pedido.

Portanto, como o ladrão estava em suas últimas horas de vida, olhando para Jesus, o Cordeio imaculado morrendo sem culpa alguma, ele foi agraciado com a conversão, e crendo que Jesus era o Salvador e Rei, pediu que fosse aceito naquele reino.

Em uma paráfrase, era como se o ladrão dissesse: “Jesus, lembra-te de mim quando o Teu reino for instaurado na terra daqui a quanto tempo for necessário, por milênios talvez.”. A isso o Senhor responde: “Em verdade te digo, não somente daqui há milênios, não apenas me lembrarei de ti quando for inaugurar o meu reino, mas desde já, ou seja, te garanto que estarás comigo no paraíso hoje.”

Cristo estaria dando a Sua palavra já naquele momento, e não apenas quando o ladrão fosse ressuscitado.

Por outro lado, o sentido de Lucas 23,43 na perspectiva mortalista seria que a palavra “hoje” está referindo-se ao pronunciamento da promessa de Cristo, e não ao cumprimento dela. 

O problema é que, de fato, o ladrão já pensava na possiblidade de ser aceito, e que poderia receber o reino no futuro apenas, e se Cristo tivesse dando somente a certeza a ele, e para isso tivesse usado a palavra “hoje”, tal coisa não mudaria muita praticamente nada, podendo a palavra ser retirada e o sentido continuar igual, caso a hipótese fosse verdadeira.

Assim: ““Em verdade, eu te digo, estará comigo no Paraíso”. Não seria necessário dizer que a declaração estava sendo feita naquele dia, ainda mais porque Jesus ao usar a expressão "em verdade te (vos) digo", sempre continua a frase por apresentar o conteúdo da Sua Palavra, e não emprega o advérbio de tempo.

Pronto, não haveria necessidade, e se fosse usada não alteraria essencialmente o sentido sob essa perspectiva mortalista.

A diferença seria que o ladrão não apenas morreria na esperança de que Cristo lembrasse dele, mas com a certeza dada pelo próprio Cristo de que ele seria lembrado. O hoje estaria na frase que forneceu a certeza ao ladrão arrependido: Não te direi naquele dia, mas já te digo hoje. No fim, seria como: tudo bem, lembrar-me-ei de ti, o mesmo que: Tudo bem, hoje te digo que lembrar-me-ei de ti.

Agora, vejamos em sua acepção mais natural, onde Cristo estaria dizendo ao ladrão que não apenas se lembraria quando o reino fosse instaurado, mas que naquele mesmo dia estaria com Ele no paraíso. Qual é a explicação que faz maior sentido? De outro modo: O ladrão diz: Senhor, lembra-te de mim “quando” entrares no teu reino”. E Jesus responde: “Não apenas quando entrar no reino, mas te digo que “hoje” mesmo estarás comigo no Paraíso”.

De outro modo: tu entrarás no reino, mas te digo mais, que hoje estarás no paraíso.

Nesse ponto, a palavra hoje encontra sentido bastante pungente. O ladrão não somente ouviu que entraria no reino, tendo uma promessa feita a ele, mas que entraria no paraíso já naquele dia.

Em suma as duas posições seriam as seguintes: Jesus teria dito que Se lembraria do ladrão no futuro, dando plena certeza, e teria  asseverado já de antemão que o ladrão entraria no reino.

Na leitura de acordo com o contexto, Jesus não apenas teria dito que o ladrão entraria no reino futuramente, mas já agora estaria com Ele no Paraíso.

Assim, a palavra “hoje” não teria o sentido de uma revelação do momento do pronunciamento da promessa, mas do dia em que o pedido seria atendido: a companhia de Jesus no reino se daria já, a partir do momento em que Cristo tivesse consumado a obra de salvação na cruz.

Portanto, a frase não é: não te direi naquele dia, mas já te digo hoje. Ao invés disso, é mais poderosa: não entrarás no reino somente naquele dia, mas já estarás comigo no paraíso hoje.

É muito mais natural, por todo o contexto, que Jesus referiu-Se à entrada do ladrão no Paraíso a partir daquele dia, e não somente no fim do mundo.
 
 
Gledson Meireles.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Imortalidade da alma: Jesus levou cativo o cativeiro


Levou cativo o cativeiro

Em Efésio 4,8-9 temos o relato de um fato para realçar a concessão dos dons de Cristo a nós. Essa passagem é bastante sugestiva, pois menciona a subida de Cristo aos céus. Essa subida só pode ser a ascensão, pois antes disso Jesus não subiu ao céu pelo simples fato de nunca ter descido à terra, e somente subiu depois de ter ressuscitado. Fala o texto, portanto, da ascensão.

Pois bem. Falando do dia em que Jesus foi levado ao céu, afirma que os dons de Deus foram assim distribuídos aos homens. Esse foi o dia em que Ele levou cativo o cativeiro. Dessa forma, o v. 9 explica que o sentido de que Cristo “subiu” é que Ele desceu às profundezas da terra. Não é essa expressão apenas uma alusão ao fato de que Cristo desceu na encarnação, para nascer e viver neste mundo, embora seja esse o sentido que passa a tradução da Bíblia Ave-Maria. Essa expressão é, contudo, referência à Sua morte, quando Ele desceu aos infernos, no sentido de que foi à mansão dos mortos, e não ao inferno onde estão os condenados.

O conceito bíblico que está na expressão “o céu, a terra e debaixo da terra” traz o sentido de o mundo inteiro. Como estamos na terra, essa é uma parte do universo. Para percorrer toda a distância universal temos que ir ao céu e aos infernos, e é isso o que Cristo fez, perpassando toda a esfera da existência. Dessa forma, o v. 9 de Efésios está retratando a descida de Cristo aos infernos, ao sheol, à parte onde estavam os santos do Antigo Testamento.

Assim, usando a simbologia do sheol, esse mundo dos mortos é uma prisão, já que na morte não poderiam louvar a Deus, nem ter a visão de Deus, nem ver a luz, mas apenas viviam em uma região tenebrosa, ainda que sem sofrimento, à espera do Salvador. É por esse motivo que o texto afirma que ali foi um cativeiro, pois a morte tinha ainda seu poder total. Santo Tomás de Aquino afirma que através do pecado o homem sofre a morte corporal e a descida ao sheol. (Summa Theol. I, Q. 52, a. 1) Portanto, nesse sentido Cristo desceu ao sheol e libertou os salvos que lá estavam.

O texto de Apocalipse 5,13 é outra forma de mostrar todo o universo, pela apresentação de quatro símbolos: céu, terra, debaixo da terra e mar. O mar é símbolo das potências maléficas, e ali também estão sob seu poder muitos mortos. A criação que está no céu, na terra, no sheol e no mar é mostrada rendendo culto de adoração a Deus. Essa é uma expressão simbólica, é claro, mas que garante que há seres nesses quatro lugares. Assim, certamente nessa cena está apenas retratado o universo, com toda a criação prestando reverência de adoração a Deus.

O sheol, o hades e o seio de Abraão referem-se ao mesmo lugar, e que no latim o termo foi traduzido por infernos. O sentido era somente de habitação dos mortos. Mais tarde, ainda no Antigo Testamento, afirma Fr. William Saunders[1], chegou-se ao entendimento de que os bons e os maus estavam separados por um abismo, por certo o tartarus, e essa é a cena que é retratada pelo Senhor Jesus na parábola do rico e Lázaro.

Além do mais, o termo sheol não pode significar somente o túmulo, como explica o Haydock´s Bible Commentary[2], pois no Símbolo dos Apóstolos há um artigo específico em que professamos que Cristo foi sepultado, e outro em que desceu à mansão dos mortos. Então, esse é o sentido que São Paulo refere-se em Ef 4,9.

Dessa forma, a ascensão ao céu foi realmente a vitória de Cristo sobre a morte e Seus inimigos, mas o texto de Efésios, além de mostrar que nesse momento foi aberto os céus para descerem os dons sobre a Igreja, também foi o momento em que os que estavam cativos tiveram acesso aos céus junto com Cristo.

A tradução infernos no texto é o mesmo que dizer por debaixo da terra. Se a expressão debaixo da terra é igualmente usada para o ventre de uma mulher e isso mostra que o ventre da mulher não poderia ser o inferno, é igualmente válido concluirmos que o uso do mesmo não torna o ventre da mulher como túmulo. Se o primeiro argumento é verdadeiro, é da mesma forma o segundo. O ventre da mulher não é o inferno, numa região subterrânea espiritual longínqua do céu, não é a sepultura, local onde são postos os mortos, lugar onde estão enterrados os falecidos.

Na minha leitura bíblica encontrei a expressão: “tecido na terra mais profunda”, na tradução da Bíblia de Jerusalém para o verso do Salmo 139,15. Essa linguagem é metafórica, e antes de lembrar o ventre materno ela evoca a criação do Éden, quando Deus criou o homem modelando-o do barro. Certamente a terra “profunda” significa aquilo que não pode ser visto, não é da experiência de todos, que não puderam acompanhar essa criação. Portanto, ainda que seja uma lembrança do útero da mãe onde somos formados, a expressão terra mais profunda é de uma simbologia diversa.

De fato, significa a nossa criação, que sabemos ser feita no ventre. Mas, refiro-me à expressão que não está ligada ao corpo da mulher, mas à cena da criação no Jardim do Éden. Dessa forma, vemos que no verso 13 foi dito: “tu me teceste no ventre materno”. É uma metáfora de Deus tecendo o homem na barriga de sua mãe. O mesmo tem o sentido do verso 15, mas usa de uma linguagem e simbologia diferente.

Esse salmo está repleto de símbolos. Ao falar da onisciência de Deus, o salmista afirma que se ele for ao céu Deus está lá, e se deita-se no sheol (v. 8), também encontrará a Deus. Certamente, ao invés de entendermos sheol como simples sepultura, temos aqui o símbolo da morte representado no termo, mas que em sua comparação com o céu, e pela igual presença de Deus nessas duas extremidades da existência, temos que o sheol é o mundo dos mortos no sentido espiritual. Não se encontra Deus na inexistência. E, dessa forma, temos mais um indício da experiência da alma no sheol, onde até ali pode ser vista pelo Senhor.

O fato de que há muitos que interpretam Efésios 4,8-9 com referindo-se a outra coisa, e não ensinando ali a descida de Jesus ao mundo dos mortos, isso não significa que a passagem não ensine isso, mas apenas que esses comentadores estão errados.

E é muito estranha a afirmação de que Jesus desceu às profundezas da terra e levou cativo o cativeiro não significa que Ele levou os salvos que estavam presos no sheol. É uma simplificação gigantesca afirmar que isso apenas significa a vitória de Cristo. Para que isso seja suficiente, tudo bem, mas não é o que a Bíblia sugere, nem o que a Sagrada Tradição conservou.

O texto é claro ao afirmar que Jesus entrou no céu e assim distribuiu os dons aos homens. Que essa subida ao céu foi após a descida aos lugares mais baixos da terra, não há dúvida, e que nessa subida levou cativo o cativeiro. Em outra tradução do verso 8: “pelo que diz: Quando subiu ao alto, levou muitos cativos, cumulou de dons os homens. (Sl 67,19) (Tradução Bíblia Ave-Maria) É realmente expressivo para o fato de que Jesus entrou no céu com os santos salvos que estavam na mansão dos mortos, e isso implica que as almas são conscientes após a morte, e foi esse o sentido assumido por São Paulo nessa passagem.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Imortalidade da alma: Atos dos Apóstolos e 1 Coríntios 15


Atos dos Apóstolos e a ressurreição

Presume-se que a doutrina da imortalidade da alma não era ensinada pelos apóstolos, sendo desconhecida dos cristãos. Essa asserção está refutada, pois no Antigo Testamento já está delineada a doutrina correta a respeito da composição do homem, e da distinção da alma e do corpo, bem como sua separação na morte. Assim sendo, a Igreja ensinou o mesmo que os judeus, com a diferença que, no Novo Testamento, a ressurreição de Cristo tornou o estado dos salvos mais luminoso do que aquele que existia para os justos antes da Sua morte e ressurreição.

Comparando a pregação dos apóstolos com a crença na imortalidade da alma dos pagãos, que não é a mesma fé dos cristãos, tem-se uma ideia errônea do caso. Em Atos 2,34 é dito que Davi não subiu aos céus, ou seja, ele não ressuscitou. A ideia não é falar da alma, mas da sua carne, da sua composição total, como a de Jesus que voltou dos mortos. Esse é o assunto.

Nesse ponto, não há como fazer qualquer comparação com o caso de Jesus ressuscitado, pois Davi não ressuscitou. O apóstolo não proporia que o rei Davi já estivesse na glória do céu, apenas em sua alma, e ao lado disso diria que Jesus também subiu aos céus, pois tal coisa seria errônea. Pensar em termos de ressurreição deixa isso bastante claro. Ninguém havia ressuscitado, apenas Jesus.

Quanto ao fato do paraíso ser identificado com o céu, o mais alto do céu e o terceiro céu, como afirma São Paulo em 1 Coríntios 12, 2 e 4, isso ilumina a passagem de Lucas 23,46, onde Jesus afirma que o ladrão arrependido estaria com Ele no paraíso. Para aqueles que afirmam que o paraíso só poderia existir no futuro, no mundo literal físico, na terra restaurada após a vinda de Jesus, esse texto é um golpe fatal, pois mostra que São Paulo foi arrebatado até o paraíso, e Jesus refere-se ao paraíso para falar da salvação do ladrão ao seu lado que pediu a Jesus que se lembrasse dele.

A comparação entre o fato de Jesus estar vivo e Davi estar morto não pode atingir a questão da imortalidade da alma, pela razão já demonstrada, pois o assunto é a ressurreição dos mortos, coisa que somente Cristo foi capaz de realizar.

Se São Pedro dissesse que Davi estava vivo, isso implicaria em afirmar que ele ressuscitou, e os judeus teriam a possibilidade de ter esse fato ratificado por alguma testemunha, como eram os apóstolos e os demais irmãos que viram Jesus vivo depois dos três dias no túmulo. Não há espaço para afirmar que um não ressuscitado está vivo, pois isso causa esse tipo de confusão. Ademais, sabendo que a alma é imortal não quer dizer que todos os mortos estão vivos! Os mortos estão mortos. Na verdade, a alma continua consciente mas a pessoa está morta, visto que o ser humano total é corpo e alma, com já explicado antes. Os judeus criam que os mortos podiam estar conscientes no seio de Abraão, por exemplo, e isso não era o mesmo que afirmar que os mortos estavam vivos. Isso está afirmado na própria parábola do rico e Lázaro, onde o mesmo Lázaro deveria voltar à vida para anunciar a verdade para os irmãos do rico. Essa noção era bem compreendida pelos contemporâneos judeus. Há, portanto, distinção enorme entre estar vivo e ter somente a alma viva no Seio de Abraão. Sendo essa a ideia bíblica, é importante notar que Pedro não poderia nunca afirmar que Davi estivesse vivo se esse não ressuscitou corporalmente, a menos que quisesse gerar confusão na cabeça dos ouvintes.

Quando São Paulo afirma ao rei Agripa, em Atos 25,19, que Jesus está vivo, isso não é de estranhar que o rei não mencione a palavra ressurreição, pois sabemos que esse termo não era compreendido por muitos. Nem os apóstolos sabiam o que ressuscitar queria dizer realmente quando Cristo afirmou que ressuscitaria após três dias.

Dessa forma, a fé na imortalidade da alma é compatível com a ideia de que aquele que não voltou corporalmente à vida ainda está morto. Não é correto afirmar que a imortalidade da alma é identificada com a crença de que todos estão vivos, pois essa é mais uma ideia do antigo paganismo do que dos judeus e cristãos.

Paulo teve que insistir nessa verdade não porque não cria na imortalidade da alma, mas porque sua pregação era sobre a ressurreição de Jesus. O mesmo ocorreu em Atenas, quando foi usado o termo ressurreição para falar dessa verdade. Para os pagãos seria normal pensar que Jesus vivia em estado espiritual apenas, pois para muitos gnósticos a matéria não tinha valor, e somente a alma viveria eternamente. Dessa forma, a ressurreição não era crida por eles. Ao ouvir de Paulo essa pregação, logo desistiram de continuar a falar com ele, pois era um dogma que contrariava todas as suas aspirações quanto ao destino eterno do homem.

A crença dos pagãos na imortalidade da alma era contrária à ressurreição dos mortos, ao passo que para a Igreja Católica, com São Paulo, a imortalidade da alma deveria ser completada com a ressurreição dos mortos. Essas duas coisas andam juntas para os cristãos, e separadas e inconciliáveis entre os pagãos. A libertação da alma de um corpo material visto negativamente é ideia pagã. Nenhum cristão crê assim, pois contrariamente a isso temos que o corpo é bom, criado por Deus e por esse motivo deve voltar na ressurreição dos mortos. Isso explica porque os apóstolos tinham foco absoluto na ressurreição, e não fizessem como os pagãos que pensavam apenas na imortalidade da alma como destino eterno. Dessa forma, muitos que atacam a fé cristã na imortalidade da alma estão fazendo isso objetando contra os pressupostos do paganismo, e não do verdadeiro cristianismo. Se a nossa esperança é a ressurreição, quem esperaria que os apóstolos ficassem falando o tempo todo da imortalidade da alma? Isso não quer dizer que eles não criam na imortalidade da alma, pois acreditavam nisso. O que não poderiam fazer é como faziam os pagãos que, por essa doutrina, com seus matizes próprios dentro do pensamento filosófico grego, negavam a ressurreição, ao contrário dos católicos que esperavam ansiosamente o Senhor Jesus e a ressurreição dos mortos.

Dessa forma, Jesus ressuscitou para reinar para sempre como ninguém fez antes dEle, pois todos morreram. Essa realidade não quer dizer que as almas inexistissem, mas significa que o reinado só poderá ser realizado por quem voltou à vida, e não para quem ficou em inatividade e escuridão no sheol, como criam os antigos judeus. Outra vez é preciso lembrar que essa “inatividade” que referi aqui é para lembrar o que foi dito sobre Eclesiastes 9,5.10, mas que não tem a ver com inexistência, mas com a noção do descanso das almas, que ficavam na mansão dos mortos.

O argumento de que a bênção prometida ao descendente de Davi (1 Rs 9,5), que é Jesus, e foi cumprida, como visto em Atos 13,34-35, provaria a inexistência entre a morte e a ressurreição, pois do contrário não haveria possibilidade de conferência de bênção já que não haveria sobre quem a benção ser dada, é um argumento interessante, mas que não possui os traços do pensamento bíblico até aqui ressaltados neste estudo. Na verdade, não há nada nele que possa levar alguém a negar a imortalidade da alma. Na melhor das hipóteses, o texto seria ambíguo, ou seja, poderia ser lido sob uma ótica ou outra, sobre a premissa da imortalidade da alma, como do ponto de vista da mortalidade condicional, sem fazer o mínimo efeito no entendimento do mesmo, dentro do contexto geral do pensamento de cada sistema.

Na verdade, para a imortalidade da alma o fato de estar morto interfere totalmente em usufruir a bênção do reinado, já que esse é visto do ponto de vista do mundo, dos vivos em carne e osso. Já para a mortalidade condicional também não haveria espaço para isso, no mesmo sentido, e quando pensamos na possibilidade de ter a aludida bênção em estado de morte, apenas sobre a alma, essa torna-se impossível. Seria possível dentro da crença na imortalidade da alma, por certo, mas não é isso que a Bíblia permite concluir, como já expresso no início deste parágrafo.

Quando lemos Atos 13,33 vemos que esses critérios inseridos para desestruturar uma doutrina verdadeira não podem subsistir a um escrutínio. Está escrito: “Deus a tem cumprido diante de nós, seus filhos, suscitando Jesus, como também está escrito no Salmo segundo: Tu és meu filho, eu hoje te gerei.” Alguém poderia afirmar a inexistência de Jesus antes de Seu nascimento, pois quando Deus “suscita” Jesus é dito que Ele o “gerou”, o que implicaria em dizer que Ele não existia antes de nascer na terra. É notoriamente um argumento falso, é claro, usado aqui apenas para enfatizar que o emprego de princípios errôneos leva a heresias sem fim.

A Bíblia mostra a eternidade de Jesus, Seu poder exercido na criação do mundo, junto com o Pai, e isso impossibilita que Atos 13,33 refira-se ao que foi aludido na suposição acima. Para quem não sabe, essa passagem é uma profecia sobre a encarnação de Jesus, Sua geração como Homem, não desde toda a eternidade. E podemos pensar também na ressurreição, o dia dessa geração para a glória do Homem-Deus Jesus Cristo, pois esse é o contexto mais próximo da passagem. Mas, voltemos ao assunto de antes.

O texto de 1 Rs 9,5 é a promessa de que não faltará descendente no trono de Davi: “... Não te faltará jamais um descendente sobre o trono de Israel.”. Isso quer dizer que após a morte de Davi haverá outro rei, descendente seu, e isso será para sempre. Contudo, o Novo Testamento apresenta que isso ocorre de forma absoluta em Jesus, que ficará para sempre no trono. Se antes o rei deveria ser sucedido, por causa da morte, Jesus não mais precisará disso, pois está vivo. Essa é a leitura correta da passagem, e sua implicação não tem a ver diretamente, nem indiretamente, com o tema da imortalidade da alma. Não haveria possibilidade de que alguém no mundo dos mortos continuasse reinando e governando o povo de Israel na terra! Portanto, o verso 34 refere-se a Isaías 55,3, onde Deus promete que a alma viverá, aludindo à ressurreição. Isso foi cumprido em Jesus. Isso é totalmente o que cremos.

Quando São Paulo fala da ressurreição de Jesus, diante do rei Agripa, ele também está ensinando a ressurreição de todos os salvos. (cf. Atos 26,8) Pela ressurreição, Jesus foi o primeiro a anunciar a luz a todos, judeus e pagãos. (v. 23) Dessa forma, tudo está referido à vida física glorificada, à ressurreição dentre os mortos.

Essa questão ficará mais clara ainda no seguinte artigo, que trata modo específico da ressurreição dos mortos.

 

1 Coríntios 15 a ressurreição

Alguns pontos que esse estudo deve leva à reflexão e resposta.

a)    Julgamento só na ressurreição (cf. 2Tm.4:1; Jo.5:28,29; At.17:31).

b)    Excludentes imortalidade e ressurreição. O relato de Oscar Cullman.

c)    Enaltecer a ressurreição como na igreja primitiva.

d)    1ª Coríntios 15 – a necessidade da ressurreição

 

Alguns dos cristãos coríntios estavam negando a ressurreição dos mortos. São Paulo fala da ressurreição de Cristo, e contrasta essa verdade com aquela que estava sendo difundida por alguns hereges. (1 Cor 15, 12) É interessante a conclusão da negação da ressurreição, que é a negação da própria fé na ressurreição de Cristo. Isso tornaria vazia a pregação, e vazia a fé de todos. (v. 14)

 

De fato, se Cristo não tivesse ressuscitado não haveria esperança de voltar à vida na terra, e de ser salvo. De fato, a morte de Cristo foi o penhor da salvação, como está no verso 3, como o que primeiro foi recebido: “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras”. Tanto na perspectiva chamada mortalista, como na imortalista, se Cristo não ressuscitou não haveria mais o motivo de continuar a pregar e crer nessa verdade.

 

Na primeira acepção teríamos mortos que não mais voltariam à vida, e estariam para sempre perdidos, longe de Deus e da salvação, e consequentemente da vida. Na outra teríamos mortos que não mais existiriam, e cairiam para sempre na inexistência total. Então o fato aqui não é a imortalidade da alma ou não, mas a salvação. A ressurreição está ligada à salvação.

 

Essa verdade está no verso 17, pois se Cristo não ressuscitou “ainda andais em vossos pecados”. Os vivos estariam perdidos em pecados, assim como os mortos. Se alguém advoga que os mesmos estão conscientes, esses estariam em perdição e sofrimento. Para os outros que pensam não existirem as almas, então a perdição estaria igualmente completa, pois não mais seriam recriados aqueles que morreram. Isso mesmo, recriados, pois a ressurreição não seria uma volta à vida, como diz a Bíblia, mas na doutrina da mortalidade condicional seria uma criação de um ser igual ao anterior, o que já é um absurdo.

 

Por conseguinte, aqueles que adormeceram em Cristo, estão perdidos”. (1 Cor 15,18) O texto refere-se em especial aos mortos “em Cristo”. Isso significa que os mortos estariam sem a salvação se Cristo não os tivesse salvo, e se não tivesse ocorrida a ressurreição. Igualmente os vivos estariam perdidos. Portanto, essa perdição não implica em não-existência, mas em condenação, ou seja, na escravidão do pecado e sob o juízo de Deus.

 

Então, São Paulo afirma que se nossa esperança em Cristo serve somente para a vida neste mundo, então “somos os mais dignos de compaixão”. (v. 19)

 

Naquele tempo, certamente entre os coríntios havia alguns que submetiam-se ao batismo em favor dos falecidos, pensando em auxiliá-los em algo. (v. 29) Então, o argumento é que essa prática não teria razão se os mortos não ressuscitam.

 

Tendo que os cristãos coríntios não negavam a ressurreição de Cristo, mas apenas a dos homens, então o argumento tem todo o sentido para fazê-los entender. Uma vez que Cristo ressuscitou, também nós ressuscitaremos, e se Cristo não tivesse ressuscitado, seria vão tudo o que professamos, e não haveria salvação. Desde já todos estariam perdidos nos pecados.

 

Para avaliar todo o argumento é necessário concebê-los em seu interior. Caso os coríntios fossem materialistas completos, não teriam fé na ressurreição nem de Jesus nem dos santos. Assim, seriam hereges e não mereceriam do apóstolo a atenção que tiveram, pois certamente teriam a mais dura repreensão. Mas, ao que parece, os cristãos coríntios tinham alguns em seu meio que negavam apenas a ressurreição dos mortos em relação aos homens em geral, e não em referência a Cristo.

 

Dessa forma, tendo a ressurreição o sentido pleno da salvação, negá-la equivale a negar a salvação, e continuar na condenação, já em vida. Os mortos por consequência estariam todos perdidos, pois não poderiam desfrutar a nova vida que Cristo já trouxe em Sua ressurreição.

 

Pelo que alude o apóstolo sobre o rito do batismo pelos mortos, suponhamos que essa era uma prática dos cristãos que creem na ressurreição, e que hipoteticamente não criam na vida da alma após a morte física. Então nessas circunstâncias, os benefícios desse batismo para os mortos era no momento um pedido a Deus para que conferisse os efeitos dessa prática aos mortos no dia da ressurreição. Nesse ponto a Bíblia não sanciona nem oferece crítica ao aludido batismo, apenas usa-o na argumentação a favor da ressurreição. Tem-se então que a pregação, as missões, a evangelização, etc., tudo tem como fundamento a fé na ressurreição da carne.

 

Ainda que o batismo pelos mortos não fosse prática sadia dos cristãos, esse exemplo testemunha da fé de que os vivos podem auxiliar os mortos, pois não teria sentido oferecer algo que não tivesse valor espiritual.

 

Por outro lado, se os proponentes do batismo pelos mortos são aqueles que negam a ressurreição, então a fé na imortalidade da alma é tão robusta, que é evidentemente indestrutível. Uma vez que pensa-se em beneficiar os mortos por meio de algum rito cristão em seu favor, ao mesmo tempo em que a ressurreição da carne é negada, então tem-se que esses cristãos criam na vida eterna da alma nos céus com Cristo.

Não pode subsistir a hipótese de que esses cristãos cressem na inexistência para sempre após a morte. Assim, não seriam cristãos. Em nenhum dos casos isso é possível. Ou há a fé na ressurreição, sabendo que as orações a Deus em favor dos mortos é válida, e que será aplicada a eles no Dia do Juízo, ou há a fé na felicidade eterna dos cristãos no céu apenas por meio de suas almas.

 

Foram julgadas duas possibilidades, a primeira de que os cristãos fieis não tinham qualquer noção da imortalidade da alma em sua esperança, e esperassem somente a ressurreição, e a segunda de que os cristãos que usavam batizar-se em favor dos mortos criam firmemente na imortalidade da alma.

 

Agora, pelo que foi expresso, pode estar a fé na imortalidade da alma presente em toda a argumentação em favor da ressurreição? Essa é a interpretação cristã normal desde os tempos apostólicos. Significa isso que os cristãos fiéis exortados pelo apóstolo São Paulo criam na imortalidade da alma e nutriam a fé na ressurreição dos mortos.

 

Para isso, basta que pensemos que os cristãos, talvez desavisados, cressem poder auxiliar as almas por meio do batismo em seu favor, livrando-as de pecado, para que pudessem participar da ressurreição de vida em Cristo. Portanto, o rito seria feito por cristãos fieis, que criam na existência da alma e na ressurreição da carne. A fé verdadeira sempre creu que as orações pelas almas podem auxiliá-las. Nunca os sacramentos. Mas, talvez alguns pensassem que poderiam aplicar mais aos falecidos que simplesmente a oração por eles. De qualquer modo, a argumentação faz todo sentido assim.

 

São Paulo teria oportunidade imensa em atacar a imortalidade da alma quando tratou do batismo em favor dos mortos. Mas, o que fez foi corroborar a fé na ressurreição.

 

De fato, quando lemos em 2 Macabeus 2,44-46, vemos que o sacrifício pelos mortos oferecidos pelos judeus, tinha em consideração a fé na ressurreição. Essa mesma prática, tão criticada no Protestantismo, e que serve de mais um motivo para que não aceitem a inspiração do livro dos Macabeus, é a prática que está ligada à ressurreição, numa pregação constante da mesma, e não somente como uma prova da imortalidade da alma. No entanto, podemos afirmar com certeza que essa era igualmente crida. Ambas, a imortalidade da alma e a ressurreição dos mortos são doutrinas sagradas do grande patrimônio cristão.

 

Assim, lemos no capítulo 15 de 2 Macabeus um interessante fato. Nesse capítulo é narrado o sonho, como que uma visão, em que aparecem o sacerdote Onias e o profeta Jeremias, já falecidos, intercedendo pelo povo judeu, que guerreava contra os pagãos. E a Bíblia de Jerusalém, em nota, explica sobre essa fé: “É crença ligada à fé na ressurreição”. Assim é a fé cristã católica, como explica o Catecismo Romano, mostrando a necessidade da ressurreição da carne, porque é “contrário à natureza que as almas ficassem eternamente separadas de seus corpos”.

 

Com citado, em 2 Mac 12,44 está escrito: “De fato, se ele não esperasse que os que haviam sucumbido iriam ressuscitar, seria supérfluo e tolo rezar pelos mortos”. Essa é a prova mais bela e potente nesse aspecto da imortalidade da alma e da ressurreição, pois temos um testemunho insuspeito, escrito no Antigo Testamento, e que liga a fé na oração pelos mortos à ressurreição dos mesmos, e que também corrobora a imortalidade da alma, como no sonho de Judas Macabeu. O ensino da ressurreição está na Bíblia junto com a fé na imortalidade da alma. Somente nos tempos mais recentes essas duas coisas estão sendo colocadas, de uma forma nova, com opostas uma à outra, o que talvez reflita influência da filosofia pagã antiga nos tempos atuais.

 

É, portanto, natural que o que ocorreu em 1 Coríntios 15,29 tem o caráter de corroborar tanto a imortalidade da alma, a oração pelos falecidos e a fé na ressureição dos mortos. As outras hipóteses caem por terra, diante do contexto imediato, e do contexto bíblico geral. Para os que não aceitam o sagrado livro de 2 Macabeus, que fiquem com o testemunho histórico dessa fé, e aceitem o que está em 1 Coríntios.
 
Gledson Meireles.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A imortalidade da alma: a parábola do pobre Lázaro e do rico (Lucas 16,19-31)

Apresento abaixo a leitura mais natural da passagem, e um pouco de crítica quanto a algumas implicações da mesma.
v. 19. O homem rico vestia-se de modo finíssimo, e festejava sempre.
v. 20. Lázaro era mendigo e doente, cheio de chagas, e estava à porta do rico.
Esse início mostra que um estava repleto de bens e alegria, e o outro de amargura e sofrimento.
v. 21. O desejo de Lázaro de ser saciado pelo menos com as migalhas que sobravam da mesa do rico mostra a sua indigência, e certamente a maldade daquele rico que não o ajudava.
v. 22. O mendigo morre, e os anjos o levam ao Seio de Abraão. Essa passagem mostra o entendimento corrente entre os judeus fariseus, o ramo principal do Judaísmo que Jesus seguia. Se o homem morreu e foi levado pelos anjos, supõe-se que não foi em corpo, pois os mortos normalmente não saem voando para um lugar, levados pelas cortes celestiais. Percebe-se já aqui uma insinuação da fé na distinção e imortalidade da alma em relação ao corpo. Também é uma indicação disso não tratar-se da ressurreição nessa passagem. Então, os anjos levam Lázaro ao Seio de Abraão, mas somente em sua parte espiritual, ou seja, a sua alma. Sobre esse verso Cornelius a Lapide comenta que a alma do pobre foi conduzida com honra. Esse é o sentido de ser levada por anjos, já que a alma não necessita ser carregada.
Mas, também é dito que morreu o rico e foi sepultado. Não usa a mesma linguagem que foi empregada em relação ao pobre Lázaro. Esse foi para o Seio de Abraão, o pai do povo eleito, e o rico foi sepultado. Isso significa que foi colocado no túmulo, e nada mais. No entanto, o desenrolar da história mostra que ele também foi para um lugar espiritual, em sua alma, já que o corpo estava na sepultura.
v. 23. Nos tormentos infernais está o homem rico. Mas não com seu corpo, pois foi dito que ele foi sepultado. Como sabemos que no túmulo não há ação ou movimento, e o corpo está inerte e caminhando para a decomposição total, então entende-se que está o Senhor Jesus falando da alma do rico. E, então, viu de longe o Lázaro no Seio de Abraão, em felicidade.
v. 24. Bradou a Abraão, para que esse desse ordem a Lázaro para que fosse até o rico e o aliviasse em sua dor. Dentro dos moldes de pensamento bíblico é compreensível que o rico judeu reconhecesse Abraão como pai. E nessa posição, Abraão gozava de uma autoridade, de forma que podia mandar Lázaro realizar algum ofício. Estamos dentro do pensamento bíblico, nos seus moldes originais, e esse permite que pensemos que os fieis, nesse caso já falecidos, dirijam-se ao patriarca do povo de Deus para pedir ajuda.
v. 25. Abraão explica que aquela realidade deveria ser compreendida e acatada pelo rico. Na vida Lázaro sofreu bastante, recebendo males todo o tempo. Por sua vez, o rico vivia na fartura e no regozijo. Depois da morte aquele que sofria em vida estava consolado, e o que viveu no fausto estava agora atormentado.
Não é tecida toda a doutrina da justificação e salvação aqui. Somente a vida na riqueza e alegria e a vida na pobreza e na tristeza do sofrimento são contrastadas. Parece que subjaz a questão da justiça, onde o rico deveria ter caridosamente dado a mão ao seu próximo e não o fez. Talvez isso seja o que levou-o à condenação. Por outro lado, Lázaro não foi salvo, por certo, apenas por ter sofrido. Cristo não ressaltou os aspectos da fé e da obediência a Deus, mas apenas a caridade. Primeiramente o fez mostrando que há esperança para o que sofre, e o juízo espera o que não age com amor ao próximo. Lembra o texto de Mateus 25 sobre o juízo final se considerarmos esse particular ensino da parábola.
v. 26. Entre os salvos e os condenados há uma separação radical. O lugar em que os primeiros estão, está separado totalmente do local em que estão os réprobos. Portanto, após a morte não há possibilidade de mudança de destino: o salvo não mais será perdido, e o condenado não encontrará a salvação. Esse ensino está mostrando a realidade entre os mortos, e não entre os vivos e os mortos. Não está afirmando que os vivos estão separados dos mortos por um abismo intransponível, como muitos erradamente supõem, mas que os mortos santos estão assim separados dos mortos réprobos.
v. 27. Então o rico faz uma um rogo a Abraão. Que Abraão envie Lázaro aos seus familiares, seu pai e seus cinco irmãos. Novamente está reconhecida a autoridade de Abraão: ele pode enviar outros para uma missão. Se estamos aqui no mundo dos mortos, Lázaro não é um homem vivo, com corpo e alma, mas apenas em sua alma. Portanto, a única forma de Lázaro voltar e interferir na vida dos parentes do rico era aparecendo a eles ou ressuscitando.
v. 28. Lázaro poderia testemunhar àquela família, para que eles não fossem condenados. Certamente, o rico tinha em mente que Lázaro pudesse informar-lhes dos deveres do homem para com Deus e o próximo e agisse diferentemente dele, e tivessem a salvação, a vida na felicidade após a morte.
v. 29. Mas Abraão não atende o pedido do rico (de fato, nenhum foi atendido). Cornelius a Lapide cita: cf. Provérbios 21,13, e responde que os seus parentes têm Moisés e os profetas, e que a eles devem ouvir. Pode ser que essa história estivesse situada no tempo do Antigo Testamento, onde Moisés e os profetas significa a Lei e os profetas.
v. 30. No entanto, o rico insiste que se “um dos mortos” for até eles, a repercussão será maior, mais forte, mais convincente. Não sabemos com certeza se o rico pensava em que Lázaro apenas aparecesse a eles e os avisasse dos perigos de uma vida apenas nos prazeres, ou que Lázaro devesse ressuscitar para isso, como a única forma de voltar e realizar o que propunha.
v. 31. A resposta de Abraão parece indicar que trata-se da ressurreição de Lázaro para operar o arrependimento daquela família. Ele não diz: “ainda que apareça algum dos mortos”, mas “ainda que ressuscite algum dos mortos”. Contudo a primeira asserção não está de todo destituída de sentido, dentro dessa atmosfera da parábola.
Se estamos falando da alma, então devemos entender que as partes do corpo citadas na parábola estão relacionadas ao que sabemos constituir um corpo humano, como o dedo e a língua mencionados. Aquele lugar de tormento tinha fogo, e como apenas uma gota de água não poderia resolver o problema de tão grande sofrimento que afligia o rico, o sentido manifesto é que qualquer alívio era desejado, diante de tamanha dor.
Além do mais, a alma ter língua, dedo, etc. não é impedimento algum para entendermos a passagem como ela é, ou seja, tendo como fundamento a imortalidade da alma. Lembremo-nos das ocasiões em que Cristo apareceu aos discípulos, e eles achavam tratar-se de um espírito, de um fantasma. Todos viram Jesus, de longe, mas não tinham-No reconhecido. Viam que era uma pessoa, com a mesma forma corpórea de todos nós, com cabeça, tronco e membros, e ainda assim não sabiam que aquele era Jesus, ou seja, não pensavam que se tratava de uma pessoa de carne e osso, mas pensaram ser um espírito.
Da mesma forma, quando os apóstolos viram Jesus ressuscitado, mas Tomé não estava presente, esse afirmou que não acreditaria se não tocasse no Seu corpo, se não pusesse a mão no Seu lado. Com isso, Tomé estava indisposto a crer na ressurreição, e mesmo duvidaria se visse o Senhor diante de si mesmo, pois poderia ser um espírito, ainda que com toda a forma humana, e por isso exigiu poder tocar nas chagas de Cristo para que pudesse crer.
Tudo isso mostra que os judeus não tinham qualquer problema em falar de um espírito que tem toda a forma humana conservada para sua identificação, pois somente um pressuposto de que a alma fosse uma forma totalmente diversa daquela que conhecemos ser a forma de uma pessoa viva é que é imaginada para causar espécie aqui. Não é argumento, nem tem força alguma.
Outra coisa que deve chamar atenção é o motivo de Cristo ter querido ensinar a justa retribuição, que Deus tem para cada salvo, usando uma ilustração que mostra essa retribuição logo após a morte, não mencionando a ressurreição nem do rico nem do Lázaro, mas afirmando que ambos já estavam usufruindo da vida de Deus.
E mais. A história é bastante impressionante. A vida desregrada do rico e o sofrimento do pobre são contrapostos. Abraão é mostrado como o líder do mundo dos mortos salvos. A aparição ou a ressurreição são pressupostos da passagem. E é importante notar que mesmo na hipótese de que fosse à ressureição que o rico certamente se referia ao pedir para Lázaro ir aos seus familiares, essa pressupõe a imortalidade da alma, pois não haveria lucro algum, o morto ressuscitar para contar a sorte de sofrimento de um ente querido após a morte se esse mesmo ente querido não mais existisse, e fosse retornar à existência apenas na ressurreição. A leitura sob o enfoque da imortalidade da alma faz todo o sentido. Devemos pensar se faria o mesmo diante do pressuposto de que a alma não existisse. Essa é a interpretação de muitos, como os adventistas.
Para isso, deveríamos supor que toda a parábola usasse uma personificação dos mortos, com seus corpos tidos como vivificados simbolicamente, assim como o faz com as árvores, as pedras e os animais. Ao dizer que os mortos estavam conscientes apenas estaria usando a metáfora, como quando faz a criação louvar a Deus, e supõe inteligência nas árvores e etc. Essa seria a única via de negar toda a leitura mais simples da passagem, e é a forma preferida pelos defensores da mortalidade da alma.
No entanto, os detalhes não parecem ser tão simplificáveis assim. Tudo parece muito bem conhecido pelos judeus, como a figura de Abraão, o Seio de Abraão, as consequências da vida após a morte, a autoridade normativa da Lei e dos Profetas. Ainda mais. Quando o diálogo é desenvolvido, parece mesmo que o Seio de Abraão é distante da terra, e que para Lázaro ir aos vivos deveria certamente ressuscitar. Quando o pobre “foi levado” isso indica o distanciamento do mundo dos vivos. E o rico roga para que os seus parentes não sejam lançados “neste lugar de tormentos”, o que é mais uma indicação do inferno que uma metáfora do túmulo.
De fato, quando as metáforas são aplicadas nas Escrituras nesses casos, tempos uma perfeita localização do evento. As pedras clamarão se os homens calarem, diz Jesus quando entra em Jerusalém. Isso indica que se a multidão deixar de exaltar a Ele naquele momento, como o Filho de Davi, as pedras tomarão seu lugar na proclamação dessa verdade.
Em 2 Reis 14, 9 está escrito: Joás, reis de Israel, respondeu a Amasias, rei de Judá: “O espinho do Líbano mandou dizer ao cedro do Líbano: ‘Dá a tua filha por esposa ao meu filho!’.” As árvores estão personificadas. O espinho e o cedro são a personificação de pessoas do Líbano. Temos os sujeitos e uma localidade, e entendemos ser uma metáfora.
Quanto à parábola do rico e do Lázaro, quando diz que Lázaro morreu e foi levado ao Seio de Abraão, temos uma pessoa que deixa o mundo e é dirigida a outro lugar. O rico é sepultado, mas logo aparece próximo ao local em que foi levado Lázaro. A localização desse cenário não lembra apenas a sepultura. Não parece que apenas os corpos estão sendo personificados.
Portanto, devemos ler essa história do Senhor, simbólica com toda a certeza, mas que revela uma realidade, que inclui a consciência das almas dos falecidos, e as diferentes sortes que já desfrutam antes da ressurreição.
A passagem de Juízes 9,8-15
Vemos que as árvores estão personificadas. No entanto, toda a alegoria tem seu sentido ligado ao literal. Cada árvore produz algo apreciado pelos homens, e sua apreciação é feita de acordo com a cultura judaica, e todas as outras particularidades também, como a unção do rei e seu reinado sobre o povo.
As árvores estão agindo como pessoas, mas sabemos que árvores não falam, não possuem inteligência. Diferentemente, na parábola de Lucas 16,19-31 são pessoas que falam. E todo o acontecimento é visto como desenrolando após a morte. Tais são as noções que os judeus possuíam, e Jesus utilizou-as.
Não podemos pensar que as árvores representam pessoas que foram pedindo literalmente a um e a outro para que reinasse sobre elas, e cada um foi respondendo conforme seu caráter, e assim por diante. É a noção geral que ensina uma lição moral. Os judeus pediam um rei e através dessa alegoria é passado um ensinamento ao povo judeu sobre essa atitude sua.
Do mesmo modo não podemos pensar, caso seja mesmo uma parábola, que houve um rico e um pobre que viveram literalmente como mostrou a parábola e no mundo dos mortos ocorreu cada fato que foi narrado. É também o contexto geral dessa história que fornece o ensinamento. E nesse está a consciência após a morte.

Parábola ou história real

Os comentadores do Evangelho são divididos quanto à natureza da passagem em questão. Alguns a consideram uma parábola, outros uma história. A maioria dos padres da Igreja, segundo Cornelius a Lapide, interpretam a passagem como um história real. O rico seria conhecido dos judeus, e por sua história a lição que Cristo ressaltou seria mais impactante para eles. No entanto, a forma da linguagem nessa história é de parábola.

Gledson Meireles.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Imortalidade da alma: a aparição do profeta Samuel


Samuel profetiza a Saul após a morte
 
Em Samuel 28 é narrada a consulta que o rei Saul fez à mulher necromante de Endor, e a aparição de Samuel, com uma palavra de confirmação da rejeição de Saul da parte de Deus e do seu perecimento.
O exército filisteu havia acampado para a guerra, e ao vê-lo Saul temeu grandemente, e ficou perturbado. Procurou a Deus para o consultar, mas não obteve resposta, nem nos sonhos, nem pela sorte, nem pelos profetas. Deus não mais comunicou Sua Palavra a Saul. (cf. 1 Sm 28,5-6)
Teve o rei, então, a ideia de procurar uma mulher advinha, para que a consultasse. E chegando à mulher pediu a ela que invocasse a Samuel. (v. 11) Esse ponto que mostra essa outra tentativa do rei em encontrar resposta apesar de Deus não ter mais respondido será melhor entendido à frente.
O texto sagrado afirma que a mulher perguntou: “A quem chamarei” e que o rei respondeu: “Chama Samuel”. A linguagem da Escritura nesse momento não usou expressar-se como seria esperado, distinguindo corpo e alma: “A que alma chamarei” e “Chama a alma de Samuel”, mas é isso o que a passagem está informando. O início do capítulo introduz nesse assunto ao mostrar que “Samuel tinha morrido.” (v. 3)
E assim o fez aquela necromante. Diz a Escritura que: “Então a mulher viu Samuel e, soltando um grito medonho, disse a Saul: “Por que me enganaste? Tu és Saul!”. (1 Sm 28,12) O texto afirma que a adivinha “viu Samuel”, o que mostra ter sido uma aparição a ela, talvez uma visão individual, pois não parece que nesse momento Saul tenha visto o mesmo. De fato, ele pergunta: “Disse-lhe o rei: “Não temas! Mas o que vês?” E a mulher respondeu a Saul: “Vejo um deus que sobe da terra. Saul indagou: “Qual é a sua aparência?” A mulher respondeu: “É um velho que está subindo; veste um manto.” Então Saul viu que era Samuel e, inclinando-se com o rosto no chão prostrou-se.” (1 Sm 28, 13-14)
A passagem não sugere que a mulher tenha entrado em transe, e perdido sua própria consciência para que Samuel falasse por meio de sua boca, como seria se pensássemos na forma que acontece no espiritismo. A cena, porém, sugere que a mulher viu Samuel, continuou a conversa com Saul, sem qualquer alusão a um êxtase, e continua a descrever o que está vendo. Talvez Saul tenha visto o “espectro” de Samuel, conforme termo empregado no texto grego, mas dessa visão o texto não torna claro. Pode ser que o rei tenha, após o que a necromante contou-lhe, entendido tratar-se de Samuel, e agiu como costumeiramente agem os judeus, inclinando-se a prostrando-se diante da presença do santo profeta de Deus.
Ao continuar a narração do evento, a Escritura afirma: “Samuel disse a Saul: “Por que perturbas o meu descanso evocando-me?” (1 Sm 28,15)
Essas palavras estão em total acordo com o que a Bíblia inteira revela sobre o estado dos mortos: descem ao sheol e lá permanecem em descanso, possuindo uma existência sem a energia dos vivos, mas não deixam de existir. Os traços que o texto apresenta são claros: Samuel “sobe” da terra, indicando que vem do mundo subterrâneo. Não se trata da sepultura apenas, pois não é dito que Samuel foi ressuscitado em Ramá e veio até aquele lugar em Endor para conversar com Saul. O que está afirmando a Escritura é que o espírito de Samuel apareceu após ser invocado pela necromante. Em 1 Crônicas 10,13 está escrito que Saul consultou um “espectro”, e em Eclesiástico 46,20 sabemos que Samuel profetizou após a sua morte. Essas testemunhas tornam bastante sólido o fato de que a alma de Samuel foi vista pela necromante, e falou com Saul.
No entanto, o que Samuel diz a Saul não traz novidade. Saul queria saber o que deveria fazer (v. 15), mas Samuel não o diz. E ao terminar suas palavras, profetiza que Saul e os seus filhos morrerão, juntamente com o exército de Israel. (1 Sm 28,19) Isso de fato ocorreu em 1 Samuel 31,6: “Assim morreram juntos naquele dia, Saul, os seus três filhos, o seu escudeiro e todos os seus homens”.
Todo o capítulo é literal, não usa de figura de linguagem, não supõe intervenção maligna, não afirma nada mais fora de que foi realmente Samuel quem apareceu na sessão realizada pela necromante em Endor.
A Bíblia proíbe a consulta aos necromantes, adivinhos, e etc., proibindo também essa prática. No entanto, em nenhum momento usa de argumentação de que não existem almas humanas para serem consultadas. Esse seria o melhor argumento, como fazem os mortalistas atuais, para tirar de vez toda a possibilidade de que um espírito humano envolva-se em uma cerimônia como a que foi apresentada. Mas, em toda a Bíblia nunca é usado nada nesse sentido, e o texto deixa claro que a fé dos judeus era de que os mortos desciam ao sheol e lá ficavam, e não que eles deixassem de existir completamente.
Essa passagem recebe várias interpretações, e muitas negam que Samuel tenha realmente aparecido, e que um espírito do mal veio enganar a Saul sob a aparência de Samuel. Já vimos que a Bíblia não sugere isso, mas é importante conhecer as objeções.
Muitos creem que conforme 1 Sm 28,6 Samuel não poderia ter aparecido, visto que Deus não mais respondia a Saul, tendo cortado radicalmente as relações com ele. Porém, pelos cânones bíblicos essa objeção não tem fundamento, pois o próprio Samuel lembra esse fato em sua conversa com Saul, em 1 Sm 28,16. A Escritura não vê nenhuma tensão entre a recusa do Senhor Iahweh em responder a Samuel, pelas vias normais, ou seja, por sonhos, pelo urim e pelos profetas e a aparição do profeta já falecido Samuel. Nenhum vestígio no texto bíblico deixa transparecer que Samuel não possa ter-se comunicado com Saul pelo fato de Deus não mais ter respondido às suas invocações.
Todo o relato acontece conforme pensava o rei Saul em seu coração, pois vendo que não mais tinha respostas do Senhor, pensou em procurar uma mulher que pratica adivinhação. Ele viu nessa opção uma possiblidade de ter uma mensagem. A sua busca de Deus e a sua consulta à necromante são vistas como duas possibilidades compatíveis para chegar ao objetivo desejado. Assim, pelos parâmetros bíblicos, Deus não ter respondido em 1 Sm 28,6 não interfere na aparição de Samuel em 1 Sm 28,13.
Sabemos que todas as coisas somente acontecem se estiverem de acordo com a vontade de Deus. Nesse ponto, Samuel poderia ter aparecido por permissão divina, mas não de acordo com a Vontade de Deus que fosse a Saul e lhe trouxesse a mensagem que tanto almejava. A aparição de Samuel estava entre as possibilidades normais de que os mortos podem aparecer aos vivos. De fato, aquela visão da necromante não é concebida como um meio de Deus responder a Saul, mas como uma forma diversa daquela, como outra via ao lado daquelas consideradas lícitas em Israel, a saber, sonhos, urim e profetas. Deus não falaria através das práticas da necromancia, mas era possível que os mortos ali aparecessem.
Isso não significa que de regra todas as vezes que os mortos são invocados eles aparecem. O que afirma-se aqui é que na Bíblia a possibilidade de um morto aparecer a um vivo não é descartada, e é isso o que está em 1 Samuel 28, com a nítida narração da aparição de Samuel para reprovar novamente o rei Saul e profetizar que sua sorte seria a morte na batalha contra os filisteus.
É preciso ressaltar que Saul não conseguiu o que pretendia. Ele queria saber o que fazer naquelas circunstâncias, sendo isso o motivo de pedir a ajuda de Deus. Ao olharmos atentamente para o que ocorreu em 1 Sm 28, não vemos que Samuel tenha dado qualquer conselho a Saul. Portanto, o que estava estabelecido em 1 Sm 28,6 foi seguido aqui: Deus não mais deixou qualquer revelação para Saul. O que foi dito em 1 Sm 28,17-18 já havia sido revelado por Samuel em vida. Assim, Deus não enviou resposta a Saul através de Samuel.
A objeção de que Samuel era um profeta, e Deus não enviou mensagem através dos profetas a Saul está então respondida. A prática era altamente probidade em Israel, em Levítico 19,31 e Deuteronômio 18,11, por exemplo. No entanto, em nenhum lugar está escrito que as almas não existem e que esse seria o motivo que invalidaria qualquer invocação dos mortos.
Se a necromancia fosse praticada por um israelita tornara esse ritualmente impuro. Essa lei não prevê o que ocorreu em 1 Sm 28 por parte de Samuel. Há quem afirme que Samuel não iria submeter-se à regras da necromancia, e se assim o fizesse estaria em contradição com a Lei. Nada disso é pressuposto na Bíblia. Como mostrado acima, a Bíblia não faz essa conexão, e o argumento em cima desse pressuposto não é bíblico, mas é oriundo de especulações, válidas enquanto parte da investigação, mas não devem permanecer por não serem naturais aos princípios da Escritura.
Se assim o fosse, o livro de Samuel teria ao menos insinuado que a participação do profeta Samuel naquele acontecimento teria feito dele um transgressor da lei contra as práticas da adivinhação. No entanto, nem de longe isso transcorre no texto. De fato, o próprio Samuel lembra novamente a Saul que o mesmo desobedeceu a Deus e por isso não mais tinha a resposta quando O consultava. Nada supõe que aquela intervenção de Samuel fosse algo que a lei considerasse pecaminoso.
É preciso muita atenção, como também é necessário fazer essa distinção que a Bíblia faz: Deus não respondeu a Saul, mas Samuel o fez, e não tendo nada da parte de Deus a acrescentar, por esse motivo, apenas repetiu a condenação que Deus já havia feito a Saul. Sendo assim, Deus não mais teve participação na vida de Saul, não dando-lhe respostas, e não foi Deus que diretamente enviou Samuel para falar a Saul alguma coisa. O que está ali é que Samuel apareceu a Saul e disse-lhe o que já estava estabelecido, e essa possibilidade das almas do sheol entrar em contato com os vivos é uma realidade, e sendo assim Deus permite que tais coisas possam porventura acontecer.
Temos então que:
1)    Segundo as regras do pensamento bíblico as proibições contra as práticas necromantes (Lv 19,31;20,6;Dt 18,11) não estão relacionadas às almas que possam vir a aparecer a algum vivo e proferir alguma sentença.
2)    Deus abandonou Saul e não mais esteve disposto a respondê-lo por quaisquer dos meios lícitos e usuais entre os judeus.
3)    Samuel apareceu a Saul porque foi importunado com a invocação da necromante, e por si mesmo, vista a possibilidade dada por Deus para isso, veio a Saul para informar-lhe novamente de sua rejeição da parte de Deus.
4)    Todas essas cenas estão harmoniosas com o tipo de pensamento da Bíblia, que não faz oposição entre a recusa de Deus de responder a Saul e a aparição de Samuel ao mesmo, nem liga a impureza da prática de necromancia à alma que porventura venha aparecer a algum homem.
A possibilidade das almas aparecerem é um fato. Agora, quanto às práticas espíritas, essas são normalmente feitas tendo como pressuposto que os espíritos dos mortos tomam o corpo do médium e falam através dele. Isso não foi o que aconteceu em 1 Sm 28. O que temos aí trata-se de uma visão, e não de uma possessão do corpo da necromante. Dessa forma, o que ocorre no Espiritismo moderno não pode ser igualado ao que está revelado sobre a comunicação que o profeta de Deus teve com o rejeitado rei Saul.
A necromante afirma ter visto “um deus”, em hebraico elohim. Esse termo indica alguém com aparência angélica, sobrenatural, celestial. De forma geral, essa designação não é usada para os mortos, mas para os anjos. No entanto, o rei Saul não estranha a aplicação do termo naquele momento, e pela descrição da aparência do ser visto ele entendeu tratar-se de Samuel. Assim, certamente o termo empregado “elohim” não é alheio também nesse sentido de espírito dos mortos, embora não seja mais encontrado na Bíblia com essa acepção.
A visão da mulher foi de que um ser subiu da terra. Essa parte já foi explicada acima, de acordo com a visão geral do conteúdo da Bíblia a respeito disso. Mas vale a pena repetir aqui. Segundo as Escrituras, os mortos descem ao sheol, a mansão dos mortos, como está em Números 16,32-33. Dessa forma, prevendo que trataria da alma de Samuel nessa aparição, o capítulo de 1 Samuel 28 já inicia falando da morte do profeta. (v 3) Portanto, quando a mulher vê alguém subindo da terra, e não descendo do céu, isso indica a aparição de um morto, e não de um anjo ou espírito maligno, visto que os judeus criam que as almas eram como que sombras que permaneciam no lugar sombrio do mundo dos mortos, que está localizado nas regiões subterrâneas.
Em Eclesiastes 3,21 há uma interrogação a respeito do espírito (do fôlego) dos homens e dos animais, se o dos homens sobe e se o dos animais desce para debaixo da terra. Essa pergunta certamente é usada para enfatizar o cuidado de Deus para com o homem, que o trata exclusivamente, e não como os animais. O espírito aludido nesse texto não é por certo a alma imortal, que sai na morte e vai para o céu ou que desce para a debaixo da terra.
De fato, isso fica claro quando constatamos que os animais não possuem alma imortal, e não são mostrados como habitando o sheol, assim como os seres humanos. Além disso, em Eclesiastes 12,7 é revelado que na morte o espírito volta para Deus.
Assim, o que Ecl 3,21 está ensinando é o cuidado de Deus especialmente para com o homem, de forma que já alude a um destino diferente para os homens e para os animais, e uma diferença essencial entre o espírito do homem e o espírito dos animais. Sabemos que antes da vinda de Cristo ninguém subiu ao céu. Portanto, o espírito voltar para Deus significa apenas a vida que foi tirada, de forma que o corpo e alma não mais estão ligados, sendo o corpo decomposto e tornado pó, e a alma encaminhada ao sheol. O espírito que sobe a Deus em Ecl 12,7 significa que está sob a autoridade de Deus conceder a vida de cada pessoa na ressurreição. Entretanto, isso não necessariamente nega a existência da alma.
O espírito dos animais ser deixado descer para a terra talvez signifique que eles não estejam na mesma ordem no plano de Deus, e suas vidas perecem completamente, “descem” para a terra, ao invés de retornar a Deus criador. Desse modo, o que está em Eclesiastes 12,7 é uma resposta a Eclesiastes 3,21.
Sendo assim, as questões de Ecl 3,21 possuem estreita ligação com o destino eterno do homem, com a imortalidade da alma e com a ressurreição, mas o próprio termo espírito ali não conota a alma imortal, mas apenas o sopro de vida que é tomado por Deus quando esse morre. Refere-se ao fôlego de vida que garante a existência do homem na Terra, e não ao seu espírito que é parte do seu ser e que permanece no sheol após a morte.
A respeito da predição de Samuel em 1 Sm 28,19, sabemos que todos os mortos são sepultados e suas almas descem ao sheol, não é difícil entender que Samuel afirme que Saul e todos os seus estariam com ele. Isso apenas significa que eles morreriam. A passagem não faz distinção entre os mortos salvos e os condenados, apenas indica que no dia seguinte todos aqueles seriam mortos.
Com referência ao termo elohim, que é plural em hebraico, de fato, mas o contexto não indica que esse foi o caso, pois pela descrição Saul entendeu tratar-se de um único ser, e não de vários. Embora elohim seja o plural de deus em hebraico, o próprio Senhor Deus é chamado Elohim, e nesse sentido é traduzido no singular. Portanto, Samuel apareceu sozinho, e o termo elohim, geralmente aplicado a anjos, mostra sua majestade de profeta na visão.
Ainda mais. A profecia de 1 Sm 28,19 foi cumprida. Saul e seus filhos iriam morrer, e o exército de Israel seria entregue nas mãos dos filisteus.
Está escrito em 1 Sm 31,1-2: “Entretanto, os filisteus atacaram Israel, e os homens de Israel fugiram perseguidos por eles e caíram feridos de morte, no mente Gelboé. Os filisteus fizeram o cerco a Saul e seus filhos, e mataram Jônatas, Abinadab e Melquisua, filhos de Saul.”
E o verso 6 afirma: “Assim morreram juntos naquele dia, Saul, os seus três filhos, o seu escudeiro e todos os seus homens.”
No mesmo dia pereceram, nas mãos dos filisteus, tanto Saul como seus filhos e o seu exército. O texto afirma “todos os seus homens”, que é o exército que lutava com Saul contra os filisteus.
Então, os filisteus ainda tiveram mais participação nesse destino sombrio de Saul: “Cortaram-lhe a cabeça e despojaram-no de suas armas, e os enviaram à redondeza, pelo território dos filisteus, para anunciar a notícia em seus templos e ao povo. Assim que os habitantes de Jabes de Galaad souberam o que os filisteus tinham feito com Saul, todos os valentes de puseram a caminho e, depois de terem andado a noite toda, retiraram o muro de Betsã os corpos de Saul e os dos seus filhos. Voltando a Jabes, aí eles os queimaram. Depois recolheram os seus ossos e os enterraram debaixo da tarmargueira de Jabes, e jejuaram durante sete dias.” (vv. 10-11)
Ser entregue nas mãos dos filisteus significa sucumbir pela ação deles, e foi justamente isso que ocorreu com Saul, seus filhos e os homens do seu exército.
Saul suicidou por medo, após ver que estava derrotado. Isso está incluído em ser entregue nas mãos dos filisteus. Além do mais, para quem afirma que Saul foi entregue nas mãos dos habitantes de Jades de Galaad, esse apenas mostra não ter entendido a expressão ser entregue nas mãos de alguém, nesse contexto, e não prestou suficiente atenção no que fizeram aqueles habitantes. Eles apenas viram o fim de Saul, souberam o que os filisteus tinham feito contra ele, em seu ritual queimaram os corpos de Saul e dos outros, e os enterraram. No final, fizeram jejum por eles durante uma semana. Isso está longe do que significa ser entregue nas mãos de alguém no contexto de guerra.
Outro detalhe que é usado para desacreditar a aparição de Samuel é que não foram todos os filhos de Saul que morreram, mas apenas parte deles. Esse é outro problema em introduzir um critério que a Escritura não possui. De fato, a Bíblia mostra que a profecia foi cumprida, e morreram com Saul “os seus três filhos”, indicando que foi sobre esses filhos que a profecia considerou. Não afirma que teriam que morrer todos os filhos de Saul, mas apenas aqueles que com ele estavam na batalha.
Não adianta apelar para o dado textual em sua descontextualização total: “tu e os teus filhos estareis comigo”. Lido em separado poderia significar que todos os filhos de Saul, sem exceção, seriam mortos com ele. Ou talvez, a maioria deles. Contudo, ainda assim não é o que seria lógico da afirmação absoluta encontrada no verso isolado. Mas, esse é outro pressuposto inserido na interpretação. O capítulo não mostra que seja o caso de que pela afirmação é exigido que todos os filhos de Saul estivessem inseridos na profecia, e o verso não pode ser destacado de toda a passagem, mas ser entendido conforme o conteúdo do livro. E, como vemos, o mesmo é cuidadoso em asseverar o fim de Saul diante dos filisteus juntamente com seus filhos e o seu exército.
1 Samuel 28,19
1 Samuel 31,1.6
Como consequência, Iahweh entregará, juntamente contigo, o teu povo Israel nas mãos dos filisteus. Amanhã, tu e os teus filhos estareis comigo; e o exército de Israel também: Iahweh o entregará nas mãos dos filisteus.
Entretanto, os filisteus atacaram Israel, e os homens de Israel fugiram perseguidos por eles e caíram feridos de morte, no mente Gelboé. Os filisteus fizeram o cerco a Saul e seus filhos, e mataram Jônatas, Abinadab e Melquisua, filhos de Saul. Assim morreram juntos naquele dia, Saul, os seus três filhos, o seu escudeiro e todos os seus homens.
 
 
O texto da profecia mostra que o povo Israel foi entregue nas mãos dos filisteus. Isso não significa que não sobrou nenhum Israelita para contar a história, ou que foi a maioria absoluta que caiu sob a espada dos filisteus. Antes, isso quer dizer que o povo de Israel não prevaleceu contra os filisteus naquela guerra. Assim, também, a profecia mostra que Saul e os seus filhos iriam sucumbir, e também o exército de Israel. Não podemos entender que não sobrou filho nenhum de Saul, e que Israel ficou totalmente sem exército, mas apenas que a guerra foi vitoriosa para o lado filisteu.
O mesmo dado é encontrado no texto que mostra a realização da profecia. O texto afirma que os homens de Israel fugiram e caíram mortos, o que não significa que todos os homens de Israel, sem faltar um só, teriam fugido e morrido. Nada disso. Apenas refere-se aos que estavam lutando com Saul.
Também, o texto afirma, de maneira geral, que os filisteus cercaram Saul e seus filhos. Não podemos parar nesse particular e afirmar que todos os filhos de Saul estavam ali, pois logo a seguir, repetindo o fato, o texto esclarece que Saul, seus três filhos, seu escudeiro e todos os seus homens morreram nesse dia. Portanto, o fato está relacionado aos que estavam com Saul naquele momento, naquele dia, e mostra que a profecia de Samuel foi totalmente cumprida.
A objeção talvez mais interessante é a que refere-se ao tempo em que a profecia deveria ser cumprida. O texto afirma que “amanhã” tudo isso ocorreria, mas pela leitura dos capítulos seguintes vemos que isso foi após alguns poucos dias. Tal caso não precisa deixar preocupado a quem está acostumado com o modo bíblico de apresentar as coisas.
Jesus fala em Mateus 16,28 que muitos que ali estavam vivos não morreriam sem ter visto o Filho do Homem vindo com Seu reino. E o contexto está ligado ao verso 27 que afirma que Jesus virá com Seus anjos. Assim, deveríamos pensar que antes que aquela geração do tempo de Cristo não passaria antes que a parusia ocorresse. O que tudo indica é que a profecia primeiramente estava ligada à vinda do Reino com inauguração, e que os sinais ali ocorridos e realizados, na destruição de Jerusalém, seriam os sinais que vão caracterizar a vinda de Cristo com Seus anjos no fim do mundo para julgar. Somente que não está familiarizado com essas especificidades bíblicas, ou que não creiam nas Escrituras, é que objetariam quanto a isso.
O mesmo pode-se afirmar do “amanhã” predito por Samuel, visto que nem no contexto do livro, nem em todos os capítulos imediatos, há qualquer alusão de que os acontecimentos profetizados não tenham sido realizados no prazo proposto.
Particularmente, o entendimento de Saul é também colocado em questão, como se o texto bíblico dependesse dele para relatar tudo o que relatou aqui. Assim, não teria sido afirmação da Bíblia de que foi Samuel quem realmente apareceu, mas que apenas isso foi a dedução de Saul. Essa problemática interpretação deixa todo o texto e contexto de lado, e conclui novamente por um dado periférico.
O relato mostra que Saul cria na existência das almas em um lugar após a morte, cria também que era possível evocar os mortos. Também mostra que a mulher teve a visão de um ser que não conhecia, e fez a descrição do mesmo a Saul que, a partir disso, entendeu que se tratava de Samuel. Então, a Bíblia, sem afirmar que Saul tivesse errado em seu entendimento, afirma que foi na verdade Samuel quem falou, no v.15: “Samuel disse a Saul”. A Bíblia não está somente continuando sobre uma suposta falha de intepretação do rei Saul, mas afirma, em todo o contexto, que foi Samuel quem apareceu naquele momento.
A comparação com Josué 10,13 não parece refutar o que foi colocado aqui.  De fato, no texto afirma-se que o sol parou, e a lua ficou imóvel, o que está em desacordo com o conhecimento científico que temos hoje. No entanto, como Galileu afirmou, a Bíblia está usando a linguagem corrente, como fazemos até hoje, ainda que tenhamos conhecimento de que o sol é imóvel e a lua é um satélite, portanto sabemos que ela é móvel. O que está afirmado na Bíblia é que de fato o dia foi estendido, de forma milagrosa, e não que Josué tenha tido um ponto de vista sobre o qual o relato foi construído. Aquele não foi o ponto de vista de Josué, mas o entendimento geral do que ocorreu, e as Escrituras afirmam que o dia foi feito maior do que o normal, e com isso usa a expressão de que o sol parou.
Voltando ao caso de Saul, ele não faria uma consulta a uma necromante se não cresse que a alma do morto tivesse a capacidade de ouvir à evocação e aparecer. Aliás, esse era o parecer dos judeus. O fato da necromancia estar proscrita não invalida o fato de que há o pressuposto de que o Povo de Deus cresse na possibilidade dos mortos aparecerem aos vivos. O que está em questão é a proibição e o pecado de consultar os mortos.
Pode ocorrer a argumentação de que entre o povo judeu existam muitas coisas que não provam ser elas legítimas e acatadas pelos fieis, mas esse não é o caso, já que todo o relato é solidamente construído na afirmação de que Samuel veio a comunicar-se com Saul depois de evocado pela mulher necromante de Endor.
O holismo bíblico e as passagens que tratam da morte. Uma das objeções quanto às passagens que parecem tratar do fim da atividade intelectual e suposta inexistência do ser humano após a morte é que, sendo o holismo o sistema adotado na Bíblia não haveria espaço para falar de alma separada do corpo. Interessante objeção, mas refutada no presente estudo. De fato, como visto que a natureza humana na Bíblia é de que corpo e alma são separáveis, então a aparente dificuldade deixa de interessar.
Também, conhecendo a fé do Povo de Deus de que após a morte a alma habita o sheol, não podendo louvar a Deus (cf. Sl 6,5), e que estava limitada em suas atividades ao mínimo possível (cf. Ecl 9,5.10), é compreensível que ao falar da morte não apareça uma visão tão otimista nos tempos antes de Cristo. Isso está longe de provar que a alma morre, mas apenas mostra a crença judaica anterior ao advento do Salvador.
Na doutrina cristã católica não há espaço para a crença pagã de uma alma revestida por um invólucro que não tem muita importância. Essa é a noção que geralmente prevalece nas críticas contra a imortalidade da alma. Na verdade, a Igreja Católica, com a Bíblia, ensina que a natureza humana é corpo e alma, e que a alma sendo espiritual continua a existir após a morte, esperando, porém, ser ressuscitada com o corpo. Ela não está morta, apenas perdeu a atividade nas suas faculdades daquilo que somente o corpo pode favorecer, e que tornará a completar-se com a ressurreição, que é totalmente necessária.
Portanto, mesmo tendo a noção da integralidade da natureza do homem por seu corpo e alma unidos, na morte a alma subsiste como núcleo da personalidade, mas continua a noção de que a pessoa está morta. Somente a junção do corpo e da alma faz a pessoa, e uma vez que na morte não existe essa união, então a Bíblia afirma que a alma (no sentido de pessoa, e não de alma imortal) está morta. Afirmar que uma alma morrerá é o mesmo que dizer que uma pessoa morrerá. (cf. Ez 18,4) É a isso que se refere a Bíblia nos textos dos Salmos 78,50 e Números 23,10 e outros. O termo empregado nesse sentido não faz nenhuma modificação na palavra alma como sinônimo de espírito que não pode morrer. É preciso reconhecer que a doutrina bíblica apresenta o corpo e alma que são separados na morte, sendo que a alma continua a existir com consciência.
Gledson Meireles.