segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Batismo infantil por Tertuliano, São Cipriano e Santo Agostinho

Abaixo uma reflexão breve sobre três documentos que falam do batismo infantil, e da natureza do batismo.
A respeito da forma do batismo usual no início da Igreja, que foi por infusão ou mesmo aspersão, segundo o que testemunha a Bíblia, pode ser conferido aqui.

Tertuliano e o batismo infantil

Tertuliano escreveu em seu tratado sobre o batismo, capítulo 18: “E, então, de acordo com as circunstâncias e disposição, e até idade, de cada indivíduo, a demora do batismo é preferível; principalmente, entretanto, no caso de crianças pequenas.[1]

Para Tertuliano o batismo era muitíssimo valoroso, um dom preciosíssimo que não deveria ser entregue de forma imprudente, e para quem evidentemente não tivesse a possibilidade de guardá-lo como era necessário. Que as pérolas não fossem jogadas aos porcos, conforme Mateus 7,6.

Os casos em que as Escrituras mostram pessoas sendo batizadas imediatamente, depois da conversão, são porque Deus, segundo Tertuliano, proporcionou o conhecimento de que aquelas pessoas receberiam responsavelmente a graça, como que uma iluminação que apontava a adequada realização do batismo para aquela pessoa. Assim, Tertuliano afirma que: A aprovação de Deus envia sinais premonitórios seguros diante dele; cada petição pode enganar ou ser enganada.[2]

Fora disso, as circunstâncias deveriam ser analisadas, e a disposição da pessoa conhecida, para que de forma segura fosse percebida a bondade própria dessa disposição para o recebimento de tão grande dom. E até da idade, diz Tertuliano, pois como no batismo infantil era preciso pensar que a tenra idade poderia ser perigosa para a recepção do batismo, pois aquele indivíduo poderia, mais tarde, negar o dom recebido sem a devida consciência de seu valor. Mais ainda a respeito dos bebês.

Nesse caso, os padrinhos da criança estariam em perigo, pois responderiam por aquele ato. Talvez, veriam a pessoa batizada crescendo de forma contrária àquilo que deveria ocorrer em sua vida de batizado. O batismo ali, então, não era tão necessário, visto essas exigências.

Então, Tertuliano aconselhava esperar que se tornem cristãos aqueles que pedirem, que estiverem aptos a conhecer a Cristo. E, também, porque o bebê estaria na fase da inocência, a qual não deveria haver tanta pressa para o batismo. Pois as crianças não são responsáveis por assuntos mundanos importantes, quanto mais pelas coisas divinas.  Quem entender o sentido do batismo temerá mais sua recepção que sua demora: “a fé sadia é segura de salvação”. Veja então o tamanho valor do batismo.[3]


São Cipriano e o batismo infantil

São Cipriano discutiu uma questão, em Concílio, a respeito do batismo infantil. Havia quem pensasse não poder ser batizada uma criancinha com dois ou três dias de nascimento, mas somente após o 8º dia, como estava na lei de Moisés concernente à circuncisão. Assim, São Cipriano esclarece, pelo que podemos notar no tom de suas palavras, que esse não é o costume da Igreja, não foi o consenso dos padres do concílio, pois Deus quer a salvação de todos, independente da idade. Assim, a Igreja batiza a todos. Diz São Cipriano: Devemos nos esforçar que, se possível, que nenhuma alma seja perdida. Temos aqui explicitamente o batismo ligado à salvação, mesmo dos pequeninos.[4]

São Cipriano fala do tempo que foi designado por Tertuliano como período da inocência. Ele escreve: “sendo ultimamente nascido, não pecou, exceto que, tendo nascido da carne segundo Adão”. A criança “não pecou”, mas tal não significa que o infante não tenha pecado nenhum, pois há o pecado original, aquele que herdou de Adão.[5]


Santo Agostinho e o batismo infantil

Santo Agostinho afirmou que as pessoas levavam os infantes (criancinhas pequeninas, bebês) para serem batizadas por causa do pecado original que elas haviam herdado do nascimento natural, para serem purificadas pela “regeneração do segundo nascimento”, que é o batismo.[6]


Conclusão:

Esses testemunhos, sobre o batismo, do século 2º, 3º e 4º são de importância imensa. Tertuliano escreve de forma a deixar subentendido que o batismo de crianças era a norma em seu tempo, e que o mesmo não se opunha a ele em sua essência. Sua opinião apenas lidava com a importância do mesmo. Não negou o batismo infantil em si, opinou somente para que fosse esperado o momento para que pedissem o mesmo.

São Cipriano deixa mais clara a questão, e mostra, como Tertuliano, que o batismo é para a salvação, mas que deve ser conferido a todos, sem limite de idade, e que ainda que as criancinhas não pequem, são nascidas no pecado. Tertuliano não deixou claro seu “período de vida inocente”. Certamente esteja se referindo ao período em que as crianças não podem cometer pecados pessoais, e nesse sentido estão inocentes diante de Deus. Não são cristãos ainda, não são salvos, segundo o mesmo texto, pois ele diz que deve-se esperar que peçam para serem batizados e recebam a salvação. Devemos, antes, entender o contexto para o que Tertuliano colocou essa precaução para a realização do batismo. Não foi, porém, uma prática geral da Igreja Católica. Hoje também pode haver circunstâncias em que a Igreja Católica entenda ser preferível não batizar uma criancinha, até que certas exigências sejam supridas.

E São Agostinho testemunha da prática do batismo infantil, da fé no pecado original, e de que o batismo é para a salvação.

Em todos esses documentos, aprendemos que no segundo, terceiro e quarto século, a mesma fé sobre o batismo foi mantida. Em nenhum momento alguém objetou que o batismo devesse ser somente para crentes, nem que o mesmo fosse apenas um testemunho público da conversão e novo nascimento, e de que as criancinhas não devessem ser batizadas por não terem a capacidade de exercer fé. Esses argumentos não existiam.

O único argumento que poderia ser usado para a realização do batismo após a idade da razão é aquele de Tertuliano, mas o mesmo usou de outros motivos. O batismo é para remissão dos pecados, e como a criança não havia cometido ainda nenhum pecado, o batismo poderia ser esperado. Esse é o argumento. Não parece em nada com a argumentação de muitas igrejas atuais, onde o batismo seria apenas um símbolo do novo nascimento, e como esse somente pudesse ser realizado mediante a fé, somente o batismo de crentes seria o batismo “bíblico”. Tertuliano não subscreveria tal noção de batismo.

Além do mais, a posição de Tertuliano quanto à idade para o batismo não foi o costume da Igreja, mas tem seu valor, enquanto leva-nos a entender o sentido profundo do sacramento do batismo.

Para os dois santos, São Cipriano e Santo Agostinho, o primeiro entre o segundo e o terceiro século, e o segundo entre o terceiro e o quarto, temos a doutrina apostólica testemunhada. Todos criam no batismo como o sacramento da fé, o sacramento da salvação, onde o perdão dos pecados é realizado, e que as criancinhas são candidatas ao batismo como todos os adultos. Aliás, para santo Agostinho as crianças mortas sem o batismo não poderiam entrar no céu, mas seriam condenadas ao inferno, embora suas punições fossem as menores possíveis, visto não terem cometido pecados. Assim, a eclesiologia de santo Agostinho é puramente católica, onde é necessário fazer parte da Igreja Católica visível, e participar dos seus sacramentos.

Enfim, o batismo é o sacramento da salvação, e deve ser conferido a todos, infantes e adultos.

[as fontes citada estão disponível em www.newadvent.org]

Gledson Meireles.


[1] Tertuliano, On Baptism, 18.
[2] Ibid.
[3] Ibid.
[4] São Cipriano, Epistle 58, 2.
[5] São Cipriano, Epistle 58, 5.
[6] Santo Agostinho, On Marriage and Concupiscense, Livro II, cap. 4.

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