domingo, 12 de junho de 2016

Opinião de Santo Tomás de Aquino sobre a Imaculada Conceição


Para quem não está acostumado com os debates e controvérsias teológicas, há probabilidade de ficar constrangido quando souber que um dos maiores teólogos cristãos que já existiram negou peremptoriamente a imaculada conceição de Maria. Esse foi Santo Tomás de Aquino.

Os católicos, infelizmente, não podem buscar a verdade por si próprios. Eles precisam aceitar de antemão e sem qualquer senso crítico o que a igreja romana determina como dogma” (pode ser lido aqui. Não sei por que tanta discussão então, e com visões diferentes a respeito do tema. Será que esses homens não são católicos?

Um apologista protestante afirma: “Um dos maiores constrangimentos para o dogma da imaculada conceição é sua negação pelos maiores doutores da igreja romana”. Uma vez negado, pronto: um doutor católico negou um dogma católico.

Ao que parece, não há total certeza de que Santo Tomás tenha negado absoluta e radicalmente a doutrina da imaculada conceição “depois” que publicou a Summa Theologica. Na Summa ele negou a doutrina peremptoriamente, como afirmado acima, mas por razões que ele esclarece na tese, e que estão de acordo em essência com a doutrina que cremos hoje. O que difere é esse fato em si: a concepção livre do pecado original.

De qualquer forma, temos que admitir que em primeiro lugar Santo Tomás acreditou nessa doutrina, tendo depois escrito algo contrário a ela na Summa. É portanto um fato “também” que o grande teólogo aceitou o dogma. Pode, então ter depois voltado à sua fé anterior, como indicam alguns estudiosos. Hipótese, no mínimo.

O fato de ter sido opositor da doutrina em determinada fase da vida não o coloca contra a Igreja, nem contra a infalibilidade da mesma, visto que nessa época a questão não havia sido oficialmente definida. Só para ficar mais claro. Se o aquinate seria favorável ou não à definição em 1854, se tivesse vivido nesse tempo, não sabemos, mas há indicações, pela sua submissão à Igreja, de que podemos acreditar que sim. Quem quiser acreditar que não, não deixará de ser católico por isso.

O texto em que aparece uma afirmação inequívoca de sua fé na imaculada conceição no momento final da sua vida não é incontroverso, já que há manuscritos que contém a afirmação completa e outros não, pelo que consta em um dos artigos citados.

O texto: "Não há ninguém que faça o bem, nem um sequer" (Sl. 13:3); "Um homem entre mil que eu encontrei" (ou seja, Cristo, que foi sem qualquer pecado), "uma mulher entre todos elas eu não encontrei", que fosse totalmente imune de todo pecado, pelo menos original ou venial ( Ecl. 7:29)., é um texto que não significa negação da imaculada conceição, já que Santo Tomás é claro em afirmar que a virgem Maria não cometeu pecado algum na vida. Isso é pacífico.

Portanto, o texto não tem a ver com a virgem. Não tem a ver com o assunto da sua impecabilidade, pois do contrário estaria negando isso ao dizer que não encontrou nenhuma mulher sem pecado original ou venial.

Afirmar: “E ainda afirma que nenhuma mulher foi encontrada sem pecado. Não há nenhuma referência à Maria no texto” fica sem sentido, já que se fôssemos levar à conclusão a citação acima, deveríamos afirmar que São Tomás negou que Maria permaneceu imune do pecado durante a vida. Isso não é correto.

E tal fato de que Santo Tomás negou a imaculada conceição não é negado pela erudição apologética católica. Tenhamos em mente que essa negação foi total e durou por toda a vida a partir disso. O que podemos concluir dessa questão será desenvolvido abaixo.

E isso é necessário frisar porque para Santo Tomás não havia explicação que pudesse harmonizar a redenção com a purificação de Maria no momento da concepção. Verifica-se que em suas tentativas não foi vista a medida preventiva. Tudo o mais permanece intacto na doutrina, e continua na teologia católica. Obviamente não está conforme a teologia protestante, pretendam a isso os protestantes ou não. Não estou afirmando que os protestantes afirmam que Santo Tomás pensava como eles, mas apenas mostrando que mesmo no caso em que Santo Tomás negou a imaculada conceição o seu pensamento é essencialmente católico.

Assim, há algo a considerar: Santo Tomás tem a opinião sobre a santidade de Maria que é idêntica à opinião da Igreja inteira mesmo após a definição do dogma. Ainda: o dogma somente foi definido porque a Igreja encontrou um meio de harmonizar a questão da redenção, que inclui a virgem Maria necessariamente, absolutamente, sem dúvidas, e de forma que é impossível pensar o contrário, e que esse foi o ponto que Santo Tomás não tinha resolvido, fazendo-o manter a convicção de que o pecado original infectou a virgem.

De fato, para isso era necessário, pois do contrário não teria sido redimida pelo Senhor Jesus Cristo. A quetão toca o núcleo da doutrina, mas tem acepções acidentais. Dessa forma, pode-se fazer analogia com a discussão sobre a Trindade.

Para ficar mais claro: a Igreja não afirma que Maria foi exceção na obra redentora de Cristo, nunca afirmou isso, não pode afirmar, pois isso é contrário à revelação, e dizer isso seria heresia terrível. Santo Tomás também afirmou que Maria foi redimida por Cristo, e se não tivesse sido atingida pelo pecado tal fato não poderia ser realizado. Ele não enfrentou a tese de Duns Scotus, certamente não a conhecia, e não sabemos como responderia a ela.

No entanto, São Tomás não tendo outra alternativa para expressar a doutrina da Igreja, afirmou a maculada conceição, ou seja, a concepção com mácula do pecado original, mas foi detalhado em mostrar que houve a purificação, a santificação de Maria antes do nascimento. O núcleo da questão está de certa forma presente: a santidade singular de Maria por sua maternidade.

Por sua vez, a Igreja entendeu que a explicação de Dun Scotus era perfeita para o entendimento da imaculada conceição, pois incluía a virgem Maria na redenção operada por Jesus, e definiu que Maria foi concebida sem pecado. Em termos gerais, Santo Tomás está de acordo, conforme o que delineou sem sua Summa Teologica. Deixemos de lado, por agora, hipótese se ele adotaria ou não a doutrina após a definição, pela impossibilidade de termos alguma certeza disso.

Se alguns padres da Igreja afirmaram que Maria cometeu falhas ou pecados pessoais, esse fato também está ligado à questão da redenção. Como se fosse uma necessidade de pelo menos um pecado venial ter sido cometido, como a pressa em obter um milagre de Cristo em Caná da Galileia, interpretada como pecado, para que Maria estivesse no rol dos redimidos pela cruz. Essa é uma ilustração, pois é mais ou menos o sentido do que apresenta os padres da Igreja que falam nesse sentido.

Portanto, a dificuldade número 2 do artigo do “Respostas cristãs” está resolvida: “Esse argumento implica que não havia problema em negar a divindade de Cristo antes do concílio de Niceia. Alguém em sã consciência acredita que a crença na divindade de Cristo só se tornou obrigatória após a definição do concílio. Quem o fizesse antes, não poderia ser considerado herege?

Para que o caso fosse idêntico Santo Tomás deveria ter negado algo da importância da trindade, da divindade de Cristo. Ele tinha em mente duas verdades: somente há salvação em Cristo e todos pecaram. Para crer que alguém seja sem pecado é necessário afirmar que não necessita de Salvador, e isso a doutrina cristã não permite. Santo Tomás estava correto em sua doutrina. Alguns padres da Igreja erraram na explicação da trindade, afirmando o subordinacionismo, mas ainda assim não negaram o essencial, já que viam em sua explicação alguma harmonia com coma doutrina da Trindade. A comparação com o caso de Santo Tomás é diversa, mas é possível ver alguma linha de contato.

A igreja romana reivindica ter um carisma especial que permite guiar os fiéis na crença correta. Como isso pode ser possível se apenas 17 séculos depois o magistério finalmente afirmou “infalivelmente” a crença correta? Como o Espírito Santo pode permitir que gerações e gerações de cristãos mantivessem a doutrina errada? Como não acreditamos que o Espírito Santo é ineficiente, rejeitamos a reivindicação romanista.

Abro a questão indicando a definição da salvação pela fé somente, o caráter forense da mesma, da imputação da justiça de Cristo, que nenhum dos padres da Igreja conheceu e expressou dessa maneira, e que foi definido pelo Protestantismo no século 16, algo que nunca tinha sido expresso antes. Como isso poderia ser possível se apenas no século 16 o Protestantismo afirmou a doutrina da salvação pela fé como a crença correta?" É algo similar. Se caso alguém não concorde, tudo bem, mas deixe a razão da sua discordância, quais os motivos dela.

A publicação de textos críticos que omitem a passagem que afirmaria a imaculada conceição no fim da vida de Santo Tomás, ou seja, que poderia contribuir para a opinião de que Santo Tomás voltou a crer na imaculada conceição não é decisiva. Mas a existência da afirmação é também um fato, como mostra o apologista Taylor Marshall.

 O que podemos notar é que a Summa Theologica contém em essência a doutrina da imaculada conceição, uma doutrina em conformidade com a doutrina oficial da Igreja Católica, e não com aquilo que o Protestantismo apresenta hoje. Sua negação não é tão importante quanto à hipótese de algum padre negar a divindade de Cristo antes do Concílio de Niceia, por exemplo.

Obviamente nenhum apologista protestante afirma que está em concordância com os escritos de Santo Tomás, mas já que apresentam-no negando a imaculada conceição, é importante mostrar que sua doutrina delineia em traços muito vívidos a doutrina católica de sempre, e ele teve seus motivos para naquele momento negar a conclusão que muitos esposavam.

Só um comentário!!!!

Leia: artigo na página dos apologistascatolicos.

Gledson Meireles.

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