Análise
do livro:
OS BATISTAS
E O RESGATE DA
TRADIÇÃO CRISTÃ:
Em
direção a uma catolicidade batista
A
presente análise é feita eminentemente sob a perspectiva bíblica e da teologia
católica apostólica romana.
É
uma obra endereçada aos irmãos protestantes, principalmente aos da denominação
batista, por se tratar de leitura de uma obra batista, para que a partir do
estudo das suas doutrinas fundamentais conheçam a doutrina cristã católica que
é conservada na Tradição Apostólica na história da Igreja.
O
livro em apreço é organizado pelos teólogos Matthew Y. Emerson, Christopher W.
Morgan e R. Lucas Stamps. É uma obra de estudiosos batistas conservadores.
Trata-se de uma apresentação fidedigna da tradição batista. A partir dessa obra
serão feitas as contribuições necessárias para o aprofundamento do tema e para
a busca da unidade católica que Jesus ensinou em João 17, 20-26. Por meio da
presente análise o leitor protestante irá compreender mais sobre a doutrina da santa
Igreja Católica Apostólica Romana.
As palavras dos eruditos
protestantes sobre a obra
Nas
palavras de Daniel L. Akin vemos que “Tradição,
credos, liturgia, resgate e catolicidade” são termos quase desconhecidos
entre os batistas. De fato, os protestantes em geral não falam em Igreja,
Tradição, Credo, Liturgia, Resgaste e Catolicidade, a não ser quando criticam a
Igreja Católica. Assim, o erudito alude ao fato de que esses termos são usados
mais comumente em sentido negativo. E afirma que o livro é de necessidade para
a teologia batista.
O
parecer de Bruce R. Ashford é de que os batistas podem manter suas
características denominacionais e encaixar-se na “tradição cristã mais ampla”,
com suas doutrinas e liturgia. Aconselha a leitura da obra.
Com
Nathan A. Finn sabemos que os batistas são vistos por outros protestantes como
sectários, e isso é reconhecido como fato, “Infelizmente, algumas vezes”,
afirma Nathan. E fala de uma visão de catolicidade tipicamente batista. Vamos
ver como isso será construído ao longo do livro. Também alude à natureza
evangélica e ecumênica dessa visão. Deve-se buscar a unidade. E o leitor verá
na análise que essa unidade leva naturalmente à aceitação da doutrina cristã
católica.
Gavin
Ortlund fala que muitos assim a palavra ‘batista’ a uma mentalidade sectária.
Portanto, mais um erudito afirmando que os batistas possuem certa fama de
sectarismo entre os protestantes. Ele afirma que “em sua maior parte” a
tradição batista está conforme a igreja histórica e global. Ou seja, há entre
os batistas aqueles que se distanciaram mais da verdade, mesmo sob a
perspectiva protestante. Os batistas possuem elementos distintivos, que são
formados pelas circunstâncias em que se originaram a denominação. E Gavin
afirma que o livro será de ajuda aos que querem ser batistas e ao mesmo tempo
manter-se em comunhão com a “tradição cristã mais ampla”. É ser batista e ter
sensibilidade católica.
No
decorrer do livro esse ponto será debatido. De fato, a Igreja Católica
Apostólica Romana tem sua tradição apostólica mantida ao longo dos séculos. O
leitor verá como fazer para que os batistas estejam de fato em unidade de fé
com a tradição cristã.
As
palavras de Amy Peeler mostra que a obra pretende mostrar o que une os batistas
a outras denominações e quer reforçar a identidade batista.
Madison
N. Pierce, seguindo esse raciocínio, alude ao desejo para que os batistas sem
mais ecumênicos, humildes e fieis. Afirma que essa obra, por exemplo,
representa o melhor da teologia batista através de seu foco nas Escrituras.
Douglas
A. Sweeney fala da catolicidade batista. Os batistas creem na Bíblia como autoridade final, mas são chamados a interpretar e aplicar os conteúdos da
Bíblia em comunhão com os santos e as instruções do passado, ou seja, em
conformidade com a tradição. No decorrer da análise o modo como isso é feito
entre os batistas será evidenciado.
O
erudito afirma que a fé batista é parte da igreja católica com c minúsculo. De
fato, está falando da igreja em sentido geral, de cristianismo. Mas também
pode-se afirmar que os batistas fazem parte da Igreja Católica, por sua fé
básica no credo apostólico, por crer em Jesus Cristo, por aceitar a maior parte
do cânon bíblico, e ter-se originado a partir de uma reforma radical iniciada
por cristãos católicos no século dezesseis, dando origem ao movimento
anabatista, que pode ser considerado com raiz mais remota dos modernos
batistas.
Depois,
Douglas afirma em outras palavras que dispensar a tradição é “receita para
heresia e pecado”. O leitor verá que só é possível desenvolver totalmente essa
verdade na tradição católica. Os batistas estão se esforçando para isso, para a
renovação da sua denominação, mas esse caminho de apropriação “das riquezas da
história da igreja”, nas palavras de Douglas, só é completamente possível na aceitação
da tradição apostólica conversada no Catolicismo.
Os
eruditos David Dockery e Timothy George são os pioneiros da catolicidade
batista. Ao mesmo tempo desejam manter a doutrina batista. Esse esforço revela
o desejo de serem considerados cristãos católicos “batistas”. A possibilidade
disso ser alcançado será objeto de estudo.
Obviamente
os autores não estão interessados em inserir-se na comunhão cristã católica
romana, mas defender sua fé entre as denominações protestantes históricas, como
a luterana, a presbiteriana, a anglicana e a metodista. Também é certo que
concebem a tradição batista como mais fiel à doutrina bíblica. Isso será
abordado.
Comentário do prefácio à edição
em português de Rafael N. Bello
A
ideia de “suspeição da tradição” é mencionada. De fato, os protestantes em
geral suspeitam da tradição, negam a tradição, criticam a tradição, e
praticamente baniram o termo de sua doutrina, aparecendo somente nas críticas à
tradição católica. Essa atitude nasceu entre os reformadores do século dezesseis,
mas atualmente tem sido revista e as igrejas protestantes, como os batistas,
desejam aprender com os santos do passado. E para isso, é necessário
conscientizar, é dever considerar os santos cristãos católicos. Então começa um
grande desafio para um cristão protestante batista.
Para
isso não basta negar que tal e tal autor da antiguidade era um católico
“romano”. Essa atitude não ajuda muito. É preciso reconhecer a riqueza,
profundidade e autoridade dos escritos dos santos padres, que vão até o século oitavo.
São muitos os tesouros que a fé apostólica possui e são expressos nessas obras.
Então, como afirmado no prefácio, a fé não é imposta, “a fé é também herança”.
Alude
também à liberdade de consciência. Os batistas nasceram como grupo perseguido,
e esse ponto é muito forte entre eles. Assim, um protestante batista tem grande
dificuldade em curvar-se a uma verdade que vem da herança da tradição. É um
obstáculo para os protestantes, e especialmente para os batistas.
Também
é afirmado que os batistas não podem negligenciar a tradição cristã. Porém, há
entre os batistas os que aderem ao que podemos chamar de Nuda Scriptura, onde os padres da Igreja são apenas os apóstolos, e
a tradição é apenas o que foi escrito na Bíblia. Obviamente esse se consideram
mais fieis à tradição batista do que os que de fato aderem ao Sola Scriptura dos reformadores, com
todos os distintivos da denominação.
A
Bíblia é a norma normans e a tradição
é a norma normata. Porém, na prática
essa questão é dificílima e muitas vezes impossível de ser um baluarte da
verdade. Os batistas advogam a liberdade de consciência, a Bíblia como
autoridade final e não devem negligenciar a tradição cristã. As denominações
cristãs devem funcionar assim, mas estão diante de uma dificuldade importante.
Para o cristão católico isso funciona bem de profundamente em consonância com a
Bíblia.
Um
exemplo hipotético. Um protestante batista estuda a Bíblia e decide-se contra a
doutrina da trindade. Não encontrará nenhum fundamento na tradição, pois a
Igreja Católica afirmou a doutrina em concílios, e mesmo as igrejas orientais e
os protestantes, incluindo a confissões batistas. Assim, deverá ser mais
prudente em sua posição. Mas, no final, poderá apelar à sua liberdade de
consciência individual e à Bíblia como autoridade final e afirmar estar certo
de suas conclusões.
Diante
disso, o mesmo parece estar conforme o que é ensinado no Protestantismo, em
suas últimas consequências. Porém, de modo prudente e humilde, o intérprete
deveria alinhar-se à tradição cristã, que com sua sabedoria formulou a doutrina
a partir de profundos estudos bíblicos, e defendeu a verdade contra as mais diversas
heresias, incluindo a mesma nas orações, na liturgia, nas decisões conciliares,
nos catecismos e mesmo nas confissões protestantes históricas. Entretanto, é
uma verdade integrante das confissões de fé batistas. O mesmo está estaria
seguro assim, mas não se pode negar que sua ideia primeira encontra brecha na
teologia protestante. Por sua vez, um cristão católico, nesse caso, não teria
qualquer possibilidade de afirmar-se como possuindo direito de sua
interpretação. É assim que percebemos o equilíbrio do sistema cristão católico.
Portanto,
o protestante, para levar logicamente o exemplo acima, no sistema cristão, à
sua correta conclusão, precisa crer que a norma
da tradição é mais autoritativa do que ele imagina.
É
o mesmo que é dito pelo erudito, que o que está resumido nos credos, por
exemplo, mostra que não é preciso fazer de novo a exegese para se extrair a
doutrina. O problema para o protestante batista é que a autoridade dos credos
“nunca é final” mas deve ser respeitada. Se a exegese foi correta, se o resumo
foi feito com base na Escritura, se se deve prosseguir a partir daquele ponto,
sem retroceder, pois é algo correto e fechado para ulteriores progressos em
novas ações morais, por exemplo, como poderia essa autoridade não ser final? Se
ele pudesse ser retocada, mexida, mudada, negada, negligenciada, seria uma
autoridade bastante pequena. No entanto, pelo exposto, ela tem revestimento da
autoridade bíblica, e, portanto, não pode ser reformada. Desse modo, o cristão
batista precisa aderir a ela com respeito e nunca tentar mudá-la. E isso serve
para todos os credos e decisões conciliares.
O
autor afirma ainda que os batistas não olham para a tradição com desconfiança,
mas com alegria. O mesmo cita Matthew Emerson a respeito da sua defesa do
credobatismo, reconhecendo que se trata de uma ruptura com a prática
tradicional, mas ao mesmo tempo um meio de afirmar a fidelidade da igreja à
Bíblia. Esse problema será abordado no aludido capítulo.
O
leitor, se for cristão batista, deverá pensar sobre sua tradição e perceber
quando ela foi formada. Assim, verá o caminho para reformar sua fé em direção à
tradição apostólica.
Aí
poderá ver os citados separatismo e biblicismo que são na verdade algo ligado à
antropologia iluminista, que baseia-se na capacidade moral e intelectual do ser
humano, ainda que afirmando está cativo à Palavra de Deus em sua interpretação,
dando origem a ideias que confrontam com a Bíblia e a Tradição.
Para
os outros protestantes, das igrejas históricas, talvez a obra irá ser de
relevância para o entendimento da tradição batista e sua relação com a tradição
mais antiga da Igreja. Para os cristãos católicos, o desejo é ver os batistas
caminhando para mais próximo da luz da verdade cristã que está na tradição
cristã. E isso exigirá deles muitas rupturas com sua tradição eclesiástica
batista.
Comentário do prefácio de Timothy
George
O
livro tratará especialmente da natureza da fé e da qualidade da prática dos
batistas. Os batistas deverão ser críticos mas indulgentes, com toda a igreja.
O autor cita o individualismo, que tem sua fundamentação no Iluminismo e no
relativismo pós-moderno. Isso ajuda a pensar nessa ênfase na liberdade de
consciência, na liberdade do indivíduo, nas diferentes interpretações da Bíblia
e das doutrinas divergentes que são relevadas como não essenciais, o que pode
ser uma influência do relativismo. O cristão batista deve continuar sua
investigação com precaução, não tendo cada afirmação da sua fé, que
alegadamente é toda bíblica, não tendo essas alegações um assentimento pronto é
rápido, mas deve pensar se o mesmo não é apenas opinião individual, baseado
nesse individualismo mencionado, e se as divergências são passadas como algo de
pouca relevância não têm a ver com o citado relativismo pós-moderno. Tudo isso
impulsiona o estudioso no caminho da verdade.
É
bom lembrar durante o estudo que os batistas são defensores da liberdade
religiosa porque foram duramente perseguidos no seu nascedouro, na Inglaterra
pré-revolucionária, como afirma Timothy. Esse comportamento tem gerado atitude
de pouco diálogo, onde a “verdade” batistas seria bíblica e as demais posições,
com maior foco as do Catolicismo são consideradas simplesmente como não-bíblicas.
O
Protestantismo tem tendo reivindicar seus fundamentos históricos como
ortodoxos. A obra em questão trata especialmente da tradição batista nesse
sentido. É mencionado o Movimento de Oxford, feito na Igreja Anglicana.
Interessante que o maior intelectual do movimento, John Henry Newman, ficou
convencido da verdade cristã católica e tornou-se católico, bispo e foi
beatificado.
O
“Lutero católico” é tema ensaiado entre os luteranos, os cristãos de Augsburgo.
O autor menciona também a obra de Nevin e Schaff, que são luteranos. Entre os
metodistas está Thomas C. Oden. Os teólogos Scott Swain e Michael Allen entre
os presbiterianos. Entre os batistas é mencionado o Center for Baptist Renewal
(Centro para a Renovação Batista), ao lado dos teólogos batistas Curtis
Freeman, Steve Harmon e Elizabeth Newman que apelam à catolicidade batista.
Vê-se
assim grande tentativa e esforço para renovação da fé por meio de sua
reavaliação em relação à tradição. É um eco da verdade cristã católica
apostólica romana que ressoa nos arraiais da Reforma Protestante.
As
palavras de Timothy mostram que os batistas precisam lembrar-se da tradição.
Costumam afirmar que são comunidade de crentes batizados, mas devem lembrar-se
da tradição cristã, e isso requer humildade. Humildade pessoal, humildade
eclesiológica. O leitor deve estudar com humildade, não pensando na resposta
que dará enquanto lê o que o contradiz, mas tentando primeiro entender o que
ainda não sabe, estudar seus fundamentos bíblicos, e só depois formular uma resposta.
Encontrando
a verdade cristã é uma forma de servir melhor a Jesus Cristo que é o Caminho, a
Verdade e a Vida.
Que
essa análise seja para a glória de Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Comentário da Introdução
Primeiro
e preciso que o protestante batista se questione o motivo natural que tem feito
crescer “o desejo por um enraizamento mais forte na tradição cristã”. Houve
tempos em que isso só era lembrado nos ataques à tradição católica. Os batistas
deveriam estar satisfeitos com sua fé “bíblica”, com seus distintivos
denominacionais. Nada de credo, nada de confissões, nada de concílios, nada de
autoridade extra-bíblica. Obviamente, de maneira virtual, a tradição da Igreja
e a própria Igreja mantinham sua autoridade, como prevê o Sola Scriptura, mas o
discurso sempre beirou ou apontou à Nuda
Scriptura.
O
ser humano organiza-se com rotinas. Assim, é comum que a liturgia chame a atenção
naturalmente. Deve haver algum elemento que perturbe essa consonância, levando
alguém a não conformar-se com a rotina diária em sua vida particular. O mesmo
se diz quando se opõe às formas litúrgicas da vida cristã comunitária.
Portanto, é normal o desejo de voltar às formas litúrgicas antigas. E mais uma
vez, o desejo sadio dessa renovação leva à unidade com a fé da Igreja Católica.
É
bom notar que aquilo que os eruditos evangélicos conservadores estão buscando,
como o resgate das fórmulas doutrinárias patrísticas e do modo de interpretar a
Bíblia, os métodos pré-críticos, bem como a maior transcendência na adoração e
a expressão robusta da fé, são todos elementos que a Igreja Católica Apostólica
Romana possui. A Igreja Católica é firme em sua patrística, é profunda na sua
interpretação bíblica, é transcendente na adoração, o que é muito perceptível e
elogiado pelos que buscam maior espiritualidade, e sua expressão de fé, e a
deseja da doutrina de sempre, é muito robusta. Parece mesmo que o que está na
Santa Igreja Católica é procurado por esses cristãos protestantes que se
propõem a servir a Deus mais firmemente e fielmente. Embora não olhem nessa
direção, que possam refletir sobre essa realidade.
Agora,
a questão da expressão “multifacetada” da fé uma vez entregue aos santos, essa
talvez seja uma área bíblica bastante pouco conhecida pelos protestantes, que
vivem de maneira intensa as divisões denominacionais. No Novo Testamento não
havia tal divergências. Havia uma Igreja e as heresias, sem comunhão alguma
entre as duas alas. No Protestantismo, por sua vez, há certa comunhão e unidade
em doutrinas fundamentais nas diversas denominações históricas.
Doutro
modo, a situação é diferente na Igreja Católica, pois a mesma é firme em sua
dogmática, e ao mesmo tempo permite uma variedade enorme e bem orientada de
expressões de fé, de ritos, espiritualidades monásticas, de pastorais, de
movimentos, etc.
Muitos
não vêem essa realidade, mas optam por focar nas divergências, como o
surgimento da Igreja Católica Brasileira, a Velha Igreja Católica, etc., que
estão fora da comunhão católica. Deve-se olhar para dentro da Igreja.
Outras
vezes falam dos sedevacantistas, que negam a autoridade do papa, o que não está
em comunhão com a fé oficial da Igreja. Assim, é preciso reconhecer a
diversidade que há na unidade, reconhecida, como entre franciscanos, dominicanos,
beneditinos, jesuítas, carismáticos, 24 as igrejas sui juris que estão em comunhão com Igreja Católica. É uma unidade
que não há no Protestantismo.
Assim,
as divergências católicas existem, e são menores em número e intensidade em comparação
com as que existem entre os protestantes. Também, e isso é mais importante, a
unidade é maior e essencialmente mais sólida na diversidade católica. A verdade
gera unidade.
Os
autores citam o grupo de batistas moderados que tentar visualizar a identidade
batista no contexto da tradição mais ampla. Mas os moderados não expressam o
parecer tradicional dos batistas.
Então,
a busca para situar melhor a fé e a prática dos batistas na tradição cristã
histórica, da parte dos batistas conservadores, é expressão no livro em
análise. Por meio dessa obra pode-se ir às fontes da autêntica identidade dos
batistas.
Nessa
busca de situar a fé batista na tradição os batistas conservadores irão tentar
fundamentar os distintivos batistas como aceitáveis e fundamentalmente
bíblicos. Certamente o batismo de crentes é um ponto inegociável, pode-se
dizer.
Essa
controvérsia lembra o tempo de Tertuliano. Esse grande escritor, enquanto
católico, expôs sua opinião teológica de que era prudente batizar apenas
aqueles que chegassem à idade de pedir o batismo. E o motivo que o levou a isso
era o número de pessoas que abandonavam a fé após batizados na infância. Porém,
sua doutrina do batismo conservava a verdade da regeneração batismal.
Entre
os batistas a questão é outra. A denominação não crê na regeneração batismal, e
assim não batizar crianças se fundamenta na crença de que o batismo, como testemunho
público de fé, só pode ser realizado nos crentes. É uma ruptura com a tradição
cristã.
Outra
questão mencionada é “o desejo de contar com um sacramentalismo mais robusto”
nas igrejas batistas. É importante lembrar que o termo sacramento é bastante
criticado entre os batistas, que preferem tradicionalmente, na denominação,
tratar os mistérios como ordenanças. Pode-se dizer que na apologética aparecem
como simples ordenanças. Concebem que são importantes e ordenadas por Cristo,
mas negam o efeito da graça por meio dos sacramentos. E a ênfase na fé e no
simbolismo levou ao esvaziamento que agora tem levado a muitos a resgatar a
antiga fé da Igreja, que sempre considerou os sacramentos sinais sensíveis da
graça.
Caso
os batistas aceitem essa verdade, de modo oficial, causarão ruptura com a
própria tradição, mas se inserirão na tradição apostólica. E muitos batistas
têm tentado resgatar a robustez do sacramentalismo. Parece que Wayne Grudem
possui uma visão mais espiritual dos sacramentos do que a tradição batista tem
permitido observar. Certamente ele faz parte dos precedentes para essa
renovação. E muitos batistas atuais creem com fé mais profunda nos sacramentos
do que os batistas de antes.
Mais
um ponto importante é a natureza da Igreja Católica. Os batistas enfatizam historicamente
a comunidade local. Mas, em nota de rodapé, o livro traz a observação de que embora
o Novo Testamento fale mais frequentemente da igreja local, também refere-se à
Igreja em sentido universal, citando Ef 1,22; 3, 21 e 5, 23. Esse ponto é
duramente debatido entre batistas há muito tempo, quando se opõem à Igreja
Católica. No entanto, trata-se de uma verdade, pois a Igreja é uma só, e assim
é Universal. Portanto, essa constatação mostra um avanço dos teólogos batistas
nessa doutrina da Igreja.
O
primeiro capítulo do livro lida com a unidade cristã na Bíblia e a forma como
os batistas entendem e “receberam” essa doutrina.
Gledson Meireles.
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