Comentário do:
Capítulo 2
BATISTAS, SOLA SCRIPTURA E O LUGAR DA TRADIÇÃO CRISTÃ
O
teólogo Rhyne P. Putman apresenta o conceito de tradição que deve ser seguido e
crido pelos batistas. É conhecido o pavor que os batistas sempre tiveram, de
forma geral, ao conceito de tradição, apelando reiteradas vezes à Escritura de
modo a rejeitar todas as demais autoridades. O biblicismo ingênio denunciado
por Kevin Vanhoozer é o mesmo que Nuda
Scriptura adotado por muitos estudiosos. É o que mostra Rhyne.
E
essa atitude batista tem levado muitos a adotar esse erro maior que flui do
princípio protestante que virtualmente se desprende do Sola Scriptura, levando à negação radical da Tradição. De fato, os
erros também veem principalmente dos teólogos protestantes. Não se trata
somente da massa comum dos crentes.
O
autor cita Alexander Campbell (1788-1866), clérigo irlandês, que se opôs
frontalmente aos credos e confissões, aderindo o que está afirmando
explicitamente na Bíblia. Esse clérigo foi batista por dezessete anos, de
1813-1830, afirma Rhyne, liderando um dos maiores cismas da história batista.
Trata-se de um problema no interior da tradição batista. E essa atitude de
Campbell comprova a crítica acima.
Muitos
apelam à Bíblia com o intuito de mostrarem-se mais fieis à mensagem cristã,
mas, como afirmam David Dockery e Timothy George, algumas vezes a afirmação
“nenhum credo além da Bíblia” significa “nem credos nem Bíblia”.
De
fato, essa constatação dos autores protestantes concorda com a crítica católica
fundamentada na verdade, pois nesse contexto o intérprete está impondo sua
própria opinião ao afirmar a sua interpretação como correta e unicamente
baseada na Sagrada Escritura contra igreja, credos, confissões, concílios.
As
influências dos batistas moderados e libertários são sinais daquilo que a
tradição protestante tem em si e que os batistas, como uma ala mais radical da
Reforma, absorvem o conceito mais contundentemente. O equívoco do princípio
protestante Sola Scriptura gera esses
desvios nas denominações protestantes.
Comentário sobre a Natureza da
Tradição
Rhyne
faz indicações oportunas e bem colocadas da influência do Iluminismo, na
teologia protestante, e é algo que o leitor deve considerar. Friedrich
Schleiermacher, pai da teologia moderna no Protestantismo, e o batista Walter
Rauschendubsch (1861-1918) rejeitaram a tradição. Schleiermacher foi um
filósofo protestante liberal.
A
afirmação de Rhyne de que “A tradição pode ser falível” é bastante complicada.
É o máximo que a teologia protestante consegue alcançar nesse quesito. De fato,
para que a tradição seja norma e ao
mesmo tempo possa ser falível, há um problema em germe que aqui e ali germina
seus erros.
O
autor afirma que o completo ceticismo a todas as formas de tradição é
insustentável. Isso mostra que há uma tradição que não merece esse completo
ceticismo. O autor certamente não tenha afirmado isso. Mas há uma tradição que
deve ser abordada com maior reverência. Trata-se da Tradição Apostólica.
O
autor mostra que a tradição é a própria fé cristã e a própria Escritura. Essa
afirmação é bastante católica, mas pode assustar os protestantes. Assim, Rhyne
explica: “Pode parecer estranho, ou até
mesmo perturbador, chamar a Escritura de “tradição”, ....”. É óbvio que
essa consideração é feita em determinado contexto, para fins de maior
conhecimento da questão estudada. Mais uma vez, como sempre, ao aprofundar no entendimento
da Palavra de Deus encontramos a verdade cristã católica.
E
ao citar um exemplo da tradição, temos um problema imperceptível entre os
protestantes, e por isso é necessário apontá-lo. O autor afirma que a tradição
preserva a memória corporativa de Israel e da Igreja, e que “a própria formação
do cânon” pelo qual a Igreja “reconheceu os sessenta e sei livros da Bíblica
como Escritura”, foi um desenvolvimento pós-bíblico da tradição.
O
problema central nessa afirmação é que a Igreja reconheceu 73 livros e não 66
livros. É correto que a tradição preserva a memória corporativa, que a formação
do cânon, que foi liderada pelo Espírito Santo, foi obra da tradição. Todo o
processo ocorreu na Igreja e não fora dela.
Assim,
sendo a tradição uma forma de preservação da memória cristã, o cânon um
reconhecimento da Igreja em tempos pós-bíblicos, a Igreja “sob a liderança do
Espírito Santo”, realizando essa tarefa, resulta que a tradição não pode errar.
Em
outras palavras: o cânon é a lista dos livros inspirados. Esses livros foram
escritos sob a inspiração do Espírito Santo no tempo dos apóstolos, pelos
apóstolos e outros colaboradores cristãos que receberam a inspiração divina.
Desse modo, sendo o processo de reconhecimento exato de quais são os livros
canônicos da Bíblia levado a cabo sob a liderança do Espírito Santo, a Igreja
não pode errar. Trata-se de um dado da tradição, que é o número de livros
bíblicos escritos no tempo apostólico, sendo definido para a Igreja, em tempos
posteriores, como conhecimento da tradição. Portanto, essa afirmação é certa e
infalível. E, ainda, sendo a competência da Igreja a definição de todos os
livros inspirados, do Antigo Testamento e do Novo Testamento, tem-se que o
cânon é uma decisão infalível, integrante da Tradição Apostólica. Essa
constatação é bíblica, teológica e histórica. O protestante não pode
fundamentar o cânon de 66 livros pela Bíblia, pela teologia e pela história,
como feito acima. E, portanto, esse é o momento de decisão para o estudioso da
fé cristã, que é reconhecer a inspiração de todos os 73 livros da Bíblia.
E
continuando, afirma que a Escritura contém e transmite a tradição. E nesse
ponto, o autor incumbe-se de explicar que os escritores bíblicos não apenas
usam a tradição para opôr-se a ela, mas também para descrever a recepção do
próprio ensino cristão. Assim, o que é comum na apologética batista, que é a
citação de textos como Mt 15, -19 e Mt 7, 1-13 para negar a tradição, o autor
mostra os textos citados pelos cristãos católicos para defender a tradição
apostólica, como 2 Tm 1, 13-14; 2 Ts 2, 15 e 1 Cor 11, 2. É um avanço no estudo
teológico e para a maior unidade cristã.
Como
falando da tradição há algo que o autor escreve e que é desconhecido pelos
protestantes em geral, ou seja, que as tradições são escritas na Palavra de
Deus e a tradição é a única forma de acesso ao passado. Obviamente, essas
palavras são entendidas pelos eruditos protestantes como sendo a tradição tudo
o que foi escrito na Bíblia, mas pelo contexto geral do assunto podemos ver que
a tradição contém algo mais do que isso, pois a mesma não identifica-se
totalmente com o texto bíblico, mas contem mais informações, como o cânon
bíblico já mencionado.
E,
por fim, afirma o autor, a tradição cristã envolve a interpretação e a
aplicação da Bíblia. Essa é a mesma doutrina da Igreja Católica, e pode ser
lida na constituição Dei Verbum.
E
quanto à linguagem para explicar a doutrina, a explicação do autor deixa clara
a fidelidade da Igreja na formulação dos credos.
Temos
até aqui a autoridade da tradição, como norma para os cristãos, a sua
fundamentação bíblica, a autenticidade dos credos antigos, reconhecidos pelos
protestantes batistas conservadores.
Há
ainda que entender a tradição como infalível, como mostrado acima, e contendo
informações que servem para o conhecimentob bíblico, como o próprio cânon, algo
que virtualmente já está esboçado na apresentação do autor protestante, mas
precisa de certas correções.
Os
protestantes afirmam que há duas versões para o entendimento da Tradição na
Igreja Católica. Segundo Heiko Oberman, a Tradição I seria apenas uma tradição
interpretativa, e seria tacitamente ensinada pelos padres da Igreja. A Tradição
II seria a tradição como uma fonte ao lado da Bíblia, e essa seria o ensino de
São Basílio (330-379).
Rhyne
reconhece que São Vicente de Lérins ensinava a suficiência material da Bíblia e
a necessidade da interpretação infalível da Igreja. E isso é verdadeiro, pois
reflete o ensino de São Vicente. Também afirma que o Catecismo da Igreja Católilca
parece ensinar a mesma posição, onde Tradição e Escritura seriam duas fontes de
doutrina.
A
posição protestante é que as demais fontes como tradição, razão, cultura ou
experiência são ferramentas pálidas em comparação com a autoridade infalível das
Escrituras.
Diante
disso, é preciso afirmar a posição católica para que o protestante possa
avançar em sua reflexão. Os católicos não creem que haja alguém inspirado para
ensinar a verdade da revelação divina. Não há um grupo de cristãos inspirados,
mas há um magistério, formado por cristãos, em que repousa a promessa de Cristo
para ensinar toda a verdade, e nesse sentido podem ensinar a verdade, sem serem
individualmente infalíveis. O estudo, a pesquisa, a reflexão teologia, os
debates, etc., fazem parte dos concílios, e a ação do Espírito Santo garante a
verdade salvífica. Portanto, não se trata de ensinar algo que não seja em favor
da salvação, mas apenas questões salvíficas. Assim, são assuntos de fé e moral.
Nesse
caso, a tradição é conhecida e a autoridade do magistério não pode ser pálida,
mas deve refletir a afirmação bíblica de que a Igreja é coluna e sustentáculo
da verdade (1 Tm 3, 15). A nossa fé está em Jesus Cristo, Autor da fé, segundo
as Escrituras.
O
capítulo 3 da carta a Timóteo começa com a menção do dom do sacerdócio
episcopal. Trata daqueles que aspiram ao episcopado. São Paulo afirma que é uma
função sublime. E continua a mostrar
as características do bispo: ser irrepreensível, pois ensinará a outros. Ser
casado uma só vez, ou seja, não pode ter sido casado antes, como um viúvo que
casou novamente. Não se trata aqui de uma norma para o casamento dos bispos,
pois o próprio apóstolo são Paulo não era casado. Também deve ser sóbrio,
prudente, regrado no seu proceder, hospitaleiro, capaz de ensinar.
Caso
seja casado, como eram muitos bispos no início da Igreja, devem ser castos
também, ou seja, honrosos, dignos. Também não devem ser recém convertidos.
O
texto continua a falar dos diáconos. E o verso 15 é uma afirmação geral, que
mostra a natureza da Igreja, a qual Timóteo deve saber como portar-se: a Igreja
é do Deus vivo, e a coluna e sustentáculo da verdade. Sendo coluna e
sustentáculo em essência, não pode ser pálida, não pode falhar de modo geral e
na expressão da fé para o ensino de todos.
A
Escritura fala da Igreja em 1 Timóteo 3, 15. Agora, na segunda carta, em 2 Tm
3, 16-17, temos que a Escritura agora fala de si mesma: “Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para
repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se
torna perfeito, capacitado para toda boa obra”.
Temos
a afirmação direta de que toda a Escritura é inspirada por Deus. Ela é útil
para o ensino, para a correção, para a formação na justiça de Deus. Por meio
dela, ou seja, por seu ensino crido e praticado, o homem de Deus é aperfeiçoado
e se torna capaz para toda boa obra.
Antes,
porém, São Paulo apresenta o seu exemplo de ensino e vida a São Timóteo, no
versículo 10: “Tu, pelo contrário, te
aplicas a seguir-me de perto na minha doutrina, no meu modo de vida, nos meus
planos, na minha fé, na minha paciência, na minha caridade, na minha
constância.”
Desse
modo, temos mais uma vez a autoridade da Bíblia, falando de si mesma, e da
Igreja, a qual conserva a Palavra de Deus. As afirmações são categóricas: a
Igreja do Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade. E: Toda a Escritura é
inspirada por Deus.
Para
formular essa doutrina, temos que a Igreja ensina e deve ensinar a Palavra de
Deus que está na Sagrada Escritura. E a Escritura não coloca condicional
nenhum, mas garante que isso ocorre.
Em
Efésios 4, 11-15 a Bíblia ensina que a Igreja possui autoridade que Deus
institui para “o aperfeiçoamento dos cristãos”. É isso o mesmo que é dito sobre
a utilidade da Escritura. Tornar o homem perfeito. A Igreja é constituída para
esse aperfeiçoamento. Portanto, a Igreja ensina o que está na Escritura, ou
seja, a Igreja ensina o verdadeiro sentido da Escritura.
A
Bíblia é útil para corrigir. Isso inclui a correção dos erros doutrinais e dos
pecados (2 Tm 2, 16). E a Igreja tem essa tarefa, pois ensina para a unidade da
fé (Ef 4, 14). Como pela Escritura o homem é capacitado para toda boa obra.
Essa função é realizada pela Igreja, que por meio de Cristo, para a plena
edificação na caridade. Se é plena, não fala coisa alguma. Toda boa obra e
plena edificação na caridade. Portanto, Bíblia e Igreja. E também a Tradição
Apostólica.
Os
versos 15-16 afirmam: Mas, pela prática
sincera da caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a Cabeça,
Cristo. É por ele que todo o corpo – coordenado e unido por conexões que estão
ao seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe é própria –
efetua esse crescimento, visando à sua plena edificação na caridade.
Em
nenhum momento o cristão interpreta a Bíblia fora da comunhão da tradição e
autoridade da Igreja.
A
respeito da suficiência formal, isso não é possível em relação a toda a
doutrina da Escritura, mas apenas ao que é mais simples: Jesus é o salvador, e
é preciso crer nele e obedecê-lo para ser salvo. Eis um exemplo.
Igreja
não tem autoridade para estabelecer novas doutrinas, mas para explicitar o que
já está na Bíblia e na tradição. Assim, a Igreja não pode instituir novos
artigos de fé contra a fé antiga. A crítica de Lutero estava correta. O
problema é entender que a doutrina da Igreja Católica não institui novos
artigos de fé.
Quanto
à atitude de Lutero ao criticar pontos doutrinais do concílio de Niceia, é
preciso saber que isso era feito por Lutero ao ler todas os escritos patrísticos
e concílios, a até mesmo livros inspirados. Desse modo, parece certo afirmar
que Lutero desrespeitou a Palavra de Deus quanto fez essas distinções do que é
evangelho e do que não serve para nada, como fez nos textos conciliares, e
certamente na própria epístola de São Tiago, a qual chamou de epístola de
palha. De fato, em São Tiago há afirmações contundentes que atingem a doutrina
de Lutero na base.
O
autor reconhece a autoridade da Igreja. Cita John Smith (1570-1612) como o
primeiro batista geral. John Smith de fato, deve-se reconhecer, é considerado
como fundador da Igreja Batista.
Os
batistas procuram fundamentar suas doutrinas com recursos da tradição, embora
reconheçam que não tem os elementos da tradição como infalíveis. Assim, Thomas
Grantham (1634-1692) é citado como defensor da fé batista ante a Igreja
Anglicana.
É
certo fazer recortes que reforçam determinada doutrina, usando citações da tradição
para a defesa de determinado ponto de vista. Todos os grupos cristãos fazem
isso, de alguma forma, mesmo os mais radicais, aqueles que apelam à Escritura
sozinha para fundamentar suas doutrinas.
No
entanto, deve-se reconhecer que as fontes citadas da patrística possuem no seu
tom geral a mesma doutrina católica, e não apenas uma ideia que parece
transparecer em determinado texto e favorecer certa interpretação.
Por
exemplo, para defender a doutrina da justificação em termos forense não é fácil
para um protestante, e isso é reconhecido pelos maiores estudiosos do assunto
no Protestantismo. De fato, os santos padres não falam da doutrina como a mesma
é entendida no Protestantismo, porque a Bíblia também não ensina a doutrina.
Outro
exemplo é santo Agostinho, que pode ter certas expressões não adotadas
oficialmente na Igreja Católica, mas o teor geral da sua obra é cristão
católico, e por isso o mesmo é um doutor da Igreja. Sua eclesiologia, por
exemplo, é contrária à doutrina calvinista. Assim também quando ensina os
sacramentos. Sua doutrina da predestinação, embora tenha sido aceita quase
totalmente pelos calvinistas, possui pontos de discordância, por isso o doutor
da graça permanece fiel à fé católica.
Entre
os batistas a tradição tem sido esquecida formalmente, ainda que os teólogos
mais cônscios acreditem na importância da tradição em certo sentido. Assim,
Rhyne fala da “Amnésia e suspeição” em relação à tradição. Ele reconhece que o
leitor da Bíblia a lê pelas lentes da tradição.
Como
os batistas se colocam intelectualmente nesse problema todos entre a tensão que
há no Protestantismo entre tradição e Bíblia e de forma especial essa recusa prática
da tradição no meio batista? O entendimento é que há a Tradição, com T
maiúsculo, como ensinam os teólogos católicos, referindo-se à Tradição
Apostólica, e as tradições com t minúsculo, que são próprios de cada tempo e
lugar, cultura e costumes singulares de uma tradição eclesiástica local, por
exemplo. Mas os batistas consideram-se como um grupo que possui uma tradição
teologia distintiva, com t minúsculo, que se une à tradição mais ampla e comum
da antiguidade. Sendo assim, a teologia batista se firma e pode nutrir seus
adeptos de modo a estarem psicologicamente seguros de manterem a ortodoxia da
fé cristã. Contudo, há um limite para essa opinião, já que ao desenvolver o princípio
é certo que os batistas possuem um problema a ser resolvido.
A
tradição batista, assim como a tradição protestante, se firma também na
tradição antiga da Igreja, dos primeiros séculos, aceitando a autoridade dos
concílios, de certo modo, até o quinto século. Mas, como adeptos do sola Scriptura há um elemento que sempre
causa ruptura, pois crendo na Bíblia como única fonte de revelação infalível,
não creem na tradição como contendo a Palavra de Deus infalível e não confiam
no magistério em suas promulgações infalíveis. Se o sentido da Palavra é
explicado pela Igreja e essa pode sempre estar errada, a fé está batista sobre
a areia movediça.
A
Igreja Católica Apostólica Romana não é um exemplo de tradição com t minúsculo
no meio de muitas outras tradições, mas é aquela Igreja que mantém a Tradição
com T maiúsculo e comporta em si muitas tradições com t minúsculo. Essa
Tradição mais ampla deve ser crida e confessada por todos os cristãos.
A
posição de E. Y. Mullins (1860-1928) dá espaço a rupturas entre os batistas, e
essas deveriam ser aceitas. Ele afirma a posição batista de nunca permitir que
outros credos fossem impostos sobre si. “Se um grupo de homens conhecidos como
batistas..” se veem como certos em pontos doutrinais que negam doutrinas da
igreja que frequentam, não deveriam ser incomodados e esses poderiam “se unir a
outro grupo que concorde com eles”. Essa liberdade de deixar o grupo e se unir
a outro todos possuem em todas as denominações. No entanto, como o modelo
apostólico sempre foi o de corrigir na fé, alguém que na Igreja Católica se oponha
a algum ensino será advertido e caso não se submeta será declarado herege, como
faz todo o Novo Testamento.
O
autor concorda que a Igreja deve explicar a Bíblia, e cita Neemias 8, 8, como
sempre é feito na teologia e apologética católica. Esse avanço no entendimento
da tradição e do magistério é benéfico a todos os protestantes. Esse ponto se
aproxima da verdade católica. Verdades que os batistas não viam no texto
bíblico, e eram desafiados pelos apologistas católicos a partir dos mesmos, são
agora apresentados como importantes: os levitas explicaram ao povo o sentido da
Palavra lida, o eunuco etíope precisou de explicação da Escritura. E deve-se
notar que se tratou de tema importante na Escritura, que tinha a ver com o
próprio Senhor Jesus, e “Pedro reconheceu o desafio de entender as cartas de
Paulo”. Esse é um grande avanço na teologia dos batistas.
Cabe
perceber que se o magistério for sempre falível então sempre haverá
possibilidade de ruptura que nasce dessa brecha na teologia batista, ainda que
se tenha o cuidado de não negligenciar ou ignorar a tradição. O exemplo da
autoridade derivativa da tradição permite mais uma reflexão, pois como a luz do
sol que se reflete na lua, deve fazer pensar de outro modo: a luz da lua é
necessária na escuridão da noite, como diz o autor, mas é preciso também
entender que essa luz que é “refletida” não é outra que a do mesmo Sol
infalível que é Deus em Sua Palavra na Bíblia, e sendo ela um reflexo na luz
não pode ser senão crida com total reverência. Assim, a Tradição é Palavra de Deus.
É
verdade que a única fonte escrita inspirada é a Bíblia. A Tradição precisa ser interpretada.
Mas tal interpretação vem pela Igreja que a Bíblia ensina ser a coluna da verdade.
Isso deve ser crido por todos os cristãos. O leitor batista deverá estar pronto
para crer nesse desdobramento do ensino bíblico.
O
leitor protestante deve-se questionar como a Igreja Católica possui esses
arrazoados tão corretos, se para a Reforma essa Igreja teria se desviado do
evangelho.
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