terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

O purgatório e a citação de Joseph Ratzinger

 

A doutrina do purgatório chegou à sua forma definitiva nos concílios da Idade Média. A doutrina é histórica, tem lugar importante na Igreja cristã, e é um ponto importante na “problemática ecumênica”. Isso tem a ver com a Igreja do Ocidente e da do Oriente.

Foi algo já atacado nos tempos medievais e na Reforma Protestante. Mas não da mesma forma. Os cristãos ortodoxos criam mais apropriadamente na realidade do purgatório. Os cristãos protestantes rechaçaram a doutrina. Isso mostra que a doutrina protestante é uma novidade.

É interessante o que o eminente teólogo Ratzinger afirma: nos textos oficiais não se encontra a expressão fogo purificador. Pode-se dizer disso, que o fogo é uma imagem bíblica, que levou à ideia do fogo purificar. E também o purgatório como lugar não aparece nas afirmações conciliares. No entanto, como observa Ratzinger, isso está suposto na expressão in purgatório.

Oficialmente a Igreja é contrária à sutilidade, à mera curiosidade e à superstição. Assim, deve-se ao máximo expor a doutrina em sua simplicidade bíblica. E essa é bastante resumida.

Ratzinger mostra que as primeiras raízes do purgatório estão “no âmbito do judaísmo primitivo”.

Os judeus se relacionam com outras ideias sobre o além e com a religiosidade greco-romana, mas a doutrina do purgatório não tem essas ideias provenientes dessas fontes. São elementos comuns dos judeus que se relacionam com outras culturas.

Eram fluidos os elementos do judaísmo e do cristianismo, formando uma mesma tradição. Os caminhos do Oriente e do Ocidente foram diversos. Mas a tradição é a mesma.

Tertuliano falou do purgatório. E quando tornou-se montanista, escreveu sobre o mesmo interpretando Mt 5, 26. Assim, mostra que esse texto é entendido tradicionalmente como tratando do purgatório.

O cárcere é uma palavra grega usada no sentido também de hades. Em sua doutrina rigorista (de Tertuliano) o purgatório seria então para todos.

São Cipriano explicou a ideia do purgatório sem a ênfase rigorista de Tertuliano, e de modo cristão. O desenvolvimento ulterior da doutrina do purgatório no Ocidente se deu sem relação com a antiga filosofia, mas apenas com a fé popular e antiga fé cristã.

Com São Clemente de Alexandria ocorre algo distinto totalmente, enquanto disputava com a gnose e com a tradição filosófica grega.

A diferença entre oriente e ocidente é apenas de desenvolvimento, onde o Ocidente seguiu desenvolvendo até definir a doutrina, enquanto que no Oriente a mesma se encontra em São João Crisóstomo sem maiores explicações.

A oração pelos mortos é um dado da tradição judaico-cristã. Os santos julgam. A intercessão é um aspecto desse julgar. Talvez mesmo o texto de Eclesiástico 7, 33 fale do purgatório.

O dado fundamental do purgatório jamais foi negado na Igreja, tanto no Ocidente como no Oriente. Somente se duvidou dele na Reforma Protestante. Podemos e devemos orar pelos mortos. A forma e os fundamentos da doutrina ocidental estão enraizados em uma tradição mais antiga e em motivos centrais da fé. Isso foi mostrado pelo cardeal Ratzinger na obra Escatologia.

Para responder ao pastor adventista Thomas:

1) Joseph Ratzinger representa o Catolicismo.

A citação que o pastor apresenta diz o seguinte:

a imagem do fogo em 1 Cor 3, 15 “foi interpretada” pelos padres da Igreja, ou seja, essa imagem é expressa como entendida por eles, “em parte”, à luz das concepções filosóficas especialmente no platonismo e no estoicismo. Eles usaram meios filosóficos para falar da ideia bíblico do purgatório.

 2) Ele não afirma que a doutrina vem do paganismo, mas que seu desenvolvimento teve influências no que tange à apresentação da doutrina, na interpretação à luz do platonismo e do estoicismo “em parte”, usando de termos, ideias, palavras, comparações, etc., que havia naqueles campos, mas “em parte” também e mais profundamente, pois é o fundamento, “em parte” na Bíblia. Assim, ele não afirma que a doutrina veio do paganismo. Pelo contrário, quem lê sua obra vê claramente o que foi exposto acima. E, afinal, é claro que Ratzinger afirma que a doutrina é bíblica, pois vem da tradição judaica e cristã.

A Bíblia tem o fundamento para o purgatório. A elaboração foi em 1439. A doutrina do purgatório se entende a partir da cristologia.

A citação da obra de Ratzinger não favorece em nada a doutrina protestante.

Em primeiro lugar, é necessário entender a doutrina da imortalidade da alma. Somente depois entender a profundidade da doutrina do purgatório.

Desse modo, o argumento do pastor não procede.

Gledson Meireles.

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