A
doutrina do purgatório chegou à sua forma definitiva nos concílios da Idade
Média. A doutrina é histórica, tem lugar importante na Igreja cristã, e é um
ponto importante na “problemática ecumênica”. Isso tem a ver com a Igreja do
Ocidente e da do Oriente.
Foi
algo já atacado nos tempos medievais e na Reforma Protestante. Mas não da mesma
forma. Os cristãos ortodoxos criam mais apropriadamente na realidade do
purgatório. Os cristãos protestantes rechaçaram a doutrina. Isso mostra que a
doutrina protestante é uma novidade.
É
interessante o que o eminente teólogo Ratzinger afirma: nos textos oficiais não
se encontra a expressão fogo purificador. Pode-se dizer disso, que o fogo é uma
imagem bíblica, que levou à ideia do fogo purificar. E também o purgatório como
lugar não aparece nas afirmações conciliares. No entanto, como observa
Ratzinger, isso está suposto na expressão in
purgatório.
Oficialmente
a Igreja é contrária à sutilidade, à mera curiosidade e à superstição. Assim,
deve-se ao máximo expor a doutrina em sua simplicidade bíblica. E essa é
bastante resumida.
Ratzinger
mostra que as primeiras raízes do purgatório estão “no âmbito do judaísmo
primitivo”.
Os
judeus se relacionam com outras ideias sobre o além e com a religiosidade greco-romana,
mas a doutrina do purgatório não tem essas ideias provenientes dessas fontes.
São elementos comuns dos judeus que se relacionam com outras culturas.
Eram
fluidos os elementos do judaísmo e do cristianismo, formando uma mesma
tradição. Os caminhos do Oriente e do Ocidente foram diversos. Mas a tradição é
a mesma.
Tertuliano
falou do purgatório. E quando tornou-se montanista, escreveu sobre o mesmo
interpretando Mt 5, 26. Assim, mostra que esse texto é entendido
tradicionalmente como tratando do purgatório.
O
cárcere é uma palavra grega usada no sentido também de hades. Em sua doutrina rigorista (de Tertuliano) o purgatório seria
então para todos.
São
Cipriano explicou a ideia do purgatório sem a ênfase rigorista de Tertuliano, e
de modo cristão. O desenvolvimento ulterior da doutrina do purgatório no
Ocidente se deu sem relação com a antiga filosofia, mas apenas com a fé popular
e antiga fé cristã.
Com
São Clemente de Alexandria ocorre algo distinto totalmente, enquanto disputava
com a gnose e com a tradição filosófica grega.
A
diferença entre oriente e ocidente é apenas de desenvolvimento, onde o Ocidente
seguiu desenvolvendo até definir a doutrina, enquanto que no Oriente a mesma se
encontra em São João Crisóstomo sem maiores explicações.
A
oração pelos mortos é um dado da tradição judaico-cristã. Os santos julgam. A
intercessão é um aspecto desse julgar. Talvez mesmo o texto de Eclesiástico 7,
33 fale do purgatório.
O
dado fundamental do purgatório jamais foi negado na Igreja, tanto no Ocidente
como no Oriente. Somente se duvidou dele na Reforma Protestante. Podemos e
devemos orar pelos mortos. A forma e os fundamentos da doutrina ocidental estão
enraizados em uma tradição mais antiga e em motivos centrais da fé. Isso foi
mostrado pelo cardeal Ratzinger na obra Escatologia.
Para
responder ao pastor adventista Thomas:
1) Joseph
Ratzinger representa o Catolicismo.
A
citação que o pastor apresenta diz o seguinte:
a
imagem do fogo em 1 Cor 3, 15 “foi interpretada” pelos padres da Igreja, ou
seja, essa imagem é expressa como entendida por eles, “em parte”, à luz das
concepções filosóficas especialmente no platonismo e no estoicismo. Eles usaram
meios filosóficos para falar da ideia bíblico do purgatório.
2) Ele
não afirma que a doutrina vem do paganismo, mas que seu desenvolvimento teve
influências no que tange à apresentação da doutrina, na interpretação à luz do
platonismo e do estoicismo “em parte”, usando de termos, ideias, palavras,
comparações, etc., que havia naqueles campos, mas “em parte” também e mais
profundamente, pois é o fundamento, “em parte” na Bíblia. Assim, ele não afirma
que a doutrina veio do paganismo. Pelo contrário, quem lê sua obra vê
claramente o que foi exposto acima. E, afinal, é claro que Ratzinger afirma que
a doutrina é bíblica, pois vem da tradição judaica e cristã.
A
Bíblia tem o fundamento para o purgatório. A elaboração foi em 1439. A doutrina
do purgatório se entende a partir da cristologia.
A
citação da obra de Ratzinger não favorece em nada a doutrina protestante.
Em
primeiro lugar, é necessário entender a doutrina da imortalidade da alma.
Somente depois entender a profundidade da doutrina do purgatório.
Desse
modo, o argumento do pastor não procede.
Gledson Meireles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário