quinta-feira, 5 de outubro de 2023

As raízes judaicas da Igreja Católica Apostólica Romana: qual a diferença com a Igreja Adventista do Sétimo Dia?


Esse é um assunto interessante, e muito. De fato, a Igreja Católica começa com a pregação e Jesus Cristo, que era judeu, e foi continuada pelos apóstolos, todos judeus, e mais outros líderes importantes dos primeiros séculos, os bispos, em maioria judeus também.

A sede da Igreja Católica foi primeiramente Jerusalém, a cidade de Davi, portanto, o centro judaico do mundo.

E o que a Igreja de fato possui de suas raízes judaicas? E o que a Igreja Adventista, nascida no século dezenove, após o movimento milerita, o que essa Igreja possui de judaico, e quais as suas prerrogativas para reivindicar estar correta sua posição?

É preciso entender como o judaísmo desenvolveu-se durante os séculos, até chegar ao nascimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia, e como foi esse processo todo, vivido pela Igreja Católica Apostólica Romana. Entendendo isso, já se pode essencialmente resolver a questão.

De fato, a Igreja Católica sucede o Judaísmo, não como substituição, mas como desenvolvimento. Os judeus que aceitaram o Messias, o Cristo, permaneceram na mesma religião, agora chamada cristã.

No entanto, o que deveriam fazer? Deveriam continuar iguais em sua fé, em suas práticas, apenas adotando a pregação do evangelho? Poderiam continuar com os sacrifícios antigos? Isso não.

Então, poderiam continuar a circuncisão e ensinar que esse sinal é para todos os que deverão servir a Deus? Também não. Isso sugere que há diferenças a partir da vinda de Jesus.

Mas, o que muitos pensam, é que se deveria continuar com muitas coisas que os judeus faziam, como a guarda do sábado, mesmo a circuncisão, entre os que assim quiserem, com a distinção entre alimentos puros e impuros, e outras observâncias.

Se assim fosse, as igrejas deveriam ser chamadas ainda de sinagogas, e a arquitetura continuar idêntica, assim como a forma de culto antigo, pois não há ordens expressas para mudanças nessas áreas.

Será mesmo que com exceção da circuncisão, os cristãos continuaram plenamente com a fé judaica? Em certo sentido, como explicado acima, sim, já que o desenvolvimento da religião judaica até a vinda de Cristo exigia muitas mudanças, do tipo ao antítipo, etc. Se for pensado que tudo o mais continuou idêntico, ou deveria continuar, como a guarda do sétimo dia, no sábado semanal, a proibição de carne de porco, de peixes de couro, de animais com casco não fendido, etc, isso não é simples assim.

Portanto, não é simples afirmar que a fé dos cristãos era plenamente judaica, quando se excetua a circuncisão.

De fato, em Atos 15 a circuncisão é entendida em Concílio como não obrigatória aos gentios, mas em Atos 16 São Paulo acha oportuno circuncidar Timóteo, “por causa dos judeus”, para não causar mais divisões, embora o rito em si estivesse abolido.

Outro fato era que os cristãos não se reuniam nas sinagogas como se nada tivesse mudado, mas iam aos sábados nas sinagogas para falar de Jesus. E em várias passagens bíblicas é sugerido que suas reuniões cristãs se davam em outros momentos e seguiam moldes novos. Também, os ritos já eram outros, como o batismo, a imposição das mãos, etc. Mesmo nas práticas que antes eram bastante claras, como não comer na casa dos gentios, nem mesmo lá entrar, foi deixado de lado, o que sugere fortemente que os cristãos já estavam livres para alimentarem-se de do cardápio oferecido por cristãos de origem gentia, sem problema. Basta ler as implicações de Atos 10.

Por isso, a guarda do sábado não era mais enfatizada, mas também não havia oposição a ela, a não ser que se tratasse o sábado do sétimo dia como algo perene. Então, deve-se ler o que ensina Cl 2, 16. Assim, os cristãos podiam frequentam o templo, ir às orações judaicas nas horas de costume, ir às sinagogas, serem circuncidados, fazer votos, não comer alimentos antes considerados impuros, etc., desde que entendendo que tais práticas não mais são obrigatórias aos cristãos.

Assim, as questões foram acentuando-se ao longo das décadas e séculos, e não é a diferença de liderança que explicam as diferentes posições quanto ao judaísmo no decorrer do tempo, mas as novas circunstâncias, que fomentaram outras discussões e foram aos poucos preparando o lugar para maiores divisões entre os judeus não crentes e os cristãos.

É certo que o centro cristão deixou de ser Jerusalém, e passou a ser Roma, por pura providência divina. A oliveira santa continuou ser a mesma, e os que seguiram a Cristo foram enxertados nela, ou nela permaneceram, no caso dos judeus justos e santos, como o justo e piedoso Simeão e a profetiza Ana.

É certo também que os cristãos não iam ao templo para celebrarem os mistérios cristãos, que faziam somente entre os convertidos, mas iam ao templo por costume, e para anunciar o evangelho. Não mais seguiam os votos, as leis dietéticas, o sábado, a circuncisão, como se a isso fosse obrigados, mas celebravam a ceia do Senhor, o batismo, a imposição das mãos, a unção dos enfermos com óleo, a nova páscoa onde Cristo é o Cordeiro imolado, o mandamento do amor a Deus e ao próximo resumindo toda a Lei.

Isso é muito católico, e pouco adventista. Por certo, a Igreja Adventista entende ser necessário continuar a guardar o sábado do sétimo dia semanal, a evitar a carne de porco e outras leis do Antigo Testamento, que interpretam como atuais. Isso é fruto de seus estudos e entendimento surgidos no século dezenove, mas não coincide com o que levou a Igreja a esclarecer essas questões com o desenrolar dos anos.

Santo Epifânio explica que os “nazarenos” separaram-se dos cristãos. Eles guardavam a Lei, praticavam a circuncisão, como cristãos, e certamente essa era sua doutrina. Portanto, eles eram um grupo à parte, que os cristãos consideram judeus que pregavam o nome de Cristo, e não cristãos de fato.

Então, o sábado, as leis dietéticas, a doutrina sobre a morte da alma, e sobre a inexistência do inferno, não são raízes judaicas que a IASD possui, mas entendimentos de outras fontes que nasceram em alguma data da história e que foram importantes para a formação do adventismo.

Por sua vez, a Igreja Católica mantem o que a Bíblia mostra como o que de fato deve continuar entre os cristãos, e para isso basta ver como são semelhantes as observâncias e modo de vida católicos e judaicos, como a arquitetura, símbolos, orações.

Gledson Meireles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário