Esse é um assunto
interessante, e muito. De fato, a Igreja Católica começa com a pregação e Jesus
Cristo, que era judeu, e foi continuada pelos apóstolos, todos judeus, e mais
outros líderes importantes dos primeiros séculos, os bispos, em maioria judeus
também.
A sede da Igreja
Católica foi primeiramente Jerusalém, a cidade de Davi, portanto, o centro
judaico do mundo.
E o que a Igreja de
fato possui de suas raízes judaicas? E o que a Igreja Adventista, nascida no
século dezenove, após o movimento milerita, o que essa Igreja possui de
judaico, e quais as suas prerrogativas para reivindicar estar correta sua
posição?
É preciso entender como
o judaísmo desenvolveu-se durante os séculos, até chegar ao nascimento da
Igreja Adventista do Sétimo Dia, e como foi esse processo todo, vivido pela
Igreja Católica Apostólica Romana. Entendendo isso, já se pode essencialmente
resolver a questão.
De fato, a Igreja
Católica sucede o Judaísmo, não como substituição, mas como desenvolvimento.
Os judeus que aceitaram o Messias, o Cristo, permaneceram na mesma religião,
agora chamada cristã.
No entanto, o que
deveriam fazer? Deveriam continuar iguais em sua fé, em suas práticas, apenas
adotando a pregação do evangelho? Poderiam continuar com os sacrifícios
antigos? Isso não.
Então, poderiam
continuar a circuncisão e ensinar que esse sinal é para todos os que deverão
servir a Deus? Também não. Isso sugere que há diferenças a partir da vinda de
Jesus.
Mas, o que muitos
pensam, é que se deveria continuar com muitas coisas que os judeus faziam, como
a guarda do sábado, mesmo a circuncisão, entre os que assim quiserem, com a
distinção entre alimentos puros e impuros, e outras observâncias.
Se assim fosse, as
igrejas deveriam ser chamadas ainda de sinagogas, e a arquitetura continuar
idêntica, assim como a forma de culto antigo, pois não há ordens expressas para
mudanças nessas áreas.
Será mesmo que com
exceção da circuncisão, os cristãos continuaram plenamente com a fé judaica? Em
certo sentido, como explicado acima, sim, já que o desenvolvimento da religião
judaica até a vinda de Cristo exigia muitas mudanças, do tipo ao antítipo, etc.
Se for pensado que tudo o mais continuou idêntico, ou deveria continuar, como a
guarda do sétimo dia, no sábado semanal, a proibição de carne de porco, de
peixes de couro, de animais com casco não fendido, etc, isso não é simples
assim.
Portanto, não é simples
afirmar que a fé dos cristãos era plenamente judaica, quando se excetua a
circuncisão.
De fato, em Atos 15 a
circuncisão é entendida em Concílio como não obrigatória aos gentios, mas em
Atos 16 São Paulo acha oportuno circuncidar Timóteo, “por causa dos judeus”,
para não causar mais divisões, embora o rito em si estivesse abolido.
Outro fato era que os
cristãos não se reuniam nas sinagogas como se nada tivesse mudado, mas iam aos
sábados nas sinagogas para falar de Jesus. E em várias passagens bíblicas é
sugerido que suas reuniões cristãs se davam em outros momentos e seguiam moldes
novos. Também, os ritos já eram outros, como o batismo, a imposição das mãos,
etc. Mesmo nas práticas que antes eram bastante claras, como não comer na casa
dos gentios, nem mesmo lá entrar, foi deixado de lado, o que sugere fortemente
que os cristãos já estavam livres para alimentarem-se de do cardápio oferecido
por cristãos de origem gentia, sem problema. Basta ler as implicações
de Atos 10.
Por isso, a guarda do
sábado não era mais enfatizada, mas também não havia oposição a ela, a não ser
que se tratasse o sábado do sétimo dia como algo perene. Então, deve-se ler o que
ensina Cl 2, 16. Assim, os cristãos podiam frequentam o templo, ir às orações judaicas nas horas de costume, ir às sinagogas, serem circuncidados, fazer votos, não comer alimentos antes considerados impuros, etc., desde que entendendo que tais práticas não mais são obrigatórias aos cristãos.
Assim, as questões
foram acentuando-se ao longo das décadas e séculos, e não é a diferença de
liderança que explicam as diferentes posições quanto ao judaísmo no decorrer do
tempo, mas as novas circunstâncias, que fomentaram outras discussões e foram
aos poucos preparando o lugar para maiores divisões entre os judeus não crentes
e os cristãos.
É certo que o centro
cristão deixou de ser Jerusalém, e passou a ser Roma, por pura providência divina.
A oliveira santa continuou ser a mesma, e os que seguiram a Cristo foram
enxertados nela, ou nela permaneceram, no caso dos judeus justos e santos, como
o justo e piedoso Simeão e a profetiza Ana.
É certo também que os
cristãos não iam ao templo para celebrarem os mistérios cristãos, que faziam
somente entre os convertidos, mas iam ao templo por costume, e para anunciar o
evangelho. Não mais seguiam os votos, as leis dietéticas, o sábado, a
circuncisão, como se a isso fosse obrigados, mas celebravam a ceia do Senhor, o batismo, a imposição das mãos,
a unção dos enfermos com óleo, a nova páscoa onde Cristo é o Cordeiro imolado,
o mandamento do amor a Deus e ao próximo resumindo toda a Lei.
Isso é muito católico,
e pouco adventista. Por certo, a Igreja Adventista entende ser necessário
continuar a guardar o sábado do sétimo dia semanal, a evitar a carne de porco e
outras leis do Antigo Testamento, que interpretam como atuais. Isso é fruto de
seus estudos e entendimento surgidos no século dezenove, mas não coincide com o
que levou a Igreja a esclarecer essas questões com o desenrolar dos anos.
Santo Epifânio explica
que os “nazarenos” separaram-se dos cristãos. Eles guardavam a Lei, praticavam
a circuncisão, como cristãos, e certamente essa era sua doutrina. Portanto,
eles eram um grupo à parte, que os cristãos consideram judeus que pregavam o
nome de Cristo, e não cristãos de fato.
Então, o sábado, as
leis dietéticas, a doutrina sobre a morte da alma, e sobre a inexistência do
inferno, não são raízes judaicas que a IASD possui, mas entendimentos de outras fontes que
nasceram em alguma data da história e que foram importantes para a formação do adventismo.
Por sua vez, a Igreja
Católica mantem o que a Bíblia mostra como o que de fato deve continuar entre
os cristãos, e para isso basta ver como são semelhantes as observâncias e modo
de vida católicos e judaicos, como a arquitetura, símbolos, orações.
Gledson Meireles.
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