Refutação: O ladrão morreu naquele mesmo dia?
Pilatos ficou surpreso porque
Jesus morreu tão depressa. Há algo interessante, porém, em todo o relato.
O primeiro, é o fato que o
cadáver sempre é chamado de “corpo” e não mais pelo nome, como a pessoa. Por
isso, quando se fala de mortos é comum é esperado que haja referência ao corpo
do falecido, e não ao falecido.
Assim, o texto bíblico afirma
que José de Arimateia pediu o corpo de Jesus (Mc 15, 43) e Pilatos mandou
dar-lhe o corpo (v. 45).
E o texto de João 19, 31
afirma o seguinte: “Os judeus temeram que os corpos ficassem na cruz durante o
sábado, porquejá era a Preparação e esse
sábado era particularmente solene. Rogaram a Pilatos quese lhes quebrassem as
pernas e fossem retirados.”
O contexto sugere que os ladrões
estavam vivos, já que somente Jesus, já morto, não teve as pernas quebradas.
Porém, o texto sugere que eles estavam bastante enfraquecidos, quase mortos, já
que morreriam logo, e seus “corpos” ficariam na cruz durante o sábado. Assim,
os judeus previam que eles morreriam rapidamente e não que passariam dias vivos
na cruz, pois do contrário seria dito que eles passarima o sábado na cruz,
quando o texto diz o contrário, que seus corpos passariam o sábado na cruz.
Desse modo, é bastante provável que os ladrões morreram naquele dia.
A surpresa de Pilatos é usada
como argumento de que os crucificados normalmente passavam dias na cruz. Mas
aquele sinal no texto é mais forte do que isso, já que sugere que no sábado já
seriam todos mortos.
É interessante a explicação
para esse método de quebrar as pernas dos crucificados. Seria para que não
fugissem. Mas, na ânsia de fortalecer essa explicação, o autor mortalista
afirma: “Se a intenção fosse matar os
outros crucificados, este certamente teria sido o recurso aplicado neles também.”
Com isso, o soldado teria perfurado
o lado de Jesus para confirmar a morte. No entanto, o texto é claro ao afirmar
que eles viram que Jesus já estava morto, não quebrando-lhe as pernas. Assim, ele
cravou a lança no coração de Cristo sem qualquer outra intenção. Por isso, o
verso 34 inicia com um “mas” (em grego ἀλλ’).
Ou seja, todos os soldados ali viram que Jesus “já” estava morto, e não
necessitavam de fazer mais nada. Porém, um soldado resolveu ferir o corpo com
uma lança. O texto, assim, mostra que esse ato não teve nenhuma intenção de
confirmar a morte, já conformada pelo grupo de soldados.
Dessa forma, já temos dois indícios
de que a interpretação mortalista não está correta. Primeiro, os judeus sabiam
que no sábado os crucificados estariam mortos. Segundo, o fato dos outros
crucificados terem as pernas quebradas pode ter sido para que morrerem mais rápido.
Pode-se afirmar que, se a
supresa de Pialtos serve para formular a explicação de que os crucificados
passariam vivos muitos dias na cruz, é também válido pensar que se os judeus não
queriam que os corpos ficassem na cruz durante o sábado é porque eles morreriam
entre a sexta e o sábado.
E se as provas mortalistas de
que o ladrão não poderia ter entrado no paraíso no mesmo dia da morte de Cristo
não foram suficientes até aqui, nem com essa explicação sobre a quebra das
pernas dos crucificados, que supostamente não morreram naquele dia, nem mesmo
essa explicação foi conclusiva. Ainda, ele esbarra em alguma dificuldade: a
primeira é que se Pilatos ficou surpreso porque Jesus morreu rapidamente, isso
não prova que pensasse que o mesmo passaria dias na cruz antes de morrer.
Poderia ter morrido ao fim do dia.
Diante disso, faz também muito
sentido que os crucificados tenham tido suas pernas quebradas para morrerem
mais rápido. Faz sentido o que pensaram os judeus, que no sábado estariam
mortos na cruz. E a surpresa de Pilatos não infere que a morte de Jesus
demoraria tanto, mas apenas que foi muito rápida.
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