sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Livro: A lenda da imortalidade da alma: refutação sobre o tópico O ladrão morreu naquele mesmo dia?

 Refutação: O ladrão morreu naquele mesmo dia?

 

Pilatos ficou surpreso porque Jesus morreu tão depressa. Há algo interessante, porém, em todo o relato.

 

O primeiro, é o fato que o cadáver sempre é chamado de “corpo” e não mais pelo nome, como a pessoa. Por isso, quando se fala de mortos é comum é esperado que haja referência ao corpo do falecido, e não ao falecido.

 

Assim, o texto bíblico afirma que José de Arimateia pediu o corpo de Jesus (Mc 15, 43) e Pilatos mandou dar-lhe o corpo (v. 45).

 

E o texto de João 19, 31 afirma o seguinte: “Os judeus temeram que os corpos ficassem na cruz durante o sábado,  porquejá era a Preparação e esse sábado era particularmente solene. Rogaram a Pilatos quese lhes quebrassem as pernas e fossem retirados.”

 

O contexto sugere que os ladrões estavam vivos, já que somente Jesus, já morto, não teve as pernas quebradas. Porém, o texto sugere que eles estavam bastante enfraquecidos, quase mortos, já que morreriam logo, e seus “corpos” ficariam na cruz durante o sábado. Assim, os judeus previam que eles morreriam rapidamente e não que passariam dias vivos na cruz, pois do contrário seria dito que eles passarima o sábado na cruz, quando o texto diz o contrário, que seus corpos passariam o sábado na cruz. Desse modo, é bastante provável que os ladrões morreram naquele dia.

 

A surpresa de Pilatos é usada como argumento de que os crucificados normalmente passavam dias na cruz. Mas aquele sinal no texto é mais forte do que isso, já que sugere que no sábado já seriam todos mortos.

 

É interessante a explicação para esse método de quebrar as pernas dos crucificados. Seria para que não fugissem. Mas, na ânsia de fortalecer essa explicação, o autor mortalista afirma: “Se a intenção fosse matar os outros crucificados, este certamente teria sido o recurso aplicado neles também.

 

Com isso, o soldado teria perfurado o lado de Jesus para confirmar a morte. No entanto, o texto é claro ao afirmar que eles viram que Jesus já estava morto, não quebrando-lhe as pernas. Assim, ele cravou a lança no coração de Cristo sem qualquer outra intenção. Por isso, o verso 34 inicia com um “mas” (em grego ἀλλ’). Ou seja, todos os soldados ali viram que Jesus “já” estava morto, e não necessitavam de fazer mais nada. Porém, um soldado resolveu ferir o corpo com uma lança. O texto, assim, mostra que esse ato não teve nenhuma intenção de confirmar a morte, já conformada pelo grupo de soldados.

 

Dessa forma, já temos dois indícios de que a interpretação mortalista não está correta. Primeiro, os judeus sabiam que no sábado os crucificados estariam mortos. Segundo, o fato dos outros crucificados terem as pernas quebradas pode ter sido para que morrerem mais rápido.

 

Pode-se afirmar que, se a supresa de Pialtos serve para formular a explicação de que os crucificados passariam vivos muitos dias na cruz, é também válido pensar que se os judeus não queriam que os corpos ficassem na cruz durante o sábado é porque eles morreriam entre a sexta e o sábado.

 

E se as provas mortalistas de que o ladrão não poderia ter entrado no paraíso no mesmo dia da morte de Cristo não foram suficientes até aqui, nem com essa explicação sobre a quebra das pernas dos crucificados, que supostamente não morreram naquele dia, nem mesmo essa explicação foi conclusiva. Ainda, ele esbarra em alguma dificuldade: a primeira é que se Pilatos ficou surpreso porque Jesus morreu rapidamente, isso não prova que pensasse que o mesmo passaria dias na cruz antes de morrer. Poderia ter morrido ao fim do dia.

 

Diante disso, faz também muito sentido que os crucificados tenham tido suas pernas quebradas para morrerem mais rápido. Faz sentido o que pensaram os judeus, que no sábado estariam mortos na cruz. E a surpresa de Pilatos não infere que a morte de Jesus demoraria tanto, mas apenas que foi muito rápida.

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