Refutação: O contraste entre Jesus e os levitas
O argumento mortalista tira de
Hb 7, 8 um argumento que seria incompatível com a imortalidade da alma, já que
estaria contrastando radicalmente vida e morte, de modo a levar a pensar que
vida é existência e morte a inexistência. Mas, vamos mostrar que esse argumento
não é o que está em todo o contexto. O argumento mortalista contém erro teológico.
Jesus pode ser sacerdote para
sempre porque ressuscitou. É simples. Não há a implicação de que as almas dos
levitas não podiam oficiar no céu, ou no sheol,
porque o que está em questão é a vida em contraste com a morte. Jesus está
vivo. Os levitas, mesmo estando hoje no céu, estão mortos, e por isso se diz
que suas almas estão no céu, e não que eles em pessoa estejam no céu.
Ainda, é preciso saber que o
sacerdócio levita é diferente do sacerdócio de Cristo. O primeiro era figura,
um tipo, e era terrestre por isso, de forma que em si a antiga lei foi
abolidade, e era ineficaz e não levou à perfeição (Hb 7, 18-19), e por isso foi
substituída por outra aliança superior (Hb 7, 22). Então, os levitas só podem
oficiar na terra, enquanto Cristo só oficia no céu.
Por isso, o verso 23 introduz
a segunda parte do argumento: “Além disso”, e prossegue dizendo que os levitas
não podiam ser sacerdotes sempre porque morriam, enquanto Cristo vive para
sempre.
Há em Hebreus dois argumentos:
o primerio é que o sacerdócio levítico é inferior (cf. Hb 7, 11), e o segundo é
que os sacerdotes levitas são mortais (cf. Hb 7, 23). Em resumo, pode-se dizer
que ainda que os levitas não morressem, seu sacerdócio não poderia continuar. E
até o final da refutação o leitor irá perceber melhor o porquê disso, e identificar
mais precisamente o erro do argumento mortalista.
E o motivo é que o sacerdócio
dos levitas simbolizava o sacerdócio de Jesus Cristo. Dessa forma, os levitas,
ainda que estejam vivos no céu em espírito, não podem ser sacerdotes, porque
morreram e porque seu sacerdócio foi apenas figura do verdadeiro sacerdócio de
Cristo, e só podia ser feito na terra.
Desse modo, ainda que
ressuscitados, como o sacerdócio levita foi levado à realização em Cristo, eles
não oferecem dons e sacrifícios pela salvação do mundo. Entendendo esse fato, o
constraste feito entre Cristo e os levitas não pode em nada implicar coisa
alguma contra a imortalidade da alma.
Dito doutro modo, a morte
impede o sacerdócio contínuo dos levitas porque esse ofício é feito na terra,
era de natureza imperfeita e provisória, e não porque a morte põe fim à existência.
O argumento da morte é a parte dois, e significa realmente que o sacerdócio levítico
é inferior porque seus sacerdotes são mortais, não continuam a vida na terra, único
lugar onde esse sacerdócio é ministrado. Aqui já fica refutado o argumento mortlaista,
mas é bom continuar e liquidar de forma a não deixar dúvida.
Talvez o texto de Hebreus 8, 4
sirva para refutar bem essa implicação que o mortalismo tentou tirar do
contraste entre Jesus e os levitas. O texto diz o seguinte: “Por conseguinte, se ele estivesse na terra,
nem mesmo sacerdote seria, porque já existem aqui sacerdotes que têm a missão
de oferecer os dons prescritos pela Lei”.
O autor mortalista usou a lógica
do contraste acima referido para formular um argumento contra a imortalidade da
alma, como se a doutrina não pudesse ser harmonizada com o que foi contrastado,
ou seja, como se o fato dos levitas possuírem alma imortal e estarem no céu
fosse incompatível com o contraste feito. É um bom argumento, no processo de
defesa do seu sistema, como tentativa, e serve para fazer com que tenhamos mais
cuidado ao ler o texto bíblico. Mas esse argumento não atinge a doutrina da
alma imortal, como mostrado acima, constituindo argumento frágil.
Portanto, faz todo sentido dizer
que Jesus está vivo, e que Seu sacerdócio é feito no céu, de modo perfeito e único,
realizando o que a figura do sacerdócio terrestre constituía. Assim, a Bíblia
afirma que Jesus não seria sacerdote se estivesse na terra.
E o que a lógica do argumento
mortalista está afirmando é que os dois sacerdócios são idênticos, pois diz:
“Se os sacerdotes
levitas estivessem neste momento vivos no céu, o autor de Hebreus teria
cometido uma gafe ao fazer um contraste dessa natureza, já que tanto um como o
outro estariam vivos para continuar seu ofício no outro mundo.”.
De fato, não há gafe nenhuma,
pois os levitas estão vivos em espírito no céu e não podem continuar seu ofício
no outro mundo: primeiro, porque seu ofício terminou em Cristo, pois Cristo é o
fim da Lei e do sacerdócio antigo. Segundo, porque estão mortos, e seu oficío
era apenas para ser feito na terra.
Disso se pode dizer que o argumento
mortalista não procede, porque não é tirado do verdadeiro contraste que é feito
entre o sacerdócio levítico e o de Cristo, e porque ele cria um erro, fazendo
com que o sacerdócio levita seja antítipo e não o tipo. Seria o mesmo que dizer
que os levitas morrem, e Cirsto, estando vivo, continua o ofício levítico, o
que é um erro, pois o sacerdócio de Cristo é segundo a ordem de Melquisedeque,
diferente do levítico, que serviu apenas de símbolo. Por isso, o argumento é
totalmente falho.
Gledson Meireles.
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