O Sábado e o Domingo
Estudo do artigo “Como o domingo tornou-se dia popular de
culto – parte 2”, de Kenneth A. Strand, Ph.D., professor adventista de
teologia histórica e Novo Testamento.
Aqui será feita uma
leitura diversa dos fatos históricos apresentados pelo professor Kenneth. De
fato, através da sua apresentação será mostrado o fundamento bíblico do
domingo.
Pelo artigo de Kenneth
A. Strand podemos perceber que o domingo tem o status sagrado desde os tempos apostólicos. A origem do sábado é
bastante conhecida na Bíblia, desde o AT. E no NT temos a origem do domingo.
Como poderia o domingo coexistir com o sábado durante séculos, lado a lado como
sagrados, se não fosse a importância do domingo conhecida por tradição
apostólica? A única explicação para tamanha importância do domingo é que o
mesmo foi do dia de repouso e culto cristão desde os dias de Cristo e dos Seus
apóstolos. As legislações imperiais teriam se encarregado de oficializar a
transição. Mas o que vemos é que sendo o domingo o dia em que os cristãos
celebram os mistérios santos, as leis apenas estavam exprimindo essa realidade.
Introdução:
Se o sábado e o domingo eram guardados lado a lado na Igreja, isso se deve ao
fato de que o domingo é o dia de guarda do cristão, e a Igreja conversou o
sábado herdado da antiga aliança. Desse modo, na teologia católica, não se vê
contraste entre o sábado e o domingo.
E qual o dia “para os
serviços de adoração semanal”? Segundo Kenneth esse foi o sábado. E qual a
prova? Afirma que foi apresentada em seu artigo anterior.
No entanto, é muito
claro que no Novo Testamente o dia de culto e adoração é o domingo.
Historicamente, o
teólogo irá investigar quando, onde e
como o domingo tornou-se conhecido como dia especial para os cristãos. Se
tivermos em mente o fato da ressurreição, entendemos que aí está a origem do
domingo. Não considerando isso, deve-se partir para outras teorias. Vejamos
como isso é feito pelo teólogo adventista.
Em primeiro lugar, o
autor afirma que há evidência clara, considerada a primeira evidência, da
guarda do domingo, no ano 130 d. C. Nesse tempo, muito próximo à era
apostólica, muitos que conheceram os apóstolos estavam vivos. A guarda do
domingo não poderia ter sido introduzida como algo estranho, pois doutro modo
seria iniciado intenso debate na Igreja. Portanto, o fato de nesse tempo ser
admitido que há evidência clara para
a observância do domingo, é um dado que está conforme a tradição apostólica. Os
cristãos observavam o domingo porque esse era o dia de guarda deixado por
Cristo e pelos apóstolos.
Os sábados presentes
então, são mostrados como inaceitáveis a
Deus, e o domingo é apresentado como dia de júbilo e da ressurreição de Jesus.
A referência de São Justino, reconhecida pelo autor adventista como direta e mais claramente à observância do
domingo, data do ano 150 d. C.
Sendo uma apologia
cristã, refere-se à guarda do domingo como algo original, como prática da
Igreja, e não indica que tenha havido mudança quanto a isso. Essa forma de
expressar-se está de acordo com a tradição apostólica, pois aquilo que é
transmitido como verdade revelada desde os apóstolos tem essa marca de
reconhecimento unânime. Nota-se que São Justino fala do domingo como dia de
reunião de todos os cristãos para celebrar a missa. Essa prática antiga e
consolidada já em seu tempo.
E o autor adventista
considera que São Justino escreveu algo que manifestava inclinação
anti-sabática no Diálogo com Trifo. Se essa é a posição, concorda com a
referência anterior, vinte anos antes, que mostra os sábados como inaceitáveis.
Se São Justino mostra o domingo como dia de culto cristão e se refere à
abolição do sábado, isso está conforme a tradição, pois em Colossenses 2, 16-17
os sábados estão entre as sombras.
Roma
e Alexandria: Se há essa realidade, onde o domingo é
o dia de guarda e o sábado recebe atitude
negativa nesse quesito, essa é a tradição apostólica, e não uma inovação.
Que o leitor perceba esse primeiro dado que é mostrado pelo autor adventista.
Ainda, o teólogo fala
de uma regra geral de que o culto
cristão era realizado no sábado em todo o
mundo cristão no quinto século, com exceção de Roma e Alexandria. Se
tivermos em mente as declarações de São Barnabé e São Justino, de que o domingo
é o dia de guarda e o sábado não é mais observado assim, temos que há uma
tensão aí. Se no segundo século é evidente que o domingo é guardado, não se pode
afirmar que o sábado é o dia de guarda e culto em todo o mundo cristão.
No entanto, se se tem
em mente que o sábado é também um dia
respeitado e celebrado pelos cristãos, segundo o domingo o dia principal na
semana, esse dado concorda com a tradição apostólica. De fato, é isso que
Sócrates e Sozomen afirmam, quanto dizem que ambos os dias são guardados. Mas,
na citação de Sócrates Scholasticus, ele afirma que os cristãos celebram os
mistérios sagrados no sábado, e que Roma e Alexandria cessaram de fazer isso. E Sozomen afirma que em Constantinopla, em quase todos os lugares, os cristãos
reúnem-se no sábado e no domingo, diferentemente de Roma e Alexandria. Assim,
escreve o teólogo adventista: “Assim, “em
quase todos os lugares”, através da cristandade, exceto em Roma e Alexandria,
havia serviços de culto cristão, tanto no sábado quanto no domingo, no final do
quinto século.”
Doutro modo,
pensaríamos que a Igreja em toda parte guarda dois dias, e que não estava
conforme a doutrina de Roma e Alexandria, o que não é exato, já que é
unanimidade na antiguidade, como testemunha Santo Irineu de Lion, de que as
igrejas em toda parte devem estar em conformidade com a doutrina praticada na
Igreja de Roma.
Ainda, se em 130 d. C.
e 150 d. C. temos evidências claras da guarda do domingo, não parece que Roma
tenha deixado de guardar o sábado, pois isso estaria em conflito com todas as
demais igrejas espalhadas em todo o mundo, causando a maior das controvérsias.
Ainda, durante séculos haveria silêncio quanto a essa divergência de prática.
Temos de admitir, até aqui, que o sábado podia ser guardado, mas não como
obrigação para o cristão. Por esse motivo, havia o costume geral de guardar os
dois dias, e isso não era causa de divisão na igreja.
E então o teólogo
adventista põe-se a investigar o que levou Roma e Alexandria a adotar tão
precocemente o domingo. Essa questão deve ser feita ao mesmo tempo em que se
reconhece que em todos os lugares o domingo também é guardado juntamente com o
sábado. Isso sugere que o mesmo ocorria em todas as comunidades cristãs, que
guardavam o domingo desde os dias de Cristo e também continuavam a celebrar a
missa aos sábados, honrando o dia de descanso da Antiga Aliança. Assim,
trata-se de admitir que o domingo era guardado em toda a parte nos primeiros
séculos.
Quanto a essa
realidade, o teólogo investiga o motivo da observância dominical ter sido tão prontamente aceita pelo restante da
cristandade ao lado do sábado. Se aceitamos que o domingo é de origem
apostólica, isso já está respondido. O sábado judeu foi honrado pelos primeiros
cristãos e permaneceu na vida da Igreja ao lado do novo dia de culto e adoração
cristã, o domingo, de modo que não há tensão entre os dois dias nesse sentido.
Essa tensão só aparece quando se trata de impor o sábado como dia de culto e
contraposição ao domingo. Lembra a circuncisão, que podia ser feita, desde que
não fosse imposta a ninguém. Do contrário, significaria estar apartado de
Cristo.
E algo muito importante
é constatado pelo autor adventista. O sábado não foi prontamente substituído
pelo domingo após a ressurreição. De fato, ele considera assim por motivo das
fontes históricas mostrarem que o sábado ainda continuava sendo observado ao
lado do domingo.
Também afirma que é
incorreta a opinião de que o domingo foi influência do paganismo, o que carece de prova e é absolutamente
improvável. Tudo isso mostra que a teologia do domingo é muito mais profunda do
que muitos pensam.
Ele admite que os
cristãos nunca teriam mudado de prática subitamente por influência pagã. Cita
São Justino, que foi mártir. Dessa forma, podemos afirmar que São Justino não
guardaria o domingo se esse não fosse fundamentado na Bíblia e na tradição.
Festa
das primícias: O autor adventista nota que o domingo
foi originalmente visto como dia em honra
à ressurreição de Cristo e não como um sábado. Essa distinção é
interessante nos estudos adventistas. Mas, também, indica que certamente os
cristãos guardavam os dias de sábado e domingo de forma diferente dos judeus.
A explicação sobre a
festa das primícias, e da imolação do cordeiro pascal é valiosa. A data
escolhida pelos fariseus e pelos essênios é algo importante nesse debate.
É bem provável que os
cristãos, seguindo a tradição, entenderam o
dia após um sábado semanal de Levítico 23 como o domingo. A afirmação de
que os cristãos naturalmente continuariam a celebrar as primícias não é exata,
a não ser no contexto acima aludido, onde não há mais obrigatoriedade. Quanto à
teologia de Cristo como primícias e a importância máxima da ressurreição, isso
corrobora a teologia dominical. Assim, a origem do domingo é eminentemente
bíblica.
Início
da guarda do domingo: A afirmação de que os cristãos não guardavam o domingo como festival da
ressurreição semanalmente é improvável. A citação feita pelo próprio autor
adventista, de São Justino em 150 d. C., afirmando que no dia chamado domingo os cristãos se reuniam, prova que isso não
era uma vez por ano, mas semanalmente.
Então, refere-se à
controvérsia da páscoa, irrompida no segundo século. Os cristãos deviam
celebrar a páscoa numa data fixa ou não? A tradição geral apontava para a data
do domingo. O próprio autor adventista mostra isso: “Mas os cristãos na maior parte do restante do mundo, incluindo Gália,
Corinto, Ponto (no Norte da Ásia Menor), Alexandria, Mesopotâmia e Palestina
(mesmo em Jerusalém), mantinham-se fiéis a uma Páscoa no domingo.” Mesmo em
Jerusalém os cristãos celebravam a páscoa no domingo. Esse costume foi levado
para Roma. E na autoridade apostólica, exercida pelo papa, mais tarde essa
posição foi aceita em toda a Igreja Católica. Qual era a verdadeira posição
apostólica? Certamente aquela que o magistério defendeu, a que o papa ensinava.
Eusébio de Cesareia
relata a controvérsia sobre a páscoa, e menciona a tradição remota da Ásia. Mas
afirma que a tradição apostólica era de que o jejum havia de ser encerrado no
domingo. Aqui temos a ideia de tradições locais em comparação à tradição
apostólica. Essa última é sempre presente no sentir da Igreja Católica, no consenso
geral dos santos padres, dos doutores, dos teólogos, dos sínodos, das
encíclicas e bulas papais e dos concílios.
Assim, prova-se que no
domingo não foi inovação romana tardia. Ele tem origem bíblica.
Quanto ao mais antigo domingo cristão como prática
anual, isso não ficou claro. Supõe-se que a festa das primícias continuou a ser
celebrada pelos cristãos. Isso é improvável. Por meio dessa suposição,
desenvolve-se a ideia de que a celebração do domingo, como a festa das
primícias, era anual. O que também carece de historicidade.
A tese de que não havia
ambiente psicológico para celebrar semanalmente o domingo como dia da
ressurreição, deixa de explicar como o domingo era celebrado semanalmente desde
do início juntamente com o sábado. Que motivação tinham os cristãos para
celebrá-lo? A próxima doutrina da ressurreição, que é de máxima importância,
garante que essa foi a festa semanal observada no domingo. Desse modo, pensar
em desenvolvimento de um domingo anual, para domingos entre páscoa e
pentecostes até o domingo semanal não é tão pungente. Entretanto, ele exprime
da teologia do domingo e ajuda a entender como esse dia nasceu da doutrina
bíblica.
Em Roma e Alexandria o
domingo semanal aparece com clareza. O autor entende que ali ele foi substituto
do sábado. Mas não há razão para isso, reconhece, pois ambos os dias aparecem
juntos. Assim, não desenvolvendo o argumento como está sendo feito aqui, e
negando a tradição apostólica, ele se põe a procurar a origem do domingo
semanal substituindo o sábado em Roma.
O
domingo substitui o sábado em Roma: o autor aponta um
sentimento anti-judaico no início do
segundo século. Mas, poderíamos perguntar, não foi esse sentimento o mesmo que
vemos nas páginas do NT, nas controvérsias sobre a Lei, a circuncisão, o sábado,
a leis alimentares e etc? É preciso considerar a natureza dessas discussões.
O imperador Adriano, em
135, proíbe a circuncisão e o sábado. A identificação com os judeus pode ter
sido evitada e levado à adoção de práticas distintas por parte dos cristãos, em
Alexandria, por exemplo. Essa é uma tese interessante.
No entanto, parece
equivocado afirmar que os cristãos de Roma e Alexandria procuraram um substituto para o sábado semanal. Deviam apenas
deixar de guardá-lo, talvez, pois já tinham o domingo, como provado anteriormente.
O fato do costume do
jejum em Roma, tornando o sábado um dia triste, não pode ser entendido como o
objetivo da prática. Era parte da devoção cristã realizar o jejum, para lembrar
de Cristo no sepulcro.
Parece que a explicação
supõe que somente o sábado era o dia de culto em Roma. Sendo assim, tornado dia
de jejum, foi depois substituído pelo domingo. Essa suposição que transparece
no estudo, também não explica que os dois dias apareçam harmoniosamente juntos
na Igreja em geral durante séculos. Portanto, em Roma, também, o sábado era
honrado com o domingo. As devoções podem ter sido diversas.
O autor fala de medidas tomadas para substituir o sábado
pelo domingo em Roma e Alexandria. Conquanto tenha em mente que o domingo
não entrou na Igreja por influência pagã, afirma que pode ter havido alguma influência na substituição. E,
como adventista, afirma a tese de que o
domingo pagão teve efeito sobre o Cristianismo pós-Constantino.
Aqui há algumas coisas
a serem realçadas. Uma constatação do próprio autor adventista de que o domingo
foi guardado pelos cristãos desde o século segundo, provado com evidências
históricas.
Também a admissão de
que o domingo tem motivações bíblicas, como mostrou no estudo sobre a festa das
primícias e da importância da ressurreição. E, também, que o domingo pagão teve
influência na Igreja, após Constantino.
Sendo assim, o domingo
teria sido reforçado pelas leis do Estado para tornar sua observância mais
efetiva, mas não teria sido jamais uma inovação, nem algo pagão entre os
cristãos. O primeiro dia da semana cristão coincidiu com um costume que os
pagãos tinham, sem qualquer influência mútua.
Ver nota 15
Com base nessa
pressuposição, o autor adventista pensa na origem do domingo ao lado sábado na
Cristandade, como se o domingo surgisse posteriormente entre os cristãos em
outras localidades. Não há fontes históricas para isso.
Então, afirma que em
muitos lugares os dois dias se chocassem, como havia ocorrido em Roma e
Alexandria no segundo século.
Isso está mais uma vez
demonstrando que o domingo vem do primeiro século. Foi guardado em Roma e
Alexandria e em toda parte, com provas históricas já no século segundo.
Qual
é o “dia do Senhor”?: Clemente de Alexandria chama o domingo
de dia do Senhor. Ele o fez no final do segundo século. Mas isso não indica nem
prova que tenha sido o surgimento dessa expressão relativa ao primeiro dia da
semana.
Aliás, o próprio
contexto em que São Clemente usa para expressar o conceito de dia do Senhor
indica que ele está mostrando que o domingo foi profeticamente mencionado mesmo
no paganismo, o que mostra que a teologia do domingo era apostólica.
Quanto à frase de Santo
Ireneu, interpretada como indicando que Pentecostes e dia do Senhor seriam
Pentecostes e Páscoa, eventos anuais, já foi falado algo a respeito acima.
A citação Didaquê 14,1
seria ambígua. Mas é indicativa de que se trata do domingo, dia de reunião. O
contexto histórico aponta para isso. Assim, é algo a mais em favor do domingo.
Não se pode afirmar que
o dia do Senhor é a páscoa. O batismo não era apenas realizado na páscoa.
Santo Inácio faz a
distinção entre sabatizar e viver conforme o Senhor. A tradução comum:
observância do dia do Senhor é mais convincente. O autor afirma que a tradução
uma vida de acordo com a vida do Senhor é a melhor. (ver interpretação sobre o
povo ser os profetas)
Quanto a sabatizar
significar o legalismo, isso é correto. É o que explica o contexto de toda essa
discussão, quando se encontra o sábado sendo contrastado com o domingo.
Um
dia de jejum: As referências ao sábado e ao domingo
aumentariam no quarto século e muitas dessas tinham implicação de controvérsia,
afirma o autor. Mas as referências não mudam o que foi dito até aqui. O sábado
é honrado juntamente com o domingo.
As Constituições
Apostólicas, São Gregório de Nyssa e Amaséia são claros em dizer que ambos os
dias são guardados pelos cristãos. Sendo assim, nesse tempo, de controvérsia, a
doutrina do domingo está estabelecida e também há devoção para com o sábado.
Outros líderes são
citados como anti-sabáticos: São João Crisóstomo, contemporâneo dos demais
mencionados acima.
No entanto, a citação
feita mostra o que já está explicado antes. O que São Crisóstomo afirma diz
respeito a cristãos jejuando e guardando os sábados da mesma maneira que os judeus, o que já está no âmbito da doutrina
judaizante. Esse modo não é o mesmo que é referido pelos outros autores, que
certamente também eram não-judaizantes. Há aqui a mesma posição dos demais.
Tertuliano e Hipólito são
citados como opondo-se ao jejum no sábado. On
Fasting cap, 14. Contra Marcião IV, 12. E Santo Hipólito, no Comentário a
Daniel 4, 20, alude ao jejum no sábado e no domingo que Cristo nunca indicou.
Ele fala de alguns se
valem de visões e ensino dos demônios, e determinam jejum no sábado e no
domingo, o que Cristo não determinou. Isso não é o mesmo que estar contra o
jejum nesses dias, mas apenas refutar essa ideia de que o costume é dogmático.
Havia liberdade para jejuar ou não, conforme ensina Santo Agostinho. A doutrina
é a mesma.
Tertuliano afirma que
não se deve galatizar, aludindo ao ensino do Novo Testamento na epístola aos
Gálatas. Afirma ainda, que se há nova criação em Cristo as solenidades devem
também ser novas. Essa princípio refuta a ideia de que os cristãos continuaram
a praticar preceitos da lei.
A controvérsia do quarto
e quinto século que teria sido intensificada não diz respeito a algo de grande
importância, pois ainda que tradições locais divergiam entre si, a tradição
apostólica testemunhada, como doutrina geral, era de que a doutrina sobre o
jejum nesses dias não era algo imutável. O artigo ainda cita Santo Agostinho (430)
refutando alguém que discordava de quem se recusava a jejuar no sábado.
Na Tradição Apostólica
de Santo Hipólito de Roma é ensinado que, na páscoa, se jejue pelo menos no
sábado.
O Pseudo-Inácio, na Epístola
aos Filipenses, é contra jejum no sábado e domingo, exceto no sábado pascal.
Cassiano em 430 e Santo
Agostinho falam do jejum em Roma. Santo Agostinho, em sua epístola 36, ensina
que é livre ao cristão jejuar ou não no sábado, e afirma que em Roma é
praticado o jejum no sábado, mas não no domingo. E cita o maniqueísmo, que
prescrevia jejum no domingo, contradizendo a fé católica e as divinas
Escrituras.
Na sua epístola 54,
citando o costume da Igreja em Milão, ensina que o cristão católico é livre
para jejuar ou não no sábado, seguindo o costume da igreja local onde estiver.
Isso mostra uma situação bastante semelhante na observância do sábado e do
domingo no quinto século. Não há uma divergência em termos acirrados, como se
uma prática ou outra fosse herética. Pelo que se nota, a tradição apostólica
ensina que há liberdade quando ao tema.
Leis
Dominicais: aumento em referências sobre o sábado indicando
uma espécie de luta. Isso teria ocorrido no quarto e quinto séculos.
Constantino teria dado ao domingo “nova expressão”. Ele teria se tornado dia de
descanso.
Mas como poderia isso
ser novidade se os cristãos não eram predispostos a aceitar pacificamente
mudanças as mais sutis que fosse, como já mencionado. Uma lei que introduzisse
divergência com a doutrina seria denunciada prontamente. Também, Constantino
não promulgaria Lei que estivesse contra a doutrina que havia adotado. Assim, a
lei certamente não havia introduzido o descanso, mas é uma expressão de como
era entendido o domingo cristão.
A lei citada manda os
magistrados e o povo das cidades descansarem no domingo. O trabalho no campo
era facultado. Parece que as leis seguiam motivos circunstanciais.
Reação
às primeiras leis dominicais: Os cristãos teriam de
descansar? Como explicação isenção do trabalho agrícola? Portanto, deve-se
entender as circunstâncias.
A nota 38 é histórica,
de Eusébio de Cesareia, é clara da transferência do sábado para o domingo. O
mesmo diz Efraim no quarto século. A lei estatal não refletia o mandamento do
sábado. Mas isso aparece nas obras cristãs.
O
sábado perde importância: pela ênfase do sábado posta sobre
o domingo. O autor menciona os que rebaixavam e os que honravam o sábado. Mas
isso não foi provado.
Citado o fato do sábado
permanecer ao lado do domingo ainda no quinto século, sugere que o domingo
substituiu o sábado a partir do sexto. É apenas uma suposição que não tem
fundamento, como temos tido a oportunidade de acompanhar. O domingo é guardado
desde os dias de Cristo e, historicamente, pode ser comprovado já no século
segundo de maneira evidente.
Afirma que o Concílio
de Laodiceia em 364 d. C. ainda
respeitava o sábado. Mas isso é inexato quanto ao que se pretende mostrar. De
fato, todos os concílios da Igreja respeitam o sábado, por ser um mandamento do
decálogo, já revelado no AT. Apenas ensina que o domingo é o dia de guarda.
Quando o concílio proíbe judaizar, sabemos que se trata da questão da heresia
judaizante. Não é nada contra o sábado em si. De fato, durante a quaresma a
missa e a festa dos mártires podiam ser celebradas nos sábados e domingos. Em
geral os sínodos testemunham a correta doutrina da Igreja.
Ainda, esse concílio é
regional, refletindo algum problema não generalizado. Assim, não é de se pensar
que a controvérsia estivesse em toda parte, e que sua natureza fosse grave.
Os antigos cristãos não
trabalhavam no sábado, trabalhando no domingo? Não há como provar. O concílio
não introduz novidade. Um dia deve ser para o repouso cristão. Esse dia é o
domingo. Seis dias trabalham os cristãos (segunda, terça, quarta, quinta, sexta
e sábado) e descansam no domingo (o sétimo para repouso e adoração a Deus).
Proibindo
o trabalho no domingo. O sínodo de Orleans em 538 proibiu o
trabalho no campo. Isso poderia ser usado como contradizendo o que havia feito
o concílio citado anteriormente, e a Lei do império, já que os que habitavam o
campo podiam trabalhar. Portanto, deve-se entender as circunstâncias.
O
sábado nunca foi esquecido. E com isso acredita ter provado
como o domingo substituiu o sábado. Pelo que vimos, o caminho percorrido e com
os princípios corretos como guia, não houve prova alguma de que o sábado foi o
dia originalmente guardado pela Igreja.
Para concluir esse
estudo do artigo, tenhamos em mente que o preceito do sábado no decálogo é
moral. O sábado é moral e cerimonial, “em parte moral e em parte cerimonial”,
como ensina Santo Tomás.
Quando manda guardar um
tempo para as coisas divinas, é um preceito moral. Quando ensina que o tempo do
sábado é sinal da criação do mundo, é um preceito cerimonial. Também é uma lei
cerimonial no seu sentido alegórico como
representativo do repouso de Cristo no túmulo no sétimo dia. Dessa forma,
Cristo cumpriu o sábado, e dessa forma o sábado foi sombra do que devia vir.
Como não há mandamento
do sábado do sétimo dia no Novo Testamento, devemos entender a doutrina, os
princípios que advém dela, e compreender que o novo dia de preceito é o
primeiro dia da semana, o dia do Senhor.
Gledson Meireles.
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