quarta-feira, 22 de maio de 2024

Sobre Apocalipse 1, 10: dia do Senhor - o domingo

 

A normatividade para a guarda do domingo: analisando o que diz Lincoln e Kenneht sobre o tema

Duas visões sobre o sábado e o domingo aparecem em publicações importantes. Uma obra protestante editada por  D. A. Carson, a favor do domingo, e outra, protestante adventista, por Kenneth Strand, em defesa do sábado. Kenneth apresenta uma resenha da obra de Carson. Vejamos o que diz ambos os lados sobre Apocalipse 1,10.

Na obra de Carson, Andrew T. Lincoln afirma que os fundamentos para a guarda do domingo no Novo Testamento não são numerosos ou tão detalhados como alguém gostaria que fosse.

Diante disso, pode-se dizer, que é sabido que desde o primeiro século o domingo é o dia de culto cristão. E Lincoln concorda com isso.

O autor alude também ao fato do domingo e do sábado serem guardados pelos cristãos primitivos. Faz avaliação do lugar e status da tradição da igreja primitiva, que é essencial para o sentido dos dados do NT e para colocá-lo em um padrão interpretativo para traçar a prática emergente da Igreja.

Essa constatação protestante é importantíssima, apontado para a necessidade da tradição. Nesse ponto, o adventismo falha na sua pesquisa.

A mais clara evidência pós-canônica possui autoridade, e alguns podem a partir disso aceitar o domingo como normativo. É o que afirma Lincoln.

Aqui, o adventismo nega peremptoriamente que se possa utilizar a evidência pós-apostólica para interpretar o NT. Aliás, esse parecer está conforme a posição de todo o Protestantismo, que segue o Sola Scriptura.

No entanto, a Igreja Católica afirma que a guarda do domingo é atestada no NT, portanto na era apostólica, e que isso é confirmado na tradição da Igreja. Assim, o que se encontra nas obras dos padres da Igreja estão confirmando a tradição e não estabelecendo-a, nem sendo fonte para interpretar o Novo Testamento. Pelo contrário, estão transmitindo o que está no NT.

Andrew T. Lincoln afirma que os reformadores, querendo fazer da Bíblia a única autoridade para fé e prática, reduziram a significância do domingo como uma mera instituição conveniente.

É preciso destacar esse ponto. A obra do Protestantismo em defesa do domingo tem esse ponto frágil, que é refutado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Os adventistas corretamente entendem que o dia de repouso e culto é sagrado e cumpre um mandamento de Deus. Esse dia é o sábado, dado por sanção divina, normativo para o Povo de Deus, parte do decálogo. Dessa forma, só pode ser transferido para outro dia por autoridade divina.

Os reformadores, por sua vez, ensinaram que o dia não era necessário, mas apenas prático, e indiferente. Assim, continua o estudo, os reformadores estavam buscando sanção canônica para a prática antes de tê-la como normativa. E, então, o que é importante perceber, eles não entenderam o significado de Apocalipse 1, 10.

Aqui é necessário outra observação. Uma obra que se põe a entender melhor a força desse texto do Apocalipse encontra algo que refuta os reformadores e se coloca em convergência com a Igreja Católica.

Lincoln afirma que o dia do Senhor indica que há algo muito mais que conveniência ou praticalidade. Há muito que pode ser conhecido por meio dessa passagem. Ela mostra que há um precedente já estabelecido. É um fato que reivindica autoridade canônica.

Continua Andrew. O mais próximo que o sábado recebe status canônico é na tolerância dada em Romanos 14. Mas a direção dada no NT é para a prática do domingo, essa recebe aprovação canônica. O domingo tem um papel distintivo no Novo Testamento.

Nos dias de São Paulo o domingo ainda não era chamado de Dia do Senhor, não tinha adquirido essa distinção, que aparece nas igrejas do fim do século. Conclui afirmando que não há implicação de que o domingo em si é santo.

Ou seja, o livro de Carson defende o domingo, como dia de guarda para os cristãos, que possui autoridade na Escritura, que é dia distinto para o culto, mas que não é dia santo, ou seja, não teria recebido algo particular para esse fim, como o sábado santificado e abençoado em Gênesis. Nesse ponto a crítica adventista ganha força.

Dessa forma, a conclusão da obra deixa essa fragilidade que é criticada pelo adventismo.

Kenneth afirma que Apocalipse 1, 10 não especifica ou identifica um dia particular. O autor adventista admite que o domingo é chamado na literatura cristã de Dia do Senhor, mas não aceita que essa seja a interpretação do texto no Novo Testamento, na passagem do Apocalipse.

Afirma que a universalidade da prática do domingo é do terceiro século, não do segundo, como está na obra de Carson. E questiona se afirmar que não há suporte canônico para a teoria da transferência e de que o domingo foi desenvolvimento medieval não seria minar a própria tese.

De fato, a observação de Kenneth é importante. Não refuta a doutrina do domingo, mas enfrenta com força a posição de Carson.

O crítico adventista afirma que o que os autores protestantes na obra de Carson apresentaram uma visão que não dá ao domingo o status normativo que reivindicam na sua análise final.

O adventismo converge com a doutrina católica em reconhecer a moralidade do sábado, porém, não entendendo que a mesma atualmente é cumprida no domingo, e as outras igrejas protestantes ensinam o mesmo que a doutrina católica quando admitem a autoridade canônica do domingo, sem, no entanto, perceber que essa autoridade divina faz do domingo um dia especial. Duas verdades precisam ser conhecidas:

 O domingo cumpre o preceito do antigo sábado.

A autoridade bíblica para a guarda do domingo torna-o dia santo.

Realmente, pode-se dizer, falta na obra de Carson demonstrar mais radicalmente a autoridade do mandamento do domingo, como é encontrada no Novo Testamento e na teologia católica.

Gledson Meireles.

 

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