Livro: Do sábado ao domingo...: livro do Dr. Samuele Bacchiocchi, adventista do sétimo dia - Estudo do capítulo 5 - Jerusalém e a origem do domingo.
O Dr. Samuele Bacchiocchi
afirma que estudos de então apresentavam marcada tendência de atribuir à
apostólica comunidade de Jerusalém a iniciativa e responsabilidade da mudança
do sábado para o domingo.
A pesquisa de
Bacchiocchi tenta ir contra a conclusão geral acadêmica, de que o domingo é de
fato uma criação cristã, como citação de J. Danidlou afirma. Por exemplo, a
citação da conclusão de C. S. Mosna sobre o assunto afirma expressamente que o
domingo nasceu em Jerusalém.
Bacchiocchi cita P. K.
Jewett, que se coloca contra a opinião de que São Paulo tenha ensinado o
domingo, porque ele se pôs contra a observância de dias. Mas, podemos afirmar
que, se assim o for, não haveria guarda de sábado nem de domingo, e um dos
mandamentos, que são 10, teria caído. Por isso, a opinião de Jewett é evidentemente
falha.
Outra afirmação de
Jewett é de que os judeus acusariam os cristãos gentios de estarem contra a
Lei, caso guardassem o domingo ao invés do sábado. Contudo, como podemos
observar nesse pormenor, que os dias de sábado e domingo eram respeitados desde
o início, e, portanto, não havia essa questão de substituição, como se a guarda
do sábado fosse proibida. E o autor também compara com o caso da circuncisão,
citando Atos 21, 21. Esse ponto é importante, pois a questão do sábado está
embutida nesse tema, embora os adventistas tentem negar isso.
E o que está escrito em
Atos 21, 21 é o seguinte: “Eles têm
ouvido dizer de ti que ensinas os judeus, que vivem entre os gentios, a
deixarem Moisés, dizendo que não devem circuncidar os seus filhos nem observar
os costumes (mosaicos).”
Essa passagem mostra
que havia o boato de que São Paulo pregava contra a circuncisão e guarda da
Lei. Note bem o leitor que essa consideração geral da guarda da Lei inclui o
sábado. Temos assim que os judeus cristãos tendiam a conceber a necessidade de
que os gentios fossem circuncidados e guardassem a Lei para permanecer na
Aliança. Contudo, tal questão já havia sido definida pelo Concílio de
Jerusalém.
Também que os judeus
convertidos não abandonavam o zelo pela
Lei (cf. Atos 21, 20). Desse modo, a posição de São Paulo estava sendo mal
entendida. Mas fica evidente que o mesmo não
ensinava o sábado aos cristãos convertidos que eram de origem gentia, aliás, a
maioria do público que ouvia o apóstolo dos gentios. O boato tinha a ver com o
fato do apóstolo ensinar os judeus que
vivem entre os gentios.
Por outro lado, São
Paulo concedia aos judeus cristãos continuarem a praticar muitos preceitos da
Lei, como ele mesmo o fez para exemplificar sua posição. Por isso, não existe
qualquer controvérsia que envolva sábado e domingo nos escritos paulinos e nem
no conjunto do Novo Testamento. O que há é o ensino da liberdade dos cristãos
em relação à circuncisão e à Lei, o que inclui o sábado.
Os apóstolos poderiam
ter iniciado a guarda do domingo e a autoridade da Igreja de Jerusalém foi
responsável pela adoção dessa prática em todos os lugares. Isso é negado pelos
adventistas, mas, de fato, foi justamente isso que aconteceu.
Cristo deve ter dado
instruções diretas aos apóstolos, ou o Espírito Santo pode tê-los iluminado
quanto a esse costume. O fato é que o domingo é parte da tradição apostólica. O
Dr. Bacchiocchi admitiu que o princípio é válido no que foi apresentado. Os
cristãos só acatariam uma doutrina se essa viesse da autoridade apostólica.
Basta ao adventista reconhecer esse princípio.
A citação de Eusébio
sobre os ebionitas que guardavam o domingo como nós, pode indicar de fato que
aqueles hereges adotavam o domingo por saberem que essa prática era de origem
apostólica. Sendo assim, esse modo de expressão de Eusébio reflete a tradição
apostólica da guarda do domingo. O caso dos ebionitas é importante de fato para
entender toda a questão.
O Dr. Samuele considera
os argumentos persuasivos, mas testa-os à luz da informação neotestamentária e
patrística sobre a composição étnica e orientação teológica da comunidade de
Jerusalém. Ou seja, se em Jerusalém há predominância de judeus cristãos,
acredita que o argumento perderia valor. Somente se fosse encontrado um número
expressivo de cristãos gentios é que tal cenário poderia dar origem à guarda do
domingo.
Contudo, é essa
consideração forte o suficiente para refutar os argumentos dados pelos estudos
profundos a respeito do domingo? É o que veremos.
O primeiro dado citado
é a expulsão dos judeus e cristãos judeus pelo imperador Adriano. Assim,
Jerusalém teria se tornado insignificante demais para influenciar o resto da Cristandade. Porém, sabemos que,
ainda que Jerusalém tenha se tornado menos expressiva, os apóstolos São Pedro e
São Paulo lançaram as bases da fé cristã na cidade de Roma, para onde foi
transferida a autoridade de Jerusalém. Desse modo, essa constatação histórica
sobre Jerusalém explica a crescente influência de Roma.
Lendo Atos 2, 46 e Atos
5, 42, o Dr. Bacchiochi conclui que pelo primeiro texto teríamos sugestão de
uma diferença entre a pregação evangelística e as reuniões privadas dos
cristãos. Mas entende que o segundo texto não implica essa distinção formal. Em Atos 2, 46 vemos uma reunião dos cristãos já
convertidos. De fato, eles partiam o pão
nas casas. Não se trata de ir às casas levar uma refeição ou ir tomar
refeição nas casas, mas celebrar a eucaristia. Isso não era feito no templo.
Mas, em Atos 5, 42 há a
ideia de pregação evangelística nas casas. Eles ensinavam e pregavam o
evangelho de Jesus Cristo no templo e nas casas. Isso não sugere que todas as
pessoas no templo se juntavam aos cristãos judeus em seu culto cristão. O mesmo
pode ser dito que não é esperado que todas as casas de judeus já realizavam o
culto cristão com os cristãos convertidos. Portanto, a inferência que o Dr.
Bacchiochi faz na comparação dos textos não está correta.
De fato, o Dr.
Bacchiochi entende essa diferença, ao continuar sua apresentação, mas afirma
que não há conflito entre as reuniões do templo em relação à reuniões privadas,
onde os cristãos expressavam mais
livremente e completamente o conteúdo de sua fé no Senhor ressuscitado.
Esse ponto merece outra observação.
É natural que fosse
assim. Os judeus acostumados a frequentar o templo e as sinagogas não foram
proibidos por Cristo de continuarem a praticar a Lei de Moisés. De fato, o AT é
seguido pelo NT como desenvolvimento natural. O Messias de Israel e o Cristo da
Igreja.
Desse modo, Jesus é o
messias profetizado nas Sagradas Escrituras. Não poderia haver conflito quanto
aos cristãos frequentando o templo e as casas. Entretanto, permanece o fato
que, nas casas havia a celebração da santa missa, o que não poderia ser feito
no templo.
Cristo ensinava nas
sinagogas, e também reunia-se com os discípulos, em outro lugar, para dar-lhes
instruções do evangelho e explicar-lhes o sentido das parábolas. Os apóstolos
seguiram esse modelo. Após a ascensão, eles pregavam primeiramente nas
sinagogas. E depois disso, iam aos gentios. Apolo não foi reunir-se com
cristãos na sinagoga, mas foi ali pregar o evangelho. Os cristãos que lá
estavam, Priscila e Aquila, por exemplo, tinham ido com o mesmo intuito. O
verso 27 mostra que a Igreja contava com organização própria, onde os irmãos animaram-no escreveram aos
discípulos que o recebessem bem.
A questão de se a
aceitação do Messias criou exigência de adotar novo lugar de adoração, parece
já respondida. Os cristãos se reuniam, a sós, para celebrarem os mistérios
próprios do Cristianismo, para batizarem, impor as mãos, etc., não no templo e
nas sinagogas.
Assim, não se deve
negar a ligação da Igreja de Jerusalém com os costumes religiosos judaicos, mas
apenas entender que, ainda assim, havia momentos de reunião especialmente
cristãos, havia prática da doutrina cristã, como foi admitido pelo Dr.
Bacchiocchi quando diz que nessas ocasiões eles expressavam sua fé mais
livremente e completamente. Isso é admitido. Havia reuniões privadas complementares. E essa admissão contradiz o que o
autor inferiu dos textos.
É interessante que o
doutor Bacchiocchi reconhece a influência da sinagoga entre os cristãos. Isso
explica muito a liturgia da Igreja Católica. Não houve abandono das sinagogas
pelos cristãos, pois esperavam que todos abraçariam a nova fé. Esse ponto é
pacífico e está de acordo com a doutrina católica.
A escolha do domingo seria
para diferenciar dos judeus, segundo O. Cullmann, citado. C. S. Mosna afirma
que os cristãos se separaram do templo e da sinagoga muito cedo devido as
perseguições dos líderes religiosos. Cita At 8, 3 e 9, 2, o que faz muito
sentido. Mas o Dr. Bacchiocchi afirma que isso não aconteceu drasticamente nem
imediatamente. Sua tese é de que os cristãos em Jerusalém continuaram a ser
zelosos pela Lei.
De fato, o eram. Mas
não ensinavam a Lei aos cristãos gentios. Apenas dos cristãos judeus se
esperava que continuassem com seu zelo pela Lei judaica.
Menciona a tese de que
os helenistas podem ter introduzido a guarda do domingo, que é destituída de
fundamento. E logo após, afirma que há muitas indicações de que os cristãos de
Jerusalém guardavam o sábado regularmente.
É óbvio que o domingo
veio a ser guardado pelos cristãos ao mesmo tempo em que guardavam o sábado,
ainda que o sétimo dia já fosse entendido como sombra da Antiga Aliança.
Assim como os cristãos
judeus batizavam e também circuncidavam seus filhos, sem notarem qualquer discrepância
entre as duas práticas, sem ver qualquer tensão entre batismo e circuncisão.
Também, como tinham suas reuniões em outros lugares, e frequentavam o templo e
as sinagogas. Mas, não levavam os cristãos gentios ao templo. Todas essas
coisas eram motivo de controvérsia somente caso se quisesse impor sua
observância aos cristãos gentios.
Afirma o dr. Samuele
que a Igreja de Jerusalém, ou seja, a comunidade cristã da cidade de Jerusalém,
originou-se do núcleo dos doze apóstolos. Isso está correto. A atitude dos
cristãos de Jerusalém, onde grande maioria era de origem judaica, era de
observância das leis religiosas judaicas, segundo o entendimento do Dr.
Bacchiocchi. E cita Atos 21, 20.
É certo que São Paulo
fez uma promessa a ser cumprida no templo, para que os cristãos de Jerusalém
vissem que também tu guardas a Lei.
Obviamente, nada disso podia ser exigido dos
que creram dentre os gentios (v. 25), pois eles deviam seguir apenas as
orientações do Concílio de Jerusalém quanto a esses pormenores judaicos.
Quanto aos judeus,
podiam seguir prescrições legais, onde até mesmo votos, no fim dos quais devia oferecer um sacrifício a favor de cada
um deles.
Lendo essas passagens
isoladamente, poderia alguém afirmar que São Tiago e os anciãos de Jerusalém, e
São Paulo, com eles, guardava toda a lei, como a circuncisão, os votos, as
purificações, os sacrifícios. No entanto, lendo Gálatas, Romanos e Hebreus fica
evidente que não era essa a mensagem da Igreja. Essa constatação já refuta
drasticamente a leitura do Dr. Bacchiocchi.
Note bem o leitor que
os cristãos gentios não criam nem praticavam essas prescrições. Também não
podiam entrar no templo. Dessa forma, não se pode pensar que a Igreja se reunia
no templo para cultuar a Deus. Veja que nos versos 28 e 29 está escrito que os
judeus acusaram São Paulo de ser contra o povo e contra o templo, e de
introduzir até gregos no templo,
profanando o lugar santo. “É que tinham
visto Trófimo, de Éfeso, com ele na cidade, e pensavam que Paulo o tivesse
introduzido no templo.”. Assim, os cristãos gentios não podiam praticar a
Lei sem que fossem circuncidados.
Por isso, sabemos que
os cristãos judeus eram zelosos da Lei, mas não impunham as observâncias legais
aos cristãos gentios. Era um modo de sepultar a lei que há tanto tempo
praticavam.
Esses cristãos
celebravam a ceia, batizavam, impunham as mãos (que hoje é a crisma), ungiam os
doentes com óleo (a unção dos enfermos), pregavam que Jesus é o salvador,
celebravam ressurreição, que são doutrinas cristãs. Portanto, guardavam o
domingo.
E como judeus que eram,
guardavam outras obrigações legais, como circuncisão, purificações, votos,
sacrifícios, festas, que são parte do judaísmo. Não podiam fazê-lo como algo
obrigatório, mas livremente. Dessa forma, igualmente guardavam o sábado, sem
impô-lo a ninguém mais.
São Tiago, chamado
irmão do Senhor, era um dos apóstolos. De fato, ele foi chamado de Tiago menor.
Era parente de Jesus, talvez um primo Seu, ou filho de São José de um casamento
anterior.
Se os judeus cristãos
de Jerusalém se preocupavam com as instituições
judaicas como a circuncisão, não se pode por isso afirmar que estivessem
guardando a Lei da mesma forma. Também não se pode afirmar que não praticavam
os sacramentos e tudo o que é próprio da nova Lei de Cristo. Dessa forma, essa
afirmação sobre a ligação dos cristãos de Jerusalém à lei de Moisés harmoniza-se
com a guarda do domingo, pois não havia tensão entre as duas práticas, entre o
que havia restado da Lei antiga e o que já estava em vigor na Lei do Evangelho.
Dessa forma, a estrita
preocupação com a lei não é contrária à abolição do sábado como dia de guarda.
O mesmo era praticado, mas não mais imposto aos novos convertidos, assim como
tudo mais citado acima. Era uma sombra que já tinha passado.
Assim, não deve causar
espanto que o sábado fosse guardado nesses termos. O sábado não havia sido
substituído, pois o domingo era guardado juntamente também. Assim, entende-se o
silêncio sobre controvérsias, que nesse quesito não havia.
São Paulo também celebrava
o Pentecoste judaico e os pães ázimos (cf. At 20, 16. 6). Essas práticas nunca
foram ensinadas na Igreja. Entretanto, isso não indica que os cristãos
regulavam suas vidas pelo calendário judaico, como pensa o autor adventista,
mas como visto, que os cristãos judeus ainda cumpriam preceitos da lei, sem
ensiná-los aos convertidos.
O apóstolo de fato
ensinava que os cristãos não deviam circuncidar os seus filhos e nem observar a
Lei (cf. Atos 21, 21). No entanto, pessoalmente era zeloso da lei, como judeu fariseu que sempre foi, mas agora
convertido.
A observação feita,
citando R. C. H. Lenski, de que os cristãos viviam como judeus, circuncidavam
seus filhos, comiam kosher, guardavam
o sábado, etc., é verdadeira. No entanto, como já observado, esses eram os
cristãos judeus, que também celebram tudo o que Cristo ensinou, evangelizando,
crendo na salvação no Nome de Jesus, o Messias, batizando, celebrando a eucaristia,
etc. Tudo isso mostra as circunstâncias de que guardar o sábado estava de
acordo com a guarda do domingo também. Supor o contrário não condiz com os
dados trazidos pelo autor.
São Paulo afirma que o
que considerava ganho, teve-o por perda (Fl 3, 7). Isso mostra que era judeu
fariseu, mas cristão acima de tudo.
As sombras representam
o transitório. Essa explicação do Dr. Bacchiocchi está correta. Nada do que foi
mostrado pode provar que o apóstolo tenha continuado a guardar o sábado e
ensinado o mesmo aos cristãos. Doutra forma, dever-se-ia concluir que ensinasse
tudo mais o que estava na Lei.
O Dr. Bacchiocchi
conclui: “É portanto impossível assumir que um novo dia de culto foi
introduzido pela Igreja de Jerusalém antes da destruição da cidade em 70 d. C..”. Mas isso não foi provado. Foi
pressuposto que, sendo os cristãos judeus excessivamente ligados à Lei, não
poderiam guardar o domingo, o que foi mostrado ser um equívoco. Basta lembrar
que os mesmos cristãos judeus guardavam tudo o mais do evangelho.
Então, o domingo era
guardado juntamente com o sábado, assim como a circuncisão era praticada ao
lado do batismo. Mas, os cristãos gentios guardavam apenas o domingo, e batizavam
seus filhos. Não havia tensão sobre a prática em si. O problema se deu quanto à
obrigatoriedade dessas práticas como
parte da doutrina do evangelho. Assim, nem o sábado nem a circuncisão foram
ensinados pelos apóstolos aos gentios.
Os cristãos judeus de
Jerusalém podiam observar as festas da Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos, ser
circuncidados, guardar o sábado e as regulações alimentares mosaicas. No
entanto, nada disso contrasta com o que ensinavam e praticavam como parte do
evangelho. Assim, também guardavam o domingo harmoniosamente com o sábado.
Quando Eusébio afirma
que os ebionitas guardavam o sábado e o domingo, isso é evidência maior de que
a Igreja observava o domingo, de modo que essa seita cristã mantinha costumes
cristãos e judaicos.
Quais são as suposições gratuitas da tese que nasce
do caso dos ebionitas? A primeira seria supor que os ebionitas que observavam o
domingo representavam os seguidores da prática original do cristianismo
judaico. Isso é de fato muito significativo, como já provado acima, e não
parece nada com suposição gratuita.
E quanto ao que Santo
Ireneu (130-200) afirma dos ebionitas? O Dr. Bacchiocchi não cita todo o texto
de Santo Ireneu a respeito dessa seita, nem mesmo na nota. O que Santo Ireneu
escreveu é importante, pois afirma que os ebionitas repudiam São Paulo, por considerá-lo apóstata da lei. Isso significa que conheciam bem que São Paulo não
ensinava a lei aos cristãos.
A nota 67, citando São
Justino, afirma tudo o que já está provado acima. O Dr. Bacchiochi nota que não
é dito que os judeus cristãos guardassem o domingo. Mas isso não era
necessário, e o contexto mostra que também não diz que praticassem quaisquer
outras doutrinas cristãs. Mas sabemos que as praticavam. Do contrário, não
seriam cristãos. O assunto em questão era a prática da lei pelos cristãos
judeus.
Na verdade, o domingo e
o sábado não estavam em oposição, e por isso São Justino não contrasta os dois
dias em sua apologia.
Se São Justino não
refere os judeus cristãos como guardadores do domingo, e ao mesmo tempo mostra
a superioridade do domingo sobre o sábado, pressupõe isso que no seu tempo os
judeus cristãos não guardavam o domingo? Isso seria um estranho demais. De
fato, esses judeus cristãos seriam uma seita, e são Justino iria denunciá-los
como hereges, assim como denuncia os ebionitas.
Os nazarenos seriam,
aos olhos dos adventistas, herdeiros diretos da comunidade cristã de Jerusalém.
No entanto, contra isso, os escritos antigos afirmam que se trata de uma seita
cristã. E assim, os nazarenos ensinavam a circuncisão, o sábado e etc.
A guarda do sábado
pelos nazarenos significaria que o sábado seria o dia de culto cristão em
Jerusalém, conforme pensa o autor adventista.
Dificilmente poderia
ser. Essa seita não praticava a mesma doutrina que os demais cristãos. Esse era
o ponto de discordância, e o que os fazia ser hereges.
Que os cristãos judeus
iam às sinagogas, isso ficou claro e não há nada que prove que os mesmos não
guardassem o domingo. De fato, como cristãos, não eram mais bem-vindos nas
sinagogas, como afirma o tópico sobre a maldição dos cristãos.
Quanto ao imperador
Adriano, esse proibiu o estudo da Torá, a circuncisão e a guarda do sábado.
Isso mostra mais uma vez como essas coisas estão interligadas.
E a indicação de que
havia distinção clara entre os bispos de origem judaica e os bispos de origem
gentia é considerada pelo Dr. Bacchiocchi não apenas em consideração ao fator
racial, mas também, em relação à orientação teológica, como por exemplo, em
referência à páscoa e ao sábado.
No entanto, como vimos,
isso não pode ser um fator de divisão, pois os bispos judeus, assim como São
Paulo, não impunham a circuncisão e o sábado aos cristãos gentios.
Desse modo, tudo o que
foi estudado no capítulo, avaliando cada linha de argumento, mostra que a
origem do domingo em Jerusalém está estabelecida.
Gledson Meireles.
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