Refutando a interpretação mortalista de: Ausente do corpo e presente com o Senhor
Façamos uma
investigação sobre a implicação da passagem bíblica de 2 Coríntios 5, 8, no que
se refere à imortalidade da alma.
A começar em 2 Coríntio
4, 14 temos que Deus ressuscitará a todos, no mesmo dia, pois é dito “que nos
fará comparecer diante dele convosco”. E o evangelho ensina que a ressureição
acontecerá no último dia.
No verso 16, o homem
exterior tem a ver com o corpo e está em contexto de morte: “Ainda que
exteriormente se desconjunte nosso homem exterior, nosso interior renova-se de
dia para dia”.
Em 2 Coríntios 5, 1 é
ensinado que quando se desfazer nossa tenda (corpo), nós recebemos (no
presente) de Deus uma casa preparada por Deus, eterna no céu (morada no céu). Não
se diz diretamente que a ressurreição ocorre imediatamente, nem que há um corpo
dado no céu, mas que há uma morada no céu para quando nossa tenda se desfizer.
O verso 4 mostra que o
desejo do apóstolo é ser glorificado e não morrer. Ser vestido, ser revestido,
é ter a veste do céu sobre a veste material, ou seja, o corpo celeste sobre o
terrestre, de modo que uma veste é posta por cima da outra.
Isso
só é possível se na parusia formos
encontrados vestidos, ou seja, vivos, e não nus, mortos.
Se
estivermos despidos, mortos, seremos vestidos, ressuscitados. Ele fala dos
salvos.
Os
vivos serão revestidos, os mortos serão vestidos. É simples assim.
O verso 6 afirma que o
tempo no corpo é estar longe do Senhor. E o verso 8 mostra que a preferência é
ausentar-se, logo, do corpo e ir habitar com o Senhor, pois o 9 diz: “vivos ou
mortos, nos esforçamos por agradar-lhe.” É possível agradar a Deus no estado de
mortos, ausentes.
Se é possível
ausentar-se do corpo e agradar a Deus estando morto, é por haver no homem algo
que permanece após a dissolução do corpo, após a tenda ser desfeita. É como que
uma glorificação da alma, para que viva já no céu, enquanto não houve a
ressurreição.
Investigando o sentido
dessa passagem conclui-se que é totalmente conforme a doutrina da imortalidade
da alma, já que é dito da tenda em que moramos, da veste por cima da nossa
veste, ou seja, o corpo e sua glorificação, de não querer ser despojados e do
poder ausentar-se do corpo para ir habitar com o Senhor.
Mas o mortalismo ensina
que São Paulo apenas queria deixar este corpo para obter o corpo da
ressureição, somente isso. E que não era “no” céu, mas o corpo “do” céu, e nada
teria a ver com ir morar no céu ou fora do corpo. São Paulo não estaria falando
de ir morar no céu, mas apenas de ser revestido da habitação do céu, o corpo
glorioso, na ressurreição.
E eis a conclusão: “Com efeito, a ideia transmitida não é a de
“morrer e ir pro céu”, mas de morrer e ser revestido de um corpo glorioso
através do qual ele estaria com o Senhor por toda a eternidade.”
Depois é feita uma
argumentação com a palavra “desejamos”, nos vv. 2 e 8. Seria que São Paulo desajava
deixar o corpo que é o mesmo que ser revestido do corpo da ressurreição. No
entanto, no original as palavras para “desejamos” são diferentes.
Outro ponto é que, estar
nú, é na intepretação mortalista como estando em pecado, numa condição pecaminosa.
Ainda que plausível, essa interpretação foge um pouco do contexto, que sempre
se refere aos salvos, em paz com Deus, e seria menos provável que essa expressão
tivesse uma ligação com a vida pecaminosa nessa passagem.
Quando o verso 4 diz
que não desejamos ser despidos, o autor admite que não é ter corpo nenhum.
Agora, pense nas frases: estar despido e estar nú. É a mesma realidade.
Portanto, estar nú não tem a ver com pecado, mas com a morte, estar sem corpo.
O desejo natural é estar
vestido, e ser revestido, o que é possível para quem estiver vivo na vinda de
Jesus. Os que estiverem nus, ou despidos, sem o corpo, terão de ser vestidos,
ter o corpo refeito na ressurreição. Essa é uma constante em todo o texto.
Quando São Paulo afirma
que não queria ser despido, ele não estava falando da ressurreição em seguida,
mas da glorificação do corpo que é feito nos que vivem. Ele esperava a Parusia.
São Paulo diz que não
queria estar despido? Em que verso? Sim, no verso 4 há o desejo de ser
revestido, ou seja, ser glorificado, e não passar pela morte para ser vestido.
É esse o desejo primordial.
E por que ele diz no
verso 8 que desejava ausentar-se do corpo para habitar com o Senhor? Porque ali
ele exprime um desejo que seria melhor, apesar de ter de passar pela morte, ou
seja: ter a tenda desfeita, estar nu, ser despido, ausentar-se do corpo, que são
modos de falar da morte. Tudo isso indica a morte.
Ali o apóstolo expressa
sua preferência (eudokomen mallon). O
que ele diz é que prefere mais isso do que aquilo, que é preferido isso ao
invés daquilo, ou seja, prefere estar com o Senhor, embora não quisesse ser
despido, mas vestido de glória vivo ainda na vinda de Cristo. Mas, se Cristo
ainda não veio, preferia ausentar-se do corpo para ir morar com o Senhor. Esse
é o sentido.
Portanto, ainda que
todos desejam a vinda de Cristo para glorificar-nos vivos, sem passar pela
morte, há um desejo maior de estar logo com Cristo, o que faz, apesar dessa
inconveniente passagem da morte, é mais preferível ausentar-se do corpo. Assim,
ele desejou algo que o levaria direto para a presença de Deus.
Vejamos a interpretação
mortalista:
Quando
simplesmente lemos a sequência do texto, entendemos perfeitamente por que Paulo
não queria ser “despido”: “...não porque queremos ser despidos, mas
revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida”. Aqui está todo o
ponto, o cerne do pensamento do apóstolo. Paulo desejava a morte?
Sim, São Paulo desejava
a morte, não como seu objetivo primeiro, natural, mas para expressar seu desejo
de encontrar com Cristo.
Não era por ser o
“caminho mais curto” no sentido de não ver o tempo passar na morte, mas porque
de fato era o encontro imediato com Jesus antes mesmo da ressurreição.
Por isso, a afirmação
seguinte está em discordância com o contexto:
“Em
outras palavras, Paulo queria morrer porque ele sabia que na ressurreição
estaria com o Senhor, e não porque pensasse estar com o Senhor na condição de
“despido” (sem corpo).”
O que ele diz, de fato
não é ““Eu
não tenho interesse na morte em si, mas na ressurreição”, mas, pelo contrário,
ele diz: “Eu não tenho interesse na morte em si, mas no encontro com Cristo”.
De fato, São Paulo já
havia falado do desejo de estar glorificado, sem passar pela morte, sem ser
despido. Portanto, seu desejo primordial não era morte-ressureição-encontro com
Cristo, mas glorificação em vida-encontro com Cristo.
No entanto, a
preferência era estar com o Senhor, ainda que ausente do corpo. Assim é que no
verso seguinte ele afirma que ausentes ou presentes agrademos ao Senhor, o que
só é possível se o morto existe.
Assim:
“Isso
confronta frontalmente a ideia de que ele estaria com o Senhor na morte, em um
estado desencarnado. Se este fosse o caso, ele desejaria estar “despido” mais
do que desejaria estar “vestido”, já que “vestido” (i.e, neste corpo) ele
estava longe do Senhor, e “despido” (i.e, sem corpo) ele estaria com Ele.” De
fato, foi isso que o apóstolo disse.
Desse modo, explica-se
que o verso seguinte (v. 9) explica esse motivo, iniciando com a conjunção grega
“διὸ” que traz o sentido de “pois”, “por isso”, “por essa razão”, etc.,
exortando para agradar a Deus estando presente ou ausente. E o verso 10
menciona o tribunal de Cristo para julgar conforme bem ou mal feito “enquanto
estava no corpo”, uma linguagem que indica o juízo particular, da alma.
Deve-se entender que
ser vestido, ou “revestido”, ou seja, vestido de novo, não tem a ver com ser
despido e depois vestido de novo, mas com estar vestido e ter uma veste posta
por cima da outra, revestido.
Para o mortalista que
entendeu assim fica confuso compreender o raciocínio dos versos 2, 3 e 4. Em
outras palavras, o apóstolo não queria morrer e ser ressuscitado, mas ser
glorificado, ser encontrado vivo na volta de Jesus.
Vejamos isso citando os
versículos, na tradução da Almeida Corrigida Fiel, online.
“E por isso também
gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu.” (v. 2)
“Se, todavia, estando
vestidos, não formos achados nus.” (v. 3)
“Porque também nós, os
que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser
despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida.” (v. 4)
O verso 4 na versão Ave
Maria é traduzido como “revestidos de uma veste nova por cima da outra, de modo
que o que há de mortal em nós seja absorvido pela vida”. Trata-se do salvo vivo
sendo glorificado na vinda de Jesus.
São Paulo afirma que não
deseja ser despido, mas vestido, para que o que é mortal seja absorvido pela
vida. Nesse ponto, está claro que o corpo vivo mortal é absorvido pela vida do
corpo espiritual, sendo transformado.
Para provar isso,
vejamos o que diz 1 Coríntios 15, 51-53, que trata dos que estiverem vivos na parusia: “nem todos morreremos, mas
todos seremos transformados”, esse é o objetivo da passagem, para mostrar que a
carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus (v. 50).
O verso 52 afirma que
os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados, e então: “É
necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que
este corpo mortal se revista da imortalidade”.
Vestir aqui é “endysasthai - ἐνδύσασθαι”, que no contexto tem o sentido de
sobrevestir. Esse é o mistério, pois nem todos morrerão, mas todos serão
transformados (ἀλλαγησόμεθα).
Quando o mortalismo
argumenta que São Paulo não estava “nem um pouco interessado no estado entre a
morte e a ressurreição, mas somente na ressurreição”, e que, na citação de Joe
Crews, “ele não está ansioso para o sono
da morte (sendo “despido”), quando ele não estaria com o Senhor, mas ele está
esperando pela redenção do corpo, quando ele seria revestido com a “casa eterna
nos céus”.”, trata-se de um erro de interpretação.
Ele não queria ser
despido, mas vestido, revestido. Correto. Mas o que isso quer dizer no mortalismo?
Significa que viver no
corpo ressurreto é melhor que viver no corpo atual. Mas o contexto não é bem
assim.
E para a posição imortalista,
que está sendo provada em todo o contexto?
Significa que viver no
corpo glorificado (igual ao ressurreto) sem passar pela morte é melhor.
Viver sem corpo nenhum seria
pior, mas foi dito que isso é preferível para ir habitar com o Senhor.
Assim, ser despido
seria menos desejável que ser vestido com o corpo imortal, mas foi preferido
por causa do encontro mais rápido com Cristo. Isso mostra que o estado sem
corpo é encontrar-se com Jesus. Está refutada a interpretação dada pelo
mortalismo, que conclui o contrário, de que o estado sem corpo seria tão
somente a inexistência entre a morte e a ressurreição.
Entrando na doutrina mortalista,
se o apóstolo não queria estar despido, por acreditar que isso seria inexistir,
que não há nada entre a morte e a ressurreição, mas queria mesmo assim ser
despido para depois ressuscitar, pois seria “o único jeito” para estar com o
Senhor, tudo o que foi mostrado acima, no argumento mortalista, perde sua
força.
De fato, o mortalista
tentou provar que São Paulo desejava não ser despido, não porque não quisesse ir
encontrar com Jesus, mas porque ser despido seria não existir, mas sabia que
seria o único jeito de encontrar com o Senhor.
Mas isso cria outro
problema. São Paulo não afirmava que morrer e ressuscitar seria o único jeito
de estar como Senhor. Nada disso.
De fato, ele afirma que
nem todos morreremos, mas todos seremos transformados. Ele tinha o desejo de
estar vivo na vinda de Cristo, desejo, aliás, geral dos cristãos.
Isso era o que ele
queria, não morrer, mas ser transformado. Mas antes de tudo, queria até mesmo
ausentar-se do corpo e ir morar com o Senhor, antes da vinda de Jesus.
O desejo tão ardente de
São Paulo era a glorificação, pois não queria ser despido. E, ainda, o desejo maior
era estar com Cristo, mesmo que para isso precisar-se ser despido, ausentar-se
do corpo, pois presente ou ausente agradaria ao Senhor.
A redenção do corpo se
dá na vinda de Cristo, na glorificação (para os vivos) e na ressurreição (para
os mortos ), conforme 1 Cor 15, 51 e Rm 8, 23. Eis o mistério que São Paulo
revelou em 1 Coríntios 15, 50-51.
A explicação sobre “deixar
este corpo” como sendo deixar o estado atual de vestido para ser revestido na
ressurreição não explica o contexto, e contradiz o que foi acima explicado.
Deixar o corpo é ser despido. Seria o desejo de ser despido para ser vestido.
No entanto, o desejo original era não ser despido, mas vestido por cima da veste
atual.
Se ao expressar deixar
este corpo significa que desejava conseguir o corpo da ressurreição, são Paulo
estaria desejando deixá-lo desde o início, o que não é verdade.
Ele diz que não
desejava ser despido. É bom notar que o piscar de olhos, que o texto bíblico utiliza
para falar da ressurreição, não se refere ao tempo entre a morte e ressurreição,
mas ao soar da trombeta final, que acarretará imediata ressurreição.
Dessa forma, destroça-se
a interpretação mortalista que tentou destroçar a doutrina da imortalidade da
alma por meio desse texto.
Resumo
comparativo |
Interpretação
mortalista |
Interpretação
imortalista |
Desejo de
estar despido
|
Não há tal desejo |
Não há tal desejo |
Desejo da
ressurreição
|
Sim, algo enfatizado. |
Não, não foi o assunto. |
Desejo de
estar com Cristo
|
Sim, após ressurreição. |
Sim, após ausente do corpo. |
Ausente do
corpo ou deixar o corpo
|
Significa estar com o corpo glorioso
ressuscitado. |
Significa ir morar com o Senhor, na
alma imortal, até receber o corpo glorioso. |
Ponto fraco |
Única forma de estar com Cristo é pela
ressurreição, por isso a preferência pela morte. Não foi provado que
ausentar-se do corpo é estar no corpo glorioso. |
- |
Ponto forte |
- |
Estar no corpo é estar ausente do
Senhor, pois andamos por fé e não pela visão, por isso o desejo de ausentar-se
do corpo e ir habitar com o Senhor, na morte. |
Conclusão: |
O verso 2 afirma que não desejamos se
despidos, mas vestidos. Isso é o mesmo que ser transformados (cf. 1 Cor 15,
51), o que prova que para o encontro com Cristo não é necessária a morte. Refuta-se
a interpretação por esse ponto fraco. |
Assim, ausentar-se do corpo na morte,
indica encontro imediato com Cristo, v. 8, visto que presentes (vivos) ou
ausentes (mortos) “nos esforçamos por
agradar-lhe” (v. 9). É possível estar com Cristo quando ausentes do
corpo. |
Além
do mais, quando se diz de deixar o corpo e ir habitar com o Senhor, isso
supõe sair da terra, e ir para o céu, o que refuta o mortalismo. O mesmo é
encontrado quando se diz: partir, como em uma viagem, supondo sair da terra,
e estar com Cristo, que está no céu. Só faz sentido, também, “estar em casa” ou “estar
fora”, agradando o Senhor, se isso se dá no tempo presente, pois na
eternidade não haverá salvo longe do Senhor. |
Gledson Meireles.
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