Refutação à Morte física ou “espiritual”?
Daniel 12, 2 afirma que muitos ressuscitarão para a
ignomínia e infâmia eterna. Não parece ser uma ressurreição para morrer
fisicamente de novo. Isso só pode ser o inferno.
Há
uma ressurreição espiritual, que ocorre agora (νῦν),
como está em João 5, 25, e outra que ocorrerá no futuro, como está em João 5,
29. A ressurreição presente se dá em quem ouve a voz de Cristo já em vida. A
ressurreição final é aquela que ressuscitará os que estão mortos nos sepulcros.
Interessante a intepretação mortalista, de que os
mortos que vivem agora não significaria uma ressurreição no presente, mas
apenas a afirmação de que “iam morrer, mas agora irão viver”, como se fosse
apenas uma promessa. Mas o texto deixa claro que há uma vivificação presente, e
por isso Ef 2,1 fala que “estávamos mortos”, no passando, e não que estávamos a
pontos de morrer mas agora não vamos mais morrer. Essa não é a mensagem. O
texto é claro em falar da morte em que se encontra o pecador não justificado e
regenerado, como estado em morte espiritual. Sendo assim, há a ressurreição
espiritual, na presente vida, que já garante a entrada no céu, e que pode ser
experimentada pela alma.
Aqui, certamente, pode ser útil ver a dualidade da
natureza humana, onde o espírito está preparado, e já pode entrar no céu, e a
carne é fraca, pois o corpo ainda requer a redenção na ressurreição. Isso
parece ser mais compreensível na dualidade do ser humano, que compreende os
diversos aspectos, mas que prevê a distinção e real separação dos elementos na
morte, o que o monismo que há no holismo mortalista não permite. Seria estranho
que um aspecto estivesse já redimido e outro não se não houvesse como
separá-los na morte.
A ideia de que a morte é biológica e significa
cessação da existência é algo não provado. É um pressuposto. A morte é de fato
a separação corpo e alma, em algum sentido, e não se pode negar isso. O que é
necessário é garantir que há no ser humano algo que permanece após a morte, o
que já foi provado.
Por isso, ao invés da vida eterna, os ímpios e
desobedientes recebem ira e indignação (Rm 2, 8), que é a morte (Rm 6, 23). Em
Mateus 25, 46 há a antítese “castigo eterno” e “vida eterna”. Pode-se concluir
que a morte é o castigo, a ira e a indignação eterna para os ímpios, mas não no
sentido de inexistência.
Refutação
ao item Cadáveres
Para o mortalismo a segunda morte é igual à primeira,
e os ressuscitados serão mortos literalmente, virando cadáveres, como está em
várias passagens que falam da matança, como Jeremias 7, 32-33 e Isaías 66, 24.
Não se sabe como imaginam o fogo do inferno, já que o
Vale de Hinom, o Geena, queimará os ímpios ressuscitados até a morte, segundo
explica o mortalismo. Se o fogo é literal, e os corpos corruptíveis estarão
sendo queimados por esse fogo, espera-se que a proporcionalidade das penas não
durará muito, já que em pouco tempo todos, independente da proporcionalidade da
penas estão mortos. E ainda, é de se esperar que os demônios também sejam
queimados por esse fogo literal. Ou se é um símbolo, entende-se que não se sabe
ao certo como agirá esse fogo e quanto tempo durará para castigar os ímpios e
os demônios e Satanás.
É impressionante, porém, que a interpretação
mortalista para essas passagens seja de certo modo literal, pois desejam formar
a ideia de aniquilamento, de que os ímpios ressuscitados irão morrer novamente,
de que virarão cadáveres que exalarão mau cheiro e serão comidos pelas aves.
No entanto, todo o contexto é simbólico, usa
metáforas, está claramente afirmando a matança dos maus mas em uma simbologia,
e isso é claro quando se diz que os montes se encharcarão de sangue, o que é
claramente uma metáfora.
A comparação de Mateus 8, 12 com Isaías 34, 3 é
interessante, mas a linguagem apenas tem certa semelhança. Jesus fala de lançar
pessoas vivas nas trevas, enquanto Isaías fala de lançar cadáveres fora.
Fazendo uma ligação das duas passagens como se estivessem ensinando que pessoas
serão lançadas fora e sofrerão até à morte e servirão de comida de abutres.
Mas, a doutrina tradicional interpreta todas essas passagens como símbolo do
inferno do fogo eterno.
Também é citado o Salmo 112, 10 e Isaías 18, 6 como
passagens aniquilacionistas. O simbolismo é patente, já que em Isaías 18, 6
afirma que esses cadáveres durarão várias estações servindo de comida para
abutres e animais selvagens.
Os textos do Antigo Testamento deixam a impressão de
que os salvos verão os condenados sempre em sua condenação, quando diz, por
exemplo, que adorando o Senhor, quando se virarem verão os cadáveres dos
ímpios, “porque o verme deles não morre e seu fogo não se extinguirá, e para
todos serão um espetáculo horripilante” (Is 66, 24), aludindo que os salvos
saberão do castigo dos condenados.
É bastante compreensível que o fogo do inferno não tem
fim. Ele é uma força de condenação, como está em Tg 3, 6, pois o fogo do
inferno incendeia a língua, trazendo os malefícios de condenação. Assim, também
o mortalismo não vê nesse fogo apenas a condenação, mas o resultado eterno, que
não requer que o mesmo esteja sempre aceso.
Isso é curioso, mas o que os evangelhos mostram é que
a fornalha ardente, as trevas exteriores, a escuridão eterna, o ranger de
dentes, indica um tormento eterno, que é realçado e esclarecido por outras
passagens. Dessa forma, a interpretação mortalista, que tem nos textos do
Antigo Testamento, em sua maioria, a ideia de aniquilação, não podem provar a
doutrina aniquilacionista em seu contexto geral, como o leitor ficará sabendo
ao ler toda a refutação, que não se reduz apenas ao presente tópico.
Gledson Meireles.
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