terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Livro: A lenda da imortalidade da alma: 1 Ts 4, 17

 Refutação: Não precederemos os que dormem

 

Não precederemos os que dormem – Qual seria a fé dos cristãos primitivos que ainda não tinham recebido a mensagem da ressurreição? Talvez pensassem que os mortos no sheol não retornariam para serem arrebatados na vinda de Jesus, o que explica pensarem que estavam perdidos.

Se assim o for, seriam materialistas, não crendo nem na alma nem na ressureição, o que seria muito estranho para cristãos. De dessa forma, aqueles cristãos desinformados não estariam pensando em alma imortal. Nesse cenário, nada do que São Paulo está ensinado nega a alma imortal.

São Paulo menciona alguns “que não têm esperança” (v. 13). Então, ele ensina que haverá ressurreição, com base no fato da ressurreição de Jesus (v. 14). É uma defesa da doutrina, do dogma da ressurreição. Aqui, mais uma vez, temos o seguinte: em todo o contexto 1 Ts 4,17, temos que Jesus virá e levará os salvos com Ele. Isso é o mesmo que está em Fl 3, 21, pois como cidadãos do céu, Jesus virá de lá (do céu) para ressuscitar os mortos, transformar o corpo mortal do vivos em corpo glorioso, e, como 1 Ts 4, 17, levar a todos os santos com Ele para o céu. É uma leitura bastante natural das duas passagens.

As palavras citadas de Basil Atkinson, que são tidas por corretas pelo autor do livro, ensinam que “não estaremos com o Senhor até o dia da ressurreição”, contrariando Fl 1, 23.

E outra vez, um lampejo da verdade pode ser visto, quando o autor mortalista encontra uma tradução do texto de Ts 4, 17 que está de acordo com o seu estudo, e ele usa do momento para elogiar uma tradução católica, afirmando: “Ironicamente, é uma versão católica (Ave Maria) que traduz melhor este texto...”.

Obviamente, que para nós, católicos, que estamos acostumados com a verdade, isso não é irônico, mas o comum, visto que as traduções cristãs católicas da Bíblia fazem o melhor para verter o sentido original da Palavra de Deus. Portanto, não é o fato da doutrina cristã católica ensinar a imortalidade da alma que faria uso de uma tradução que a favorecesse quando no contexto a tradução se mostraria errônea.

Então, essa passagem poderia ter implicações contra a imortalidade da alma se não houvessem tantos textos que já foram esclarecidos diante das objeções mortalistas, e que mostram que a alma é imortal. Assim, trata-se de uma passagem que não favorece o mortalismo, e apenas mantem silêncio sobre o tema da alma, como também, aliás, não fala da ressurreição dos ímpios diretamente, dando apenas uma indicação, pois diz que os mortos em Cristo ressurgirão primeiro, o que leva a entender que os demais ressurgem depois.

A ênfase na ressurreição acontece porque ela é a meta final para o salvo estar com Deus no Reino. Dessa forma, explica-se que presença da alma com Cristo não é o que se menciona nesses casos, pois trata-se de um estado provisório.

Portanto, não se pode usar essa passagem para provar que os salvos estarão com Cristo apenas na ressurreição, pois cada cada já experimenta a presença de Cristo em sua alma imortal no estado intermediário, e na ressurreição entrará no reino definitivo.

Gledson Meireles.

sábado, 20 de janeiro de 2024

Deus: o Pai e o Filho

A divindade de Jesus

Deus

Para estudar a doutrina da Trindade é preciso primeiro entender quem é Deus. O estudo será feito com base no que ensinam as Testemunhas de Jeová (TJ), que não creem na trindade, e a partir do que está na doutrina dessa denominação será feita a apresentação da doutrina trinitariana.

Deus é “O Ser Supremo” cujo nome é Jeová. Deus é aquele que tem força, majestade, dignidade e excelência. Para os membros da denominação TJ, somente o Pai é Jeová, somente o Pai é o Verdadeiro e Único Deus eterno e Todo Poderoso.

Mas, vejamos que Jesus está com o Pai, na mesma autoridade e poder, então Ele está no mesmo patamar do Ser Supremo. Também podemos ver que Jesus tem força, ainda que alguém diga que Ele a recebeu do Pai, então Jesus exerce a força do Pai, e portanto tem a força de Deus Pai. Jesus também possui majestade, dignidade e excelência. E a própria Bíblia ensina que Jesus é o Verbo, que estava com Deus no princípio, e que ERA DEUS. Portanto, Jesus é Deus, está com o Pai desde o princípio, utiliza Sua força que é também do Pai, tem majestade, dignidade e excelência. Dessa forma, Jesus tem a mesma autoridade de Deus Supremo.

No entanto, a doutrina das TJ afirma que Jesus é “um deus”, menor, poderoso, mas não como Deus Pai, tendo sido criado pelo Pai. Esse é o problema, quando se afirma que Jesus foi criado. Isso ficará mais claro no estudo.

Quando responde a questão sobre se Deus teve começo, o raciocínio das TJ é que “Nossa mente não pode compreender isso plenamente. Mas não é uma razão sólida para o rejeitar”. Isso está correto.

O mesmo pode ser dito da doutrina da Trindade de Deus, pois a Nossa mente não pode compreender isso plenamente. Mas não é uma razão sólida para o rejeitar.

Se Jesus é Deus, como as TJ ensinam isso a respeito de Jesus. De fato, todos reconhecem que Jesus afirmou que o Pai é “o único Deus verdadeiro” (João 17, 3), que que fora de Deus não há não, afirma Is 44, 6. E, por fim, em 1 Cor 8, 5-6 está escrito que há um só Deus, o Pai. Como entender o modo da divindade de Jesus, que espécie de Deus Ele é.

É um mistério, mas é como está escrito em diversas partes das Escrituras, o que forma a verdadeira teologia. Vejamos:

Em João 1, 1 está escrito que no princípio o Verbo estava junto de Deus e era Deus. No v. 3 afirma que tudo foi feito por Ele. Dessa forma, temos que desde o princípio Jesus estava junto com o Pai, Ele era Deus, e foi o criador de tudo o que existe. Dessa forma, Ele está “no” Deus verdadeiro, junto dele, como que dentro de Deus, para usar a expressão de Isaías que diz: “Além de mim não há Deus”.

Então, Deus que há um só Deus, que é o Pai de Jesus. Esse é o único Deus, não havendo “deus” fora dele. Temos que entender, por definição, que se Jesus é Deus, como está em João 1, 1, Ele tem de estar na mesma divindade de Deus único e verdadeiro. E, por revelação em João 17,3 e 1 Cor 8, 5-6, esse Deus único é o Pai de Cristo.

Quando o Salmo 104, 24 afirma: Quantos são os teus trabalhos, ó Jeová! A todos eles fizeste em sabedoria”, devemos saber que a sabedoria de Deus é Jesus, que é revelado como o Filho. Se Deus sempre teve sabedoria, temos por implicação que Jesus está com Deus desde o princípio, de modo inseparável, e que é Deus na mesma divindade com Deus único e Seu Pai, porque não pode ser deus fora dele. Desse modo, Jesus é eterno, a eterna sabedoria de Deus.

Quando se ensina pelas TJ que “Jeová é único; nenhuma outra pessoa partilha com ele a sua posição”, podemos entender isso na doutrina da trindade pelas relações das pessoas. O Pai é sempre a fonte em relação ao Filho e ao Espírito Santo, e portanto o Filho e o Espírito não possuem a mesma posição do Pai. Isso não significa que não tenha a mesma autoridade, poder, majestade, dignidade e excelência, pois cada pessoa de Deus a possui, por haver uma unidade, única divindade, e a autoridade vem do Pai e é compartilhada pelo Filho e o Espírito Santo.

Assim, Jesus é Deus, não no sentido de um Deus, mas, como demonstrado acima, é Deus com Deus na mesma divindade desde o princípio e eternamente. Ele é poderoso, como Is 9, 6. Mas, dizem as TJ que Jesus não é Todo-Poderoso. No entanto, o poder de Jesus é o mesmo do Pai, que criou tudo o que existe, pois sem Cristo nada do que foi feito se fez. Se o Pai utilizou seu poder para criar todas as coisas com a sua sabedoria, que é o Filho, então o poder é um só. Não pode haver poder menor em Deus. Se Cristo é Deus em Deus e por Ele tudo passou a existir, há o mesmo poder no Pai e no Filho e no Espírito Santo, tudo procedendo do Pai na relação entre as pessoas trinitarianas. Quando a doutrina das TJ vem no Pai o único Deus o que estão percebendo é essa relação das Pessoas de Deus: Pai como fonte, a segunda Pessoa como Filho procedendo do Pai e o Espírito Santo como essa relação do Pai e do Filho. Por isso, afirmam que o Espírito Santo é uma “energia”, negando que seja Pessoa, o que é um equívoco.

Portanto, Deus é Todo-Poderoso, e o Filho está exercendo esse poder. Portanto, Jesus é Todo-Poderoso. Jesus é Filho na relação da trindade, mas em Isaías é chamado de Pai da eternidade, Pai dos tempos eternos, o que mostra Sua existência eterna em Deus, como visto a partir de João 1, 1-3.

Desse modo, se Jesus é o “reflexo da glória de Deus” e o Pai é a “Fonte dessa glória” (Heb. 1, 3), tudo está conforme foi expresso acima onde na relação das Pessoas de Deus o Pai é a fonte e o Filho procede do Pai. Dessa forma, é reflexo da Sua glória, tendo então a mesma glória.

Então, Jesus existe na forma de Deus, como admite a doutrina das TJ, e que o “Pai ordenou que “no nome de Jesus, se dobre todo joelho”. No entanto, as TJ afirmam que isso é “para a glória de Deus, o Pai”, citando Fl 2, 5-11.

Essas explicações não contrariam a doutrina da Trindade, mas a expressam com excelência, pois e Filipenses está escrito que Jesus tem condição divina, com o Pai, como já visto acima, e possui “igualdade com Deus”, como está na doutrina da trindade.

Em João 17, 3 Jesus está afirmando a vida eterna é conhecer o Pai, “um só Deus verdadeiro” e a Jesus que Ele enviou. E no verso 4 pede a glorificação, com a glória que teve sempre com o Pai. Dessa forma, a glória que Jesus estava recebendo era a mesma que tinha antes de descer à terra. Estava sendo glorificado como Homem.

Tudo isso confirma a doutrina da Trindade, pois Jesus está no Único Deus verdadeiro, do qual é Filho, que teve sempre a glória “antes da criação do mundo”, o que indica que essa glória Ele a tem desde a eternidade, e que na terra foi glorificado recebendo na Sua humanidade da glória do Pai.

Em 1 Coríntios 8, 6 temos: “Mas, para nós, há um só Deus, o Pai, do qual procedem todas as coisas e para o qual existimos, e um só Senhor, Jesus Cristo, por quem todas as coisas existem e nós também”.

Se alguém disser que o Filho não é Deus, pois o texto afirma que há um só Deus o Pai, também deverá afirmar que o Pai não é Senhor, pois está escrito que há um só Senhor. Na verdade, o que está sendo ensinado aí é que Deus é fonte de todas as coisas, inclusive do Filho pelo qual tudo foi feito. Assim, tudo procede do Pai pelo Filho.

Se alguém disser que Deus nessa passagem tem um sentido diverso, ou seja, que o Pai é o único Deus no sentido supremo, e que Jesus é o único Senhor no sentido da sua excelência obtida na ressureição, por exemplo, então temos o mesmo que antes, pois desde o princípio esse Jesus, que é o Verbo eterno, estava como Pai, na glória do Pai, e era Deus, não diferente nem além do Pai nem fora do Pai, mas com o Pai. Assim, esse Deus-Verbo está na mesma divindade do Deus que é o Seu Pai.

O termo Deus em Sua acepção de Ser Supremo, Único verdadeiro, Todo-Poderoso contém a Pessoa do Filho, que procede dessa suprema, única e verdadeira fonte, desde a eternidade, e, por conseguinte, do Espírito Santo. É desse modo que entende-se bem a trindade.

Dessa forma, o Filho também é eterno no Pai. Tudo o que existe veio do Pai por intermédio do Filho. Existimos para o Pai por meio do Filho. Isso porque o Filho está eternamente em Deus. Dessa forme, temos Deus em Deus, ou como está no credo constantinopolitano: Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado.

Aqui está o ponto: gerado, não criado. Isso se entende que o Filho é a Sabedoria de Deus, que Deus usou para criar o mundo, nessa imagem belíssima que explica a eternidade do Filho, pois o Pai nunca viveu sem a sabedoria, e como Pai eterno, nunca esteve sem o Filho. Por isso, o Verbo junto de Deus era Deus. Temos então: Deus em Deus. Ele é único, é verdadeiro. Entende-se assim que o Pai e o Filho, duas Pessoas em Deus, possuindo a mesma divindade, constituindo o mesmo Deus.

O verbo (Jesus) estava com Deus (o Pai). A preposição pros é traduzida por “com” e indica também direção. O Filho está como Pai direcionado ao Pai desde o princípio, antes da fundação do mundo.

Então, existe diferença entre a filiação de Jesus e a nossa. Jesus é Filho único do Pai, ainda que Deus tenha mais filhos adotivos na graça. Jesus é Filho não porque foi criado diretamente pelo Pai, como se o Pai tivesse criado antes de todas as criaturas a primeira criatura, quando o Pai estava sozinho.

De fato, não é assim, já que a Bíblia mostra que o Filho é o meio pelo qual o Pai criou todas as coisas, o que só pode significar que o poder que o Pai exerce para originar tudo é o que está no Filho e age por meio do Filho. Desse modo, o Filho não pode ser menos poderoso agindo em concomitância e auxílio ao Pai Todo-poderoso, pois senão as obras seriam diversas, umas vindas do Pai, outras do filho, como se fossem de dois deuses, um Supremo e outro subordinado.

Se o Pai cria todas as coisas por meio do Filho, o Filho é criador como Pai, no mesmo poder. Assim, esse Filho que é o Verbo junto (πρὸς) de Deus desde a eternidade, cria como mesmo poder do Pai.

Por isso, Jesus dizia: “Meu Pai e vosso Pai”, “meu Deus e vosso Deus” (João 20, 17). Deus é Pai de Cristo de maneira diversa, e é Seu Deus também de maneira diversa, pois o Filho está no Pai, é seu reflexo e sua imagem. De fato, o Filho é igual ao Pai, em sua “igualdade com Deus”, como está em Fl 2.

Jesus é Deus (Jo 1,1), tem a forma (μορφῇ) de Deus, (ἴσα) igual a Deus (Fl 2, 6), a exata expressão (charaktér) de Deus. E ainda, que sustenta toda a criação com o poder da Sua palavra.

Se alguém disser que esse poder provém de Deus, o Pai, como Fonte, está correto, pois o poder do Filho é o mesmo do Pai, como mesmo Deus que é, lembrando que o Verbo era Deus e estava com Deus, e por isso foi o criador de todas as coisas e sustenta todas as coisas com o Poder da Sua Palavra. Por isso, também o Pai está sustentando tudo, já que sempre trabalha, como diz Cristo no evangelho: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João 5, 17).

Tudo o que o Filho faz é por ver o Pai fazer. Assim, utiliza o mesmo poder do Pai, que é Todo-Poderoso. E a honra que o Filho recebe é igual à do Pai: “Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai” (João 5, 23). Sendo essa honra ao Pai uma honra suprema, de adoração, também o Filho é honrado com suprema honra. O Verbo encarnado realiza a obra do Pai e recebe igual honra. Lembrando que Ele sempre esteve como Deus e era Deus (cf. Jo 1, 1-3).

Outra prova da divindade de Jesus Cristo no sentido pleno de Deus eterno e Todo-Poderoso é João 1, 18. Está escrito que “o único gerado Deus, o que está no seio do Pai”, que é a mesma doutrina de sempre: o único Deus gerado no seio do Pai, e não criado, esse é o único que viu a Deus de uma forma única, diversa, que pode fazer depender dele toda a revelação. Os anjos veem a Deus, mas não em Deus, na intimidade de Deus, no interior de Deus, junto com Deus, no seio de Deus, como o Filho. Assim, entende-se a trindade.

Para as TJ, Jesus tem a qualidade de um deus, como pessoa que está em uma posição elevada em relação aos outros, mas não crê que seja de fato Deus, mas uma criatura elevada. Então, quando afirma que Jesus não disse que era Deus mas que era “Filho de Deus”, isso não muda nada, pois uma vez que se apresente que Jesus é Deus, logo dirão que é “um” deus menor. Assim, se existisse essa frase: Eu sou Deus, diriam que Ele era um deus no sentido que está na doutrina da denominação.

Jesus é chamado o Emanuel (Deus conosco). Mas, e quanto a outros nomes que possuem o nome de Deus, como Eliata (Deus veio), Jeú (Jeová é ele), Elias (meu Deus é Jeová), sem que nenhum desses homens fosse o próprio Deus?

Com Jesus o nome indica muito mais. De fato, em Hebreus 1, 5 está escrito que a nenhum anjo Deus disse: eu hoje te gerei e quando Cristo desceu à terra foi dito: Todos os anjos de Deus o adorem (προσκυνησάτωσαν). Esse contexto não diz respeito à uma certa homenagem, que pode ser dada a governantes e grandes figuras, mas se trata de uma ordem de Deus para o anjos adorarem o Filho encarnado. Essa adoração é dada ao Verbo-Filho de Deus como homem, pois ele é a Pessoa do Verbo eterno, como visto antes.

É certo que, por ter a palavra “adorar”, nas línguas originais, o sentido de veneração, homenagem, isso exige atitude do coração e da mente reconhecendo Jesus como Filho de Deus, Salvador, vindo do Pai, igual ao Pai em natureza divina. Se alguém não crê na divindade de Jesus igual à do Pai, de fato não o está adorando como Hb 1, 6 exige.

Artigo escrito com base no livro: Raciocínio à base das Escrituras. Obra publicada pelas Torre de Vigia.

Gledson Meireles.

Livro: A imortalidade da alma: bispo Teófilo

 Refutação: • Teófilo de Antioquia (120-186)

 

São Teófilo, bispo cristão católico da cidade de Antioquia, que viveu no século segundo, é elencando como mortalista, ou seja, como aquele que não crê na imortalidade da alma e que ensina o aniquilacionismo. Vejamos as passagens alegadas para isso, para vermos se esse bispo ensinava tal doutrina.

Eusébio de Cesareia faz menção desse bispo, cita outras obras que não foram preservadas, e o apresenta como defensor da fé contra tantos hereges que existiam naqueles tempos.

Primeiro, é preciso ver que no seu Livro a Autólico I, 5, ele escreve:

 

“Do mesmo modo como a alma não pode ser vista no homem, pois ela é invisível para os homens, mas pode ser imaginada por causa dos movimentos do corpo, assim também acontece com Deus: ele não pode ser visto pelos olhos humanos, mas pode ser visto e imaginado pela sua providência e pelas suas obras”.

 

Nessa passagem, São Teólifo usa um exemplo para as condições do conhecimento de Deus, e expressa que a alma é invisível no homem. Parece não ser a mesma opinião dos mortalistas, que dizem que o homem é alma e que não possui alma. Ou ainda, que afirma que a alma é apenas a vida física que está no corpo.

As palavras de Teófilo concordam que a alma é de fato a parte espiritual do homem, que anima o corpo, e que é imaginada pelos efeitos que produz no corpo, e sendo assim, pode-se concluir por implicação, ela é imortal.

No capítulo 14 do mesmo livro ele menciona os tormentos eternos dos incrédulos: “Eu te peço: submete-te também a ele, para que, não crendo agora, forçosamente tenhas que crer mais tarde em tormentos eternos”. Portanto, é de se pensar que Teófilo ensinava a mesma doutrina católica de sempre sobre a alma.

Contudo, vamos aos argumentsos mortalistas apresentado no livro a respeito de Teófilo. Como o mortalismo interpreta a doutrina ensinada por Teófilo, e o motivo dessa interpretação estar equivocada, é o que será mostrado adiante.

A primeira citação é do livro II, 24. Ali, São Teófilo ensina que o homem foi criado para um dia ir para o céu. Esse foi o plano original de Deus, onde sem o pecado não haveria morte e o homem iria passar da vida física na terra e ir diretamente ao paraíso no céu.

Ensina que o ser humano não foi criado mortal nem imortal, mas capaz das duas coisas. Ou seja, o homem podia morrer, mas também podia não morrer, dependendo da sua vida em união com Deus. Trata-se, portanto, da morte física, que ainda não existia, e não tem nada a ver com o que aconteceria com o ser humano, com a sua alma, após a morte entrar no mundo.

Depois são citadas as passagens 26 e 27 do livro, e o autor mortalista critica o ensino da alma imortal como se o mesmo fosse o “antídoto” para a morte. Sabendo que isso não é o que Teófilo ensinou, mas enfatizando que ele cria na ressurreição, então conclui que o bispo era mortalista.

A comparação de Teófilo com o vaso quebrado que é refeito é oportuna para a ressureição, e correta. De fato, ali está sendo ensinada a ressureição do corpo, e nada mais. Não há implicação nenhuma sobre a alma.

E quando Teófilo afirma que: “Quando depuseres a mortalidade e te revestires da incorruptibilidade, verá a Deus de maneira digna”, o mortalismo entende que não há visão de Deus antes da ressurreição, no estado intermediário, pois o bispo afirma que é na ressurreição que o salvo poderá ver a Deus.

Essas seriam as provas de que Teófilo não era imortalista. De fato, em outra obra que o autor mortalista trata de Teófilo, ele fala de “claros indícios” de que o bispo não era imortalita.

Um exemplo seria a doutrina da conflagração universal, que Teófilo ensinava, e afirmou que também era a doutrina dos gregos. Mas, de fato, Teófilo escreveu das doutrinas que os filósofos ensinavam e que concordavam com a fé cristã, entre elas certamente está a conflagração universal, mas não na sua inteireza.

Como o próprio livro mortalista apresenta, essa doutrina ensina a destruição total do planeta pelo fogo, e que as almas durariam algum tempo após a morte até serem destruídas na conflagração. Teófilo não ensinava isso. Portanto, não é o fato do bispo também crer em certa conflagração universal que ele também iria crer no aniquilamento dos ímpios.

Ainda, quando Teófilo escreve ser “imortal”, o texto é interpretado como a doutrina da imortalidade condicional, ou seja, que haverá para os salvos a imortalidade após a ressurreição.

De fato, o bispo estava se referindo à ressurreição quando ele escreve: “...Deus ressuscitará a tua carne, imortal, juntamente com tua alma. Então, tornado imortal, verás o imortal””. No entanto, isso apenas significa que a alma se juntará com o corpo, e não que estava morta e foi ressuscitada.

Outra coisa, a posse da alma imortal não é o mesmo que ter imortalidade, pois a alma em si é imortal, mas na morte ela se separa do corpo, que é animado por ela, e isso é a morte. Portanto, trata-se de uma crítica errônea da doutrina da imortalidade da alma.

A doutrina católica não ensina que o homem é imortal hoje, como se a alma imortal significasse que a pessoa fosse imortal. De fato, a separação do corpo e da alma configura a morte, e se a alma continua em consciência e existência pós-morte, isso não é imortalidade da pessoa, mas somente de parte da pessoa que é a alma, e que por essa razão requer a ressurreição. Aliás, é a imortalidade da alma que explica o modo pelo qual a pessoa sente o estado de morte.

E sobre o cuidado de Deus com os salvos depois de mortos, que é uma referência do capítulo 38 do Livro II, tendo a ver com a ressurreição dos mortos, de fato, está correto. Contudo, isso não depõe contra a fé na imortalidade da alma, mas apenas mostra como o santo bispo estava ensinando a ressurreição.

Todas essas passagens foram interpretadas como implicando que a vida eterna só existirá após a ressurreição, que será o momento em que os salvos poderão ver a Deus e entrar no paraíso.

Mas, diante de tudo isso, temos outras passagens mais claras de Teófilo sobre a alma e o juízo, que implicam diretamente na imortalidade da alma e se harmonizam com essas outras passagens do autor nos seus livros.

Como exemplo, temos no Livro II, 29 que “a alma é chamada imortal”, ao fazer alusão à criação do homem em Gênesis 2, 7.

E no capítulo 38 ele faz uma comparação das doutrinas que os filósofos pagãos ensinaram uma vez, mas depois mudaram de opinião, sendo que essa segunda doutrina está conforme a fé cristã.

Assim, ele fala do politeísmo dos antigos escritores, mas afirma que depois de falar da “multidão de deuses”, eles passaram a “admitir a unicidade ou monarquia de Deus”.

Os que ensinavam a “não-providência”, passaram depois a ensinar a providência. Os que negaram o juízo, o ensinaram mais tarde.

Os que “negaram a sensação após a morte”, ou seja, que negaram a imortalidade da alma, “depois a confessaram”.

Em outras palavras, eles creram que a alma é imortal. E para isso, cita Homero que ensinou que a alma saía dos membros e voava para o Hades.

Dessa forma, ele afirma que os escritores chegaram a ensinar a verdade quando admitiram a unicidade e monarquia de Deus, a providência, o juízo e a sensação após a morte. Sabendo que a segunda doutrina é a correta, temos praticamente uma passagem clara sobre o que ensinva o bispo Teófilo.

Gledson Meireles.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Livro: A lenda da imortalidade da alma: sobre a tradição

 Refutação: O apelo à tradição

Quando se nega a autoridade infalível da tradição, que é a tradição apostólica, o afastamento da verdade é inevitável. E mesmo entre os protestantes, quando é negada a grande autoridade dos concílios protestantes, o fiel busca para si, e tem diante de si, autoridades menores, que ele cria para si mesmo involuntariamente, como por exemplo, segue impensadamente o que ensinam outros eruditos que se afastaram da tradição por seus estudos e interpretações particulares que, com o tempo, começam a formar uma pequena tradição para si mesmos, tradição essa que condiciona as novidades teológicas, o que na prática volta a ser, de certa forma, o que sustenta o dogma. Pensam estarem incondicionados, mas seguem uma tradição, ou criam dogmas sustentados por sua própria autoridade.

Assim é que, quanto à doutrina mortalista, vários estudiosos protestantes adotaram o sono da alma ou a inexistência da alma na morte, formando assim, uma nova tradição.

A possibilidade de que a doutrina não tenha sido preservada infalivelmente abre espaço para toda e qualquer falsa doutrina. É um perigo. Humanamente falando é impossível manter a verdade infalivelmente, mas o que se crê na Igreja Católica é que em se tratando de certas verdades importantes o Espírito Santo guia a Igreja à verdade.

Se em determinada época e Igreja viu-se na controvérsia sobre a imortalidade da alma e fez pronunciamento de que a alma é de fato imortal, então é impossível que isso tenha sido errado, pois a Igreja, em sua universalidade, é coluna e sustentáculo da verdade, como ensina a Escritura. Isso é o que traz a certeza.

Ainda, cada dogma consegue ficar de pé diante das mais terríveis objeções, como está sendo provado aqui, onde cada argumento mortalista é enfraquecido e refutado à medida que se aprofunda em cada um deles.

E mais. Há momentos em que as implicações dos estudos bíblicos tornam impossível a doutrina da morte da alma com o corpo.

Interessante é que sempre nas melhores interpretações possíveis, em todos os assuntos bíblicos, o que se chega é ao que a Igreja Católica já ensina. Por isso, mesmo que os mortalistas tenham certos argumentos bons e plausíveis, eles não conseguem vencer os argumentos que sustentam a posição tradicional de que a alma é imortal. Os mais fortes argumentos imortalistas não conseguem ser respondidos pelos mortalistas.

 

O autor afirma que a missa não poderia ser mudada nunca, segundo doutrina católica, citando a bula Quo Primum Tempore (1570), e que não existe a Tradição, mas somente tradições divergentes, etc.

Um exemplo de mudança de tradição seria o milenarismo que deu lugar ao amilenismo. Mas, pelo que se vê na Igreja, ainda que no tempo em que renomados autores ensinavam o milenarismo, a opinião geral era de que isso não podia dividir, não era dogma, e que muitos ensinavam o amilenismo, ficando portanto conforme a tradição católica aquilo que o magistério defendeu, mais tarde, o que está mais de acordo com o amilenismo.

 

Então, tudo deveria ser discutido à luz da Bíblia através de uma hermenêutica séria, como se isso não fosse feito por todas as igrejas. Na verdade, isso acontece sempre entre sérios eruditos, mas ainda assim pode haver erros. O Espírito Santo é que dirige a Igreja e a defende do erro.

 

A base comum sendo a Bíblia para definir com a confissão protestante está mais próxima da verdade ainda é um pouco problemático, porque as consciências individuais divergem. Assim, o conjunto do dos clérigos, papa e bispos, em uma doutrina geral promulgada é o que cremos ser o que ensina o Espírito Santo.

 

A lógica que o autor apresenta para a existência do magistério não é bem assim. Não é tão simples assim, como se o magistério se reunisse para interpretar a Bíblia para os demais membros da Igreja.

 

Os teólogos católicos estudam muito, são os mais profundos que existem em todas as confissões cristãs, basta dar uma olhada nas doutrinas e teses teológicas, basta ver o que diz a doutrina católica sobre a imortalidade da alma, como está sendo mostrado aqui. Os estudos acadêmicos na teologia católica contribuem para que o magistério da Igreja, em determinada ocasião, se assim for preciso, colha dados, informações, argumentos, etc., para fazer suas afirmações ordinárias e mesmo extraordinárias. Portanto, os católicos, leigos e clérigos, eruditos ou não, vão à Bíblia e contribuem, com toda a Igreja, no sensus fidelium, para que as doutrinas sejam esclarecidas para todos.

 

E se é a consciência individual que define tudo, então todos os católicos conscientes de que o magistério está correto e de acordo com a Bíblia e a Tradição estão certos e seguem corretamente a liberdade de suas consciências. E quanto à afirmação: “É o mesmo que dizer que você chegou à conclusão de que não pode interpretar a Bíblia interpretando a Bíblia”, certamente isso é um paradoxo e não uma contradição, já que todos sabemos que não podemos interpretar a Bíblia particularmente, pois a mesma é inspirada, e isso se conclui lendo a Bíblia.

 

Quem pensa estar livre para pensar, com sua consciência individual, que vai à Bíblia e usa as ferramentas hermenêuticas e exegéticas e tudo o mais que for possível, para concluir por si mesmo sem se submeter à tradição, ao magistério, e a quem quer que seja, ainda assim, em sua consciência individual terá que mostrar coerência, fé nas ferramentas que utiliza, dobrar-se diante das autoridades que cita, ainda que a contragosto e não admitindo, e com as quais concorda, que vieram antes dele e que indubitavelmente possui maiores conhecimentos naquele ponto do que ele, etc., trazendo tudo novamente para a mesma relação prática entre um católico fiel e a Bíblia, o magistério e a tradição.

 

A pesquisa que mostrou que mais da metade dos pastores nunca leu a Bíblia é bastante interessante. O autor diz: “imagine entre os padres”. Certamente, os padres, que supostamente leem menos a Bíblia que os pastores, na cabeça dos pastores é claro, em primeiro lugar, e da cultura geral em que os protestantes leem mais a Bíblia e possuem maior conhecimento dela. Certamente, os protestantes leem mais, mas não conhecem melhor a Bíblia.

 

Os padres devem ler a Bíblia e conhecê-la bastante bem para serem padres. Caso não a conheçam toda, nunca a tenham lido, vamos supor, ao se tornarem padres e participarem da missa diariamente, o que é comum acontecer, ao mesmo celebrarem a missa diariamente, estão lendo e ouvindo a leitura da Bíblia em sua quase totalidade em três anos, pois a liturgia católica apresenta aos fieis a Bíblia inteira em três anos litúrgicos.

 

A opinião de que a maioria dos padres, bispos e papas da história foram iletrados e etc., inclusive o magistério que se reunia em concílios, que não sabiam praticamente nada da Bíblia, e que os doutores de fato eram raros, é um equívoco.

 

De qualquer forma, é o Espírito Santo que guia a Igreja nesses momentos, e mesmo nos mais difíceis as doutrinas foram corretas, os dogmas podem ser estudados e confirmados pela maior erudição bíblica. A doutrina da imortalidade da alma está provada biblicamente. Alguém poderá ler a presente refutação é afirmar que ela não apresenta nenhuma refutação, que não mostrou nenhum argumento novo, que não merece resposta, que repetiu tudo o que já foi refutado no livro A lenda da Imortalidade da Alma, e etc. O mais difícil é apontar onde estão os erros, ainda que o leitor tenha diante de si o livro e a refutação, e é preciso apenas mostrar onde estão os erros, apresentando os motivos de serem erros. Esse tipo de abordagem é muito raro.

É certo que a verdade é imutável, e assim, as doutrinas verdadeiras não mudam, e são sinais da Igreja verdadeira. Por isso, os fieis são atraídos pela graça à verdadeira Igreja.

E sobre a leitura da Bíblia, que mais da metade dos pastores nunca leu, certamente isso não é a realidade dos padres, como os protestantes são inclinados a pensar, como se os pastores, que são solascripturistas, não leem a Bíblia como se imagina, os padres deveriam ler menos ainda. Porém, a realidade certamente é outra, e por que não pensar que os padres, por certo, na sua grande maioria, senão todos, leram a Biblia inteira.

Se os conciliares dos séculos passados, de cabelos grisalhos e barbas brancas, como afirma o autor do livro mortalista, tinham conhecimento questionável da Bíblia, e podem ter sofrido influências dos condicionamentos psicológicos do seu tempo, e que são tão humanos como qualquer pessoa, se esses tinham somente essas prerrogativas para decidirem questões de fé e moral nos concílios ecumênicos, então poderíamos duvidas. Mas, o que vemos é outro cenário. O que tudo evidencia é que esses homens de Deus tinham conhecimento profundo e viviam de acordo com a Palavra de Deus. E não somente isso. O Espírito Santo garante que tudo o que ali está decidido nas questões fundamentais para a vida espiritual e salvação das almas é  verdadeiro.

Obviamente, também, é natural que o conhecimento verdadeiro seja feito por instituições apropriadas para tal, de modo que nem em coisas menos significantes se pode esperar que cada indivíduo faça seu estudo de tudo para que se certifique de algo, mas os instrumentos e métodos para o ensino são ferramentas que fazem da transmissão do conhecimento algo mais rápido e eficaz, de modo que com o tempo aqueles que já estão bem formados possam por si mesmos verificarem aquilo que aprenderam e estão aprendendo. Dessa forma, é natural que todos sejamos ensinados pela santa Igreja, e cresçamos na fé em comunidade.

Mas, eis uma afirmação bastante ríspida: “Só que esses pastores e padres também não sabem nada, e só repetem aquilo que é a doutrina oficial da igreja, seja ela qual for.” Essa afirmação já está bem entendida, e por certo pode ser tomada apenas como um mínimo exagero.

E sobre o analfabetismo dos tempos medievais, onde mesmo membros do clero não sabiam ler e escrever, o que é atestado pelo historiador Ivan Lins, como citado no livro, isso se deve dizer que de fato houve tempos em que isso ocorreu, mas que o ensino oral era bastante eficiente e tudo indica que em muitos períodos daquela grande era medieval as pessoas simples podiam conhecer muito da cultura letrada por ouvir e assistir de teatros, encenações, etc.,que eram instrumentos bastante comuns para propagação da cultura, e da cultura bíblica, que estava de modo íntimo interligado a tudo o que pensava e sentia o povo medieval, que era muito cristão.

Dessa forma, a iluminação do Espírito Santo nos corações dos homens da Igreja, nos concílios e sínodos, principalmente nos concílios ecumênicos, garante a infalibilidade da doutrina cristã católica que perpassa os séculos.

Se os votos que aprovavam as doutrinas eram de “bispos iletrados, ignorantes, trapaceiros e depravados”, a mão de Deus foi mais poderosa ainda para garantir que nada daquilo que tais homens tinham de si mesmos em termos de crença pudesse ao menos influênciar a límpida e pura doutrina de Cristo. No entanto, por certo, que haviam iletrados, ignorantes, trapaceiros e depravados, isso existia, mas é de se pensar que a Igreja de Cristo foi sempre dirigida por santos papas, bispos, presbíteros e diáconos.

A tradição de cada demoninação tem enorme papel no credo. No entanto, a tradição apostólica é mantida na Igreja Católcia pela ação do Espírito Santo, e não por força meramente humana.

A Bíblia mostra que a alma é imortal, e os padres da Igreja em consenso geral ensinam o mesmo. Por isso, não é apenas por ser uma doutrina tradicional, mas por ser bíblica, e os argumentos mortalistas não conseguiram manter-se diante de cada refutação.

Será que a doutrina da imortalidade da alma recebeu crédito imerecido e se tornou imune às críticas só por ser doutrina tradicional? É claro que não, e a presente refutação é prova cabal disso, já que pelo estudo bíblico derruba todos os argumentos mortalistas.

Basta pensar um pouco, e ver que a objeção de que o homem é alma, e que isso significa que não tem alma, e que a alma é a pessoa, uma coisa física, ou a vida física usufruída pelo ser humano na terra, e nada mais, basta ver que esse argumento não pode provar que a alma imortal não existe, mas apenas mostra um sentido muito comum da palavra alma nas Sagradas Escrituras.

E, diante disso, quando se mostra que o termo alma possui de fato vários sentidos, e que desses se pode perceber a existência da espiritualidade da alma humana, que não pode morrer, diante de outras tantas passagens que demonstram que há no ser humano uma parte que permanece viva e consciente na morte, que esse argumento mortalista é refutado por completo. Dessa forma, a doutrina da alma imortal não é algo sem solidez e irracional, mas sólido e racional e bíblico acima de tudo.

Assim, a imortalidade da alma é bíblica, é verdadeira, e portanto é tradicional. E como São Cipriano, citado no livro, afirma que devemos procurar a origem da tradição, se é do Senhor, e do evangelho, das epístolas e dos apóstolos, então é verdadeira. Dessa forma é a doutrina da imortalidade da alma.

E é bom lembrar que São Cipriano, naquele momento, como explica o livro mortalista, estava em uma discussão como papa sobre o batismo de hereges. No entanto, o papa estava correto, e a verdade prevaleceu. Um santo também erra em suas interpretações bíblicas, mas a Igreja em peso não pode cair em heresia, pois o Espírito Santo não permite.

E lembrando que não foi Atenágoras o primeiro a ensinar a imortalidade da alma, como ficou claro no estudo dos primeiros padres da Igreja, na refutação de cada uma dos padres estudados.

Dessa forma, aqui são feitos estudos minuciosos para provar pela Bíblia que a alma é imortal, com exegese séria, à luz do ensino bíblico, e considerando de perto cada objeção mortalista.

Gledson Meireles.

domingo, 14 de janeiro de 2024

Livro: A lenda da imortalidade da alma: Hermas

Refutação: • Hermas (70-155)


O Pastor de Hermas, obra importante, que foi acreditada ser inspirada por muitos cristãos na antiguidade, afirma que o mundo futuro será verão para os justos e inverno para os pecadores. Depois afirma que os ímpios serão queimados, como maderia morta. Isso indica o aniquilamento ou é apenas uma simbologia para o inferno? Certamente, estando de acordo com a doutrina bíblica, é a segunda opção.

Em muitos lugares Hermas afirma a morte daqueles que não obedecem a Deus. Esses já vivem na morte. Há também a ideia de uma possibilidade de conversão de muitos, e impossibilidade para outros. Isso deve-se, por certo, da recusa desses de se converterem, pois em todo o livro pode-se perceber o livre-arbítrio.

Na sexta parábola, no parágrafo 62, encontramos o anjo da volúpia e do erro que “aniquila” as almas. Nos maus desejos, essas almas morrem. O anjos destrói esses infiéis. Uns morrem e outros se corrompem, diz o texto. Isso significa que a corrupção ainda deixa possibilidade de conversão, enquanto “a morte implica em perdição eterna”.

Essas expressões podem auxiliar no entendimento da questão da aniquilação. Tudo parece ser simbólico, pois muitos ds pecadores já estão mortos, aniquilados. Outros estão corrompidos. A corrupção deixa espaço para que haja restauração, enquanto que a morte leva à perdição. Essa linguagem está em conformidade com a doutrina do inferno.

Há também no número 97 a visão de mulheres que matam os condenados. Não há lugar para ler isso como uma alusão ao aniquilamento. De fato, no número 98 há a expressão dos que “não vivem e nem estão mortos”.

A ideia de que muitos não possuem mais esperançade serem salvos, como os que pecam gravemente e não querem arrependimento, vemos os que já não possuem esperança de viver, no parágrafo 103.

E no número 105, há a alusão à prisão: “se o nergares sereis entregues à prisão”, o que certamente é o inferno. De fato, não há como estar preso o que não existe. Temos assim que a vida é tirada dos pecadores que não fazem penitência, a isso não significa que eles deixaram de existir, mas que não possuem a vida em Deus e não entrarão no reino e não estarão do lado de Deus.

Por isso, a interpretação mortalista de algumas expressões em Hermas como se fossem aniquilacionistas é uma opinião bastante fraca, que não possui robustez, e tem toda indicação de que está equivocada.

Desse modo, quando Hermas afirma que os justos herdarão o Reino no futuro, isso não depõe contra a imortalidade da alma, já que a alma está em glória à espera da ressurreição para a herença do Reino. E quanto à distinção aludida entre justos e ímpios, isso será possível no juízo, onde serão manifestadas as obras de cada um. Nada disso é contra a doutrina da imortalidade da alma.

O livro mortalista cita Pastor de Hermas 53, 1-5 como prova de que na concepção de Hermas só haverá vida consciente após a ressurreição. Mas, como explicado acima, essa interpretação está equivocada.

No livro que trata os padres da Igreja mais diretamente, o autor cita Pastor de Hermas 7, 3; 10, 1; 53, 1-5; 62, 1.3-4; 64, 1-4; 65, 7; 72, 6; 73, 3; 74, 3-4; 75, 4; 77, 3; 93, 5; 95, 2; 96, 1-2; 98, 4; 100, 4; 114, 1.

Nessas citações pode-se ver que a morte é simbólica. Assim, os que pecaram e estão longe da verdade podem converterem-se e viver. Essa morte é espiritual, e não um aniquilamento.

Em Hermas 95, 2 há os que pecam sem conhecer a Deus, e são condenados à morte, e os que conhecem a Deus e pecam são “duplamente castigados”, morrendo para sempre. O que isso significa? Que a morte primeria que castiga uns é temporária e só a segunda é eterna? Certamente, significa que para uns é possível a conversão e viverão na graça de Cristo, enquanto que para os obstinados isso não é possível e serão condenados agora e na eternidade. Essa condenação é perder a vida, ser lançado na prisão, como visto acima.

Entretando, o autor mortalista não percebeu o que está no capítulo 93. De fato, em outra obra o autor faz a citação dessa passagem, lendo-a como condicionalista, pois afirma que a “linguagem condicionalista” é usada por Hermas quando escreve: “adormecidos no poder e na fé do filho de Deus”. Contudo, não é explicado o contexto dessa afirmação.

Parece que o mortalismo entende que “adormecidos” significa aniquilados, o que não está no contexto do Pastor de Hermas.

Ali está escrito que os espíritos dos mortos do AT foram batizados para terem vida e entrarem no Reino, pois antes estavam mortos, pois não tinha o selo do batismo de Cristo.

Deve-se entender mais. Aqueles que morrem antes de Cristo, ainda que “na justiça e na pureza”, como afirma Hermas, esses estavam mortos, ou seja, eram mortos literalmente que estavam mortos espiritualmente, mas não como condenados. Aqui há uma outra concepção para a morte aludida. Essa morte é não ter ainda o conhecimento de Jesus Cristo, não ter o batismo, que é o selo de Cristo para a vida.

Aqui fica claro que a morte desses espíritos era simbólica, por não conhecerem a Cristo ainda. Os apóstolos e doutores foram no espírito pregar a batizar os “que tinham morrido antes deles”.

Portanto, esses precisavam do selo do batismo. Se as expressões que colocam ênfase no futuro, para a ressurreição, podem ser lidas e entendidas por quem crê na imortalidade da alma, essa passagem é impossível que alguém que não creia na imortalidade da alma também possa acreditar que os mortos do Antigo Testamento ouviram a pregação do evangelho e foram batizados pelos apóstolos e doutores. Portanto, está refutado mais um argumento mortalista.

Que o leitor entenda que não há espaço para opinião, pois é um fato que não se adequa à interpretação mortalista apresentada, o que significa peremptoriamente sua refutação.

E por fim, fica mais um testemunho de que os primeiros cristãos criam na descida de Jesus aos infernos, como está nas Sagradas Escrituras e pode ser provado por um estudo sólido das passagens bíblicas que se referem a esse fato. 


Gledson Meireles.

 

 

sábado, 13 de janeiro de 2024

Livro: A lenda da imortalidade da alma: Nemésio de Emasa

 Refutação: • Nemésio de Emesa (350-420)

 

O cérebro como órgão responsável pelas funções do corpo não exclui que a energia usada pelo cérebro venha da alma. E certamente Nemésio cria na imortalidade da alma, aceitava essa conclusão.

Quando Nemésio diz que a alma não pode estar em algum momento sem o corpo e que ela não tem existência por si, isso significa que a alma foi criada no corpo, como sua forma, assim como está na Bíblia em Gênesis 2, 7. A alma forma com o corpo uma pessoa. Talvez se refira à separação da alma e do corpo enquanto a pessoa vive, o que não é possível, pois somente a morte de fato separa corpo e alma. Essa afirmação está conforme a imortalidade da alma, e é corroborada por Nemésio.

No mais, Nemésio ensinou que a alma é incorpórea e, portanto, imortal, como afirma a enciclopédia Britannica. Sendo assim, ele é um testemunho a favor da imortalidade da alma, e foi colocado como contra, com uma citação que não foi compreendida e não afirma o que o mortalismo pretendeu provar, o que está equivocado.

E como no livro mortalista não há nada sobre o que Nemésio de fato ensinou sobre a alma, aqui está um resumo para refutação do total da argumentação mortalista sobre esse escritor cristão.

Nemésio apresenta o estado da questão e afirma que é necessária uma longa refutação dessas múltiplas opiniões. Sobre a imortalidade da alma, afirma:

“É possível provar que a alma é imortal usando os mesmos fatos” (sobre o que ele estava argumentando anteriormente na sua obra). Então, continua: “Pois, se ela não é nem um corpo, o qual foi mostrado ser naturalmente capaz de ser dispersado e perecível, nem uma qualidade nem quantidade nem qualquer coisa perecível, está claro que ela é imortal”.

Ainda, afirma que há provas da imortalidade da alma em Platão e outros, que são difíceis de compreender, mas que “para nós”, cristãos, basta as Sagradas Escrituras:

Para nós deixe o ensino dos livros sagrados, suficiente como prova da imortalidade da alma, pois é confiável em si mesmo, visto que é divinamente inspirado.

Então, Nemésio baseia-se na Bíblia para as provas da imortalidade da alma, e afirma que para aqueles que não aceitam os escritos cristãos, é suficiente mostrar que a alma não é aquilo que pode perecer.

 Dessa forma, mais uma refutação do livro mortalista, e Nemésio foi mais um exemplo equivocado usado pelo mortalismo.

Gledson Meireles.