O Sheol em Isaías 14
Para quem crer que a alma morre com o corpo, afirmar que o sheol é lugar de almas seria uma interpretação
fora do contexto. Mas vejamos. Ainda que
seja uma metáfora, como se diz das árvores que falam, podemos notar noções que
estão envolvidas nessas metáforas.
As árvores recebem qualidades humanas, como a fala. Mas, quando se refere
a mortos no sheol, são as pessoas que
são os sujeitos, nas suas almas, e não nos seus corpos.
Não parece exato afirmar que seja uma personificação
dos mortos, porque os mortos são pessoas. Entretanto, pode-se afirmar que seja
uma personificação das almas dos mortos. No entanto, a alegoria não nega,
também, que as almas existem na região dos mortos.
Por isso, a cena é alegórica, mas ela remete à verdade que está
representando. De fato, é de se crer que existe a alma que pode ser separada do
corpo e ainda permanecer em existência.
É verdade que a personificação das árvores não pode ensinar que as mesmas
possuem consciência. Mas, no caso dos mortos isso muda de figura, já que se
trata de pessoas, que possuíam consciência, eram racionais, quando vivas. Há
algo que leva a pensar no estado da alma na morte. E a cena bíblica não nega
isso, como ficará claro abaixo.
O verso 11 certamente não é uma referência ao sheol, mas ao túmulo. Enquanto se diz que Tua majestade desceu à morada dos mortos, acompanhada do som de tuas
harpas, parece indicar, de forma alegórica, que a alma desceu ao mais profundo
abismo, como está no verso 15. Não parece nada com o túmulo.
Por isso, quando o verso 11 continua: Jazes
sobre um leito de vermes, isso se refere ao corpo, mas não necessariamente
está ligado ao sheol, pois parece
referir-se a duas coisas, uma relativa à alma e outra ao corpo.
O fato de que todos os reis repousam no seu túmulo (מִֽקִּבְרְךָ֙ em hebraico), o rei da Babilônia não foi sepultado, não
foi colocado no túmulo. Assim, o verso 19 diz: tu, porém, foste atirado para longe de teu sepulcro. E o verso 20 afirma
que ele não se reunirá com os reis no
sepulcro. Isso se refere ao corpo que não foi sepultado. Novamente, alusão
às duas partes da pessoa aqui, a alma e o corpo.
Mas, da alma do rei, o verso 9 diz: Debaixo
da terra se agita a morada dos mortos, para receber-te à tua chegada. O rei
chegou ao sheol, chegou à morada dos
mortos, foi recebido pelos grandes da terra que estavam mortos. De fato, é uma
forma alegórica para afirmar que o rei morreu, mas é uma cena, do mesmo
capítulo, onde o rei encontra-se no mesmo lugar dos demais mortos. Ao
contrário, quando se refere ao túmulo, o rei não se junta aos demais. É a forma
hebraica de falar do corpo e da alma.
Aliás, no sheol as almas
encontram-se em quase vida, em um
estado em que não há comunicação, e vivem na escuridão e longe de Deus, o que
faz pensar em um sono, mas não em
inexistência. Por isso, a metáfora de acordar as sombras que ali estão (v. 9).
A lição que toda a cena ensina é que o rei seria humilhado na morte, mais
que os outros reis, pois aqueles encontraram sepultura e ele não. Pode-se
entender a lição sem negar o que ficou explicado acima.
As árvores de Ezequiel 31 que vão ao sheol
estão no contexto de uma parábola, e isso é compreensível. Basta pensar que literalmente
as árvores não são enterradas em túmulos, como os corpos. Da mesma forma, elas
não descem ao mundo dos mortos com suas almas. A noção de sheol é diversa da de
túmulo.
Por isso, o rei, com sua majestade, com o som da harpa, desce ao sheol, mas seu corpo não entra na
sepultura. Usando de comparações que não são semelhantes à cultura grega, sem
utilizar os termos corpo e alma, a cena é bastante indicativa dessas duas
realidades, de que a alma do rei desce ao sheol,
com sua pompa, ao encontro dos reis que levantam-se para recebê-lo, e do corpo
que está sobre vermes, fora do sepulcro, longe da companhia dos reis.
Em refutação ao livro A lenda da imortalidade da alma, versão nova e atualizada, sobre o Sheol.
Gledson Meireles.
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