Comentário respondendo, de forma geral, ao livro Porque você deve crer na ressurreição de Moisés, escrito pelo pastor adventista Leandro Quadros. O livro conta com textos do pastor adventista Sérgio Monteiro, que é teólogo e pesquisador, e de Marcos Alves, apologista adventista.
Já escrevi aqui no blog
sobre a ressurreição de Moisés, afirmando que não é possível ensiná-la a partir
da Bíblia, e que é uma doutrina que tem muito menos fundamento que a assunção
de Maria, doutrina criticada pelo Protestantismo em geral. E não crida nem
mesmo pelos adventistas.
Mas é preciso afirmar
uma coisa: se Moisés ressuscitou, isso é menos problemático para a Igreja
Católica, que ensina a imortalidade da alma, e que se esse for o fato não há
necessidade de mexer na doutrina católica, do que para o adventismo, que torna
necessária a ressurreição de Moisés, uma vez que ele apareceu a Jesus no dia da
transfiguração.
O autor afirma que irá
refutar argumentos infundados usados
contra a ressurreição de Moisés.
Capítulo
1
No pressuposto 1, a
discussão é feita em torno da mencionada disputa entre Miguel e Satanás pelo
corpo de Moisés, e afirma que Deus já o havia sepultado. Então, para o
adventismo essa disputa ocorre após o sepultamento de Moisés.
Para o argumento
católico, podemos dizer, foi Miguel quem sepultou Moisés, por ordem de Deus.
Esse episódio, portanto, refere-se ao dia do sepultamento e não que o arcanjo
veio para ressuscitá-lo.
De fato, por que Deus
sepultaria Moisés e logo mandaria um anjo para ressuscitá-lo? Não tinha ninguém
mais ali. Nem depois alguém mais viu o túmulo do profeta.
Por que, então, não
transladá-lo diretamente para o céu? Certamente, porque a morte de Moisés era
uma punição por ter pecado, e por isso não entraria na terra prometida.
Mas, e por qual motivo
logo em seguida ele entraria no céu? Não entrou na terra onde corre leite e
mel, o que já é uma punição, mas recebe, logo mais, um prêmio maior, o
cumprimento das profecias referentes à terra prometida, entrando no próprio
céu. Isso já mostra a incoerência desse pensamento. É pelo menos uma
dificuldade.
Isso não é um argumento
baseado no tempo decorrido entre a morte e a suposta ressurreição, já que
Lázaro ficou quatro dias no sepulcro e depois foi ressuscitado por Jesus, e o
próprio Senhor permaneceu três dias no túmulo para depois ressuscitar
vitoriosamente.
O que se está colocando
aqui é o motivo de Deus ter anunciado a Moisés que ele ali morreria, e depois
tê-lo sepultado, ocultando o lugar do seu túmulo, para depois ou quase
imediatamente ou após alguns dias, talvez, certamente menos que quatro dias,
mandar um anjo para ressuscitar o profeta.
O próprio fato da
ressurreição de Moisés é uma inferência, uma dedução, já que se pode
normalmente crer que Miguel tenha discutido com Satanás no dia do sepultamento
e não que o arcanjo foi enviado para que ressuscitasse Moisés.
Ainda, é muito
estranho, repetindo o argumento, que Deus tenha punido Moisés não permitindo
que entrasse na terra prometida, mas logo em seguida o levasse para o céu. É
algo para refletir, pois não é um argumento muito forte, apenas um indício de
que há algum erro no pensamento a respeito da ressurreição de Moisés.
No pressuposto 2 é
perguntado se o autor bíblico concebia a existência de uma alma sem o corpo. A
resposta é positiva.
Mas o autor, citando em
nota até mesmo autor católico, afirma que a
Bíblia não ensina ser possível viver fora do corpo.
Então, afirma que há evidências bíblicas e extrabíblicas para
a ressureição de Moisés. As passagens bíblicas não falam do tema, e não
necessariamente levam ao entendimento de que Moisés ressuscitou.
O pressuposto 1 diria
que a luta pelo corpo de Moisés é por causa da sua ressurreição, e o
pressuposto 2 ensinaria que é impossível encontrar na Bíblia e separação de
corpo e alma, onde a alma permaneceria consciente. Por isso, todas as
“evidências” da ressurreição de Moisés devem ser aceitas.
Mas é possível entender
que a disputa ocorreu no dia em que o arcanjo Miguel enterrou Moisés, e é
provado na Bíblia que a alma separa-se do corpo na morte e permanece em lugar
espiritual, no sheol.
Capítulo
2
Deus teria antecipado a
ressurreição de Moisés? E por que você, caro cristão adventista, não crê que
Deus antecipou a glorificação da virgem Maria, a mãe do Senhor Jesus, e que ela
não dorme no pó da terra, mas está no céu agora? Por que você não crê nisso?
É verdade que a maioria
dos protestantes não creem na ressurreição de Moisés, e nem na assunção de
Maria. Mas, para os adventistas, é um questionamento válido.
Não há nada de mal na
comunicação com os mortos em si, mas a proibição bíblica tem a ver com a
evocação dos mortos, as práticas de necromancia, etc., próprias das religiões
pagãs, que tentavam contato com os mortos para obterem benefícios. Isso já
mostra que a fé na imortalidade da alma é antiga e não há exemplo bíblico
contra ela. Apenas a proibição de consultar os mortos, não a impossibilidade de
que eles existam em suas almas após a morte. Esse seria um argumento radical,
que a Bíblia nunca emprega.
A citação de Judas 9
não é muita clara a respeito da disputa que ocorreu. Sabe-se apenas que foi “a
respeito” do corpo de Moisés. A obra Assunção
de Moisés é pseudoepígrafa, escrita no século I (ou como outro erudito
afirma, entre 3 a. C. a 30 d. C), como diz o autor, e, portanto, no Antigo
Testamento, certamente, ou possivelmente, ninguém creu que Moisés foi
ressuscitado, ou foi uma crença de alguns, e não do judaísmo oficial. Isso
teria sido ensinado nessa obra, por essa época, talvez, e não antes. Tal fato
já substancia mais um argumento contrário à ressurreição de Moisés.
Se assim o for,
realmente a Bíblia é totalmente silenciosa sobre o tema, não falando do fato
diretamente nem proporcionando indícios ou provas indiretas. Ainda, o povo
judeu não conheceu tal teoria, a não ser a partir do século I depois de Cristo.
Qual o motivo da
disputa? A tese adventista afirma que só pode ser a ressurreição. É uma
inferência, mas não é tão forte como prova. Diante das dificuldades, ela ainda
torna-se mais frágil.
Até o momento, as
provas apresentadas de que a disputa deve ter sido a respeito de algo muito
superior do que apenas uma briga por um corpo morto, e de que a alma não existe
sem o corpo, são coisas que não podem provar a ressurreição de Moisés. Ainda
que faça sentido a disputa pela ressurreição de Moisés, a dificuldade
permanece, sobre o motivo de Deus ter sepultado o profeta para depois mandar
ressuscitá-lo? Por que o sepultamento não pode ter sido feito por Miguel, nessa
passagem de Judas 9?
E sobre a imortalidade
da alma, essa doutrina é bíblica e pode ser solidamente provada pelas
Escrituras Sagradas.
Capítulo
3
Muitas vezes na Bíblia
o que o anjo do Senhor faz equivale a dizer que é feito pelo próprio Deus.
Assim, se o anjo Miguel sepultou Moisés, por ordem de Deus, foi Deus Quem
sepultou Moisés, nesse sentido bem compreendido. Assim, o Senhor sepultou
Moisés. Como foi feito isso? Através do arcanjo Miguel.
Ao tentar explicar João
1, 1-2, afirmando que Deus não teria revelado a assunção de Moises, visto que
os israelitas fariam uma imagem dele para o idolatrar não é convincente, mas
pressupõe que o fato ocorreu. Já que o fato não é provado, e o texto é lido
naturalmente como afirmando que Moisés havia morrido, e não tendo dito nada
mais, não há motivo de supor que algo mais tenha ocorrido.
É fato que a revelação
é progressiva, assim com a assunção da virgem Maria é encontrada indiretamente
na Bíblia e diretamente na tradição, como sendo de origem apostólica, e muitos
tentam ofuscar essas verdades.
Mas, quanto à suposta
ressurreição de Moisés, ainda que o princípio de revelação progressiva exista,
e que se o fato realmente ocorreu não é problemático para quem crê na
imortalidade da alma, é preciso reafirmar que não há a menor indicação de que
tenha ocorrido, e há também inúmeros problemas que levam a afirmar que não
ocorreu. Isso ficará patente em todo o arrazoado apresentado aqui, e que serve
resposta ao livro.
Entende-se que São
Judas usou parte da obra Assunção de Moisés para mostrar um exemplo de como o
arcanjo Miguel comportou-se ao discutir com Satanás. Somente isso. O restante
não é objeto direto da citação, não tendo seu sentido revelado. Sabe-se apenas
que houve uma disputa entre Miguel e Satanás a respeito do corpo de Moisés. O
restante é apenas inferência, é preciso repetir.
É muito boa a
contextualização buscada para entender a questão, a citação de estudiosos de
documentos como o Talmude Babilônico e Flávio Josefo, contendo indícios de
crenças que incluíam até mesmo a ascensão de Moisés sem passar pela morte. Se
essas crenças consubstanciam algo relativo ao fato de que Moisés foi
ressuscitado, deve o estudioso considerar que o mesmo ocorre com a doutrina da
assunção de Maria.
Entretanto, ressalta-se
que no caso da assunção da virgem Maria ao céu os fundamentos bíblicos são superiores.
Capítulo
4
O fato é que o texto
bíblico não é claro quanto à ressurreição de Moisés. As fontes extrabíblicas
citadas é que dão maior ênfase a isso. Quando passando para o caso da assunção
de Maria, as fontes extrabíblicas são claras e os princípios bíblicos são
abundantes, em comparação com o que se encontra na defesa da tese sobre Moisés.
A afirmação de que Não há como negar que ele realmente foi
ressuscitado é enfática demais, é exagerada.
Ainda, se Moisés
ressuscitou, isso não é prova de que a alma não existe. O contrário é que seria
problemático para o adventismo, pois se Moisés apareceu sem ressuscitar, então
a alma é imortal, e o adventismo deve rever urgentemente sua crença na
imortalidade condicional ou mortalidade da alma.
Em Daniel 12, 1-2 não
se fala de Miguel tendo parte ativa
na ressurreição, mas afirma somente que aparecerá Miguel, e depois afirma que
muitos serão salvos e também menciona a ressurreição.
Apêndices
Aqueles que creem dogmaticamente na ressurreição de Moisés não sabem quando o mesmo ressuscitou, quanto tempo passou no sepulcro. Mas, como já dito antes, é curioso o motivo de haver um sepultamento por Deus, o que não é comum, é algo extraordinário que o Senhor sepulte alguém, e mais tarde o Senhor ressuscite Moisés.
As circunstâncias
parecem não exigir tal procedimento, já que ninguém estava ali com Moisés. Isso
não significa que não pode ter acontecido assim, esse não é o caso. O que se
propõe com essa pequena dificuldade é uma abertura para pensar nesse
particular, o que já é um elemento que entra na argumentação que indica que
Moisés permanece no sepulcro.
A transfiguração de
Jesus foi o momento em que Moisés apareceu. Para quem admite a imortalidade da
alma, não há qualquer problema. Então, a passagem não exige que outra interpretação
seja dada.
Em Romanos 5, 12-14, ao
falar da Lei, e afirmar sobre o poderio da morte, o texto afirma que a morte
reinou até Moisés, no contexto em que Moisés trouxe a Lei. Até à Lei o mal
estava no mundo. Isso significa que antes da Lei o mal não era imputado, a
morte reinava, antes da Lei. Isso é algo pacífico. Mas, o adventismo entende
aqui algo que pode indicar a ressurreição de Moisés, pois se de Adão até Moisés
reinou a morte, a ressurreição teria feito a morte ser derrotada em seu
reinado. Embora saibamos que não é esse o contexto, fica o texto como “evidência”
para os que acreditam que essa passagem é uma luz sobre o assunto.
E o outro texto é Judas
9, já comentado, que não trata da ressurreição de Moisés, mas que alude a uma
obra apócrifa que testemunharia a crença de muitos judeus de que Moisés foi
ressuscitado e levado ao céu.
Ao explicar termos,
como o tagma, que é um hápax legomen, mostrando que o mesmo
pode indicar uma ordem, no sentido de grupo, e não necessariamente se referir
ao tempo, já auxilia na compreensão de que a virgem Maria foi ressuscitada
antes do dia final e já está no céu, sem que haja qualquer problema bíblica
quanto a isso. Jesus foi o primeiro a ressuscitar, depois os que pertencem a
Ele por ocasião da Sua vinda. Pelo contexto, não se diz que ninguém pode
ressuscitar antes ou depois de Cristo, e, ainda, como explica o termo tagma, pode-se melhor entender a
questão. Ainda mais, a virgem Maria foi glorificada após a ressurreição de
Cristo, o que é uma objeção a menos, quando comparado ao caso suposto de
Moisés.
De fato, se a morte
reinou até Moisés e não depois, por causa da ressurreição, então Moisés seria
aquele que venceu a morte, ou aquele que Deus usou para vencer a morte, para
quebrar o seu reinado. Essa é outra questão que está entre os melhores
argumentos, e que podem fortalecê-los.
É pedido apenas que o
cristão adventista pense nisso e tente responder satisfatoriamente, ou seja, ao
menos pela Bíblia e pela razão.
Moisés pode ter sido
ressuscitado e glorificado, pois Enoque e Elias foram ao céu glorificados,
antes da cruz. Portanto, essa não é um argumento válido contra a ressurreição
de Moisés.
De fato, pelos méritos
da cruz a virgem Maria foi perdoada do pecado original. Por isso, após a cruz,
ela foi levada ao céu glorificada.
Assim, a ideia de que a
cruz é o fundamento para coisas que acontecem antes dela é válida.
O que se diz sobre
Moisés é que os argumentos bíblicos são bastante reduzidos em força, e não há
na tradição viva da Igreja a crença de que Moisés tenha sido ressuscitado, e
nem entre os judeus parece ter sido uma crença geral.
O que o livro não
afirma, é preciso trazer aqui, para melhorar o entendimento da questão, e
permitir maiores reflexões, diante de tantas dificuldades importantes.
A obra apócrifa “Assumptio Moysis”, segundo a
Enciclopédia Judaica, certamente ensinava que Moisés não morreu, mas que foi
arrebatado ao céu, como havia sido Elias.
Ainda, havia a crença
de que Moisés foi preexistente, como o Messias, e etc. Contra isso, os rabinos
ensinaram que nenhum homem subiu ao céu.
A Bíblia afirma que
Moisés morreu, foi sepultado por Deus, e ninguém mais soube o lugar onde foi
enterrado.
Mais uma vez, temos a
autoridade de Ellen White para os adventistas. Embora sendo adeptos do Sola Scriptura, a IASD precisa interpretar
a aparição de Moisés em Mateus 17 como sendo de Moisés ressuscitado e
glorificado, pois é dogma adventista que a alma morre, o que é endossado pela
sra. White. Para melhor compreensão dessa questão, leia os artigos no blog que
versam sobre a IASD.
Gledson Meireles.
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