A
invenção do catolicismo e do protestantismo – Parte 4 – Reação Adventista
(reacaoadventista.com)
Os títulos e subtítulos
são os mesmos do artigo original, para facilitar na localização dos comentários
de cada seção.
1. A falibilidade da Igreja e o livre
exame
Os apóstolos e outros
escritores bíblicos foram inspirados por Deus para escrever tudo e somente o
que Deus quis que fosse escrito em termos de doutrina e moral. Portanto, eram
infalíveis em seu anúncio da Palavra.
Afirmar que a Igreja
pode erra em questão de fé, e que o livre exame é suficiente para manter a
unidade da fé é que são problemas insolúveis.
4.1.
A falibilidade e a providência
A questão dos escritores
bíblicos serem inspirados, e portanto infalíveis, ao escrever a Bíblia não
significa que não pudessem errar em quaisquer outras áreas fazendo-os seres
infalíveis. Portanto, refutar isso não afeta em nada a doutrina católica que
também é contrária a esse pensamento.
Quando se diz que os
apóstolos foram inspirados e infalíveis na escrita e proclamação da verdade,
foi somente nessa área e nesse momento de inspiração que o fizeram, pelo poder
de Deus, e não que tivessem o dom da infalibilidade em todo conhecimento.
A Igreja pode errar, no
sentido comum, de que cada cristão pode errar e equivocar-se, mesmo os membros
do clero, até mesmo o papa, mas a Igreja não pode errar nos momentos decisivos,
quando para defender uma doutrina de fé, diante das circunstâncias históricas e
das heresias, como quando defendeu a divindade de Cristo, a trindade, a
divindade do Espírito Santo e etc. Nesses momentos cruciais Deus guia a Igreja
para a verdade.
O povo de Israel tinha
a Escritura, e não precisou de uma papa infalível para preservar a mensagem.
Isso não é muito exato afirmar, já que o judaísmo dividiu-se de uma forma que
era difícil saber qual das vertentes ainda estava no caminho original. Sabemos,
depois da vinda de Jesus, que o farisaísmo era o ramo principal, e que Jesus
ratificava a autoridade dos rabinos, embora criticasse seus erros em muitas
áreas. Assim, a Igreja do Novo Testamento é mais perfeita que a Igreja do
Antigo Testamento, nesse quesito de preservação da fé.
Até mesmo o cânon do
Antigo Testamento não estava fechado, e isso não foi empecilho para a
sobrevivência do povo de Deus, é afirmação do artigo. Vemos assim que a
perfeição do plano de Deus a ser atingida no fim dos séculos está caminhando, e
a Igreja Católica possui maior perfeição.
Visto que o cânon não
tinha sido fechado havia aqueles que negavam parte imensa das Escrituras, bem
como verdades de fé importantes, como os saduceus que não criam em anjos,
espíritos e etc. Certamente, também não criam na alma humana, e, não tendo a fé
revelada em outras partes da Escritura e não tendo a fé cristã, negavam a ressurreição.
Assim, se demonstra
como o magistério infalível é de maior perfeição. O autor reconhece outros
erros judaicos da época, o que mostra que é preciso ver nesse quesito a
importância da infalibilidade de Igreja de Cristo, que não foi dada à Igreja
antiga, a da antiga aliança.
Os erros que foram
permitidos pela Providência entre o povo de Israel não mais são permitidos na
nova e eterna aliança. A Igreja possui promessas perfeitas, que o povo de
Israel não possui, por serem uma etapa temporária para a formação da Igreja. As
Escrituras do Antigo Testamento foram preservadas porque também são parte do
propósito eterno, e são parte da fé cristã. Mas a fé hoje é mais identificável
que nos tempos antigos.
A falibilidade humana
não é capaz de atrapalhar os planos de Deus, mas é preciso ver que Deus
aperfeiçoou a Nova Aliança, e isso implicou Deus que aperfeiçoou a Igreja em
todos os sentidos. O argumento é apenas uma forma de pensar nessas verdades,
não tendo nada que possa impedir as implicações e as revelações que mostram o
papel singular da Igreja no plano da salvação.
O sistema de salvação
não é baseado em perfeição doutrinária no indivíduo, é preciso entender, mas a
perfeição existe, está na Palavra e na mensagem da Igreja. Por isso, mesmo os santos
canonizados podem ter, algumas vezes, errado na fé, de forma não proposital ou
com voluntária recusa de ouvir a Igreja, mas por suas imperfeições e erros de
juízo, dentro das circunstância em que viviam, escrevendo coisas que a Igreja
não ensina, como o fez São Gregório Nazianzeno, o grande Santo Agostinho,
também Santo Tomás, são Belarmino, etc., só para citar exemplos de inegável
grandeza na graça de Deus.
Portanto, a salvação do
indivíduo não depende de uma perfeição doutrinal crida pelo indivíduo, mas a
perfeição, moral e espiritual, deve ser buscada, como Mateus 5, 48 ensina, e a
Igreja deve ter o patrimônio perfeito de fé, de entendimento para a sua época,
de modo a termos seguro o que a Bíblia ensina. Esse argumento não pode ser
refutado.
A infalibilidade da
Igreja é importante para não permitir que o sincero buscador da verdade fique
sem a devida recompensa. Deus deu a Bíblia inspirada e inerrante, e por isso
garante a mensagem infalível na Igreja. A inspiração da Bíblia é maior
demonstração do poder de Deus que a infalibilidade da Igreja, que decorre da
Palavra e da assistência do Santo Espírito. Assim, quem crê em uma não terá
dificuldade em crer na outra.
Dessa forma, os erros
tratados pelo autor no artigo são parte da vida dos cristãos. Deve-se entender,
a partir da Escritura, que assim como a Palavra de Deus é verdade, ela ensina a
verdade, ainda que muitos a entendam erradamente. Também a Igreja é santa e
verdadeira em Seu fundador e doutrina, ainda que muitos não compreendam a
verdade inteira e errem em seus ensinos. Não pode, entretanto, a Igreja ensinar
oficialmente o erro, mas os cristãos podem errar e errar em muitas questões, o
que foi mostrado no artigo de forma bastante clara e interessante. Falta apenas
olhar para a obra de Cristo na Igreja, em seu ensino, em sua perfeição, na sua
infalibilidade, como resultado da promessa do nosso Senhor e Salvador.
4.2.
O livre exame e a verdade
Os primeiros cristãos
não iam à Bíblia para julgar o que os apóstolos ensinavam. A possibilidade de
que sem autoridade central infalível os cristãos poderiam cair em confusão de
teorias divergentes é apenas um fato. Mas há mais o que esclarecer.
Observemos o que o
artigo chama de “falhas” no argumento contra o livre exame.
A possibilidade de
nascerem divisões e heresias não é o que faz o livre exame ser errado. Ainda
sem o livre exame há essa possibilidade. Entre os apóstolos, um traiu o Senhor,
outro o negou, ainda usavam de violência, tinham ideias erradas sobre o papel
do Messias, e etc. A divindade de Jesus, sua autoridade, sua graça, seu
presença, não impediu aqueles comportamentos dos apóstolos.
Na Igreja, ainda que o
corpo apostólico tivesse autoridade e ensinasse corretamente, surgiram divisões
e heresias. Esse, portanto, não é o ponto contra o livre exame. Também não há
nada contra a infalibilidade. O fato é que o livre exame é raiz para maior
número de divisões, piorando a situação, e é errôneo se não for feito na
consciência de que a autoridade de ensinar, dada por Cristo, é da Igreja.
Portanto, o católico pode fazer seu livre exame.
Por isso, afirmar que a
Igreja infalível não foi capaz de impedir divisões é argumento essencialmente
igual a dizer que a inspiração da Bíblia, que ensina somente a verdade, não é
capaz de impedir divisões entre os que a leem, que muitas vezes ensinam erros.
Certos entendimentos
que aparecem nas críticas mostram que não se compreendeu bem o que é a
infalibilidade da Igreja e também o que está errado no conceito de livre exame.
Isso é um motivo para continuar a pesquisar, a dialogar sobre o tema, a crescer
na fé, a buscar a verdade, em nome de Jesus, na Sua graça.
De fato, a autoridade
infalível não foi criada por Deus para impedir divisões e surgimento de
heresias, mas para certificar os crentes da verdade, de forma que podem ter uma
fonte certa para porem sua fé. Assim, primeiro deve-se crer em Cristo, na
Bíblia, na Igreja. Quem não crê na Bíblia não aceita as verdades ali ensinadas,
mesmo que inspiradas. O mesmo acontece com quem não crê na Igreja Católica, que
ainda que as doutrinas sejam verdades, falta-lhes a fé, que não permite
aceitarem o que a Igreja ensina.
A questão da divisão
pode ser vista sob duas perspectivas, uma dentro da Igreja e outra de fora
dela. O autor limita-se a ver a divisão de fora. Assim, afirma que toda vez que
um grupo surge na Igreja através de uma heresia, surge uma divisão,
exemplificando com Marcião.
De fato, ali surge um
grupo que antes era cristão católico, parte da Igreja, e forma-se em oposição à
Igreja de antes, surgindo uma heresia. Mas, da perspectiva interna, a Igreja
continua firme na sua fé, unida na mesma verdade, e vê um grupo de pessoas que
deixa o seu âmbito, separando-se dela.
Isso sempre ocorreu, e
pode ocorrer em todo o tempo. Quanto à divisão da ICAR com a Igreja Ortodoxa,
basta pesquisar sobre o cânon bíblico e certificar-se de qual Igreja está com o
verdadeiro cânon, o que já é um exemplo para continuar em busca da verdade, e
uma indicação onde ela está.
Agora, o problema que o
artigo traz é quanto ao conhecimento se o Papa e a Igreja são infalíveis. Como
certificar-se disso, já que a infalibilidade serve para termos certeza da
verdade em meio a tantas interpretações?
Mas, o autor afirma que
no decorrer da série, desse estudo,
verificou-se que não há evidência da infalibilidade. No entanto, os comentários
feitos nos locais oportunos mostrou que é verdadeira a infalibilidade da
Igreja, sendo preciso apenas aprofundar-se na fé bíblica para certificar-se
dessa verdade.
Para comprovar a
infalibilidade da Igreja basta que se estude com fé a Bíblia, e isso não é um
raciocínio circular. Uma vez provada a doutrina, a fé na Igreja é criada no
coração, decorrente da fé em Jesus Cristo, e o crente cresce na fé e na graça
com segurança.
Portanto, a
infalibilidade é uma garantia de Cristo para Sua Igreja, e isso se mostra na
grande e profunda racionalidade da fé católica, ao contrário do que o artigo
traz, afirmando da fé sem fundamento
racional, o que demonstra não conhecer bem a fé católica. Não há fé personalista, porque o católico crê que
Deus é autoridade suprema, e o que Deus promete Ele cumpre. Se Deus fala nas
Escrituras, as Escrituras são a verdade, e Cristo promete proteger do erro a
Igreja, então a Igreja ensina a verdade, e sendo assim é dever cristão crer na
mensagem da Igreja.
Quando livre exame não
fornece garantia, a infalibilidade da Igreja a fornece. Por isso, não há falha
no argumento católico.
A segunda “falha” que o
artigo traz seria que o católico pressupõe que livre exame é livre
interpretação, o que criaria uma anarquia, onde cada um pode ter sua verdade.
De fato, muitos
católicos pensam assim, e é isso que se depreende de muitas apresentações do
livre exame no senso comum. Talvez mesmo em debates e exposições mais
especializadas essa questão possa continuar a não ser tão clara.
Isso está em comparação
com a doutrina da infalibilidade papal, que não é entendida pelos protestantes
mesmo que lendo diretamente nas fontes católicas a definição da doutrina. Tudo
isso mostra que é preciso mais estudo e diálogo, para que as questões fiquem
mais claras e sejam melhor entendida.
O autor afirma que a
autoridade e a hierarquia não são contrários à ideia de livre exame. Ponto
positivo para a fé católica, tendo desde o início de sua existência, como o
autor mostrou, autoridade e hierarquia, começando pelos apóstolos, com sede em
Jerusalém, e etc.
Depois, surge a questão
do modelo de organização da Igreja. Esse parece um ponto que pode tornar mais
claro o conceito de tradição para o protestante. Ele afirma que não é possível
saber o que foi pensado pelos apóstolos para ser o modelo ulterior da Igreja,
nem se algum modelo foi pensado, não sendo possível saber sobre isso.
Então, afirma que uma possibilidade
forte seja que nenhum modelo existiu e que a Igreja ficou para decidir. Na
verdade, de onde vem a força dessa opinião, dessa possibilidade?
É verdade que não há
regra na Bíblia para a organização, mas a Bíblia mostra a organização se
desenvolvendo e como ela de fato acontecia.
Pensar que o modelo de
organização esteve ligado essencialmente à cultura da época é outro momento de
se pensar na Palavra de Deus que é eterna e que contem mais daquilo que
permanece em qualquer tempo do que coisas que mudam conforme as mudanças
históricas. Assim, o modelo de organização da Igreja que ocorre no seu início
certamente é o modelo que Cristo quis, e que é o verdadeiro modelo da Sua
Igreja.
A forma para
conhecermos isso é a tradição, o fato, como realmente ocorreu. Ao invés de
pensar que cada aparente diferença e discrepância no modelo no decorrer dos
anos foram mudanças da forma de organização que estaria livre para mudar de
acordo com a época, é preciso ver o desenvolvimento da organização eclesiástica
de acordo como a essência do modelo original, que se encontra registrado na
Bíblia.
Sendo assim, não se vê
possibilidade para a escolha de um modelo onde os cargos eclesiásticos são
temporários, por exemplo, já que não se pode ver traços disso naquilo que de
fato ocorre na Bíblia. E, sendo isso inexistente na Escritura, é mais natural
seguir o mesmo modelo da Palavra de Deus que pensar em outros que pareçam
melhores.
Outra questão é que não
há algo como um crente podendo provar uma interpretação diferente da
interpretação oficial da Igreja mostrando evidências e em consonância com o espírito bíblico, não havendo nenhum
suporte para que cada crente tenha possibilidade de provar pontos de vista que
achar corretos por meio de estudo bíblico, apresentando evidências, etc.,
quando isso não for conforme a doutrina já pregada pela autoridade apostólica.
Não havendo um único exemplo disso no primeiro século, nas páginas da Bíblia,
não é algo que faz parte da doutrina cristã, mas apenas possibilidades que a
história prova que existem, e que nunca foram aceitas pela Igreja Católica
desde o seu início.
Esse tipo de pensamento
é conforme o que ocorreu em todas as heresias, mas que não foi aceito pela
Igreja nenhuma vez.
Interessante o modelo
explicado, onde a submissão à autoridade é um dever, e a composição da
liderança da Igreja é feita pelos mais aptos, dando estabilidade e rigidez
doutrinária à mesma. Então, o reconhecimento de que a Igreja pode errar, ou
seja, o reconhecimento de que a liderança possa cair em heresia, isso serviria
para formar um magistério equilibrado.
No entanto, isso
demonstra apenas que nunca se poderá ter uma certeza de que a doutrina que a
Igreja está ensinando é mesmo verdadeira. Isso abre espaço para reformadores de
doutrina. Pense nisso.
Todas as vezes que um
membro da liderança ou leigo surgir com uma interpretação que não encontra
precedente, e que não está conforme a doutrina já estabelecida oficialmente,
que mesmo diante de escrutínio, a Igreja não entender que as evidências que os
fautores da nova interpretação são dignas de serem observadas e que uma reforma
na direção proposta devesse existir, ao passo que os proponentes da
interpretação não forem suficientemente convencidos de que sua posição está em
erro, todas essas vezes que isso ocorrer é bastante provável que haverá
separações e surgimento de heresias, que brotam do princípio aludido, de que a
Igreja pode errar em matéria de fé. Portanto é um modelo falho.
O modelo apostólico, por
sua vez, não permite esse entendimento. Ainda que a separação e o surgimento de
outras doutrinas ocorra, o princípio da infalibilidade automaticamente
considerará essas separações de doutrinas como erros e heresias. E isso dá
certeza quanto a essa posição.
Ao invés de ver
possibilidade de que as novas interpretações sejam verdadeiras, quando em
oposição à Igreja oficial, e que as novas denominações possam estar adiante no
caminho de crescimento na fé, são ao contrário vistas como afastando-se da
verdade, como foram todas as interpretações que não se conformavam com a fé dos
apóstolos.
Por isso, crer que a
Igreja possa errar nessas questões é introduzir desequilíbrio no magistério.
Em outras áreas, no
cotidiano, no funcionamento normal da Igreja, as possibilidades de erros de
interpretação, de julgamentos errôneos, em quaisquer âmbitos, por teólogos,
biblistas, padres, bispos, etc., é sempre possível. É de se crer, entretanto,
que tais erros nunca subirão ao lugar que os torne doutrina oficial obrigando
toda a Igreja.
Na estrutura que o
artigo explicou, o membro da Igreja não se torna o seu próprio líder. No modelo
da infalibilidade também não, e de forma mais intensa. É bom refletir sobre
isso.
A organização não fica
sem liderança apta e confiável. Ainda menos no modelo da infalibilidade. Ou
seja, a organização não fica, menos ainda, sem liderança apta e confiável,
quando o modelo de autoridade é infalível.
E, o membro não cai no erro de pôr o líder acima da Bíblia e a Igreja,
também isso não ocorre no modelo de infalibilidade, embora psicologicamente
possa ocorrer com mais frequência, não que no modelo de autoridade eclesiástica
falível isso não ocorra. Ocorrer em ambos.
No entanto, a fé na
Igreja infalível não torna cada cristão infalível, nem os diáconos, e padres,
nem os bispos, nem os papas, quando ensinam e pregam o evangelho todos os dias,
ou quando publicam obras e estudos bíblicos, etc. Nenhum católico crê que os
líderes estão pregando infalivelmente, o que é idêntico ao que o protestante
crê em relação aos seus pastores.
A diferença se dá que
em matéria de fé já definida e proclamada pela autoridade máxima da Igreja,
papa e bispos, em concílio ecumênico, com intenção de ensinar a toda a Igreja,
há a fé de que essa decisão é proveniente de Deus e certa, e, portanto,
infalível, de modo que não é correto o que se oponha a tal definição
doutrinária.
Quando o protestante
não reconhece isso em relação aos seus documentos oficiais, sínodos, concílios
e etc., abre-se espaço para inovações, ainda que na prática essa realidade
funcione quase que identicamente ao que acontece no Catolicismo. O que há de
diferente no Catolicismo é, na prática, maior clareza, solidez e rigidez contra
deturpações e possíveis inovações. São modelos próximos, mas o modelo católico
e apostólico é superior.
Ainda, por consequência, não corre o risco de
errar e não reconhecer seu erro. Essa questão é complicada, como insinuando
que a Igreja possa voltar a si mesma e avaliar decisões anteriores e verificar
possíveis falhas e erros. No modelo infalível isso é impossível quando se põe a
fé em Cristo e na Sua promessa de proteger a Igreja de todo erro nesse quesito
da fé e da moral, como mostra a doutrina do Novo Testamento.
No entanto, mesmo no
modelo de igreja falível, há sempre difíceis mudanças, e possibilidade e risco
de errar e não reconhecer seu erro. Imagine um adventista chegando à conclusão
de que Ellen White de fato errou em matéria de fé, como por exemplo, na questão
em que afirma a mortalidade da alma, uma vez que a Bíblia apresenta a alma como
imortal. A única forma para resolver seria deixar a fé adventista, já que a
senhora White é considerada inspirada e, portanto, não se poderia negar um
ensino que ela claramente afirmou em seus escritos como verdade bíblica.
O mesmo seria um católico
negar um dogma, já que é impossível que a Igreja caia em erro, ainda que
contrarie a opinião de cristãos particulares.
A diferença é que o
adventista estaria se baseando em seus estudos bíblicos, segundo as rígidas
regras da hermenêutica e a exegese bem fundamentada, para a fundamentação da
doutrina, que foi comprovada por uma visão inspirada da profetisa Ellen White.
Por sua vez, o
católico, que também possui as mesmas condições, em seus estudos bíblicos
segundo a reta hermenêutica e sã exegese, tem para a doutrina em questão o ensino
oficial da Igreja reunida com o papa e os bispos em concílio na intenção de
definir a doutrina que está presente, de alguma forma, na Bíblia e na tradição
apostólica e viva da Igreja, em vários testemunhos, e que foi entendida como
revelada por Deus nas Escrituras e na tradição.
Aquilo que para o
católico é a tradição e o magistério, para o adventista funciona na pessoa de
Ellen White. Em outras palavras, o católico não pode negar um dogma proclamado
oficialmente pela Igreja e continuar ser católico, da mesma forma que um
adventista não pode negar uma doutrina conforme explicada por Ellen White e
continuar adventista do sétimo dia.
Para ficar mais claro,
seria como um católico negar o dogma da infalibilidade papal, que foi definido
em concílio ecumênico em 1870, e um adventista negar que a alma é mortal, que
deixa de existir na morte, que foi comprovada por Ellen White em visão em 1863.
Não se está afirmando
que a doutrina da infalibilidade papal surgiu em 1870, nem que o ensino de que
a alma morre aparece apenas em 1863 com Ellen White, mas que após a proclamação
ex-cathedra do referido dogma nenhum
bom católico poderia se opor a ele, da mesma forma que após a visão de Ellen
White sobre a interpretação bíblica a respeito da alma não pode ser contestada
por um verdadeiro adventista do sétimo dia.
Não se trata de
questões acidentais, mas que tocam doutrinas que aquela Igreja ensina, e que
não podem ser negadas por seus membros. O que pode haver, tanto para o católico
quando para o adventista, em seus respectivos casos, é estudar a questão,
aprender da doutrina, ver as razões para tais, fazer um estudo bíblico, segundo
as regras da hermenêutica e a aplicação correta da exegese para certificar-se
do ensino recebido. O católico ainda tem o estudo da tradição da Igreja, e da
definição papal, comparando as mesmas com a Bíblia Sagrada e os testemunhos da
tradição, para certificar-se assim, da correção da doutrina, reconhecendo que
de fato é verdadeira.
Então, estudando a
Bíblia, com atenção ao contexto da passagem e do contexto histórico, da
coerência da interpretação, considerando o estilo do livro estudado, avaliando
autor e destinatários, estaríamos em bom solo para propormos interpretações até
para a Igreja em geral, segundo o que se depreende do artigo. Isso é
compreensível. Não é previsto no modelo apostólico.
Entretanto, imagine um
católico com seu estudo bíblico aprofundado tentando persuadir a Igreja de que
a infalibilidade papal não se sustenta, como há muitos teólogos que assim
pensam.
Imagine também um
adventista, com sua interpretação bíblica a respeito da alma, chegando ao
resultado de que a mesma é imortal, tentando convencer a Igreja Adventista do
Sétimo Dia de que essa é a doutrina bíblica.
Diante das estruturas
já conhecidas de cada igreja, é óbvio e natural que as interpretações não podem
passar no crivo do seu ensino oficial referente ao tema.
Espera-se que os
exemplos tenham ficado claros, pois estão de acordo com as respectivas
teologias, e caso não estejam, pede-se que o autor comente a respeito fazendo
as devidas correções e esclarecendo os pontos em discordância com a doutrina
adventista, apresentando as razões para suas conclusões.
Certamente, a linguagem
usada aqui pode não ser adequada, não estar acessível ao pensamento de vários
leitores, ou não serem de fato corretas e apropriadas, etc., mas que sejam
mostradas razões caso alguém venha a negá-las.
Então, o artigo explica
que o livre exame não é o que o católico pensa dele, e que não dispensa o magistério
eclesiástico. Muito disso já foi comentado acima, é já é suficiente para
mostrar que a questão deve ser aprofundada.
Outra suposta “falha”
do argumento católico contra o livre
exame, que seria vê-lo como única causa das divisões. Certamente os católicos
não pensam assim, pelo que foi mostrado acima. Mas, continuemos.
Os exemplos das
divisões entre católicos e ortodoxos e protestantes por causa da infalibilidade
papal também pode ser vista do ângulo que, caso a infalibilidade papal fosse
uma doutrina errada, seria nesse caso um dever da Igreja Católica reformar-se
conforme as normas e doutrinas ortodoxas e protestantes propostas em seus
respectivos casos? É uma hipótese que também deve considerar essa questão.
Afirmar que a Igreja
acumulou erros, é uma coisa difícil de ser provada, já que para os mais santos
e sábios cristãos, os maiores eruditos, teólogos e filósofos da História, a
Igreja está firmemente ancorada na Bíblia e tradição apostólica, de acordo com
a reta razão, a verdadeira ciência, as regras hermenêuticas e a correta exegese
da Bíblia, a história, a arqueologia, a filosofia perene, a psicologia humana,
etc., de forma que é pelo menos digno de atenção que tanta cultura e erudição,
muitas vezes incomparável, quando se tem em conta a cultura universal, é digno
de atenção que isso ocorra na Santa Igreja Católica.
É certo que em menor
grau isso também tenha correlatos em outras denominações, como na IASD. Mas, em
grau altíssimo, é uma constante na Igreja Católica. Para melhor certificar-se
disso, grande homens, muitas vezes os expoentes maiores em sua época, os mais
eruditos entre os eruditos, foram cristãos católicos, como o foram, no período
pós-apostólico, Tertuliano grande escritor cristão, Orígenes, certamente o maior
erudito bíblico em seu tempo. Santo Agostinho, incomparável em tantos estudos
bíblicos e filosóficos, Santo Tomás de Aquino, que viveu quase um milênio após
Santo Agostinho, e foi em muitos sentidos insuperável, Erasmo de Roterdã, talvez
também o maior erudito do seu tempo, preparando o Novo Testamento em grego, que
serviu para o trabalho de tradução de Lutero, John Henry Newman, que participou
de um movimento de reforma da Igreja, possivelmente o maior desde a Reforma
Protestante, Edith Stein (Santa Teresa Benedita da Cruz), filósofa judia que
converteu ao Catolicismo, G. K. Chesterton, uma das figuras mais cultas e
inteligentes em seus dias, Joseph Ratzinger, um dos maiores teólogos vivos dos
nossos dias, etc.
Esses nomes foram somente
para citar alguns, que mostram que a doutrina cristã católica está de acordo
com a mais fina inteligência e a mais exigente razão. Muitos e muitos nomes de
inteligência estão em todas as culturas e religiões, e mesmo no ateísmo, no
antigo paganismo, como Parmênides, Eráclito, Sócrates, Platão, Aristóteles,
etc., como em outras religiões.
Também, como é natural,
e mais esperado que em outras religiões, estão presentes nas Igrejas
protestantes, que vieram da Igreja Católica, e naqueles que nasceram já no interior
do Protestantismo. Assim, temos Lutero, Melâncton, Calvino, John Wesley, Samuele
Bacchiochi, adventista, George Knight, também adventista, citando
aleatoriamente alguns.
No entanto, é digno de
nota que a erudição católica tem alcançado níveis insuperáveis em grande
escala, repetidas vezes, em vários âmbitos. É bom pensar nisso. Portanto, é
muito simplista afirmar sobre erro doutrinal no Catolicismo, ainda mais apontar
grande bagunça, etc. Isso ainda será aprofundado nos próximos artigos.
Intelectuais
protestantes que conheceram o Catolicismo foram aproximando-se dele a ponto de
quase aderirem à sua doutrina, como o protestante C. S. Lewis, que
possivelmente teria se tornado católico se vivesse um pouco mais, já que aos
poucos ia se persuadindo de várias doutrinas da Igreja.
Da mesma forma, alguns
filósofos não católicos beiraram a fé católica. Talvez isso seja irrelevante
para o que está sendo tratado aqui, mas não é dispensável para quem pensa e
gosta de estudar a verdade.
Por isso, estudiosos da
Bíblia, quanto mais aprendem da Palavra de Deus, mas chegam perto da Igreja
Católica, seja qual for o assunto estudado.
Assim, a hipótese de
que as divisões são efeitos da suposta ruptura proporcionada pela ICAR não é
provável. Basta ver que onde o livre exame é maior, mais há proliferação de
novas ideias.
A comparação de livre
exame com o livre arbítrio, onde um não pode ser culpado pelas divisões, como o
outro não pode ser culpado pelo pecado, volta ao que o catolicismo tem em suas
premissas, que é o livre exame para buscar a verdade, sob a orientação da
Palavra de Deus, através da autoridade da Igreja, onde o fiel tem a liberdade
de conhecer a verdade estudando a santa Palavra.
A infalibilidade não
previne das divisões, mas pode ser boa para diminui-las. Também, o fundamento
da doutrina da infalibilidade é certo na Bíblia Sagrada, ao contrário do que o
artigo veio desenvolvendo, como foi mostrado no comentário acima. Assim,
pode-se perguntar: a infalibilidade é doutrina romana? Não. Ela é bíblica.
O sistema de autoridade
e livre exame foi o explicado aqui. Certamente, funciona melhor que o
apresentado no artigo, que vê a Igreja como parte falível no sistema.
No próximo comentário
será tratado o artigo que aborda doutrinas católicas e apresenta críticas,
considerando-as erros. Esse será um dos melhores, por confrontarem diretamente
argumentos de doutrinas cristãs católicas com argumentos adventistas.
Depois será tratado o
Protestantismo e o que se pode afirmar de erros protestantes a partir da
perspectiva adventista, bem como outras abordagens adventistas sobre o
Catolicismo e o Protestantismo que, se Deus quiser, serão comentadas.
Gledson Meireles.