O Senhor Deus colocou,
de forma especial, duas árvores no Éden. Uma era a árvore da vida. A outra, a
do conhecimento do bem e do mal. De todas as árvores podiam o homem e a mulher
comerem, exceto de uma: a que estava no meio do jardim, a saber, a do
conhecimento do bem e do mal. Deus a criou para testar a obediência das suas
criaturas racionais, aquelas que Ele havia criado à sua imagem.
A narrativa é bastante
natural. O homem podia agir normalmente, vivendo as delícias do paraíso,
governando as criaturas, servindo-se da criação, como mordomo de Deus. Ele
deveria cuidar do jardim, alimentar-se, recrear, viver de forma abundante e
perfeita, e repousar de seu labor.
Havia, porém, uma
limitação, dada por Deus, pelo mandamento. Não coma da árvore do conhecimento do
bem e do mal. Isso pressupõe a possibilidade de obedecer e de desobedecer.
Ninguém duvida disso. O homem podia não comer, como também poderia comer a
desobedecer a ordem de Deus, pois a árvore estava ali, à sua disposição, e ao
seu alcance.
Buscando uma explicação
mais profunda, no plano metafísico, alguns apresentaram a teoria de que Deus
havia determinado que o homem desobedecesse a sua Lei e caísse no pecado. Isso
porque não haveria outra fonte de energia e origem de todo agir que não fosse o
próprio Deus. Assim, a criação não poderia estar fora da total soberania de
Deus.
Dessa forma, explicam
que o pecado foi determinado. No entanto, sabemos que pela narrativa não há
necessariamente apenas esse tipo de explicação. Pelo contrário, ela de alguma
forma infringe leis da racionalidade humana.
Portanto, sabemos que
Deus deu liberdade ao homem, que é o livre-arbítrio, ou seja, a liberdade da
vontade, para agir por si mesmo, fazendo ou deixando de fazer. No entanto, essa
ação não escapa do conhecimento de Deus, e do Seu exaustivo controle, pois não
há realidade fora de Deus. Temos aqui o mistério da relação entre a soberania e
o livre-arbítrio.
Que toda a realidade é
conhecida por Deus não há como negar. Presente, passado e futuro são para Deus simples
de conhecer. Assim, todos os eventos são conhecidos nos seus mínimos detalhes.
Se são conhecidos, como isso ocorre? Isso significa que estão determinados e
não podem mais mudar? Significa que foi Deus quem determinou todas as ações
livres das criaturas racionais?
Essas questões são
profundas e difíceis, mas felizmente encontram resposta na Bíblia. Há o sistema
que aceita os dados da revelação, como estão desde as primeiras páginas da
Bíblia, que mostram o homem e a mulher criados livres, dotados de
livre-arbítrio, e responsáveis por suas ações. Esse é o posicionamento da
Igreja Católica.
E há o sistema que nega
o livre-arbítrio e constrói toda a sua teologia em cima dessa negação,
aceitando todas as demais premissas da revelação que relacionam-se com esse
tema, exceto o próprio livre-arbítrio. Esse sistema nasceu principalmente por
causa da doutrina dos reformadores protestantes, em especial pelo trabalho de
João Calvino, por isso conhecido como Calvinismo.
Desse modo, essa
teologia precisa explicar inúmeras passagens da Bíblia, que naturalmente
contradizem suas afirmações, e, precisa também, tentar harmonizá-las com seus
princípios, que procuram a manter afastada doutrina do livre-arbítrio.
Tradicionalmente o calvinismo,
também chamado de fé reformada, aceita que Adão possuía o livre-arbítrio. Ensina
isso porque define o livre-arbítrio como capacidade de escolher igualmente opções
contrárias. Adão podia comer do fruto da árvore da vida como também podia não
comê-lo, com a mesma facilidade. Tudo estava em seu poder de escolha. Mas,
antes disso, afirma a mesma teologia, estava determinado, no decreto divino,
que Adão comeria do fruto da árvore, pecaria, e perderia a graça.
Dessa forma, Adão agiu
livremente, mas sem saber estava obedecendo ao decreto divino que determinava
que ele comesse do fruto da árvore da vida e fosse causa de perdição para toda
a sua descendência.
No entanto, essa
explicação não está na Bíblia, nem amolda-se no contexto do Gênesis que revela
a criação do mundo. Por isso, o pecado original não estava determinado.
Por isso, antes de pensar
em determinação de todos os eventos, Deus criou o mundo e suas criaturas livres
sabendo como se comportariam, e incluiu isso no decreto de salvação. Isso quer
dizer que Deus viu o pecado de Adão, e não que o determinou. Não que dizer que
quis o pecado, nem que determinou que o mesmo ocorresse, nem que viu algo que
fugia do Seu controle, como vindo de outra fonte que não o Seu próprio poder e
criação, mas que pela criação de criaturas livres, sabia como agiriam, livres
como são, e quis assim decretar, levando em conta o livre-arbítrio.
Dessa forma, Adão agiu livremente sem que fosse determinado por isso, e Deus sabia da resposta de Adão, e já havia previsto isso no seu decreto eterno.
O Senhor Deus colocou,
de forma especial, duas árvores no Éden. Uma era a árvore da vida. A outra, a
do conhecimento do bem e do mal. De todas as árvores podiam o homem e a mulher
comerem, exceto de uma: a que estava no meio do jardim, a saber, a do
conhecimento do bem e do mal. Deus a criou para testar a obediência das suas
criaturas racionais, aquelas que Ele havia criado à sua imagem.
A narrativa é bastante
natural. O homem podia agir normalmente, vivendo as delícias do paraíso,
governando as criaturas, servindo-se da criação, como mordomo de Deus. Ele
deveria cuidar do jardim, alimentar-se, recrear, viver de forma abundante e
perfeita, e repousar de seu labor.
Havia, porém, uma
limitação, dada por Deus, pelo mandamento. Não coma da árvore do conhecimento do
bem e do mal. Isso pressupõe a possibilidade de obedecer e de desobedecer.
Ninguém duvida disso. O homem podia não comer, como também poderia comer a
desobedecer a ordem de Deus, pois a árvore estava ali, à sua disposição, e ao
seu alcance.
Buscando uma explicação
mais profunda, no plano metafísico, alguns apresentaram a teoria de que Deus
havia determinado que o homem desobedecesse a sua Lei e caísse no pecado. Isso
porque não haveria outra fonte de energia e origem de todo agir que não fosse o
próprio Deus. Assim, a criação não poderia estar fora da total soberania de
Deus.
Dessa forma, explicam
que o pecado foi determinado. No entanto, sabemos que pela narrativa não há
necessariamente apenas esse tipo de explicação. Pelo contrário, ela de alguma
forma infringe leis da racionalidade humana.
Portanto, sabemos que
Deus deu liberdade ao homem, que é o livre-arbítrio, ou seja, a liberdade da
vontade, para agir por si mesmo, fazendo ou deixando de fazer. No entanto, essa
ação não escapa do conhecimento de Deus, e do Seu exaustivo controle, pois não
há realidade fora de Deus. Temos aqui o mistério da relação entre a soberania e
o livre-arbítrio.
Que toda a realidade é
conhecida por Deus não há como negar. Presente, passado e futuro são para Deus simples
de conhecer. Assim, todos os eventos são conhecidos nos seus mínimos detalhes.
Se são conhecidos, como isso ocorre? Isso significa que estão determinados e
não podem mais mudar? Significa que foi Deus quem determinou todas as ações
livres das criaturas racionais?
Essas questões são
profundas e difíceis, mas felizmente encontram resposta na Bíblia. Há o sistema
que aceita os dados da revelação, como estão desde as primeiras páginas da
Bíblia, que mostram o homem e a mulher criados livres, dotados de
livre-arbítrio, e responsáveis por suas ações. Esse é o posicionamento da
Igreja Católica.
E há o sistema que nega
o livre-arbítrio e constrói toda a sua teologia em cima dessa negação,
aceitando todas as demais premissas da revelação que relacionam-se com esse
tema, exceto o próprio livre-arbítrio. Esse sistema nasceu principalmente por
causa da doutrina dos reformadores protestantes, em especial pelo trabalho de
João Calvino, por isso conhecido como Calvinismo.
Desse modo, essa
teologia precisa explicar inúmeras passagens da Bíblia, que naturalmente
contradizem suas afirmações, e, precisa também, tentar harmonizá-las com seus
princípios, que procuram a manter afastada doutrina do livre-arbítrio.
Tradicionalmente o calvinismo,
também chamado de fé reformada, aceita que Adão possuía o livre-arbítrio. Ensina
isso porque define o livre-arbítrio como capacidade de escolher igualmente opções
contrárias. Adão podia comer do fruto da árvore da vida como também podia não
comê-lo, com a mesma facilidade. Tudo estava em seu poder de escolha. Mas,
antes disso, afirma a mesma teologia, estava determinado, no decreto divino,
que Adão comeria do fruto da árvore, pecaria, e perderia a graça.
Dessa forma, Adão agiu
livremente, mas sem saber estava obedecendo ao decreto divino que determinava
que ele comesse do fruto da árvore da vida e fosse causa de perdição para toda
a sua descendência.
No entanto, essa
explicação não está na Bíblia, nem amolda-se no contexto do Gênesis que revela
a criação do mundo. Por isso, o pecado original não estava determinado.
Por isso, antes de pensar em determinação de todos os eventos, Deus criou o mundo e suas criaturas livres sabendo como se comportariam, e incluiu isso no decreto de salvação. Isso quer dizer que Deus viu o pecado de Adão, e não que o determinou. Não que dizer que quis o pecado, nem que determinou que o mesmo ocorresse, nem que viu algo que fugia do Seu controle, como vindo de outra fonte que não o Seu próprio poder e criação, mas que pela criação de criaturas livres, sabia como agiriam, livres como são, e quis assim decretar, levando em conta o livre-arbítrio.
Dessa forma, Adão agiu livremente sem que fosse determinado por isso, e Deus sabia da resposta de Adão, e já havia previsto isso no seu decreto eterno.
Por isso, Adão não perdeu o livre-arbítrio quando pecou. Ele não perdeu a capacidade de fazer escolhas livres. Perdeu a justiça e santidade originais, perdeu aquela neutralidade nas escolhas, perdeu a santidade e ficou sujeito ou pecado, à concupiscência. O livre-arbítrio não é neutralidade nas escolhas, mas a própria capacidade de escolher, sem coerção, de forma livre, por meio de motivos.
Assim, após a queda, o homem continua a poder escolher, mas poderá escolher a salvação somente quando for capacidade para isso pelo auxílio da graça de Deus.
Gledson Meireles.
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