Outro
comentário a respeito do livro O papado e
o dogma de Maria.
Parte
1:
O pastor afirma que o culto a Maria é uma desonra, uma ocasião de pecado, e que
foi introduzido na Igreja depois que levas de pessoas não-convertidas entraram
no cristianismo. Em primeiro lugar, o culto a Maria é reconhecer sua grandeza
como mãe de Cristo, serva de Deus, modelo para a Igreja, que tem-na, a exemplo
de Cristo, como mãe. Então, o culto a Maria só pode honrá-la. Ainda, com o
Edito de Milão não houve conversão em massa, mas as mudanças que ocorreram
foram aos poucos facilitando as conversões, mas não há qualquer alusão de que a
mariologia como a conhecemos hoje tenha sido gerada pelos motivos acima.
A respeito do título
mãe de Deus como relacionado à frase inspirada e bíblica de mãe do meu Senhor,
tudo está muito claro quando se tem em conta que o Senhor ao qual Isabel tinha
em mente era o Deus de Israel, e que o Espírito Santo referiu-Se ao Filho do
Altíssimo, sendo também da mesma natureza do Pai. É por isso que sendo o Filho
o mesmo Deus, Maria é de certa forma Sua mãe. E qual forma é essa? A da
natureza, que é o meio da humanidade de Maria em relação a Cristo. Ela não é
mãe da natureza de Cristo, mas mãe da Pessoa de Cristo segundo a natureza
humana.
A ideia de que Maria
ser mãe de Deus implica em que ela precedeu a Deus não é doutrina cristã
católica. O autor parece não conhecer isso.
A doutrina da imaculada
conceição está de acordo com a Escritura pois ensina que Maria é filha de Adão,
e foi preservada do pecado, o que é o mesmo que salvação, e essa salvação foi
efetuada pelo sangue de Jesus Cristo. A explicação de que Jesus é semente da
mulher por si só não explica o motivo dEle não ter sido gerado com pecado
original. Por isso, a Igreja foi tomando consciência de que Deus agiu na pessoa
de Maria purificando-a totalmente para afastar qualquer pecado da mãe do
Senhor. Ela foi salva por Deus (cf. Lucas 1, 47).
Diz o pastor que os
apóstolos não oraram a Maira e nem falaram de Maria. Esse “silêncio” seria uma
reprovação ao culto mariano. Mas, pelo contrário, quando há silêncio significa
que o assunto em questão era pacífico e não o contrário. Muitas doutrinas que
não mereceram atenção são aquelas das quais não havia dúvida alguma. Isso
porque a maior parte do Novo Testamento foi escrita para tratar de questões
controvérsias.
Interessante que para
falar contra a virgindade perpétua de Maria, o pastor usa 1 Coríntios 7, 5,
como se não ter relacionamento conjugal fosse “desobediência” a um mandamento
divino, quando o texto não diz isso, pois é dito que os casais devem ter
momentos de privação do direito conjugal para oração, e não devem ficar assim
por muito tempo porque ficariam à mercê das tentações do Demônio, e não porque
Deus havia ordenado que devessem voltar a unir-se.
Também, primogênito não
significa um entre outros, mas o primeiro gerado, somente isso. Caso seja filho
único, continua sendo primogênito.
Por isso, afirmar que
“há provas” na Escritura de filhos de Maria não é correto.
Outra questão é que a
palavra usada para primo é anepsios,
e que isso provaria que os irmãos de Jesus não eram primos, é uma questão
inócua. Isso já foi discutido em outro artigo, que prova que Maria não teve
outros filhos.
A respeito do dogma da
assunção, deve-se entender toda a questão sobre a imaculada conceição e suas
implicações, as referências bíblicas a respeito de Maria, e as afirmações
históricas. Maria foi elevada ao céu.
Parte
2:
A primeira observação que o pastor faz da anunciação do anjo Gabriel à virgem
Maria (cf. Lucas 1, 28) é que a escolha de Maria teve origem na graça de Deus e
não em mérito dela. Essa observação não deve causar nenhuma estranheza para o
católico, já que tudo o que a Igreja Católica ensina é justamente que Deus é a
fonte de todo o bem e de toda graça, e portanto a virgem Maria foi escolhida
por Deus, preparada por Ele, para ser a mãe do Salvador, e não que ela tenha
tido mérito para oferecer a Deus para isso. Aliás, o mérito que ela tinha era
efeito da graça, que Deus concedeu para fazê-la participante do mistério da
redenção, como mãe do Redentor.
Depois, o reverendo
chama a atenção de que a ênfase do anjo estava na criança, em Jesus, e não
Maria. Essa constatação é tipicamente protestante, e tem como objetivo mostrar
ao católico, especialmente, que a Bíblia não oferece base para venerar Maria, e
que esse é o ensino bíblico. Não há o que objetar de forma especial sobre isso,
já que a mensagem do anjo era a encarnação de Jesus, e nada mais natural que a
ênfase seja Jesus em toda a passagem. No entanto, o que a Igreja também
observa, e todos os santos doutores falaram disso, é que Maria é chamada por um
nome diferente, que é traduzida do latim como cheia de graça, ou como
agraciada, como preferem as traduções protestantes e mais modernas, a partir do
texto grego.
Isso mostra que esse
nome revela uma característica da virgem Maria, mostrando sua singular bênção,
recebendo já de início a plenitude da graça. O anjo a saudou, como não havia
feito em outras aparições. Por causa de Cristo veneração Maria.
Falando sobre Lucas 1,
38 o pastor lembra que Maria escolheu o título de serva, que não quis ser uma
sócia de Deus, nem igual a Deus, mas Sua serva. Para o católico tais palavras
não trazem nenhuma novidade, pois cremos que Maria é a serva de Deus por
excelência, de serviu o Senhor de modo tão sublime que na Igreja é a primeira
cristã, a primeira criatura modelo de fé para os irmãos de Cristo. É ainda a
mãe da Igreja, que é espiritualmente o corpo de Jesus.
Por fim, entre outras
coisas que não estão em contraste com a doutrina católica, o pastor observa que
Maria não é bendita acima das mulheres, mas entre as mulheres. Ele quer dizer
com isso que Maria não é diferente das demais mulheres de todo o mundo.
Mas, observe que a
Bíblia afirma que Maria é bendita e que Jesus é bendito, e ninguém dirá que por
isso Jesus é tão bem-aventurado com todos os homens e não acima de todos os
homens! Portanto, antes de expressar opiniões, é preciso ponderar conforme o
texto sagrado. Maria é bem-aventurada entre as mulheres, de forma especial e
singular, o que a faz ser honrada entre todas as mulheres com maior honra,
porque é mãe do bem-aventurado Filho do Altíssimo.
Como segunda razão o
pastor afirma que na passagem a ênfase é toda sobre Jesus e não sobre Maria,
que Isabel destaca o Filho e não a mãe, que João Batista estremeceu por causa
de Jesus e não por causa de Maria, e que o personagem principal do encontro é
Jesus e não Maria.
Contudo, para o leitor
atento das Escrituras, a passagem mostra que Isabel honrou Maria logo que ficou
cheia do Espírito Santo, e mostra que João Batista estremeceu em seu ventre
assim que a saudação de Maria foi ouvida. O protestante dificilmente honraria
Maria dessa forma, raramente chega a tal ponto. Talvez a teologia protestante
previne desse nível de honra que a Bíblia apresenta sobre Maria. Ao invés de
trata-la com igual, Isabel a honra como maior. O leitor não deve deixar
despercebido que a saudação da virgem foi ocasião para que o Espírito Santo
santificasse o precursor e sua mãe Isabel.
No final dessa seção,
para enfatizar algo mais católico nas observações do reverendo, é preciso notar
que ele escreveu que Maria é campeã entre as mulheres, o que indicar sua maior
estatura na graça, embora não seja isso que o pastor tenha querido passar. Ele
transparece o desejo de mostrar que o protestante honra Maria, embora pelo que
foi expresso acima, essa honra ainda é equiparada àquela que a Escritura
oferece à mãe do Senhor.
Continuando, temos que
em Lucas 1,48 a virgem Maria proclama, inspirada por Deus, que ela será
lembrada em todas as gerações. Certamente, essa lembrança é feita pelos
cristãos. No que se refere à teologia protestante mais moderna, pouco lugar tem
sido dado à lembrança de Maria, o que se reflete nos cultos, nas pregações, nos
livros, nas conversas, e na vida de cristãos protestantes, que lembram de falar
de Maria quando pregam para algum católico, lembrando ao católico que ela é uma
mulher “qualquer”, (ou como o reverendo escreve eu seu livro “era apenas umas
mulher”), pecadora e salva por Deus, que teve filhos além de Jesus, que dorme
no pó da terra, que não tem poder, e etc. Essa é a visão popular criada no
Protestantismo para combater o culto de veneração à virgem Maria. Por essa via,
não se cumpre a profecia de Lucas 1, 48.
Esse cumprimento está na
Igreja Católica, onde a virgem Maria é lembrada sempre com os maiores louvores,
por um só motivo: ser a mãe Jesus.
Na frase do pastor:
“Seguir a orientação de Maria é de fato obedecer a Jesus” ele está seguindo,
sem o saber, o espírito da verdadeira Mariologia. O que falta é crer na
virgindade perpétua, imaculada conceição, assunção aos céus, e intercessão dos
santos. Fazendo isso de forma cristã, como ensina a santa Igreja, está honrando
a Maria biblicamente.
A respeito de Lucas 11,
27, onde as relações físicas são menores que as espirituais, deve-se responder
que certamente ninguém creu com tanta clareza em Jesus como Maria, e por isso
ela é a primeira crente. Portanto, é inevitável que, ao crer que Jesus é o
Filho de Deus alguém naturalmente venha a venerar Maria.
Maria era já repleta do Espírito Santo desde sua concepção, com maior ênfase na encarnação de Jesus, e foi mais agraciada com dons do Espírito no dia de pentecostes. Sua vida foi sempre cheia do Espírito Santo, ao contrário dos demais discípulos, que foram santificados depois. E, ainda, deve-se lembrar que Maria não teve outros filhos.
Gledson Meireles.
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