Entre a comunidade de
Corinto, na 2ª Epístola aos Coríntios, ressalta-se igualmente, e muitas vezes, a
hierarquia eclesiástica.
A carta é proveniente de “Paulo
e Timóteo” aos cristãos de Corinto e da Acaia inteira. É citado também Silvano,
junto com Paulo e Timóteo, que são líderes cristãos.
A autoridade dos líderes é
mencionada quando no capítulo 1, versículo 24, o apóstolo São Paulo afirma que
não tenciona dominar a fé dos cristãos, o que denota o alcance do poder dos
ministros sobre os fieis.
A obediência aos líderes é
citada também. (2 Cor 2,9) Logo aparecem os líderes não-autorizados, e que não
pregam a mensagem que é anunciada pelos apóstolos e seus ministros legítimos. Assim
é que no verso 17 é dito que muitos traficam a Palavra de Deus, o que tem a ver
com falsos pregadores.
Com isso, no capítulo 10,
São Paulo faz uma exposição e defesa do seu apostolado contra os falsos apóstolos.
Ele audaciosamente apresenta sua autoridade de ministro de Cristo, ameaçando
usar dessa prerrogativa caso necessária, e punir toda desobediência (v. 6).
E a sua defesa inclui também
outros ministros que estão consigo, o que é mostrado nos versículo 8 e 9.
A heresia e o afastamento da
verdade é um perigo constante, e São Paulo o ensina em 2 Cor 11,3.
Havia muitos que pregavam um
“outro Jesus” e outro espírito, apresentando-se como “eminentes apóstolos”
(como são chamados por São Paulo). Os coríntios conheciam esses ministros,
conforme 2 Cor 11,19-20, e os suportava, portanto, os recebia e eram coniventes
com eles.
No entanto, na autoridade de
Cristo, São Paulo os denuncia, e contrastando a sua autoridade apostólica com a
deles, e fazendo paralelo de prerrogativas naturais, como a origem hebreia,
israelita e abraâmica, e mesmo a ministerial, mostra os sinais do verdadeiro
apóstolo, que incluem a paciência em todos os momentos, os sinais, os prodígios
e os atos portentosos, diferenciando deles. (cf. 2 Cor 12, 12)
Em todo esse ínterim,
aqueles pregadores são tratados por São Paulo com dureza, e são chamados de
falsos apóstolos e de ministros de Satanás. (2 Cor 11, 13)
Enquanto que, os apóstolos,
todos eles, caminham no mesmo espírito (2 Cor 12,14) e apresentam as mesmas
características do apostolado. (2 Cor 13,11)
Nesse cenário, ali na Igreja
de Corinto e na região da Acaia, os cristãos são mostrados como submissos à
autoridade única do colégio apostólico, na pessoa do apóstolo Paulo e daqueles
que ele havia instituído para apascentar aquelas ovelhas, como são mencionados
São Timóteo e São Silvano.
Exercem paternidade
espiritual (2 Cor 12,14), vivem em unidade (v. 18: (...) “Não caminhamos no
mesmo espírito? não seguimos os mesmos passos?), e possuem autoridade e (v. 20 “Com
efeito, receio que, quando aí chegar, não vos encontre tais como vos quero
encontrar e que, por conseguinte me encontrareis tal como não quereis.”). São a
eles que os cristãos de Corinto devem obediência, são eles os que estão
investidos de poder para exortar, organizar, alimentar com a Palavra de Deus e
punir os desobedientes entre os coríntios.
Os outros que, ao que
parece, foram investidos de autoridade ministerial, mas que pregam
diversamente, apresentam outro Jesus e outro espírito, esses são chamados de
falsos apóstolos e ministros de Satanás. Assim, sua doutrina é enganosa, leva à
perdição, e esses não devem ser suportados na Igreja, que deve recusar ouvi-los
e ter comunhão com eles, a menos que cheguem à unidade de fé com os verdadeiros
ministros, que são os apóstolos e todos os seus colaboradores, que ensinam a
mesma doutrina, o mesmo Jesus, o mesmo espírito, e possuem as mesmas
características dos ministros do Evangelho.
De fato, a Igreja deve
espalhar-se por todo o mundo, por meio dos diferentes ministros que levam a
mensagem salvífica a diversos lugares, tendo cada um o ministério responsável
onde ele anunciou primeiro. O costume paulino de não entrar em campo alheio (cf.
Rm 15,20-21) com autoridade como se fosse o primeiro a ali chegar, é o que
trata nos versos 14 a 16: (cf. por exemplo o v. 15: “Não nos gloriamos
desmedidamente, apoiados em trabalhos alheios; e temos a esperança de que com o
progesso da vossa fé, cresceremos mais e mais segundo a nossa regra.”)
E com isso, vemos a unidade
da Igreja, em nível local e universal, pois São Paulo confirmava a autoridade
dos demais apóstolos antes dele, e de colaboradores por eles instituídos, e ia
a campo levar o evangelho a outras regiões, como diz que faria além da região
de Corinto e Acaia. (2 Cor 10, 16: “levando mesmo o evangelho para além dos
limites de vossa região, sem, porém, entrar em campo alheio para nos gloriarmos
de trabalhos lá realizados por outros.”)
Dessa forma, a presença de
pecadores na Igreja, seja de modo geral seja em sua acepção local, bem como a
existência de pessoas que exercem liderança, mesmo aquela reconhecida e
legítima, mas que iniciam uma atividade contrária às demais lideranças
anteriores a elas, e entram em cena com mensagem diferente, não significa
divisão na Igreja, nem exemplo de ramificação cristã, uma vez que esses são
identificados como usurpadores, falsos apóstolos, ministros de Satanás,
enganadores, e são denunciados e mostrados como não tendo autoridade e nem
devendo ter acolhida na Igreja, o que levanta barreira a toda e qualquer seita
e heresia.
Por esses motivos, essas
passagens não significam qualquer aprovação à criação de cisões, seitas ou
igrejas separadas da única autoridade visível instituída por Jesus, e essas são
duramente denunciadas. Não há lugar na Bíblia para a existência de qualquer “denominação”
distinta por características tais, ao lado de outra “denominação” em semelhança
doutrinal (em alguns pontos definidos somente) como é apresentado na teologia
protestante, mas apenas Igrejas existentes em diversas regiões, lideradas por
ministros unidos na mesma fé, segundo os mesmos princípios, reconhecidos como
parte do mesmo ministério cristão, com autoridade igual em toda parte, e
formando uma única Igreja.
Gledson Meireles.
Os outros artigos sobre a identificação da Igreja na Bíblia podem ser acessados abaixo:
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