Igreja de Éfeso
Como afirmado, anjo representa o bispo da igreja
particular. O bispo de Éfeso era obediente, pois Cristo fala das suas obras, e
não o repreende. Era paciente, e não negligente quanto ao combate às heresias.
Era perseverante, e não negava a sua fé no Nome de Jesus. A sua única falha
estava em não mais guardar o “primeiro amor” como antes. Jesus tem o costume de
mostrar tanto as qualidades quanto os pecados. Porém, é preciso notar que não
tolera os pecados.
Certamente o abandono do primeiro amor trata-se do
esfriamento do fervor dos primeiros tempos após a conversão, o esquecimento daquelas
obras santas conforme o Evangelho. Esse é o pecado em que caiu o bispo de
Éfeso, embora fosse tão espiritual. Nosso Senhor o repreende nesse quesito,
afirmando que poderá depô-lo da função episcopal, tirando seu candelabro, que é
a igreja de Éfeso.
Há comentário que afirma que essa
admoestação significa extinguir aquela comunidade, fazendo desaparecer aquela
igreja na cidade de Éfeso. Anos mais tarde há relatos de florescente igreja
naquela cidade, mas hoje suas ruínas lembram as palavras de Cristo contra
aquela igreja. Certamente, com o tempo sua fé fraquejou.
Estamos vendo então o interior da igreja de Éfeso,
e as repreensões ao anjo, portanto, são repreensões também àquela igreja, ou
seja, àquela comunidade cristã que vivia na cidade de Éfeso, na região da Ásia
Menor, no primeiro século.
Lá não era tolerada a idolatria dentro da igreja.
Pelo contrário, os sectários eram inquiridos, analisados e reprovados. De fato
o verso 2 afirma que o bispo pôs “à prova os que se dizem apóstolos e não o
são”.
As doutrinas pagãs eram rejeitadas. Isso mostra que
entre os cristãos houve sempre o perigo e a presença, muitas vezes, de hereges
em seu meio. Esses são homens que possuem um olhar particular, uma opinião não
conforme a doutrina que a Igreja ensina, uma ideia própria daquilo que creem
ser o correto e o mais indicado, e colocam-se contra a doutrina e moral
estabelecidas. Talvez, tratava-se de grupos de heresia de cunho judaico e pagão
misturados, que importunavam a fé de Éfeso. Mas, a estrutura da igreja é ali
manifesta: há um anjo, que é o seu bispo. Esse anjo que responde pela igreja, e
tem em seu poder moldar o caráter daquela igreja, recebe a mensagem de Jesus.
Está, portanto, legitimamente instituído.
Cristo mostrou-Se caminhando entre as igrejas,
simbolizadas pelos sete candelabros. Sabendo que o número sete indica a
totalidade, a perfeição, significa isso que todas as sete igrejas são uma só
nEle. É a Igreja universal, em outras palavras, conforme o uso cristão, é a
Igreja Católica. E não são denominações diferentes, mas uma igreja somente com
várias sedes particulares, nas cidades da Ásia Menor. Portanto, Cristo está na
Igreja.
Também, as sete estrelas são os anjos, e esses
estão na mão direita (autoridade) de Jesus, que os dirige e os governa. Sabemos
que os falsos apóstolos e os nicolaítas foram rejeitados. Sua doutrina e
prática não foram aceitas na comunidade de Éfeso, sob a autoridade do seu
bispo, fato que agradou a Jesus. Temos aí a manifestação da estrutura
incipiente da Igreja: comunidades locais governadas por um bispo, que é um
ministro do Senhor Jesus Cristo.
É importante perceber que a igreja de Jesus não era
o que cosntituía “aqueles falsos apóstolos”. Eles eram impostores que a
importunavam, estando dentro dela. Eram maus membros, e assim estavam em
heresia. Também não era o grupo dos Nicolaítas o representante da igreja certa.
Pois, esses nicolaítas poderiam ter alguma ideia sadia, mas sua fé não
comportava o Espírito do Evangelho. Ensinavam mentira e muitos de seus membros praticavam
obras detestáveis.
Então, a prova posta àqueles cristãos causou a
ruptura entre eles e os demais que permaneceram sob a autoridade do bispo. Naquela
divisão, entre os cristãos que ficaram obedientes ao bispo de Éfeso, e os
outros que seguiram certamente os que se diziam apóstolos, bem como os
participantes do grupo dos nicolaítas, a igreja é identificada com a comunidade
de Éfeso obediente ao bispo, e não com os dois grupos dissidentes. Esse é o
modo de ver correto das Escrituras, identificando onde estão os problemas, qual
a sua natureza, quais são suas características e de que lado estão os
representantes da fé apostólica.
É certo que o pecado daquele bispo estava em não
mais praticar o primeiro amor. Sabemos que os líderes são pecadores. É então
necessária uma observação. O apocalipse denomina o bispo como anjo. De fato,
não poderia ser um anjo literal, pois anjos não podem arrepender-se. Novamente,
Cristo não ditaria uma epístola ao apóstolo João para ser endereçada a um anjo
do céu. Então, temos certeza de que o anjo é um símbolo do bispo da igreja.
O Senhor fala para o bispo voltar “às tuas
primeiras obras”. Esse particular explica o sentido da expressão primeiro amor.
Refere-se às boas obras conformes a Vontade de Jesus e que não mais estavam
sendo praticadas.
Com tudo isso, aprendemos que a comunidade de Éfeso
tinha valores importantes no Evangelho; que a sua fé estava enfraquecendo; que
as heresias a assolavam, mas foram reveladas e rejeitadas; e que da mesma forma
que o bispo, os cristãos de Éfeso deviam voltar à prática das boas obras.
Não há, porém, nenhuma indicação de que essa
comunidade tenha apostatado. Pelo contrário, foi através do critério do
Evangelho que os falsos mestres puderam ser desmascarados. O pecado do bispo
estava na prática dos deveres cristãos, e não no ensino do Evangelho.
Gledson Meireles.
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