É imprescindível saber e conhecer qual é a Igreja mais antiga, assim como é importante conhecer a história das diferentes denominações. O estudioso batista Dr. J. M. Caroll pô-se a pesquisar a história das denominações, e concluiu que a história dos batistas foi repleta de perseguições. Isso porque afirmava que todos aqueles grupos que se opunham ao Catolicismo eram “batistas”, numa simplificação tremenda da história.
A maioria dos cristãos, senão todos (de quaisquer ramos), pode reivindicar algum tempo, ou exemplo, de perseguição. A perseguição por causa do Nome de Cristo e da Sua doutrina, porém, é a que qualifica e identifica a verdadeira Igreja. Os Atos dos Apóstolos mostram a ocorrência dessas perseguições já no início do Cristianismo.
Mesmo não crendo na Sucessão Apostólica, J. M. Caroll reconhece a perenidade da Igreja conforme o Evangelho, sabendo que a mesma irá desenvolver a obra de Deus até a Parusia, ensinando a verdade de Deus em todos os tempos. É impossível para ele provar que houve outro grupo de cristãos senão a Igreja Católica durante toda a história eclesiástica. No entanto, crê que houve fora do Catolicismo aquilo que chama de “igrejas fieis”, ensinando as “marcas” doutrinais que, segundo ele, identificam-nas.
A presente reflexão publiquei em 13 de dezembro de 2012, na minha página do facebook, e agora ofereço aqui para apreciação de quem porventura vier a ler esta página de comentários. Devido ao número crescente de ataques à Igreja Católica, considerando-a “falsa, héretica, assassina, um perigo à liberdade, uma vergonha ao cristianismo, tudo menos cristianismo, e coisas afins”, sempre é oportuno pensar algo que possa oferecer dados para contrabalancear essa problemática.
Todos sabemos que as gerações humanas seguem renovando-se ao longo da história, e a Igreja sendo composta de homens e mulheres não terá os primeiros cristãos vivos ainda hoje, nem os da terceira, quarta, quinta geração, e etc. São muitas e muitas gerações de cristãos na história da Igreja. No entanto, não há mudança de Igreja por sua renovação de cristãos em cada geração, mas permanece a única Igreja permeando as várias gerações na história. Assim, em determinada época a Igreja vive as circunstâncias próprias de seu período histórico e de sua localização e outras especificidades, e é composta por cristãos daquela geração.
Por esse ângulo, a vida da Igreja no século 1 não é idêntica àquela do século 5 ou do século 10, ou de qualquer outro período. Permanece, porém, a Igreja fundada por Jesus Cristo, que é o ponto de coesão que permanece em cada geração. Por isso, assim entendido a Igreja do século 2 é a mesma do século. A Igreja do século 3 é aquela do século 2, e assim sucessivamente. A Igreja de hoje é a mesma que foi fundada por nosso Senhor Jesus Cristo.
De fato, Jesus ensinou que estaria ‘convosco’ até o fim dos séculos, quando falou com os apóstolos. E sabemos que os apóstolos já não vivem na terra. Então, Cristo permanece com a Igreja. Se essa Igreja fosse diferente de um período histórico para outro, então não poderia ser acompanhada por Cristo, já que em determinando momento deixaria de existir, não atingindo o tempo da vinda de Jesus. Esse pensamento contradiz a Bíblia, como está em Mateus 28,19. Há, portanto, uma continuidade perceptível da Igreja em todos os períodos da história. Conforme novas informações forem surgindo, este artigo será atualizado.
Abaixo segue um pequeno comentário das marcas de doutrina e seu sentido dentro da Igreja Católica.
1)
Sua Cabeça e Fundador—Cristo. Ele é o legislador; a Igreja é somente o
executivo (Matt. 16:18; Col. 1:18).
Ele esquece que a Igreja Católica foi fundada por
Cristo, tendo a Ele como sua Cabeça, seu Senhor, seu Legislador. Mas, também, Cristo
concede que a Igreja tem sua função legisladora, desde que seja conforme o
Evangelho, e recebeu em Pedro e nos Apóstolos o poder das chaves. Esse é o
poder de jurisdição eclesial, e que compõe-se também da faculdade de legislar.
2) Sua única regra de fé e prática – a Bíblia
(II Tim. 3:15-17). Esse princípio é Protestante
e um tanto incoerente. Obviamente não descarta a tradição e a Igreja, mas
apega-se ao princípio que leva a um subjetivismo doutrinal. A Bíblia é a
Palavra de Deus, infalível, (Jo 10,35) e ensina que a Igreja sustenta a
verdade. (1 Tm 3,15) Ser fiel à Bíblia implica em aceitar a infalibilidade da Igreja e o caráter divino da tradição.
3) Seu nome: “Igreja”, “Igrejas” (Matt. 16:18;
Rev. 22:16). Cristo não nomeou a Igreja, mas deu-lhe sinais
identificadores. Desde cedo foi chamada de Católica. Nunca a Igreja foi chamada
“batista” ou “batizadora”, mesmo diante do fato de que a Igreja Católica sempre
batizou os seus membros. Esse nome foi dado a João o Batista(batizador), mas
não à Igreja.4) Sua política – CONGREGACIONAL- todos os membros iguais. (Matt. 20:24-28; Matt. 23:5-12). A Igreja Católica considera, diante de Deus, a igualdade de seus membros. Essa verdade não desfaz a realidade hierárquica. No Antigo Testamento o povo também constituía um sacerdócio real (Êxodo 19,6), fato que não invalidava o sacerdócio do Templo. Da mesma forma, no Novo Testamento, o sacerdócio de todos os fieis não desfaz o sacerdócio ministerial dos bispos e padres e diáconos.
5) Seus membros – somente pessoas salvas. (Eph.
2:21; I Peter 2:5). É o objetivo de Cristo salvar
a todos, mas é uma verdade que nem todos estão abertos à salvação, conforme o
Evangelho. O batismo de adultos ou de “crentes” não garante que todos estejam
de fato convertidos de uma vez por todas. Esse fato não traz mudança essencial
comparado à Igreja que batiza as criancinhas. Se por esse princípio alguém crê
que todos na sua Igreja são convertidos e fieis, não revela outra coisa que
ignorância bíblica.
6) Suas ordenanças - BATISMO DE CRENTES, SEGUIDO
PELA CEIA DO SENHOR. (Matt. 28:19-20). A
Igreja Católica batiza primeiro os adultos, depois os filhos dos fieis. A Ceia
do Senhor é dada aos que estão em comunhão com Deus e com os irmãos. Isso se percebe segundo as limitações de verificação, como a confissão, a profissão de fé, a vida segundo os princípios do Evangelho, etc. Assim, os
que foram batizados na infância, e que crescem no conhecimento do Evangelho,
recebem a Comunhão ou Ceia do Senhor. Essa característica é católica.
7) Seus oficiais – PASTORES E DIÁCONOS. (I Tim.
3:1-16). Os pastores são
os bispos e os padres, vindo em terceiro lugar os diáconos. Basta ler as
epístolas a Timóteo e a Tito para constatar que havia quem estava sobre o corpo
de presbíteros e dos fieis, constituindo assim um grau diverso do presbitério, que estava somente sobre o grupo de fieis. Aquele mais tarde foi tecnicamente chamado de Bispo. São Timóteo, por exemplo,
era um bispo, já que estava acima dos presbíteros de Éfeso.
8) Sua obra – levar os povos à salvação, batizando-os (com um batismo que tenha todos os requisitos da Palavra de Deus), ensinando-os... (Matt. 28:16-20). Essa é a tarefa a Igreja Católica. As outras denominações se apegam a tal comando de Deus, mas a Igreja Católica tem legitimamente efetuado essa ordem desde o início, quando outras denominações não existiam.
8) Sua obra – levar os povos à salvação, batizando-os (com um batismo que tenha todos os requisitos da Palavra de Deus), ensinando-os... (Matt. 28:16-20). Essa é a tarefa a Igreja Católica. As outras denominações se apegam a tal comando de Deus, mas a Igreja Católica tem legitimamente efetuado essa ordem desde o início, quando outras denominações não existiam.
9) Seu plano financeiro (dízimos e ofertas) (I Cor. 9:14). A Igreja Católica sempre ensinou o dízimo e as ofertas como deveres do Evangelho, segundo o coração. Portanto, é feito “segundo o costume” de cada lugar.
10) Suas armas de Guerra – espirituais, não carnais. (II Cor. 10:4; Eph. 6:10-20). Certamente, as armas católicas sempre foram espirituais. O papa Leão I enfrentou com a Palavra de Deus o exército que tentava invadir Roma. Mais, tarde, quando a Igreja estava aliada ao Estado, ela tinha a proteção política, que muitas vezes usou da força para garantir os territórios cristãos. Essas coisas devem ser entendidas segundo a época respectiva, e os motivos que levaram a tal situação.
11) Sua independência – separação da Igreja e Estado (Matt. 22:21). A Igreja é uma esfera diferente e independente do Estado. No entanto, muitas vezes foi ligada ao Estado, como dois poderes trabalhando para um fim comum: a salvação das almas. A Igreja se servia do Estado, e não raramente lutava contra suas investidas. No meio dos homens é esperado que aconteçam abusos, como sempre ocorre. No entanto, Cristo nunca ensinou que é proibido aliar-se à política, apenas mostrou que há dois poderes: o de César(político) e o de Deus(espiritual). A Igreja Católica sempre ensinou tal distinção. Portanto, é uma de suas marcas evangélicas.
É verdade que cada Igreja local não-católica tenta estar de acordo com o Evangelho e ser “verdadeira”. No entanto, é impossível provar, a não ser que estejam em comunhão com o Catolicismo, que tem origem em Cristo e Seus apóstolos.
Os ensinos batistas sobre: “1) batismo de crentes, 2) função executiva da Igreja, 3) governo congregacional, 4) ausência hierarquia (teórica, é claro), 5) separação do Estado, e etc.”, como visto acima, não são notas da Igreja verdadeira, mas uma interpretação heterodoxa do texto bíblico.
Pode-se acrescentar que essas características que a tradição da denominação ajuntou como princípios formadores da doutrina das suas igrejas é o resultado da sua vida denominacional em diversos momentos históricos, a partir de sua origem. Aliada a isso está a interpretação, principalmente, do bastimo e da natureza da Igreja, como do seu governo e relações com o Estado, que são frutos das opiniões dos teólogos da denominação em questão.
As promessas de Mateus 16,18 e 28,21 cumprem-se na Igreja Católica, e em nenhuma outra denominação, como prova sua história de dois milênios. Para entendermos melhor a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo, é preciso considerar também as acusações e compreensões que os protestantes apresentam contra ela, pois avaliam a Igreja através de sua livre interpretação da Bíblia. Essa atitude influi também no entendimento da história eclesiástica, já que muitos fatos são descartados por conta da má compreensão da doutrina bíblica.
Seguindo a apresentação de J. M. Caroll o presente texto tem por finalidade refutar a tese respectiva, mostrando biblicamente o desenvolvimento da Igreja Católica e suas doutrinas que são atacadas na mencionada obra.
Certamente, ao terminar a leitura atenta dessa reflexão, o leitor terá maiores condições de escolher entre a verdade e o erro, e aprofundar seu conhecimento da Igreja que o Senhor deixou neste mundo, e que permanecerá até o fim dos tempos (Mt 28:19).
A universalidade da Igreja
A Igreja Católica foi fundada por Jesus Cristo, no
século primeiro. Como instituição destinada a todos os povos e nações, seu
caráter é intrinsecamente universal (Jo 12:42, Mt 28:19; Atos 1:8). Eis o
sentido da catolicidade.
De fato, “Jesus enviou seus apóstolos como
missionários levando as seguintes palavras: Ide, portanto, e fazei que todas as
nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu
estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!” (Mt 28, 19-20)”.
Como nos recorda Frank Sheed: “Preste atenção primeiramente na repetição tripla
da ideia de “totalidade” – todas as nações, todas as coisas, todos os dias.
Católico, dizemos, significa universal. Examinando o termo universal, vemos que
este contém duas ideias, a ideia do todo, a ideia do um. Mas tudo o que? Todas
as nações, todos os ensinamentos, todo o tempo, assim diz Nosso Senhor. Não é
uma descrição exagerada da Igreja Católica. Nem sob o mais insano exagero, esta
poderia evoluir como uma descrição de qualquer outra [igreja]” (Teologia e
Santidade [San Francisco, CA: Ignatius Press, 1993], 284. apud Steve
Ray, tradução de Renata Espíndola”).
Os discípulos que estavam unidos pela fé na Pessoa
do Salvador, e na caridade em obediência aos preceitos de Deus, foram logo
chamados de cristãos (Atos 11,26), nome surgido em Antioquia. E, ao fim do
primeiro século, já eram conhecidos como membros da Igreja Católica, como
atesta o documento de 107 d. C, escrito pelo cristão Santo Inácio de Antioquia.
É uma curiosidade que indica o fato providencial que os nomes “cristão e
católico” surgiram em Antioquia.
Como tempo de incipiente desenvolvimento, a Igreja
Católica ainda não possuía toda estrutura de poder e organização como o
Judaísmo contemporâneo, e como conseguiu, ela mesma, atingir mais tarde. No
entanto, sua organização estrutural permitia um governo próprio e eficaz, como
já atesta a possibilidade de realização do primeiro Concílio, na capital
Jerusalém, pelo meado do século, para resolver questões internas, de cunho
doutrinário, e com autoridade infalível (cf. Atos 15:1-21).
A fé uma vez entregue aos santos (Jd 3) é o
depósito guardado na Igreja e, naquele momento, manifestou-se um dos meios de
manter intacto esse ensinamento: o Concílio. Toda doutrina tem aí sua raiz de
desenvolvimento. Desse modo, a organização cristã já estava aparelhada para
garantir uma metodização das doutrinas que necessitassem de definição contra
ataques heréticos.
Por esse modo, considerando os concílios, é
necessário pensar nos ulteriores desenvolvimentos dogmáticos que seguiram o
modelo do Concílio de Jerusalém. Os concílios e sínodos subsequentes não
tiveram essa identidade apenas nominal, mas em natureza, caráter e
essencialmente. Todos foram convocados com o aval da autoridade eclesiástica,
ainda que por vezes o poder político convocasse para sua iniciação. Todos
tiveram o fim de preservar a fé.[1]
A prática da circuncisão, por exemplo, já estava
abolida desde a cruz. A sua doutrina respectiva já havia concluído sua missão.
No entanto, vários judaizantes, e muitos cristãos de origem judaica,
influenciados por eles, pensavam na continuidade do rito, mesmo dentro da
Igreja, quando já tornados cristãos, e como de obrigatoriedade também para
todos os pagãos convertidos.
São Paulo, que pregava a doutrina da liberdade
cristã com relação à Lei cerimonial de Moisés, dispensava todos os gentios da
circuncisão. Contudo, a questão tornou-se acirrada, e foi preciso a autoridade
da Igreja reunir o concílio.
A partir desse ato eclesiástico, a controvérsia foi
dogmaticamente definida. A mudança, daí em diante, referiu-se à maior clareza
quanto ao assunto, de modo que não era mais desculpável para um cristão
engajar-se em campanha judaizante, pois a matéria havia sido decidida pela
Igreja, com a autoridade do Espírito Santo. Entende-se, desse modo, que um
dogma nunca é inventado em concílio, mas esclarecido, explicado, metodizado,
estruturado, regularizado, organizado, confirmado e etc., de forma a não mais
ser possível qualquer ambiguidade, para que não dê espaço à heresia.
Outro ponto de destaque da realização do concílio é
o efeito da uniformidade de fé em todas as partes onde o catolicismo havia se
instalado, pois os apóstolos, presbíteros e diáconos levaram a Epístola
Conciliar a todas as regiões.
De fato, assim que “os apóstolos e os anciãos” com
toda a Igreja reunida emitiram o parecer inspirado pelo Espírito Santo,
enviaram a Epístola Conciliar às outras localidades (Atos 15:22-23). “E alguns
dias depois, disse Paulo a Barnabé: Tornemos a visitar nossos irmãos por todas
as cidades em que já anunciamos a palavra do Senhor, para ver como estão.”
(Atos 15:36).
Assim ocorreu com muitas doutrinas fundamentais do
cristianismo, que foram definidas em concílios por sofrerem negações e ataques
da parte de hereges durante a história. Portanto, afirmar que a Igreja no
primeiro século não tinha integração regional de doutrina e prática, é uma
afirmação contrária aos dados escriturísticos, como foi mostrado acima, e
também trai os fatos históricos.
Analisando o que foi escrito anteriormente, muitos
poderiam objetar com o pressuposto de um caráter rudimentar do Cristianismo
naqueles tempos, que ainda careceria de toda a unidade encontrada em tempos
posteriores. Ao mesmo tempo, ao verificar as análises que os proponentes desse
tipo de objeção fazem com relação à influência do poder imperial na esfera
eclesiástica, após o Edito de Milão, pode-se voltar logicamente a afirmar que o
intento do Imperador era unidade política total, e para isso, serviu-se do
Cristianismo para atingir esse plano, o que resulta do fato de que havia uma
unidade eclesiástica completa. Não percebem a incoerência que existe nas
objeções que apresentam. Constantino teria aproveitado a unidade da Igreja para
unificar o Império.
A verdade da unidade da Igreja, no entanto, é parte
da sua própria natureza (Ef 4,5), e verifica-se essa nota característica desde
os primeiros anos de sua expansão.
Dessa forma, entende-se o motivo da Igreja ser
chamada de católica (universal), apostólica (tendo com fundamento os apóstolos
de Jesus Cristo) e romana (que historicamente encravou sua sede em Roma). Esse
último título tem caráter apenas histórico, não pertencente à natureza da
Igreja. Assim, na objeção de que a Igreja não poderia ser universal e romana,
subjaz uma ignorância quanto ao sentido dos títulos. Todos os demais atributos
estão ligados à natureza da Igreja, enquanto que o último não, apesar de toda
importância histórica. A Bíblia prova essa asserção:
Jesus Cristo é o fundador da Igreja: Pois também eu te
digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas
do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16,18).
A Igreja está destinada a ser composta de todos os
povos: Portanto ide,
fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e
do Espírito Santo (Mt 28,19). Espalhar-se-á pela terra inteira, é universal:
Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e
ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até
aos confins da terra (At 1,8).
É apostólica, pois foi através dos apóstolos que
iniciou a pregação: Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos
profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina (Efésio 2,20).
É romana, já que desde São Pedro, a sede da Igreja
foi transferida de Jerusalém para Roma, e lá a fé foi preservada. Não obsta que
haja objeções contrárias à estadia de Pedro em Roma, pois provas bíblicas,
ainda que indiretas, ao lado de provas históricas e arqueológicas testemunham a
favor desse fato.
Tem-se, assim, uma explicação sucinta do nome que a
Igreja verdadeira tem usado: Igreja Católica, Apostólica e Romana. Quando
questionam: onde está o nome da Igreja na Bíblia, basta ler esses textos e
extrair a verdade que neles está expressa, respondendo a questão.
Crescimento da Igreja
“Assim, pois, as
igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e
se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo.”
(Atos 9:31).
Expansão e combate
às heresias:
A Igreja tem o auxílio constante do Espírito Santo
e espalha-se rapidamente desde os primeiros dias, mas não sem luta espiritual,
pois, as heresias surgiram desde os tempos apostólicos. Sempre há aqueles que
naufragam na fé e são disciplinados pela Igreja, como Himeneu e Alexandre (1 Tm
1:19-20).
O exemplo dos judaizantes é importante para
compreender a questão das heresias. Esses cristãos exigiam que os pagãos
convertidos a Cristo Jesus devessem receber a circuncisão e observar a Lei de
Moisés, do contrário não poderiam ser salvos.
Os apóstolos não pregavam isso, e nem haviam
enfrentado, ainda, esse tipo de doutrina. Contudo, pelo matiz da pregação
oficial, tal ensino era herético. São Paulo, que estava mais diretamente em
contato com os não-judeus, ou seja, os gentios, não exigia deles a observância
da Lei, como também não havia proibição aos judeus convertidos de continuarem
com os costumes existentes entre eles. São Pedro, que lidava mais
especificamente com os judeus cristãos, igualmente, não ensinava a
obrigatoriedade da Lei aos convertidos.
Desse modo, a doutrina dos judaizantes deu início a
uma controvérsia geral, a ponto de que houve necessidade de reunir um Concílio,
onde as autoridades da Igreja, apóstolos e anciãos(bispos), definiram a
doutrina oficial, declarando-a verdadeira, esclarecendo-a e, ao mesmo tempo,
obrigando a todos os cristãos, em todas a regiões, em relação à doutrina
discutida, informando dessa maneira a todos, principalmente nas regiões onde a
doutrina herética foi pregada, da decisão da Igreja, através da Epístola
Conciliar (Atos 15).
Essa foi uma ocasião de oficialização de uma
doutrina, em termos de definição por parte das autoridades reunidas. O
ensinamento em si continuou como antes, ficando a diferença no modo de tratar a
heresia, que agora podia ser condenada sem dúvidas, já que sua posição não teve
lugar no que foi decidido, sendo, pelo contrário, declarada falsa.
Portanto, é importante considerar que a doutrina
tratada no concílio já estava estabelecida (existia), não foi criada pelo
concílio. O que fez o concílio foi tratar de explanar a questão, mostrando que
o plano de salvação a todos, inclusive, não impunha mais a Lei dos judeus aos
convertidos cristãos, algo já presente nos princípios do evangelho, contudo
ainda não totalmente compreendido. Esse fato é importante para o entendimento
de que o concílio acontece a fim de solver questões levantadas de suma
importância para a vida cristã.
Mais reflexões sobre a Igreja de Cristo
A Igreja fundada
por Jesus Cristo (Mt 16:18), o qual disse “minha Igreja”, logo foi
chamada católica considerando-se sua natureza, pois destina-se a todas as
gentes (Mt 28:19). Universal é o significado de católico, portanto, a Igreja é
universal. Assim, espalhar-se-á por todas as partes da terra (At 1:8). No
início e durante séculos foi perseguida pelo maior poder da época, e um dos
maiores da história, o Império Romano. Após trezentos anos, aproximadamente,
alcançou liberdade, e mais tarde foi considerada religião oficial. Sua relação
com o Estado nunca foi totalmente pacífica, já que a Sé de Pedro não permite
que o poder secular domine a Igreja. Portanto, a Igreja sempre buscou meios de
frear essas influências políticas.
Do tempo de Nosso Senhor até o tempo do imperador
Constantino, houve perseguição à Igreja. Do imperador Constantino o Grande até
Carlos Magno, no século 9, a Igreja ganhou liberdade (mas sofreu ainda sob
Juliano o Apóstata) e continuou a crescer cada vez mais, e alcançou influência
política e cultural. De Carlos Magno até os dias de hoje muitas mudanças
ocorreram nesse aspecto.
A riqueza da Igreja em termos materiais também se
entende desde Atos 4:34-35. O povo cristão entregava aos apóstolos os seus
bens. Ainda que naqueles tempos a Igreja não pudesse ter influência no Império
político, como tinha a Igreja Judaica no Antigo Testamento com relação à
política, com o tempo isso veio a ocorrer. De fato, a religião e a política
caminharam juntas nas culturas antigas. O Povo de Deus possuía leis que estavam
profundamente ligadas também às questões políticas e sociais, fazendo, assim,
comunicação com o poder temporal. E dessa forma também os cristãos logo vieram
a influenciar as leis que regiam a sociedade.
É natural que, como religião perseguida, a
Igreja não podia ter poder temporal nos primeiros três séculos. Os cristãos de
Roma celebravam a fração do pão, também chamada eucaristia ou missa, nas
catacumbas. Nesses lugares celebravam o culto divino e enterravam os mortos,
que em grande parte eram mártires.
Porém, assim como o Senhor ressurgiu depois de três
dias, analogamente a Igreja saiu vitoriosa após três séculos de sofrimento.
Após a liberdade o imperador cristão quis dar à Igreja bens materiais, fazer
uma espécie de indenização pelos tempos de perseguições. Dessa forma, a Igreja
pôde acumular maior riqueza, e gastá-la para o bem do Reino de Deus. Mandava
missionários para evangelizar a Europa pagã, dar hospitalidade aos bispos
exilados e alimentar os pobres (David M. Cheney, 2006).
No início, o imperador intencionava estar a par de
todos os negócios da Igreja, mas isso não era totalmente aceito, visto que esse
é o papel do Papa, e não do Imperador. O bispo Silvestre era o papa da época.
Em 327 o imperador Constantino deixa Roma e vai para a Turquia, no Oriente.
Coloca em Ravanne o governador, para que tratasse das questões ocidentais.
Roma, contudo, ficou abandonada politicamente, e hordas invasoras de pagãos
entravam na capital imperial: góticos, vândalos e hunos atacavam Roma. A
situação chegou a ponto de os habitantes, sentindo-se sem assistência do
imperador e do governador, passarem a olhar para os papas como seus
governadores e protetores. Os papas, além de pais espirituais, também eram
vistos como governadores civis. O papa Leão Magno enfrentou sozinho, sem exército,
a tropa de 500.000 homens liderados por Átila. O exército recuou diante da eloquência
do papa em sua conversa com Átila, no poder do Espírito Santo.
Com Genserico não houve a mesma reação, mas o
papa conseguiu evitar o assassinato do povo romano. Tais fatos fizeram com que
o povo aclamasse o papa, e fosse esquecendo-se do governo civil a que estava
sujeito.
No século 8, Leo Isaurico quis intrometer-se na
religião, e usar de jurisdição espiritual. O imperador mandou tirar das igrejas
todas as pinturas de Nosso Senhor, afirmando ser idolatria. O papa Gregório II
escreveu ao imperador mostrando-lhe que os “dogmas da fé são para ser
interpretados pelos Pontífices da Igreja e não pelos imperadores”. O imperador
não ouviu. Isso ajudou a afastar mais ainda a influência e reconhecimento do
imperador sobre povo romano.
“Em 754 Afonso, rei dos lombardos, invadiu a
Itália, capturou algumas cidades italianas e ameaçou avançar para Roma”(CHENEY,
2006). O papa Estêvão III pediu ajuda ao imperador Constantino Coprônimo. Não
obtendo a ajuda, o papa foi pessoalmente até Pepino, rei da França, e pediu ao
monarca para defender o povo italiano. Então, Pepino foi à Itália, derrotou o
exército inimigo, e colocou o papa como governo das províncias conquistadas.
Após isso, Carlos Magno reconhece o direito dos papas e faz maiores concessões.
Puderam governar esse território até 1870.
Como afirma Cheney, o papa possui os títulos
de validade incontestável: posse há muito tempo, aquisição legítima, justo uso
da concessão original confiada a ele. E é justo afirmar que o poder não foi
usado para engrandecer ou enriquecer o papa (cf CHENEY).
Os títulos distintivos da Igreja
A história eclesiástica mostra que o uso do termo
"católica" em relação à Igreja é utilizado desde o início. Santo
Inácio, bispo de Antioquia no ano 70, nascido por volta do ano 30, referia-se à
Igreja Católica, em documento escrito no ano 107. Esse termo servia para
contrastar a Igreja universal com as seitas heréticas surgidas então, que
consideravam-se cristãs. Não há diferença importante de uso do termo naqueles
dias e atualmente, já que também quando se fala de Igreja Católica, faz-se
contraste com outros grupos cristãos. Há quem afirme o caráter de adjetivo do termo
“católico” naqueles tempos. Não muda a questão. A Igreja tem essa nota
caracterítica, que é realmente um adjetivo, mas também um nome, e identifica-se
com o mesmo Corpo de cristãos fundado por Jesus para durar em todos os tempos.
Teólogos protestantes citam um decreto chamado Conctus
Populus afirmando que por esse documento a Igreja foi chamada “católica”.
Numa leitura atenta do texto do “decreto”, pode-se constatar que ele afirma que
somente são considerados cristãos
católicos os que obedecem àquela lei, citando a fidelidade à
religião de Jesus Cristo e a fé na trindade, diferentemente dos hereges que
também desejavam utilizar esses títulos. Assim, não é correto afirmar que nesse
decreto a Igreja recebeu o nome de católica, como afirma Karl Weiss.
Com relação ao segundo termo, significa que a
Igreja tem como fundamentos os apóstolos e, portanto, é apostólica (Ef 2,20). E
relativamente ao termo Romana,
esse é somente título histórico, pois o papa, desde S. Pedro, morou em
Roma, como já tratado acima.
Organização: Pastores e diáconos
A seleção e apontamento por parte da comunidade de
fieis não indica um governo congregacional na Igreja. O que havia era uma participação
na escolha dos homens que estavam à frente. No Antigo Testamento, diante da
rígida hierarquia, e onde Moisés era o profeta e líder de todo o povo naquele
tempo, mais que o Papa atual, e quando da escolha dos chefes para auxiliá-lo no
governo daquela grande multidão do Povo de Deus, a comunidade escolheu homens
para que fossem ordenados por Moisés (cf. Dt 13:1). Da mesma forma na Igreja,
aqueles selecionados eram apresentados aos apóstolos e bispos para que
recebessem as ordens sagradas e servissem ao povo de Deus. Havia os apóstolos e
bispos (= anciãos) por eles ordenados, assim como os diáconos. Os bispos e
presbíteros, por vezes, recebiam a mesma designação, mas apresentavam funções
diferentes (cf. Epístola a Timóteo 1 e 2). Assim, as igrejas particulares
estavam unidas e possuíam governo local ligado ao governo de Jerusalém, não
sendo autônomas em sentido absoluto.
Santidade
A santidade é uma das marcas da Igreja Católica.
Durante os séculos, inúmeros santos, conhecidos e canonizados, mas também
desconhecidos ou anônimos, para os tempos que se seguiram, pregaram o Evangelho
de Cristo com graça, sabedoria, e santidade muitas vezes heróica. Dessa forma,
os santos não são somente os que estão canonizados, mas todos os que vivem e
morrem na graça de Deus. É o mesmo que dizer que todos os que morreram nascidos
de novo, vivos para Deus, novas criaturas, são santos. Ainda que diversos
membros caiam em pecados, a Igreja como preparada e fundada por Cristo não pode
ser maculada, pois não expressa outro ensino a não ser aquele que o próprio
Senhor Jesus Cristo ordenou. A Igreja é santa em seu Fundador.
É tarefa pouco fácil distinguir os verdadeiros dos
falsos fieis na Igreja. Ainda que todos sejam batizados e professem a fé em
Deus, não há pleno conhecimento de quais sejam na Igreja as almas realmente
convertidas. É assim que Jesus ensinou, quando comparou o Reino dos Céus a uma
rede lançada ao mar, que traz peixes bons e ruins (cf. Mt 13:47). Portanto, a
profissão de fé por parte dos convertidos não é garantia total de que estão, ou
permanecerão na fé, e serão membros santos da Igreja. A verdadeira Igreja é
santa em Jesus e na Sua doutrina, mas é composta de membros pecadores, como
ensina o Evangelho. O Senhor em Seu julgamento fará a separação do trigo e do joio
(cf. Mt 13:29-30).
E “acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se
haviam de salvar” (At 2:47). Cada membro que se une à Igreja está destinado a
ser salvo, pois essa é a obra do Senhor para todos. No entanto, como dito
anteriormente, isso não significa que todos estejam sempre na graça, pois
muitos deixam o Evangelho, pois seu coração é terreno impróprio para o germinar
da semente (cf. Mt 13:24).
Algumas denominações cristãs creem que o fato de
batizar somente os adultos, que professam a fé e testemunham de Cristo,
apresentando os sinais do salvo, e invocando o nome do Senhor, somente por esse
fato “garantem” que suas igrejas recebem apenas os “salvos”, não tendo não
regenerados em seu meio, consequentemente. [2] Assim, acusam as igrejas que
batizam crianças de não batizarem “crentes”, já que as crianças não podem
professar a fé por si mesmas. Isso seria um dos sinais da “verdadeira” igreja.
Sinal falso, como pode ser visto.
A conclusão a que chegam é tradição própria da
denominação que prega tal doutrina, não constituindo ensino bíblico, pois não
há certeza da salvação de cada membro, por mais convincente que seja sua
profissão de fé. Desse modo, não é absolutamente certa a salvação de quem
professa a fé e é batizado numa igreja que batiza “somente os crentes”.
Regra de fé
A Bíblia em harmonia com a Tradição e
pronunciamentos da Igreja. Assim, temos a Escritura, a tradição e o magistério
como três pilares fundamentais e regras de fé. Isso acontece porque o que a
Escritura ensina, a tradição mantém e elucida, pelos pronunciamentos do
magistério. [3]
A Igreja no período de 30-500
Afirma-se que a política e a doutrina cristãs
começaram a mudar. Isso porque os pregadores e anciãos seriam os dois únicos
ofícios da Igreja local e democrática (At 20:17), segundo a tese. O que não era
reconhecido seria a autoridade de bispos sobre igrejas, o que teria iniciado
antes do final do século 2. Essa opinião é facilmente refutada. Aliás, já foi
refutada acima: a Igreja é hierárquica, por natureza, e possui um governo
centralizado, o que não impede que as igrejas locais gozem de certa autonomia
(dioceses e paróquias).
A Igreja nunca foi democrática, mas, sim,
hierárquica. Da mesma forma o povo de Israel. Moisés disse ao povo: “Tomai-vos
homens sábios e entendidos, experimentados entre as vossas tribos, para que os
ponha por chefes sobre vós” (Dt 13:1).
Por essa passagem alguém poderia afirmar que o
sistema de Israel era democrático, pois o povo escolhia seus líderes. Porém,
Moisés em seguida afirma: “e os tenho posto por cabeças sobre vós” (v. 15), o
que indica que Moisés é o líder que referenda aquela escolha do povo, feita por
orientação do próprio Moisés.
Da mesma forma, na eleição de Matias, o povo
cristão apresentou dois candidatos: “E apresentaram dois: José, chamado
Barsabás, que tinha por sobrenome o Justo, e Matias” (At 1:23). No entanto, a
presidência da eleição foi realizada por São Pedro, que tomou a iniciativa
(v.15), liderando naquela ocasião.
De fato, a primeira Igreja particular, a de
Jerusalém, foi presidida por São Tiago apóstolo. São Tiago era superior mesmo
em relação aos presbíteros (cf. At 12:17; 20:28). Esse modelo foi desenvolvido
para outras localidades. São Timóteo governava Éfeso, e com sua autoridade
apostólica, era responsável pela fé, jurisdição dos leigos, e mesmo do grupo
dos presbíteros (cf. 1 e 2 Tm).
Não havia naquela época igrejas que se lideravam a
si mesmas, sem sujeitar-se a Jerusalém, ou aos apóstolos ou aos seus bispos. As
epístolas do Novo Testamento são provas disso, por seu conteúdo e por sua
própria existência. Não se mandariam ordens, exortações, admoestações e ameaças
de autoridade a outras igrejas locais, se todas não formassem a única Igreja.
Portanto, a Igreja Católica é única e una.
Outra mudança nessa época, segundo a tese de J. M.
Caroll, teria ocorrido com a “doutrina da salvação”. A doutrina dos judeus e
pagãos, que acostumados a ver os tipos como antítipos, as sombras como
substâncias reais, os sinais como realidades, as cerimônias como agências
salvíficas, teriam iniciado a ver no batismo um meio de salvação. Teria assim
iniciado a doutrina da regeneração batismal. Seria uma influência dos judeus e
pagãos na Igreja.
Essa ideia é um pressuposto. E um pressuposto
falso. Não há no Novo Testamento uma distinção radical entre os tipos e os
antítipos, como se chegasse a inviabilizar quaisquer sinais sensíveis da
graça na doutrina cristã. Pelo contrário, o gnosticismo, em geral, era o
proponente de tese contrária ao uso da matéria na vida espiritual, não os
cristãos. E sendo assim, esse elemento doutrinal que contem sentimento averso à
matéria na religião é estranho ao Cristianismo. E quanto ao batismo, é de fé
cristã que está relacionado à salvação (João 3:5).
Após isso, a tese afirma que teria iniciado o
batismo infantil, depois a forma de aspersão e infusão, que teria vindo a lume
séculos mais tarde. A teoria afirma que em 251 d. C. as “igrejas” fieis
deixaram as “infiéis”. Essas igrejas “fieis” seriam os “batistas” da época, ou
os precursores batistas, ou representantes da sucessão. [4]
Bem entendido, fica clara a intenção de forjar uma
continuidade histórica e, acima de tudo, doutrinal, que sedimentaria a tradição
batista como aquela que teria perpassado os séculos e teria trazido o
Evangelho, pelo menos em seus elementos mais "importantes" aos dias
atuais. Essa tese nenhum historiador pode provar, e menos ainda há essa
possibilidade através de uma fundamentação teológica.
O batismo infantil foi parte de um debate tardio na
Igreja. A Bíblia atesta, de forma simples, o batismo de famílias inteiras, sem
nunca limitar o sacramento aos adultos (Mt 28:19). O ensino é naturalmente
endereçado em primeiro lugar aos adultos, mas não exclui a possibilidade dos
filhos de pais cristãos serem batizados em qualquer idade, após a conversão dos
mesmos pais. A circuncisão, como ensina a Bíblia, era feita aos 8 (oito) dias
de nascido, e era o sinal da aliança de Deus. A criança não era responsável por
si mesma, mas os pais tinham essa incumbência. Os judeus, portanto, não tinham
a concepção de que as crianças eram incapazes de receber os sacramentos. O
mesmo fez a Igreja desde o início. Os padres da Igreja, por exemplo, falam do
batismo de crianças muito antes do século quatro.
A tese batista afirma que valdenses, montanistas,
tertualianos, novacianos, peterinos, anabatistas, donatistas, cátaros,
albigenses, petrobrussianos, paulicianos, arnoldistas e henricianos são os
proto-“batistas” na história.
Pelo contrário, o que a história revela é que em
1612 surge a Igreja Batista de doutrina arminiana, assim como a Igreja Batista
de linha calvinista em 1633, ambas na Inglaterra. E a Igreja de Roger Willians
em 1638, nos Estados Unidos. Essas seriam representantes dessa tradição
batista, que a tese propõe como se fosse milenar. A história da Igreja, sendo
assim, revela que esses grupos eram aqueles que estavam adotando doutrinas ou
disciplinas contrárias às doutrinas e disciplinas católicas, e que, portanto,
foram se separando do cristianismo católico, tornando-se seitas não católicas.
Esses grupos mencionados eram locais, não unidos doutrinariamente, e muito
menos unidos aos batistas atuais. Isso não significa que uma ou outra doutrina,
ou mesmo um número pequeno de doutrinas possam identificar-se com alguns grupos
atuais, mas que não provam sua sucessão nessa fé. Há batistas que acreditam, e
isso é necessário que o façam, que sempre houve dentro de todos os grupos
citados, e ainda outros, indivíduos, líderes e igrejas locais, que guardavam a
doutrina distintiva batista. Seriam pequenos exemplos diluídos em meio a
igrejas heterogêneas. [5]
A explicação é interessante, já que aponta para as
perseguições, afirmando que os cristãos católicos teriam certamente exagerado
os erros desses grupos e destruído os documentos que poderiam dar-lhes a
conhecer melhor.
No entanto, não há melhor exemplo de perseguições que aquelas levadas a cabo por Roma
contra a Igreja Católica por trezentos anos. Nesse período, cristãos foram mortos, os primeiros
papas foram todos mártires, os escritos queimados, acusações foram feitas,
mentiras inventadas contra os cristãos católicos e etc., mas nem tudo isso pôde
fazer desaparecer a Igreja Católica, nem sua influência, nem sua memória, que
foi conservada na Bíblia e nos escritos dos padres, de modo que não somente nas
entrelinhas da história, mas de forma considerável, se pode entender a fé da
Igreja desde os primeiros dias até os nossos, com uma clareza incrível, e uma
exatidão que testemunha a Providência Divina. Assim, como acontece com a
preservação da Bíblia, há na Igreja a constante proteção do Espírito Santo.
Nenhum outro grupo religioso na História tem tal característica, nem mesmo os
grupos cristãos que se separaram da Igreja Católica. Sendo assim, a tradição
batista não possui essa característica.
Essa certeza e comprovação estão fundadas na
promessa de Cristo: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja,
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16,18).
Nos primeiros trezentos anos, tanto os cristãos
católicos quanto os hereges cristãos foram perseguidos. Para o Império, a
pregação do Nome de Cristo era motivo para perseguição. E nos séculos
posteriores, até mesmo os imperadores caíram em heresia, como o próprio imperador
Constantino, que favoreceu os arianos e perseguiu católicos.
Dessa forma, afirmar que as heresias que combateram
a Igreja são precursores dos batistas, e que tais possuem doutrinas
distintivas, em certo grau, que identificam a tradição batista, e que seu
conhecimento é imperfeito por conta das perseguições que sofreram, trata-se de
uma fraca tentativa de justificar sua posição, quando comparamos com a história
da Igreja Católica.
A Igreja no período de 600-1300
Que a Igreja estava de acordo com os ensinos do
Novo Testamento se prova por sua tradição, que não aparta-se da Bíblia. Os
grupos que surgem contrários à autoridade católica são vistos por muitos como
aqueles que representam a “ortodoxia” da época. Mas não é isso que a história
revela. De fato, sempre aparecem hereges com novidades doutrinais, ainda que
citem a Escritura para justificar sua posição.
Caroll afirma que a “comunhão infantil” e a
“mariolatria” foram inovações desse período. No entanto, isso é falso. A
respeito da comunhão infantil, essa é uma prática antiga, já mencionada por são
Cipriano, no século 3. Por algum tempo, pensou-se erradamente, em alguns
lugares, ao que parece, que a comunhão era necessária à salvação das
criancinhas, o que não é opinião católica.
A Igreja ensina que os infantes podem validamente e
frutuosamente receberem as graças da comunhão, mas que isso não é necessário à
salvação deles. A comunhão é administrada quando há o uso da razão, para que as
crianças saibam distinguir o Corpo e o Sangue de Cristo. O Concílio de Trento,
na seção XXI, can. IV, anatematiza a opinião de que a comunhão é necessária à
salvação dos bebês (Catholic Encyclopedia).
Em segundo lugar, não existe no Catolicismo a adoração
a Maria. A intercessão da virgem Maria é vista como participando da mediação
única de Cristo, não como algo diferente. É verdade que todos os cristãos são
intercessores. Assim como um cristão ora pelo outro a Deus, por intermédio de
Cristo, Maria intercede pela Igreja da mesma forma. Não há duas mediações de
caráter idêntico, mas a mediação das criaturas na única mediação de Cristo. A
veneração de imagens e aos santos são negadas pelos protestantes. No entanto,
esse costume é atestado pela arqueologia, que mostra como os primeiros cristãos
católicos enchiam de arte sacra os lugares de culto, num tempo em que davam
suas vidas por Cristo, e combatiam toda idolatria.
A tese de que as heresias antigas constituíam
a “verdadeira igreja” é fundamentada na suposição de que a Igreja Católica
utilizava o poder para banir todos os documentos e manuscritos da Escritura que
estavam nas mãos desses hereges. Uma perseguição de forma sistemática e por
séculos.
Isso explicaria a falta de informação completa
sobre essas “igrejas”. Como visto acima, essa é uma explicação infundada.
Exemplo disso é que, quando a Igreja Católica foi perseguida até o tempo de
Constantino, e mesmo depois, não foi possível banir os escritos dos padres da
Igreja nem as Escrituras Sagradas que foram organizadas no cânon.
Também, foi a Igreja Católica, após alcançar liberdade
no Império, que promulgou a lista dos livros sagrados, e não qualquer outra
“igreja” que, se fosse verdadeira e fundada por Cristo, deveria ela
mesma estar de posse da Bíblia inteira, também a partir do século 4, além de
ter que manter o mesmo ensinamento do Evangelho desde o tempo dos apóstolos. Os
grupos não-católicos não estavam presentes como responsáveis na preservação do
texto bíblico, nem na sua canonização e divulgação. Todos
bebiam da fonte católica!
Sabe-se que esses grupos heréticos não possuíam
doutrina idêntica em todos os pontos com nenhuma denominação protestante atual.
E onde estão as provas disso? Na História. Até mesmo os seus fautores
reconhecem que não é possível saber tudo o que ensinavam. E ainda o fato da
pouca disponibilidade da Bíblia para eles nos tempos antigos, e as perseguições
que enfrentavam, não explicariam o motivo de serem essas supostas “igrejas” capazes
de garantir lealdade somente em alguns princípios “fundamentais” do Novo
Testamento. E diga-se de passagem, princípios esses extratificados, uns aqui,
outros ali, sem qualquer concatenação ou formando um conteúdo identificável,
sólido e harmonioso que pudesse ser transmitido para as próximas gerações
cristãs. Por sua vez, e diferentemente dessa confusão, a Igreja de Jesus Cristo
tem a constante ação de Cristo. Desse modo, essas heresias não podem ser a
igreja de Jesus.
a) Imagens: o
cristianismo adotou as imagens, mas sempre foi contra os ídolos. Os ídolos são
imagens de deuses falsos. b) santos: são os servos de Deus que recebem louvor e
honra pela fé e vida que tiveram. A Igreja os homenageia para a GLÓRIA DE DEUS.
c) fora da Igreja não há salvação: doutrina correta: nenhuma denominação pode
negar isso. d) indulgências: vem do poder que Cristo deu à Igreja, e não
dispensa a conversão, o arrependimento, a confissão, e a vida na graça. e)
venda de indulgências: nunca ocorreu. Se ocorreu, foi devido à prática errônea
de pregadores que trocavam os bilhetes de indulgências pelas esmolas do povo.
Não teve o aval da Igreja. f) purgatório: doutrina bíblica inegável. g)
celibato dos padres no Concílio Lateranense em 1123: é uma disciplina da
Igreja, com fundamento evangélico. h) a perseguição aos Petrobrussianos e
Arnoldistas em 1139 e condenação dos Vandenses e Albingenses em 1179: esses
grupos dificilmente, ou impossivelmente, testemunham a verdade que o Evangelho
atesta. Basta comprovar. i) transubstanciação em 1215: não foi o início, nessa
data, mas uma forma de confirmação. A Igreja adotou medidas para evangelizar o
povo mais eficazmente nessa época. O início e raiz dessa verdade está na
Bíblia.
Para entender essa história, voltemos um pouco no
tempo. No século 12 um monge chamado Pedro de Bruis deixou o claustro e foi
para a província de Ariés, pregando uma nova doutrina, em 1118. Condenava o
batismo infantil, os altares e igrejas, a veneração da cruz, a missa e a
eucaristia, a oração e os sufrágios pelos mortos. Os seguidores dessa heresia
são conhecidos como petrobrussianos.
Arnold pregava contra os clérigos que possuíam
riquezas, e contra o poder do papa, e o grupo que o seguiu foram os
arnoldistas.
Os albingenses saíram dos valdenses. Seu nome
certamente vem da cidade de Albi, na França. Constituíam um grupo expressivo em
1198. Criam apenas no Novo Testamento, eram maniqueístas, eram contrários ao
batismo infantil, ensinavam que um sacerdote infiel não poderia celebrar a
missa, pregavam contra o matrimônio, não obedeciam aos bispos e sacerdotes, a
não ser que estivessem segundo as exigências apostólicas (conforme entendiam),
pregavam contra a consagração das igrejas a Deus ou aos santos, a oração e
esmola não era necessária aos pobres ou às igrejas, assim como a penitência ou
confissão. Pregavam contra os profetas, são João Batista, a Igreja Católica e
tantos outros pontos, além de viver imoralmente.
Além da persuasão, os albigenses usavam a força
para pregar suas doutrinas, o que fez com que os católicos pedissem auxílio dos
príncipes contra eles. [6]
Numa ocasião, na conferência de Montreal, em
Carcassona, disputaram cristãos católicos e cristãos hereges, diante dos
príncipes. Os hereges foram convencidos, mas os príncipes favoreceram-nos, e
suprimiram a sentença. Os albigenses elegeram Bartolomeu como um anti-papa.
É importante notar aqui a ajuda que os hereges tiveram por parte do poder
político. Os esforços da Igreja com missionários para converter os albigenses
foram infrutuosos, já que esses tinham apoio de príncipes. Em 1210 o papa pediu
o extermínio dos hereges. [7]
É importante tratar um pouco da missão de São
Domingos contra a heresia albigense. São Domingos acompanhava Dom Diego para
uma missão a pedido do rei Afonso IX, para pedir a mão da filha de um príncipe
para o filho do rei. Passando por Toulouse, encontrou um ambiente espiritual
arruinado pela heresia albigense. Do ponto de vista daqueles que são contrários
à Igreja Católica, os hereges estavam pregando o “Evangelho”; mas, segundo a fé
cristã de sempre, eles constituíam uma heresia que fazia muito mal à Igreja e
às almas, e à sociedade em geral.
Contemplando essa situação, São Domingos teve a
inspiração de fundar uma ordem para pregar o Evangelho em todos os lugares. Foi
a Roma em 1204. Os católicos da região onde se disseminava a heresia albigense
viviam uma vida mundana e cheia de pompas. Os líderes hereges opunham a eles
uma vida de ascese rígida que inspirava admiração. O bispo Diego e são Domingos
perceberam que a vida dos monges do lugar era incompatível com a missão que
deveriam levar, e inculcaram neles uma vida mais austera.
Muitos hereges se converteram. Havia diversos
debates teológicos com os hereges, e esses não podiam refutar São Domingos,
passando a usar de insultos e tentativas de violência física. O santo
estabeleceu um convento em Prouille em 1206. Em 15 de janeiro de 1208 Pierre de
Castelnau, um dos legados dos cistercienses, foi assassinado. Simão de Montfort
organizou uma cruzada contra os hereges.
São Domingos participava da luta contra os hereges,
mas sempre do lado da misericórdia, com as armas do espírito, enquanto outros
usavam a espada. Ele trabalhava por um reavivamento espiritual, reconciliando
os hereges. Em 1209 São Domingos encontra Simão de Montfort, torna-se seu
amigo.
Certamente nesse tempo a devoção do rosário ficou
geralmente conhecida. A participação de São Domingos na inquisição foi
certamente a de um teólogo que buscava a ortodoxia, usando sempre de
misericórdia. Por sua vida santa, seu zelo apostólico e profunda formação, foi
convidado para vários bispados.
Sua intenção de fundar a ordem para combater as
heresias e propagar a verdade religiosa continuava de pé. O Concílio de 1215
oportunizou as intenções de São Domingos. Naquela ocasião os bispos foram
advertidos por sua negligência na pregação da Palavra de Deus ao povo. Os
bispos eram os responsáveis pela pregação, e a ordem de São Domingos seria
formada por sacerdotes simples e não muito treinados, o que fez com que o
Concílio não aprovasse seu pedido, ainda que também, antes de tudo, não
desejava formar mais nenhuma ordem.
Mais tarde ele consegue fundar a ordem, em 1216.
Milhares de hereges se convertiam, (numa ocasião converteram-se 100.000) pela
pregação e milagres do santo cristão. Ele abominava a heresia, e o motivo era o
amor pela verdade e pelas almas: “Ele nunca falhou em distinguir entre o pecado
e o pecador”. A vida de pobreza, ascese cristã radicada no Evangelho, a
santidade e espírito missionário superava em muito as aspirações que os hereges
expressavam. Foi canonizado em 1234. (cf. Catholic Enciclopedia).
É preciso compreender que cada concílio somente
trata das questões levantadas, surgidas, experimentadas, e etc., numa
determinada época, que exigem uma aproximação e preocupação mais intensiva.
Deve-se entender isso. E assim, os concílios, como aquele ocorrido em
Jerusalém, têm constante acompanhamento do Espírito Santo, sendo que a sã
doutrina é mantida e defendida, de acordo com a Bíblia Sagrada.
A Igreja no período de 1400-1600
É um período de três séculos, sendo até 1699. Esse
período conheceu maior exigência de reforma na Igreja. A Igreja Católica
esforçava-se há tempos por reforma espiritual. Padres e outros cristãos
católicos tentavam reformas em várias localidades.
John Wycliff, John Huss, Savonarola. Depois
Zwinglio, Lutero e Melâncton, esses útlimos apoiados pelos príncipes alemães
formaram a Igreja Luterana. Essa Igreja foi fundada na Alemanha. Calvino
(1509-1564) foi outro reformador, o fundador da Igreja Presbiteriana. Essa
Igreja veio a existir em 1541. John Knox estabeleceu a Igreja Presbiteriana na
Escócia em 1560.
Os Anabatistas são vistos na tese batista como
auxiliares da reforma, mas fora da Igreja. Segundo pretendem, os anabatistas
não teriam ligação com a Igreja Católica. No entanto, estavam unidos aos
reformadores contra a mesma Igreja Católica, o que os faz ser um movimento
protestante.
J. M. Caroll acredita que esses anabatistas, por
serem um movimento popular, não ligado ao Estado, nem recebendo apoio da
autoridade política, como as Igrejas Luterana e Presbiteriana conseguiram, eram
da linhagem da “igreja” que estava “escondida” durante a história. Eles
apoiaram a reforma, mas ficaram decepcionados com a atitude dos reformadores.
Na Inglaterra surge outra Igreja, a Igreja
Anglicana, antes da Presbiteriana. Quando o rei Henrique VIII pede divórcio
para casar-se novamente, o Papa recusa-se, e o rei resolve tornar-se o chefe da
Igreja na Inglaterra. Os batistas afirmam que ele não tornou-se protestante,
mas morreu católico. Contudo, a Igreja Anglicana é protestante, e muitos a consideram
como um “meio termo” entre a Igreja Católica e o Protestantismo. Nessa revolta,
Henrique VIII perdeu muito da fé católica, aproximando-se da fé dos
Reformadores.
Na Igreja Anglicana foram introduzidas mudanças por
Cranmer, Latimer, Ridley e outros. Essa reforma teve parada nos cinco anos de
reinado de Maria, filha de Henrique VIII. Assim, vários ramos do Protestantismo
já estavam estabelecidos antes do fim do século 16: a Igreja Luterana (1517-início,
1530-estabelecida), a Igreja Anglicana (1534), a Igreja Presbiteriana (1560).
Afirma-se que o movimento dos Anabatistas foi
perseguido pelas novas Igrejas protestantes. Também o foram os valdenses e
outras igrejas não estabelecidas ou apoiadas pelo poder civil. Diz-se ainda que
essas “igrejas” não tinham origem entre os católicos. No entanto, Pedro Valdo,
fundador dos valdenses, foi um católico que acabou por deixar a Igreja
Católica. Os valdenses professavam muitas doutrinas católicas, e eram um grupo
que almejava reformar a própria Igreja Católica [8]. Dessa forma, a intenção de
afastar os valdenses e anabatistas de sua origem cristã católica não
fundamentada em fato histórico. A paz de Augsburgo foi conseguida em 1555. Para
melhor entender esse grupo católico da Idade Média, é preciso analisar suas
origens.
A Confissão de Fé de Valdo
Pedro Valdo sentiu necessidade de pregar o
Evangelho, e de ser instruído na Bíblia. Pagou dois eruditos para traduzir os
Evangelhos e outras porções da Escritura para o vernáculo. Alguns padres
apoiaram Valdo, e muitos leigos juntaram-se a ele. Por não terem alcançado
permissão para pregar, e desobedecendo a ordem dos bispos, iniciou-se a
querela, suspeita de heresia, e em 1184 o sínodo dos bispos de Verona condenou
o movimento. Em princípio a doutrina Valdense era católica, vindo a
modificar-se após a exclusão do grupo.
De fato, Valdo professava a trindade, a perpétua
virgindade de Maria, a encarnação (verdadeiramente entendida), a Igreja
Católica, a doutrina de que fora da Igreja não há salvação, os sacramentos, o
sacerdócio (ministerial), o julgamento, as penitências, o purgatório, a pobreza
(vivida na radicalidade, citando o valor das obras), a fé e as obras. Também
professou ao bispo de Albano a eucaristia (transubstanciação), oração pelos
mortos, e o batismo infantil.
Dois ramos Valdenses: os pobres de Lyon e os
Lombardos
Ambos os grupos pediram permissão ao papa para
pregar, o que lhes foi negado. Tornaram-se missionários em outros países,
viviam vida ascética como os monges. Esses dois ramos foram unidos de inicio,
mas logo divergências doutrinais e práticas levaram à separação.
O partido na Itália tomou várias medidas radicais e
considerava-se a Igreja verdadeira, sob a liderança de Giovanni di Ronco. Os
lombardos professavam o batismo infantil, o sacrifício eucarístico, a
transubstanciação (mas com diferenças na aplicação).
Somente após a separação com a Igreja Católica é
que os Valdenses negaram o papado e advogaram a Igreja verdadeira como a
iniciada por Valdo. Nesse tempo, surgem as acusações que são mantidas basicamente,
e de forma especial, pelos fundamentalistas atuais. Além do mais, os Valdenses
se dividiram entre si, alguns mantendo a doutrina original, outros adotando as
mudanças que são citadas nas teses batistas. Contudo, atualmente os Valdenses
italianos batizam crianças.
De fato, os Valdenses do século 12 eram
essencialmente cristãos católicos franciscanos. Com o tempo seus sucessores
vieram a adotar pontos doutrinais que se assemelharam a alguns princípios
protestantes, mas que em geral não configuraram de forma alguma os Valdenses
como proto-protestantes. Se alguns, por exemplo, guardavam o sábado, isso
também não os torna proto-adventistas ou proto-sabatistas, visto que
basicamente suas doutrinas eram católicas. No entanto, pelas pesquisas que fiz,
não há vestígios da guarda do sábado nesse movimento. Esse resultado também foi
corroborado pelo erudito adventista Dr. Samuele Bacchiocchi.
Afirmar que os Valdenses possuíam a Escritura e a
consideravam “única” regra de fé, o que faria deles “verdadeiros” cristãos,
também pelo fato de terem mais tarde combatido o Catolicismo, apesar de que
adotassem doutrinas do paganismo circundante, constitui uma tese construída
sobre areia movediça.
É um ataque à Santa Igreja, que mantém a fé na
Escritura e guarda a doutrina apostólica durante a história, fiel à Tradição
cristã. Ainda que, como muitos afirmam, o Catolicismo tivesse sido contaminado
pelo “paganismo” a tal ponto de o descaracterizar noventa e nove ponto nove por
cento, ou mesmo cem por cento (que seria um absurdo total essa ideia), deveriam
crer que ainda assim a Igreja mantinha o Evangelho por ser fiel à Escritura em
outros pontos antes que tal coisa ocorresse, como creem no caso Valdense. De
fato, é afirmado que os Vadenses foram afetados pelos erros do paganismo, mas
criam na Bíblia e aderiam a muitas das suas verdades. Isso é considerado o
básico para manter a fé, mas o mesmo princípio é negado pelos protestantes com
relação à Igreja Católica. Que tristeza! Mas, tal coisa não importa aos
acusadores, visto que o objetivo é encontrar “cristãos” que “nunca” foram
submetidos a Roma, ainda que a história não suporte essa premissa.
Segundo a tese da “sucessão batista” todos os
grupos considerados “verdadeiros” na história da Igreja estavam unidos nos
pontos “principais e vitais do Cristianismo”, mesmo que não possuíssem a Bíblia
completa, sendo isso um “milagre”. Esses grupos, no entanto, estão longe de
representar a Igreja de Cristo, como atesta a Bíblia.
Os grupos heréticos juntaram-se aos protestantes
quando Lutero iniciou sua revolta. Isso aponta que são semelhantes no plano de
lutar contra a Igreja Católica. Uma igreja “verdadeira”, considerando a teoria
mencionada, não iria juntar-se aos dissidentes de outra igreja quando esses não
tinham doutrinas idênticas, apenas porque aqueles desejavam reformar a Igreja a
qual se opunham, com intuito de ganhar “favores e liberdade” para sua própria
causa. De fato, a supressão dos anabatistas não foi por motivos doutrinais
principalmente, mas políticos, por estarem lutando contra as autoridades da
época. Nisso constituiu sua decepção, já que os reformadores influentes tinham
apoio dos príncipes.
A Igreja nos séculos 17, 18 e 19
Nova denominação
ou Igreja protestante surge nesse período. Logo no início, em 1602, surge a
Igreja Congregacional. Muitos dos que haviam saído da Igreja Católica também
ficaram insatisfeitos com a reforma e Lutero e Calvino, e entendiam outro tipo
de organização para a Igreja, de modo “democrático”, baseados nas ideias de
grupos que formaram-se fora da Igreja Católica.
Essa denominação constitui o
Congregacionalismo. Foram perseguidos por católicos e protestantes, e quando
fugiram para a América, tornaram-se perseguidores de outros grupos. Em muitos
pontos eram semelhantes aos batistas.
Afirma-se que nos séculos 17 houve
perseguição aos valdenses, anabatistas e batistas, esses últimos porque já eram
chamados sem o prefixo “ana” em muitos lugares. Ainda, é dito que os batistas
aparecerem na Suíça em 1523, antes das fundações das denominações protestantes.
Sabe-se, porém, que Lutero iniciou sua revolta em 1517, publicamente, e que
suas ideias já estavam preparadas certamente há algum tempo. Os “anabatistas”
ou “batistas” eram grupos da reforma.
Surge no século 18 o Metodismo, com John Wesley. Na
verdade, John Wesley, Charles Wesley e George Whitfield são os pais do
Metodismo. Eram anglicanos. Afirma-se que não desejavam fundar nova
denominação. Afirma-se que também o Metodismo conservou os “erros” da Igreja
mãe da Inglaterra.
Alexander Campbell funda nova denominação. Era de
origem presbiteriana. Primeiro procura o batismo de um pregador batista (1811).
Junta-se a uma liga batista, mas separa-se logo depois, juntando-se a outra
associação.
A Colônia de Rhode Island tornou-se uma
instituição legal, permitindo os batistas em 1663 a escrever sua primeira
constituição na América.
As doutrinas “fundamentais” dos batistas, de todos
os grupos citados como representantes dessa “sucessão” constituiriam que a
Igreja é espiritual, de Cristo, e Ele é o único legislador. A Igreja não faz
leis; os sacramentos do batismo e da ceia são simbólicos; os pastores e
diáconos, somente dois ofícios, são servos da igreja; governo democrático; leis
e doutrinas somente do Novo Testamento; os membros são somente os crentes; e o
batismo somente por imersão; igrejas separadas por leis disciplinares; mas cooperadoras
entre si; separação do estado, e liberdade religiosa. Essas seriam as notas da
Igreja. A teoria em questão é negada por historiadores batistas competentes.
Tais doutrinas estão ligadas essencialmente ao
governo eclesiástico e ao batismo. As diferenças entre a Igreja Católica e as
Igrejas Batistas deveriam estar limitadas a questões de governo e sacramentos,
mas não é somente isso. A doutrina é protestante, segue os moldes que
distinguem o protestantismo. De fato, os batistas surgiram da Reforma Protestante,
mais precisamente no século 17, do movimento separatista inglês.
Os anabatistas surgiram em 1521, e constituíam um
grupo radical civil de reformadores. Uma das teses era a do “re-batismo”, por
isso o nome ana-batistas. Esses reformadores não aceitavam a validade do
batismo infantil.
No século 3 e 4 surgiu a questão a respeito da
validade do batismo feito por hereges. Na história, os petrobrussianos, os
valdenses, os albigenses e os irmãos boêmios tiveram opiniões próximas ao dos
anabatistas quanto ao batismo.
Menno Simão era um padre católico que tornou-se
anabatista em 1536. Os seguidores são os Menonitas. Portanto, os Menonitas são
do ramo anabatista.
De fato, a origem da Igreja Batista está em 1609
com John Smith. Ele deixou a Igreja Anglicana e fundou nova denominação. Seguia
princípios arminianos, mas logo surgiu o ramo batista que era calvinista. De
início os batistas foram perseguidos, mas o Ato de Tolerância de 1689
reconheceu o ramo como protestante.
Os batistas calvinistas organizaram-se em 1633 e
tiveram João Spillsbury como primeiro ministro. Divisões ocorreram, e em 1641
uma Igreja Batista completa surgiu, a qual mantinha a crença no batismo por
imersão como único válido. Em 1644 foi feita a Confissão de Fé.
Aos batistas que creem na tese de Caroll, ainda que
reconheçam que os grupos heréticos durante a história considerados como
“batistas” não tivessem idêntica doutrina, alegam que isso se explicaria por
terem apenas partes da Bíblia, do Novo Testamento, principalmente. Acreditam,
por exemplo, que os Montanistas eram um desses grupos, e que a Igreja Católica
“ainda não existia nessa época”. Afirmam que era um outro tipo de Catolicismo.
Para esses, Constantino foi o que deu início ao Catolicismo, ou a esse outro
suposto tipo, diferente do anterior, ou daquele que se formava, uma tese
bastante contrária à história.
Ainda que outras doutrinas são abraçadas por esses
grupos, e que não estão de acordo com os batistas atuais, eles os consideram
batistas, pois não desconsideram essas diferenças como “fatores que
desqualificariam” aquelas “igrejas”.
Portanto, não é aceita a refutação de James Edward
McGoldrick, que forneceu provas históricas de que os batistas originaram-se no
século 16, e são protestantes, pois afirmam que James foi influenciado pela
Igreja Presbiteriana.[9]
[1] Assim, as convocações pelos imperadores
(Constantino, Irene) apenas seguiam costumes da época, de praxe imperial. No
entanto, as decisões se davam pelo Corpo eclesiástico: Papa e bispos.
[2] Na verdade, agem por esse princípio “como se
não tivessem” não-regenerados em seu meio.
Gledson Meireles.
Eu sou cristão congrego em uma igreja não-denominacional. Não achamos que igreja tem nome. No entanto, penso que nosso Senhor, quando olha para as igrejas, observa na verdade a Igreja. Aí entra o sentido universal de Católica. É uma única igreja espalhada por toda a Terra. Mas, ha igrejas infiéis, como as do Apocalipse. O que o irmão pensa disso?
ResponderExcluirA Paz de Cristo
Vou continuar a publicação de artigos a respeito da identificação da Igreja. Então, uma boa parte é sobre as igrejas(comunidades) do Apocalipse. Assim que formos estudando, ficará mais clara a minha opinião sobre o sentido da única Igreja Católica.
ResponderExcluirGledson Meireles.