De acordo com o pensamento prevalecente entre os protestantes,
a Igreja não é uma instituição, não tendo a natureza de uma organização, mas é
um organismo espiritual, é a união espiritual de crentes e salvos pelo Sangue
de Cristo, essa sendo de natureza invisível, e que todas as denominações são
apenas o aspecto visível da Igreja, cada qual com maior ou menor grau de
pureza, mas sempre imperfeita, inclusive no ensinamento doutrinal, tendo apenas
o núcleo do ensino preservado, que é o mínimo de ensino evangélico, bíblico,
caracterizador da verdade da salvação mantido por uma rede de igrejas visíveis,
o que fez serem igrejas corretas e bíblicas.
Com essa mentalidade, muitos leem o Novo Testamento, e
afirmam que as igrejas de Corinto, Éfeso, Tessalônica, e etc., eram todas
imperfeitas, enfrentando divisões, heresias, e outros problemas típicos do ser
humano, e que eram governadas por líderes locais, sendo cada uma autônoma,
sendo comparáveis às denominações protestantes consideradas bíblicas do ponto
de vista da Reforma, e que nem por esses problemas tais igrejas do primeiro
século deixaram de ser igrejas de Cristo.
Seriam como se fossem as modernas denominações, cada uma com
seu credo característico, mantendo unidade apenas nos artigos fundamentais, não
importando o fundador de cada uma, pois não tendo caráter institucional, e
sendo a pregação do Evangelho bíblico o distintivo da verdadeira Igreja, podem
ser fundadas hoje, serem imperfeitas em vários sentidos, mas tendo a doutrina
fundamental mantida, constituirá uma igreja de Cristo, não importando as
diferenças e divergências relativas aos pontos secundários da doutrina.
E por isso, citam os pecados que estavam entre os coríntios,
as divisões, as heresias, e etc., afirmando que assim também é nos dias de hoje
no Protestantismo.
Para refutar tal ideia, segue uma série de artigos onde será
identificada a Igreja verdadeira, mostrando que essa é institucional, uma sociedade
espiritual organizada, também visível, um organismo vivificado pelo Espírito
Santo, constituindo o Corpo de Cristo, sendo cada igreja local governada por um
apóstolo, um presbítero ou um bispo, mas todas tendo unidade no grupo dos doze
apóstolos, como fundamento governamental, não sendo as igrejas particulares de
forma alguma absolutamente autônomas, mas todas submetidas à autoridade
apostólica, modelo que permanece até os dias de hoje, onde os sucessores dos
apóstolos continuam no governo eclesiástico.
Na igreja local governada pelo
apóstolo São João, e pelo presbítero por ele ordenado, na região da Ásia, houve
algumas divisões. De fato, está escrito: “Eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos. Se tivessem sido dos
nossos, ficariam certamente conosco. Mas isso se dá para que se conheça que nem
todos são dos nossos.” (1 João 2,19)
Certamente, muitos cristãos
haviam sido parte daquela comunidade por muito tempo, mas depois abandonaram o
convívio da Igreja, e saíram da comunhão de antes. A Escritura afirma que esses
“não eram dos nossos”. Fizeram parte da verdadeira igreja, sob o governo do
apóstolo João, mas a deixaram. Por certo ligaram-se a outro grupo que se
formava, ou formaram eles mesmos uma seita cristã, abraçando as doutrina
gnósticas tão em voga naqueles dias.
Mas, como é provável que esses
passaram a fazer parte de outro ramo cristão, eles não ficaram nisso, mas
auxiliaram na sedução dos antigos irmãos.
Isso pode ser indicado no verso 26: “Era
isso o que eu vos tinha a escrever a respeito dos que vos seduzem”.
E está descrita uma das
características daqueles que permaneceram na igreja particular e não seguiram
os dissidentes: “Nós, porém, somos de
Deus. Quem conhece a Deus ouve-nos; quem não é de Deus, não nos ouve. É nisso
que conhecemos o Espírito da Verdade e o espírito do erro”. Esse ouvir
denota a obediência, a fé na pregação apostólica, a comunhão de todos,
observadores das palavra anunciadas pelo apóstolo João e do presbítero daquela
comunidade, que eram os líderes legítimos.
É preciso estar em comunhão com
as autoridades, guardar os mandamentos de Deus, permanecer na verdadeira
doutrina. (2 João 9) Não ir atrás das novidades que os sedutores pregam “pelo mundo afora” (cf. 2 João 7).
Além dessas importunações que
havia, outro problema surgia naquela comunidade, e um cristão de certa
proeminência agia com a autoridade apostólica e dos presbíteros ordenados pelos
apóstolos, de forma a interferir nas pregações que deviam chegar àquela igreja.
Assim está escrito: “Escrevi uma palavra
à Igreja. Mas Diótrefes, homem ambicioso do poder, não nos quer receber.”
(3 João 9)
Certamente, Diótrefes estava
semeando o cisma naquela região, e como afirma que ele era “ambicioso do
poder”, sua ambição era governar, pastorear aquela comunidade. É provável que
sua doutrina já fosse herética também, pois não recebia os apóstolos e
presbíteros. Adiciona-se a isso obras más.
Diótrefes pregava contra os
apóstolos, praticava coisas contrárias ao Evangelho, negava receber-lhes,
proibia o contato dos cristãos com eles, e expulsava membros. Tratava-se de
alguém influente, sem dúvidas. (3 João 10)
Temos aqui uma situação delicada,
em que o apóstolo São João teve de denunciar e preparar os cristãos que
mantiveram sua obediência e união com a autoridade legítima. Podemos perceber
que o corpo de crentes naquela localidade era molestado espiritualmente por
heresias que rondavam por ali, que haviam persuadido alguns, e que um membro
influente, chamado Diótrefes, estava liderando um grupo contra a posição e
autoridade de João e dos outros líderes legítimos. Não se trata da igreja
naquela localidade que fosse dissidente, mas de pessoas que introduziam o
fermento da divisão ali, e eram reprovadas pelos líderes da igreja.
Portanto, havia nessa parte da
Ásia uma heresia e um grupo causando divisão. Porém, é preciso afirmar que é
possível perceber claramente a identidade de ambos os grupos: os que recebem
carta, que estão conforme a Palavra de Deus e em comunhão com São João
constituem a Igreja de Jesus Cristo ali presente. Aqueles que saíram e,
certamente, estavam na heresia dos gnósticos, e os demais que estavam sob a liderança
de Diótrefes não eram a verdadeira igreja.
Há, assim, o grupo dos fieis à
doutrina e que ouve a autoridade constituída, recebe a epístola inspirada e
guarda os mandamentos, e a outra parte que deixou a comunhão com aquela igreja, ou que está sob a direção de um cristão
herege que ambiciona tomar o poder naquela comunidade. Portanto, é possível
identificar com clareza e sem sombra de dúvidas a Igreja de Jesus nessa situação relatada por São João.
Gledson Meireles.
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