quarta-feira, 3 de agosto de 2016

2. Identificando a Igreja de Jesus Cristo

Na primeira epístola de São Pedro, dirigida aos cristãos espalhados por uma extensa região (cf. 1 Pedro 1,1), são feitas admoestações aos presbíteros, também chamados anciãos, para que dediquem-se ao rebanho, à sua igreja particular, “não como dominadores absolutos sobre as comunidades que vos são confiadas, mas como modelos do vosso rebanho.” (1 Pedro 5,3) Se são modelos, os cristãos devem ver neles exemplos para pautarem suas vidas, e isso exige que tenham comportamento ilibado.

Nesse ínterim, na segunda epístola é revelada a presença de falsos doutores entre os cristãos. Aliás, essa é uma profecia para todos os tempos. (2 Pedro 2,1) Esses “introduzirão seitas perniciosas”.
De fato, “muitos os seguirão”. (v. 2) Não ficarão sem quem sigam os desmandos, que creiam na sua nova pregação, que imitem suas vidas dissolutas. E o pior: esses estão “entre vós”.

Nessa ocasião, revelada nas sagrada epístolas, muitos não saíram da Igreja, continuando a introduzir heresias, e preparando seitas, já no interior do verdadeiro Cristianismo. Por isso, é preciso atenção, obediência aos verdadeiros presbíteros, como dito anteriormente em 1 Pedro 5,3.

Não devemos estar entre os “que desprezam a autoridade” (2 Pedro 2,10) Esses homens, dos quais fala São Pedro, proferiam palavras injuriosas mesmo contra os anjos. (v. 11) E não obstante não estavam submetidos aos presbíteros.

É impressionante que tais cristãos falsos estavam entre os verdadeiros, e se banqueteavam com eles, mas vivendo à revelia da verdade, “Encontram as suas delícias em se entregar em pleno dia à suas libertinagens”. (2 Pedro 2,13-14) Eram lobos com aparência de cordeiros.

Na pregação desses mestres, havia a empolgante e cativante promessa da liberdade, como tem havido nos dias atuais, com aqueles que chamam os cristãos a deixarem suas denominações e viverem a “liberdade” do Evangelho que eles mesmos pregam: “Prometem-lhes a liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção, pois o homem é feito escravo daquele que o venceu”. (2 Pedro 2,19)

E nesse sentido, referindo-se a partes das Escrituras do Novo Testamento, escritas pelo apóstolo São Paulo, e em geral a toda a Bíblia Sagrada, afirma que havia muitos que as deturpavam, negando o verdadeiro sentido, algo não de pouca gravidade, mas que leva à ruína da perdição. (cf. 2 Pedro 3,16) A exortação é para que ninguém caia no erro desses pregadores.

Diante dessa realidade, temos que os destinatários da epístola são os que fazem parte da verdadeira Igreja de Jesus. Esses estão em comunhão com o apóstolo São Pedro e seus colaboradores de ministério. Deve-se atentar para o fato de que a epístola não é destinada a esses “falsos mestres”, nem aos dissolutos, que são mencionados, nem lhes dirige qualquer repreensão direta, mas fala apenas aos cristãos que estão em obediência à palavra apostólica. Nisso estão abertamente as exortações para que continuem na obediência aos presbíteros, e é feita a repreensão do comportamento dos que negam a autoridade.

O fato é que tais homens estavam no meio da comunidade, eram conhecidos por todos, e tinham comportamento cativante, mas viviam vida dissoluta, pregavam outras doutrinas, não mais observavam o respeito cristão aos anjos de Deus, negavam pontos doutrinais importantes, em geral, interpretavam partes das Escrituras erroneamente para a própria perdição. A Palavra de Deus admoesta e prepara os cristãos diante desses falsos pregadores, e os reprova duramente diante da Igreja.
Dessa forma, identifica-se a Igreja de Jesus Cristo com facilidade. Ninguém poderá afirmar que a igreja que recebe a epístola de Pedro fosse dividida, herética, imperfeita, como se as heresias fossem ali livremente acatadas. Nada que lembre isso.

Na verdade, a igreja verdadeira não está com os que falam mal contra os coros celestiais, que esquecem-se da promessa da vinda de Cristo, que vivem, em plena luz do dia, uma vida imprópria aos cristãos, que leem as Escrituras pervertendo o seu sentido. Esses indivíduos não são contemplados na saudação da carta, eles não fazem parte da Igreja, eles não representam a Igreja, e somente estão ali introduzidos como ervas daninhas numa plantação. Eles não são “os eleitos” que são saudados no verso 1, e não há palavra de conversão para eles, apenas menciona-se já a sua reprovação.

A Igreja de Jesus está constituída nesta epístola por aqueles que recebem a Palavra de Deus enviada pelo apóstolo Pedro, que estão sob a autoridade dos sacerdotes (presbíteros ou anciãos) do Novo Testamento por ele ordenados para conduzir aquela igreja (cf. 1 Pedro 5,3-4), e que estão em comunhão com os apóstolos, seguindo a santa
Lei de Deus e todas as admoestações apostólicas.

Por isso, ao falar daqueles que introduzem seitas perniciosas não volta-se a eles diretamente, mas usa-se a terceira pessoa. O Espírito Santo dirige-se à Igreja verdadeira para preveni-la contra as falsas doutrinas e os falsos doutores. Está assim identificada a Igreja de Jesus nas epístolas de São Pedro.


Gledson Meireles.

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